AVENTUREIROS DO UNA – A minha primeira coleção na vida foi a
de gibi. Menino, ainda, eu viajava nos quadrinhos dos super-heróis e,
sobretudo, entre os livros de Monteiro Lobato e Maurício de Souza com a Turma
da Mônica. Adolescente eu tinha sacos e sacos cheínhos deles. Até que um dia
resolvi eu mesmo produzir o meu. E isso só foi possível por causa da parceria
com o artista plástico e ator Rolandry Silvério: Os aventureiros do Una. E
como hoje é o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, impossível não dar uma
repassada na minha infância e nessa aventura que me levou pra Literatura. Veja
mais aqui e aqui.
Imagem: Reclining nude, do pintor francês Jules Joseph Lefebvre (1838-1911)
Ouvindo os Preludes op. 32, 9 e op. 23 (Deutsche Grammophon, 1970), do compositor, pianista e maestro do Romantismo russo Sergei Rachmaninoff (1873-1943), na interpretação da pianista brasileira Yara Bernette (1920-2002).
O OLHO E O ESPÍRITO – Na obra O olho e o espírito (L’oeil
et l’esprit – Veja, 1997), o filósofo fenomenólogo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) trata
acerca do vivente no mundo na condição de vidente e visível do eu vejo e do eu
posso, relacionada à pintura, valorizando a atividade do artista plástico não
diferenciando o vidente do visível, o eu do mundo, nem o sujeito do objeto. Aborda
também sobre o racionalismo e Descartes, criticando a ingenuidade da ciência no
início do séc. XX pela reprodução dos fenômenos nos laboratórios. Desse livro
destaco o trecho: A ciência manipula
as coisas e renuncia a habitá-Ias. Fabrica para si modelos internos delas e, operando
sobre esses índices ou variáveis as transformações permitidas por sua definição,
só de longe em longe se defronta com o mundo atual. Ela é, sempre foi, esse pensamento
admiravelmente ativo, engenhoso, desenvolto, esse parti pris de tratar todo ser
como "objeto em geral", isto é, a um tempo como se ele nada fosse para
nós, e, no entanto, se achasse predestinado aos nossos artifícios. Mas a ciência
clássica guardava o sentimento da opacidade do mundo, era a este que ela pretendia
juntar-se por suas construções, e por isto é que se acreditava obrigada a procurar
para suas operações um fundamento transcendente ou transcendental. Há, hoje em dia
–não na ciência, e sim numa filosofia das ciências assaz difundida -, isto de inteiramente
novo: que a prática construtiva se toma e se dá por autônoma, e que o pensamento
deliberadamente se reduz ao conjunto das técnicas de tomada ou de captação, que
ele inventa. Pensar é ensaiar, operar, transformar, sob a única reserva de um controle
experimental onde só intervêm fenômenos altamente "trabalhados", e que
os nossos aparelhos produzem, em vez de registrá-los. Veja mais
aqui.
O POETA & VENDAVAL
MARAVILHOSO – O poeta
baiano Castro Alves (1847-1871),
entre a poesia e a vida, se apaixonando em 1866, durante a apresentação da
atriz de teatro, poeta e tradutora portuguesa Eugênia Câmara (1837-1874) no Teatro Santa Isabel, em Recife. Com
ela teve uma relação que durou até 1868. Esse relacionamento recebeu duas
adaptações para o cinema; A primeira, O
Poeta (1939); a segunda, o filme luso-brasileiro Vendaval Maravilhoso (1949), com roteiro de Joracy Camargo, Osório
de Almeida e do diretor José Leitão de Barros, com a atriz e cantora portuguesa
Amália Rodrigues interpretando
Eugênia Câmara e o ator Paulo Maurício como Castro Alves. Ele dedicou-lhe duas
poesias recolhidas das Poesias Completas
de Castro Alves (Spiker, s/d), a primeira no livro Hinos do Equador: Ainda uma
vez tu brilhas sobre o palco, / ainda uma vez eu venho te saudar... / também o
povo vem rolando aplausos / às tuas plantas mil troféus lançar!... / Após a
noite, que passou sombria / a estrela d´alva pelo céu rasgou / errante estrela,
se lutaste um dia, / vê como o povo o teu sofrer pagou... / Lutar!... que
importa, se afinal venceste? / Chorar!... que importa, se afinal sorris? / A
tempestade se não rompe a estátua / lava-lhe os pés e a triunfal cerviz. / Ouve
o aplauso deste povo imenso, / lava, que irrompe do popular vulcão? / É o
bronze rubro, que ao fundir dos bustos... / referve ardente do porvir na mão. /
O povo... o povo... é um juiz severo, / maldiz as trevas, abençoa a luz... /
sentiu teu gênio e rebramiu soberbo: / - Pra ti altares, não do poste a cruz. /
Que queres? Ouve! – são mil palmas férvidas, / Olha! – é o delírio, que
prorrompe audaz / Pisa! – são flores, que tu tens às plantas / toca na fronte –
coroada estás. / Descansa, pois, como o condor nos Andes, / pairando altivo
sobre terra e mar / pousa nas nuvens pra arrogante em breve / distante...
longe... mais além voar. A segunda, recolhidas entre as inéditas do volume,
com o título de À atriz Eugênia Câmara
(No dia seguinte ao de uma vaia sofrida
no Teatro Santa Isabel, em Recife): Hoje
estamos unidos a adorar-te, / tu é a nossa gloria, a nossa fé, / gravitar para
ti é levantar-se, / cair-te às plantas é ficar de pé! / Ontem a infâmia te
cobriu de lama / mas para insultar-te se cobriu de pó!... / Miseráveis que
ferem a fraqueza / de uma pobre mulher inerme, só! / Tu és tão grande como é
grande o gênio, / és tão brilhante como a própria luz, / dentre os infames do
calvário d´arte, / tu foste o Cristo, foi o palco a cruz!.../ Mas estamos
unidos a adorar-te! / Tu és a nossa gloria, a nossa fé! / Gravitar para ti é
levantar-se, / cair-te às plantas é ficar de pé! Veja mais aqui e aqui.
DA SALVAÇÃO DA PÁTRIA – No livro O ato e o fato: crônicas políticas (Civilização Brasileira, 1964),
do escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony, encontrei essa
primorosa crônica, Da salvação da pátria: Posto
em sossego por uma cirurgia e suas complicações, eis que o sossego subitamente
se transforma em desassossego: minha filha surge esbaforida dizendo que há
revolução na rua. Apesar da ordem médica, decido interromper o sossego e
assuntar: ali no Posto 6, segundo me afirmam, há briga e morte. Confiando
estupidamente no patriotismo e nos sadios princípios que norteiam as nossas
gloriosas Forças Armadas, lá vou eu, trôpego e atordoado, ver o povo e a
história que ali, em minhas barbas, está sendo feita. E vejo. Vejo um heróico
general, à paisana, comandar alguns rapazes naquilo que mais tarde o repórter
da TV-Rio chamou de “gloriosa barricada”. Os rapazes arrancam bancos e árvores.
Impedem o cruzamento da Avenida Atlântica com a Rua Joaquim Nabuco. Mas o
general destina-se à missão mais importante e gloriosa: apanha dois
paralelepípedos e concentra-se na brava façanha de colocar um em cima do outro.
Estou impossibilitado de ajudar os gloriosos herdeiros de Caxias, mas vendo o
general em tarefa aparentemente tão insignificante, chego-me a ele e antes de
oferecer meus préstimos patrióticos, pergunto para que servem aqueles
paralelepípedos tão sabiamente colocados um sobre o outro. – General, para que
é isto? O intrépido soldado não se dignou olhar-me. Rosna, modestamente: – Isso
é para impedir os tanques do I Exército! Apesar de oficial da Reserva – ou
talvez por isso mesmo – sempre nutri profunda e inarredável ignorância em
assuntos militares. Acreditava, até então, que dificilmente se deteria todo um
Exército com dois paralelepípedos ali na esquina da rua onde moro. Não digo nem
pergunto mais nada. Retiro-me à minha estúpida ignorância. Qual não é meu pasmo
quando, dali a pouco, em companhia do bardo Carlos Drummond de Andrade, que
descera à rua para saber o que se passava, ouço pelo rádio que os dois
paralelepípedos do general foram eficazes: o I Exército, em sabendo que havia
tão sólida resistência, desistiu do vexame: aderiu aos que se chamavam de
rebeldes. Nessa altura, há confusão na Avenida Nossa Senhora de Copacabana,
pois ninguém sabe ao certo o que significa “aderir aos rebeldes”. A confusão é
rápida. Não há rebeldes e todos, rebeldes ou não, aderem, que a natural
tendência da humana espécie é aderir. Os rapazes de Copacabana, belos espécimes:
de nossa sadia juventude, bem nutridos, bem fumados, bem motorizados, erguem o
general em triunfo. Vejo o bravo cabo-de-guerra passar em glória sobre minha
cabeça. Olho o chão. Por acaso ou não, os dois paralelepípedos lá estão,
intatos, invencidos, um em cima do outro. Vou lá perto, com a ponta do sapato
tento derrubá-los. É coisa relativamente fácil. Das janelas, cai papel picado.
Senhoras pias exibem seus pios e alvacentos lençóis, em sinal de vitória. Um cadillac conversível pára
perto do “Six” e surge uma bandeira nacional. Cantam o Hino também Nacional e
declaram todos que a Pátria está salva. Minha filha, ao meu lado, exige uma
explicação para aquilo tudo. – É carnaval, papai ? – Não. – É campeonato do
mundo? – Também não. Ela fica sem saber o que é. E eu também fico. Recolho-me
ao sossego e sinto na boca um gosto azedo de covardia. Veja mais aqui.
TROIA – O épico de guerra Troy
(Troia, 2004), do diretor e
roteirista alemão Wolfgang Petersen, música de James Horner e roteiro de David
Benioff, é baseado na obra Ilíada, do poeta grego Homero. Entre as estrelas do
filme destaco a atriz alemã Diane Kruger
por sua interpretação de Helena de Troia; Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
De heróis, mitos & o escambau, Alphonse Eugène
Felix Lecadre & Aldemir Martins aqui.
E mais:
Literatura Infantil, Tiquê, Leviatã &
Thomas Hobbes, Constantin Stanislavski, Hermann Hesse, Lee Ritenour, Krzysztof
Kieslowski, Jean-Honoré Fragonard, Juliette Binoche, Bette Davis & Alexey
Tarasovich Markov aqui.
Simone Weil, Simone de Beauvoir, Emma Goldman, Clara Lemlich, Alexandra Kollontai,
Clara Zetkin & Tereza Costa Rego aqui.
Pablo Picasso, Fernanda Seno, Karl
Jaspers, Händel, Tom Wesselmann, Eva Green, Demi Moore & Soninha Porto aqui.
Cecília Meireles, Jean-Luc Godard,
Psicologia & Consciência & Pedrinho Guareschi, Pablo Milanés, Bertha
Lutz & Sufrágio Feminino, Juliette Binoche e Myriem Roussel, Johan
Christian Dahl, Costinha & Programa Tataritaritatá aqui.
Murilo Mendes, Renoir, George Harrison,
António Damásio, Benedetto Croce, Bigas Luna, Mathilda May & Joyce
Cavalccante aqui.
Caríssimos ouvintes, a voz ao coração, Bernhard Hoetger, Aleksandr Rodchenko
& Fremont Solstice Parade aqui.
Carpe diem, mutatis mutandis!, Endecha, Nikolai Roerich, Antonella Fabiani & Leon Zernitsky aqui.
Cada qual seus pecados ocultos, Nênia de Abril, Lisbeth Hummel, Sérgio Campos & Antes
que os nossos filhos denunciem o luto secular de seus abris aqui.
Sinfonias de bar, Vincent van Gogh, Ingmar Bergman, Annie Veitch, Kerri Blackman & Apesar dos pesares, a vida
prossegue... aqui.
Errâncias de quem ama, promessas da
paixão,
Richard Strauss
& Leonie Rysanek, A lenda Bororo de origem das estrelas, Sonia Ebling de
Kermoal & Dorothy Lafriner Bucket aqui.
A ponte entre quem ama e a plenitude do
amor, Murilo Rubião, Anneke van Giersbergen,
Wäinö Aaltonen, Eduardo Kobra, Ramón Casas, Manuel Colombo & Fátima Jambo aqui.
Legalidade sob suspeita, Anna Moffo, Viola Spolin, Reisha Perlmutter, Floriano de
Araújo Teixeira & Moína Lima aqui.
Os seus versos, danças & cantos do
cacrequin,
Jasmine Guy, Renata
Domagalska, Lívia Perez, Luciah Lopez & Vera Lúcia Regina aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.