NUMA
RODA DE CHORO - (Imagem:
Roda de Choro em Santa Teresa – Série Rio -, da artista plástica Mariana Bonifatti). Lembro bem, ainda
menino, quando via meu pai pegar um bolachão ou uma fita cassete com músicas de
Pixinguinha, João Pernambuco, Waldir Azevedo ou Jacob Bandolim, ou mesmo a
dulcíssima flauta de Altamiro Carrilho, ficar solfejando pelo meio da casa ou
quando dirigia nas viajadas e passeio nos finais de semana. Esse o meu primeiro
contato com o Choro, tanto é que quando cheguei em Recife, tornei-me um assíduo
frequentador de bares que rolassem uma roda de choro ou conjuntos regionais,
executando músicas de Garoto e de outros belíssimos chorinhos que muito me
apeteciam. Dividido entre frevos, xotes, baiões, emboladas, repentes e
cantorias, passava a tarde inteira, entrando pela noite, embalado aos acordes e
improvisos de tão gostosa música, ainda hoje fazendo parte do meu cardápio
musical. Foi quando um dia, na legendária Livro 7, que dei de cara com a Pequena História da Música Popular – da
modinha à canção de protesto (Vozes, 1974), do José Ramos Tinhorão, que fiquei
sabendo do surgimento desse tipo de música pelos idos do século XIX, oriundo da
valsa, da polca e do lundu, e que tinha em Joaquim Calado, o pai dos chorões, a
figura de relevo e a sua formação com um solista, dois violões e um cavaquinho,
e que se tornara mais frequentemente audível a partir de discos que comprei da
Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros, Patapio
Silva e do grande Villa-Lobos. Noutras leituras do Mário de Andrade, Câmara
Cascudo e, também do Rostos e gostos da
MPB (L&PM, 1979), do Tárik de Souza, tanto ouvia como me aprofundava na
busca por referências para aquisição de discos, como do conjunto Galo Preto,
Joel Nascimento e Déo Rian, como também do Noites Choronas, Camerata Carioca e
da Orquestra Pixinguinha, com a presença de outros instrumentos na sua formação,
como a flauta e pandeiro, bem como o curioso violão de 7 cordas que tanto ouvia
meu pai falar do Dino, como, às vezes, com piano, trombone, clarinete e saxofone,
principalmente quando ouvia execuções com reunião de músicos como Radamés
Gnatalli e Raphael Rabello, até a aquisição do livro Choro – do quintal ao municipal (Editora 34, 1998), de Henrique
Cazes. A partir de então, nunca mais deixei de apreciar uma roda de choro,
como, certa vez, visitando Maceió, adentrei na choperia Orákulo, só porque
ouvira de longe os acordes do choro rolando no ar. Foi nesse dia que fui
apresentado ao talento do músico alagoano Ibys Maceioh que, anos mais tarde, quando
passei a morar na cidade, se tornaria além de ídolo da música, um amigo de boas
conversadas. É maravilhoso ter a constatação da diversidade musical brasileira,
com tantos gêneros, levadas e sotaques, traduzindo nossa plural expressão anímica.
Esta é a uma das partes pra lá de interessante e que faz este país ser um
maravilhoso Brasil pra gente e pro mundo. E vamos aprumar a conversa &
tataritaritatá. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem:
arte do pintor e professor Sérgio Marques da Silva Júnior.
Curtindo
o álbum Charme do
Choro,
com o grupo O Charme do Choro, formado por Jade Guilhon (bandolim e violino), Dulce
Cunha (flauta), Laíla Cardoso (violão), Camila Alves (violão 7 cordas), Carla
Cabral (cavaquinho) e Rafaela Bittencourt (pandeiro), criado em 2006, por
sugestão do arquiteto e músico Paulinho Moura, na cidade de Belém do Pará.
PESQUISA
Uma
obra importantíssima para os que, como eu, adoram o Choro é Almanaque
do choro: a história do chorinho, o que ouvir, o que ler, onde curtir (Zahar, 2003), de André Diniz da Silva, indiscutivelmente um guia completo sobre o
gênero musical que Heitor Villa-Lobos afirmava ser a “alma musical do povo
brasileiro”.
LEITURA
Lendo o Chorinho Brejeiro (Record, 1993), do escritor Dalton Trevisan.
PENSAMENTO DO DIA
Um
chorão pode ser feliz desde que ele esteja se esbaldando numa roda de chorinho.
Vamos nessa que hoje é o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, instituído
pela Unesco, em 1996.
Veja mais Jacob Boehme,
Max Planck, William Shakespeare, Pixinguinha, Michael Moore, Brigitte Bardot, Marcel
René Herrfeldt & Silvia
Mota aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Arte do pintor e
professor Sérgio Marques da Silva Júnior
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.