quinta-feira, março 26, 2015

HERMETO, ZARATUSTRA, ADLER, TENNESSEE, FRANKL, CORSO, GUEDY & AURORA.


AURORA: UMA CANÇÃO – Pelos idos de 1977 nasceu essa canção. Eu já tinha pelejado de tudo antes disso, mas nada que prestasse. Até duas outras anteriores que eu havia inscrito numa feira música valiam a pena e não resistiram ao tempo: esqueci, se perderam. Por isso, essa foi a minha primeira composição musical de verdade. Bati o centro e fiquei ancho cantando aqui, ali e acolá. Só ganhou estatuto de vivente mesmo quando a cantora Sonia Mello gravou a canção com o meu poema Minha Voz, juntos. Foi aí que eu percebi a razão dela ter resistido a todas as outras que eu tinha então pelejado e feito. Por isso, taí a letra dela: Eu quero aurora dos meus olhos / viver a eclosão do dia /este parto retratado / no rastro meu que se vadia / pra lá das mãos / pra lá do mar / nas veredas deste céu / que vai além do meu cantar / da minha voz que traz / este céu que desvirgina / as entranhas do meu corpo / que se perde pelos vales / e só me resta seguir, ir / nas veias mornas da manhã / até abrir as comportas do meu coração. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem Young woman wrapped in a fur blanket, do pintor francês Gaston Guedy (1874-1955)

Ouvindo Hermeto Pascoal ao vivo Montreaux Jazz Festival (WEA/Atlantic, 1979) do compositor, arranjador e multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal. Veja mais aqui e aqui.

A CIÊNCIA DA NATUREZA HUMANA – O livro A ciência da natureza humana (Companhia Editora Nacional, 1957), do médico, psicólogo e filósofo austríaco Alfred Adler (1870-1937), traz os fundamentos do sistema holístico da Psicologia Individual. Na obra destaco: [...] Desde a mais tenra idade, passa a perceber que existem outros seres humanos capazes de satisfazer completamente suas necessidades mais urgentes, melhor preparados para viver. [...] a criança aprende a dar valor excessivo ao tamanho que habilita uma pessoas a abrir uma porta, ou à força que habilita a transportar objetos pesados, ou ao direito de dar ordens e exigir obediência. Desperta em sua alma um desejo de crescer, de ficar tão forte como os outros, ou mesmo mais forte ainda. Dominar aqueles que vê junto a si faz-se então seu principal propósito de vida. [...] A mente não conhece nenhuma lei natural já que o objetivo está sempre mudando. Se, porém, um indivíduo tem um objetivo constante, nesse caso cada tendência psíquica deve sofrer certa compulsão, como se alguma lei natural a influenciasse. Leis que governam a vida psíquica existem – mas são leis feitas pelo homem. Veja mais aqui, aqui e aqui.

ASSIM FALOU ZARATUSTRA – Hoje se comemora o nascimento do poeta e profeta persa Zaratustra ou Zoroastro que viveu provavelmente em meados do séc. VIIaC. Por sua difusão dos segredos e da verdade suprema de Ahura Mazda, ele foi o criador da religião Masdeísta, tornando-se, por isso, um dos primeiros teólogos da história, que possuía o objetivo de erradicar o politeísmo reinante, possuindo uma dimensão ético-espiritual elevada. Foi o filósofo e poeta alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) que escreveu o livro Assim falou Zaratustra: um livro para todos e ninguém (1883-85), do qual destaco: Zaratustra, porém, olhava para o povo e se admirava. Depois falou assim: O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem – uma corda sobre um abismo. Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar-para-trás, perigoso arrepiar-se e parar. O que é grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

LOGOTERAPIA: EM BUSCA DE SENTIDO – O livro Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração (Vozes, 1991), do neurologista e psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997), traz a experiência do autor vivida no campo de concentração, quando, segundo seu relato, ocorre a sua liberdade interior e passa a definir os conceitos fundamentais da logoterapia e a tese do otimismo trágico. Da obra destaco o trecho O sentido da vida: Duvido que um médico possa responder esta questão em termos genéricos. Isto porque o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento. Formular esta questão em termos gerais seria compatível a perguntar a um campeão de xadrez: “Diga-me, mestre, qual o melhor lance do mundo?” Simplesmente não existe algo como o melhor lance ou um bom lance à parte de uma situação específica num jogo e da personalidade peculiar do adversário. O mesmo é válido para a existência humana. Não se deveria procurar um sentido abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; cada um precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização. Nisto a pessoa não pode ser substituída, nem pode sua vida ser representada. Assim, a tarefa de cada um é tão singular como a sua oportunidade específica de levá-la a cabo [...]. Veja mais aqui.

GASOLINA & LADY VESTAL – O livro Gasolina & Lady Vestal – Poesia Urbana (L&PM, 1985), do poeta estadunidense da geração beat, Gregory Corso (1930-2001), é a reunião dos primeiros livros do autor, com prefácio do poeta estadunidense Allen Guinsberg que adverte: Abra esse livro como se uma caixa de brinquedos malucos, tenha nas mãos um refinamento de beleza extraído de uma atmosfera destrutiva. Essas combinações são imaginárias e puras, de acordo com o desejo individual (portanto universal) de Corso. Do livro destaco O Sol (poema automático): Sol hipnótico! sagrada quase eterna esfera! taça em chamas! balbuciar do dia! / Sol, solar teia de calor! seca taça tropical! sede de aranha! Sol, não água! / Sol miséria sol ira sol doença sol morte sol podre sol relíquia! / Sol baixo e torto sobre o céu africano, derramado quase vazio, ampola oca, osso do sol, pedra do sol, sol de aço, relógio de sol. / Sol dinossauro do elétrico movimento extinto e fossilizado, balbucie! / Sol, temporada das temporadas, pegar o verdadeiro peixe solar, na verde costa tomando sol como loucura. / Sol eros infernal superreal conglomeração de ira miasmática! / Sol, seres do pôr do sol chocados na desértica vida, cai! / Sol circo! tenda de hélio, apolo, rá, sol, sun, triunfem! / O sol como uma fumegante nave caiu no lago Teliphicci. / O sol como um fumegante disco gelatinoso escorreu pelos alpes Telephiccianos / O sol comanda a noite e segue a noite e comanda a noite. / O sol pode ser conduzido por uma carruagem. / O sol como um fumegante pirulito pode ser chupado. / O sol tem a forma de um dedo curvo que te chama. /O sol gira anda dança foge corre. / O sol favorece a cítrica palmeira de tuberculosos pulmões / O sol engole o lago e alpes de Teliphicci a cada ascensão. / O sol não sabe o que é gostar ou não gostar / O sol toda minha vida caiu no lago Teliphicci. / Ó profundidade constante onde tudo além é a verdadeira Bizancio. Veja mais aqui.

A MULHER QUE ESPERAVA O AMOR – A peça teatral Um bonde chamado desejo (A Streetcar Named Desire – ganhadora do Prêmio Politzer de 1948) do dramaturgo estadunidense Tennessee William (1911-1983) conta a história da protagonista, Blanche Dubois, e a aversão dela pelo marido grosseiro e ignorante da irmã, Stella. Após a ruína da família, cada uma das irmãs seguira destino próprio. Stella adaptou-se ao mundo de seu marido e Blanche manteve a postura aristocrática de gestos finos e sensibilidade exacerbada. Entretanto, a personagem principal foi muito infeliz na sua vida amorosa: seu marido homossexual cometeu suicídio, provocando-lhe profunda depressão. Acusada de seduzir um aluno adolescente, Blanche acaba demitida como imoral, recorrendo à casa da irmã, decepcionando o marido dela. Mas eis que a irmã grávida dará a luz, o cunhado Stanley, completamente embriagado a violenta provocando o seu enlouquecimento e consequente internação num hospício. A peça foi adaptada para o cinema em 1951, dirigido pelo cineasta greco-americano Ilias Kazantzóglu (1909-2003), garantindo o Oscar de melhor atriz para a atriz britânica Vivien Lweigh – a Lady Olivier (1913-1967) - e de atrizes coadjuvantes para Kim Hunter e Karl Maden. Em 1999, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar faz a sua adaptação da peça para o drama All About My Mother (Todo sobre mi madre), ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro. No filme de Almodóvar, destaque para Penélope Cruz. Também merece destaque a interpretação de Leona Cavalli. Veja mais aqui.








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