DITOS & DESDITOS: Sempre nos
surpreendemos pela quantidade de formas inesperadas que podem surgir dos mesmos
elementos, e a tendência humana a refutar isso é uma redução do universo. Cada
cultura exprime uma parte diferente de nosso atlas interior: a verdade humana é
global, e o teatro é o lugar onde esse quebra-cabeça pode ser reconstituído. O
maior guia que conheço no trabalho, a quem escuto todo o tempo, é o tédio. No
teatro, o tédio é o diabo, pode surgir a qualquer momento. Posso olhar um
ensaio, um exercício e dizer: se me entedio, há uma razão. O teatro é, antes de
tudo, vida. É o ponto de partida indispensável, e não há nada mais que possa
nos interessar verdadeiramente do que o que faz parte da vida, no sentido mais
amplo da palavra. Pensamento do diretor de
teatro e cinema britânico Peter Brook. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: O uso da arte de médio prazo
é, para dizer o mínimo, enganoso, pois é o artista que cria uma obra de arte,
não o meio. É o artista da fotografia quem dá forma ao conteúdo de uma síntese
de ideias, pensamento, experiência, conhecimento e compreensão. A fotografia
registra a gama de sentimentos escritos no rosto humano, a beleza da terra e
dos céus que o homem herdou e a riqueza e confusão que o homem criou. É uma
força importante para explicar um homem a outro. Todos os outros
artistas começam com uma tela em branco, um pedaço de papel que o fotógrafo
começa com o produto acabado. Pensamento do
fotógrafo e pintor estadunidense Edward Steichen (1879-1973). Veja mais
aqui.
OUTROS DITOS: Há horas em que o homem está cheio de angústia e revela
ao amigo coisas que até aí dissimulou com muito cuidado; a alma sente-se então
levada irresistivelmente a comunicar-se toda inteira, a abrir mesmo as suas
profundezas íntimas ao amigo, para que cresça a sua amizade por nós. Deveríamos
fazer do comum algo de extraordinário e então nos surpreenderíamos descobrindo
que está muito perto de nós a fonte de prazer que buscamos em algum lugar
distante e difícil. Estamos muitas vezes a ponto de pisar na maravilhosa utopia
mas acabamos olhando por cima dela com nosso telescópio. Pensamento do escritor alemão Ludwig Tieck (1773-1853).
UMA FLORISTA - [...] Ela não
sabia nada, não se lembrava de nada, a não ser de um dia que lhe parecera
eterno pela fome que passara. [...] E
na rua, junto ao passeio, agonizava um ser inocente, com uma perna esmagada.
Agonizava entre os cravos que se lhe espalharam em volta, apertando um contra o
peito e segurando na outra mão o seu pãozinho, com o rosto branco e sério, a
boca entreaberta, os grandes olhos espantados e dolorosos fixos no céu. [...].
Trecho do conto escrito pela escritora grega Matilde
Serao (1856-1927).
DOIS POEMAS - PARA UM DETRATOR: Calúnia, detrator, / sua língua de uma espada afiada; /
vaias são o meu prazer, / os enforcamentos, minha honra. / Se você não tem
espada suficiente, / pegue a tesoura do alfaiate, / você tem que me fazer o
vestido / que eu tenho que levar à glória. / A bigorna leva o ferreiro, / para
o ourives o cadinho; / você não reclama comigo sobre fogo ou malho / você tem
que me fazer a coroa; / uma pérola é todo insulto, / um diamante cada um
enfrenta. PRA CIMA! Quinze anos atrás, da varanda acima, eu / vi você no
primeiro andar; / você não estava, infelizmente! tais como, velho e pobre, / careca
e doente. / Não era sua cama um berço, como agora, / sem travesseiro e lençóis;
/ você não comeu o sofrimento do seu rosto, / nem tossiu o pó. / O ninho de uma
aranha não era, não, o seu arco-íris, / aberto como um campo; / Não roubei suas
roupas de frio, / tossi comida e fome. / Pobreza de Jesus tão querida, / que
enfadonho a todos! / outras virtudes assustam o olhar, / de vocês já assustam o
nome. / A tua escada é de tijolo, era de mármore, / e hoje não se gasta tanto; /
até que, na floresta, quando uma árvore cai no chão, / os pássaros vão embora.
/ E de cima, do primeiro andar, o ninho de seus pais, você / subirá ao segundo,
do / qual sairá no dia seguinte, / jogado pelo mar do mundo. / Da escada dos
flats, na onda deles, você vai / subindo um a um, / até pegar o telhado para a
sua estadia, / não sendo mais alto. / Você domina a cidade da cabeça aos pés,
mas / ela não te vê; / ele apenas o vê em um rastro entre as brumas, / observando
como os olhos de Deus. / Quem te visita lá em cima? os aurens / que passam cantando,
/ como os poetas passam pela terra, / corações reconfortantes. / Ontem o
Altíssimo também te visitou / nas mãos do sacerdote / e, quando te deu o osso
do mais doce amor, / parece que te disse aquela palavra: / "Venha; do
mundo, o do sono se bane você, / o coração é muito cruel; mas, / para cima! Se
você se afasta da terra, / você se aproxima do céu." Poema do poeta espanhol Jacint
Verdaguer (1845-1902). Veja mais aqui.
TATARITARITATÁ: SHOW PÉ-DE-SERRA – Show poético-musical reunindo xotes, baiões e forrós levando no ritmo da sanfona, zabumba & triângulo. Veja o repertório abaixo: