Ao som dos álbuns Fruto
(2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da
pianista, compositora e pesquisadora Heloísa Fernandes.
O que dizer nada a
mais... - Uma palavra dentro da outra a tecerem ventos peito
aberto às verdades que nunca disse: o que restou da pedra o pó à face lívida
dos olhos dilatados. Onde estou perdi a hora e uma só palavra salvou o poema da
alma no porão pelas ruas ermas de invisíveis refúgios tortos e tortuosos. O que
havia depois de feito combatia a secura com esperança de chuva, o que admito
talvez: a minha vida é o escombro da casa destruída. Ainda bem que não há pústulas
na janela perdida nem a alma remendada no telhado que desabou. Restam passos pelas
esquinas crepusculares com suas vidraças espelhadas: haverá tempo para
indecisões e enfrentamentos, ao que parece, a máquina do mundo emperrou enferrujada,
parece mesmo, quebrou-se cediça no lixo rente às paredes revogadas. E haverá tempo
adivinhando caminhos na penumbra entre o legado e o estorvo, pesares de
suspensos rumos vazios, só porque mãos trêmulas titubeiam afeto à espera do milagre
duma chuva draconídea trazendo ouro e kyawthuite. E as sereias cantam
luzes e ofertas, são muitas e me afogam, porque pertence a mim o dia e nada se
anuncia no terreno baldio do ridículo. Pertence a mim esta tarde e o que é demais
no regresso inquieto de quantas maçanetas se perderam da memória. Pertence a
mim esta noite de quantos remorsos insepultos pelos sortilégios lunares, amontoando
entulhos e retalhos por aí afora. Tempos loucos. Epistemicídios e quantas práticas
desumanizadoras de violentar destinos dissipados, com todos delitos cínicos de
postiças virtudes, o sorriso vacilante de reputações enlameadas,
pusilanimidades, tudo porque o escravo serviu a rainha e ela o desdenhou. Nem
havia por aí quem escutasse com atenção o lampejo de um drama no sangue das
palavras, somente a órbita de espedaçado vórtice. Nunca tive medo e isso pouco
importa. Graças à vida encontrei pessoas dois espíritos pelo trajeto perdido, a
me falar de Indeus e que me dizem respeito poéticos mistérios, para quem
perdida mestiçagem a bendizer das quedas, com louvores aos martírios da morosa
morte. Não acredito na vingança de Gaia, mas no revide de nossa própria
estupidez. O que passou está presente há muito tempo para todos amanhãs, porque
o que foi é e continuará sendo infinitamente. Até mais ver.
James Baldwin:
Há tantas maneiras de ser desprezível que dá até dor de cabeça. Mas a
maneira de ser realmente desprezível é desprezar a dor dos outros... Veja
mais aqui.
Liane Moriarty: Aqueles que amamos não
vão embora, eles sentam-se ao nosso lado todos os dias... Veja mais aqui.
Carol Ann Duffy: A poesia, acima de tudo, é uma série de
momentos intensos – o seu poder não está na narrativa. Não estou lidando com
fatos, estou lidando com emoções... Veja mais aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
1 - Nós extraímos as
paisagens mais profundas e escondidas \ de nós mesmos, empilhá-los sobre a mesa\
como duas pessoas se encontrando pela primeira vez\ e da última vez—libertado
do futuro.\ Nós fumamos meio maço,\ procure na pilha,\ conte os ossos\ criando
raízes em nossas almas,\ e ainda não consigo encontrar\ a palavra que faz isso.\
Talvez seja culpa\ das diferentes profundidades dos nossos abismos,\ como eles
ressoam com uma linguagem \ ininteligível para a pele.
2 - Então compramos
toranja, \ passeie pelo bairro judeu\ becos estreitos, e ele me leva\ pela mão,
ele me esquece\ nas livrarias, ele diz olha,\ há tanto céu nas janelas esta
noite,\ me apertando contra seu peito\ então não consigo ler em seus olhos:\ a
palavra,\ a palavra que faz isso\ As toranjas rolam pela calçada.\ Suas mãos
tão febris—\ como se tivesse medo de me perder,\ como se tivesse medo de que eu
pudesse ficar.
Poemas da escritora,
educadora e tradutora húngara Aksinia Mihaylova, autora dos livros Ciel
à Perdre (Gallimard, 2014) e Le Baiser du Temps (Prix Max-Jacob,
2020), e é a fundadora do jornal literário Ah, Maria.
MULHERES CAMINHAM... [...]
Eu caminho porque isso
confere - ou restaura - um sentimento de lugar... Eu caminho porque, de alguma
forma, é como ler. Você tem acesso a essas vidas e conversas que não têm nada a
ver com as suas, mas você pode ouvi-las. Às vezes está superlotado; às vezes as
vozes são muito altas. Mas sempre há companheirismo. Você não está sozinho.
Você anda na cidade lado a lado com os vivos e os mortos. [...] Todos nós temos nossos próprios sinais
que estamos atentos ou tentando não ouvir. [...] Caminhar é mapear com
os pés. Ajuda a juntar as peças de uma cidade, conectando bairros que, de outra
forma, poderiam ter permanecido entidades discretas, planetas diferentes
ligados uns aos outros, sustentados, mas remotos. Gosto de ver como, de fato, eles
se misturam, gosto de notar os limites entre eles. Caminhar me ajuda a me
sentir em casa. [...] Queremos fazer escolhas, e ter alguma agência para
nos perdermos, e sermos encontrados. Queremos desafiar a cidade, e decifrá-la,
e florescer dentro de seus parâmetros. [...]. Trechos extraídos da obra Flâneuse: Women
Walk the City in Paris, New York, Tokyo, Venice and London (Farrar, Straus
and Giroux, 2017), da escritora, ensaísta e tradutora francesa Lauren Elkin,
que no seu livro No. 91/92: A Diary of a Year on the Bus (Semiotext(e)/Les
Fugitives, 2021), ela expressou que: […] Com o tempo, o Evento
se entrelaça ao cotidiano. Pessoas que vemos no ônibus podem ter estado no
Bataclan ou conhecer alguém que esteve; a mulher no canto pode ter sofrido um
aborto espontâneo no mês passado. Outras pessoas são um imenso mistério. Não podemos
clicar com o botão direito nelas e baixar seu histórico. Não sabemos onde elas
estiveram ou para onde estão indo. Mas que elas estejam indo juntas, enquanto
se ignoram amigavelmente, parece de suma importância. Acredito que isso se
chama comunidade. […]. No seu livro Art Monsters: Unruly Bodies in Feminist Art (Chatto
& Windus/FSG, 2023), ela menciona que: […] Ser gênero feminino é ser pego entre a beleza e o
excesso: obrigado a escolher. Ser um monstro é insistir em ambos [...]. E no
seu livro Scaffolding (Chatto &
Windus/FSG, 2024), ela expressa que: […] é menos sobre você criar uma narrativa que explique e
cure seus sintomas e mais sobre o que pode ser sugerido durante o processo
terapêutico, como a maneira como falamos sobre nossas vidas codifica a maneira
como pensamos sobre elas, as coisas que queremos, nossos desejos, como podemos
aprender a viver com eles em vez de sermos guiados por eles. Você nunca será
curado, por assim dizer. Não há cura para ser humano. [...].
É HORA AGORA...
- Chega de promessas vazias, chega de cúpulas vazias, chega de conferências
vazias. É hora de nos mostrar o dinheiro. É hora, é hora, é hora. E não se
esqueçam de ouvir as pessoas e os lugares mais afetados... Sempre acreditei no poder de uma ação, de uma voz
e de uma história para mudar o mundo, mas aprendi que a verdadeira
transformação é uma responsabilidade coletiva; estamos trabalhando juntos para
tornar este mundo um lugar melhor... Pensamento da ativista ambiental ugandesa Vanessa
Nakate, que ainda se expressa: Você não pode se
adaptar à extinção. Por quanto tempo vamos vê-los morrer de sede nas secas?
A ARTE DE BRENDA BAZANTE
Quando fui aprovada eu
vibrei e me emocionei, pois percebi a importância de minha presença numa
pós-graduação no campo das artes. Momento no qual poderei cooperar com a
erradicação dessa ausência de visualidades que representem os corpos trans e
consequentemente causar impressões inclusivas em outras visitantes trans.
Pessoas que, ao adentrarem museus ou outros espaços destinados às artes
visuais, poderão encontrar corpos como os seus retratados entre as peças
expostas. Mas além destes lugares pretendo adentrar locais como ONGS,
expandindo o alcance do conhecimento que produzi para além dos espaços
institucionais. Desta forma, chegando mais perto do público que pretendo
atingir, as pessoas pertencentes à comunidade LGBTIAP+.
Palavras extraídas da
entrevista concedida à jornalista Andrea Sobreira de Oliveira (UFPE), no
periódico Cartema - Revista do Programa de pós-graduaçăo em Artes Visuais UFPE/UFPB
(2021), pela artista visual e professora de Arte, Brenda Bazante, em referência à sua
dissertação de mestrado sobre a temática Trava
Transcorpocinética: narrativas (auto)biográficas e práticas artísticas de/sobre
travestis, transexuais e dissidentes sexuais e de gênero (UFPE, 2022), pela
qual obteve o título de mestre em Artes Visuais pelo PPGAV (UFPE/UFPB). Ela
também é especialista em Metodologia do Ensino de Arte pela Faculdade Educação
de São Luís e Licenciada em Artes Visuais pela UNOPAR, trabalhando na produção de
múltiplas linguagens nas quais destacam-se as técnicas do bordado, papietagem,
escultura, pintura e desenho. Veja mais aqui.
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