HISTÓRIA
SEM FIM - A encontra B e
pergunta: - Pronde você vai? Estou procurando C! Então vamos. E foram.
Encontraram D, E, F e G, até o Z. Mas não acharam C. Ficaram conversando até
que a C chegou e ficaram no maior papo. Aí conversa vai, conversa vem, formaram
o Alfabeto, ou melhor o Abecedário - ABC. Ficaram na maior brincadeira. Então A
achegou-se a M que estava com O chamando R e formaram a primeira palavra: AMOR.
Aí L quando viu aqui achou muito legal e puxou U que trouxe Z e formaram a
segunda palavra: LUZ. Nossa! Duas palavras! Do outro lado V viu aquilo e
futucou I trazendo D pra mais perto e que puxou A e formaram uma terceira
palavra: VIDA. Ora, como as letras eram muito buliçosas demais, tagarelando
umas com as outras, formaram inúmeras palavras e deram conta que elas, as
letras inventaram a primeira palavra e com ela outras tantas que trouxeram a
ideia pra formação de frases que formaram períodos com muitos sentidos e nascia
a primeira história assim: era uma vez... um menino que gostava de brincar com
as letras e com elas conversava muito contando isso, perguntando aquilo e o
maior teitei de quem bebeu água de chocalho no maior teretetei. Letra vai,
palavra vem, estava inventado o Dicionário – isso porque deu uma mania nelas de
querer organizar as coisas. Todavia, de tão inquietas que eram, tudo saía do
controle porque tanto trelavam demais a torto e a direito, que novas palavras
surgiram com novos significados – nem sabiam que inventavam agora a Semântica.
Com tantas possibilidades de dançarem quadrilha e todos os ritmos
inimagináveis, foram surgindo substantivos, adjetivos, artigos, pronomes,
numerais, verbos e mais advérbios, preposições, conjunções e o escambau a
quatro. Quando deram fé, haviam também inventado a Morfologia para primeira
gramática. E muito admiradas com tudo que tinham a capacidade e o poder de
realizar, perceberam que a palavra AMOR sozinha podia ser mudada adquirindo
outros sentidos e tantos sentidos, e confirmaram trocando cada uma delas de
lugar: OMAR, MORA, AROM, RAMO e ROMA. Cada mudança de posição, um novo sentido.
Juntas resultavam numa coisa confura. Rearrumaram pra lá, trouxeram pra cá e
findaram inventando a Sintaxe: Omar e Arom são membros de um ramo de família
que mora em Roma. Pronto. Estava organizada a frase como queriam e muito
felizes: inventaram também a estilística. A partir daí misturaram tanto que a
palavra MISTURAR originou outras tantas como miscigenação, heterogeineidade –
palavras grandonas, vixe! Uma nova descoberta: palavrinhas, palavras e
palavrões. Adoravam as pequenininhas como Pé, Azul, Pelé. Também as palavras
como Amarelo, brincar, cocada. E os palavrões como Pindamonhangaba,
inconstitucionalissimamente! Eita, vamos deixar os palavrões pras horas
emergenciais, pois são muito difíceis de dizer e escrever. E não pararam de
formar novas frases que davam em muitas e tantas novíssimas histórias, do
menino que com elas se deleitava no entretenimento, ficou tão feliz dando asas
à imaginação. Principalmente quando ele percebeu que cada historia podia ser
contada e recontada indefinidamente formando novas e muitíssimas histórias sem
fim. É exatamente por isso que inventei de ser contador de histórias, entrando
pela perna de pinto, saindo pela perna de pato, agora vou contar uma história que
deu da conversa entre o pato e o meu sapato reclamando do rato que comeu no seu
prato, isso um desacato pra ele, a ponto de quase ter um infarto e morrer ali
na hora, no ato. Ah, isso é outro fato. Vamos fazer um trato: conto na outra,
tá? Grato! © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
Imagem a arte do pintor britânico William Holman Hunt (1827-1910).
Veja mais William
Shakespeare, Casanova, Rainha Zenóbia, Hans Christian Andersen, contos de Magreb, Émile Zola, Federico
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CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
A
arte do pintor e escultor alemão Max Ernst (1891-1976).