ITINERÁRIO
DO FINAL DE SEMANA NUM LUGAR QUE NÃO EXISTE (Imagem Orgia em buen
humor, by Luis Rodolfo). - Final
de semana e pegar o asfalto fugindo do tédio, do sofrimento dos conflitos em curso, desopilar num
distrito, um povoado de gente humílima e pacata. Na primeira barreira policial
da rodovia, um pisca não funciona e a multa rola do veículo ficar na ameaça de
ser apreendido. Deita vinte e o patrulheiro libera o final de semana e a viagem
sorrindo, mais um comprado por suas posses. Quilômetros poucos percorridos, já
na entrada, um cheleleu menino quase adolescente maltrapilho pronto pra atender
suas ordens. Descarregue aqui, bote ali, vá buscar meus chinelos e a bebida no
bar e diga pro Dudé que mande aquela putinha safada pro meu xambrego. Uma
intimação da prefeitura debaixo da porta por conta do terreno e logo aparece o
fiscal com ar de lei e exigências. Deita cinquenta, tudo resolvido e com mais
dois copos de cerveja o compadrio fechado, um novo amigo da hora para resolução
de quaisquer outros problemas. Depois uma ruma de gente, delegado, vereador,
prefeito, promotor, juiz e contador, reunidos numa roda de amizade, a corja dos
pariceiros, com quengas trazidas e lavadas na jega da bebericagem. Nada que o
dinheiro não compre: honras, vergonha, decisões e interesses. Quando é de dia,
todas as vistas de testemunhas temerosas na lei do silêncio. Quando é de noite,
tudo arrepia: descabelamento até o tutano da pedofilia, sacanagens, porradas,
pó, baseado e risadagem converseira do maior conluio no toma lá da cá e de
quanto levo nisso e do cadê o meu no pé do cipa, camaradagens prévias pras
resoluções de todos os gabinetes e salas de reuniões. Na farra, trasam o
destino da merenda da escola pública, dos medicamentos dos postos de saúde, das
licitações públicas, dos privilégios no loteamento do erário público, do
emprego de gente do nepotismo para ocuparem cargos de proventos vultosos
mantido sob a condição de submeter a um salário mínimo e devolver todo o restante
da bufunfa em moeda viva pros bolsos deles donos verdadeiros de todos os cargos
das estatais. E trocam favores, cavalo-mago, dedadas, presentes e tantas
gentilezas, enquanto empurram desafetos e muitos tantos outros pro charco da
fome e da miséria, para um presente que é sempre anteontem de um amanhã igual e
sem futuro. E posam de bonzinhos com doações pra lá de generosas no culto dos
salvadores da pátria e anjos bondosos do reino cristão e que, por isso, missão
cumprida e precavida, não pesam nenhum remorso, nem culpas, muito menos motivo
para abrir mão do hedonismo que é o melhor da vida. E quando a ressaca instaura
no outro dia o seu mal-estar, novos copos e redes de maquinações pelas novas
jogadas e apropriações no reino da corrupção com sacadas de extorsões,
chantagens, tramoias, dilapidações, muambas e influências, orgias e porcentagem
de lucros e outras tantas práticas pros seus próprios bolsos e prazeres. Tudo
isso em Alagoinhanduba, um lugar que não existe senão na mente doentia de um
mitômano incorrigível, que sequer sabe lidar com seus próprios fracassos e
recorre à mentira para descongestionar suas angústias e condições aversivas, sem
conseguir, ao menos, realizar algo de útil ou que tenha serventia para quem quer
que seja. Por isso, na ponta do lápis ou no teclado do computador, só sabe manifestar
uma revolta descabida e caolhíssima, como um justiceiro inescrupuloso perorando
a sua desgraça e a dos outros, na incapacidade de entender que tudo é justo e
real na ordem e no progresso, ao invés da sua débil interpretação de que todo
mundo não é mais que enrolões quando não presas fáceis e patéticas, obesas e
anoréticas demonizadoras do oponente e que se destroem a si próprias porque não
sabem de si mesmas, ou descabido denunciador de um mundo óbvio e sem segredos
de acumulação voraz, desenfreada e sem precedentes, porque dentro da sua
própria inépcia de enxergar um palmo além da venta, vive com a sua mania de
inventar todo dia um outro viver. E vamos aprumar a conversa &
tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem:
Femme nue aux masques, Huile sur toile (1927), do pintor e
gravador belga James Ensor
(1860-1949).
Curtindo a
caixa Cartografia Rumos 2004/2005 - O
Brasil em 9 CDs, com os artistas premiados nas edições do Rumos Música e
Rumos Literatura/Audioficções do Instituto Itaú Cultural.
PENSAMENTO DO DIA
Quando a gente finca pé pra frente e o
povo todo só quer o enterro voltado, das duas, uma: ou você timbunga na onda
enfiando tudo na jaca, ou tira o seu da reta e paga o preço de ficar sozinho na
contramão. A escolha é sua. (LAM).
POEMIUDINHO
BEIJO
Na
manhã dos seus lábios
Recolho
o beijo que enche de vida
O
meu coração.
Veja mais Georg
Lukács, Jacques Lacan, Samuel Beckett, Henry James, Nicole Kidman, Aurélio
D'Alincourt, Morton Subotnick, Dorothy Castro & Fady Morris aqui.
Kisses, do pintor
francês Théodore Géricault (1701-1824).
E como é Dia do
Beijo, confira O beijo que se faz poema aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Lovers Kiss Drawing by Carla
Carson