segunda-feira, novembro 25, 2024

MARÍA NEGRONI, LEILA MOTTLEY, ELIZABETH BLACKBURN & SOLANO TRINDADE

 

 Imagem: Zineblog – Acervo ArtLAM.

Ao som do Live concert (2024) e do álbum First Prize (Contrastes Music, 2023), da premiada violonista russa Vera Danilina.

 

O sorriso no enredo das reminiscências... - Tudo se repete e é como se cada vez fosse inaugural. Ora dum jeito, ora de outro no álbum de fotografias empoeiradas, a divagar pela meninice dos quase 10 anos: um sorriso largo, mãos aos quartos e a pose do olho de peixe. E era tudo fascínio pelas águas pretas do brejo dos avós, ou no terreiro de casa com o cardume inquieto na beira do rio. Não podia mexer em nada dos móveis da casa, nem saber dos segredos de família, as cenas inexplicáveis, as músicas do rádio, de gente que teimava em não morrer e jogavam terra na cova dos que se foram e, cá comigo, o que os adultos faziam uns aos outros – e me assombravam como se fossem corvos criados para arrancar meus olhos e eu morresse na escuridão com cada uma delas. Era sempre quase e nem ligava, ia para algum lugar, só tinha o quintal e ali o mundo e os invisíveis se tornavam reais, a tagarelar inventando hestórias da imaginação tirada dos livros. E me deixava levar pelo ditado aprendendo novas palavras, soletrando as sílabas e fazendo força para que tudo sorrisse apesar dos pesares e das botas marchando pelo corredor da casa. Era de verdade e fazia de conta, pronto pra voar do primeiro galho pelos olhos de Maisie na mirada aguda da órfã Ana de Cria Cuervos, quando a gente só queria brincar com Machuca pelas ruas de Santiago do Chile. E parava o tempo arrancando os ponteiros do relógio louco dos pais e fugíamos pelos zis dias de noites intermináveis. Quantas vezes essa criança despregava de mim fugindo perdida pelas trevas imensas, não sabia o que dizer e o que era a inocência escapava sobrevivente a cada novo infortúnio marcado nos cabelos grisalhos em desalinho. Depois do desespero solitário reencontrava a me abraçar como se fosse o menino do Guardador de Rebanhos e era o que me dava a plenitude da eterna ressurreição. Até mais ver.

 

Millôr Fernandes: O dinheiro é a mais violenta das invenções humanas... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Graça Machel: É o significado da minha vida desde a juventude: tentar lutar pela dignidade e pela liberdade do meu próprio povo... Veja mais aqui.

Teresa Cárdenas: O pior tipo de escravidão, hoje, dispensa algemas e cativeiros: é a que impomos a nós mesmos... Veja mais aqui.

 

UM RIO CORRE POR ELE

Imagem: Acervo ArtLAM.

O rio é um nascer do sol de peixes voadores. (Isto é um presente.) Mas há dias em que o rio entrega uma mensagem contaminada, ou nenhuma mensagem: nenhuma linguagem para a estrada que flui, nenhum peixe escuro para acalmar a velocidade. (Isto também é um presente.) Havia algo aqui, antes de algo estar aqui? Ninguém responde. Mais cedo ou mais tarde, todas as coisas convergem, e o rio as leva, saltando sobre as rochas, para o porão ondulante da eternidade.

Poema da premiada escritora e tradutora argentina María Negroni. Veja mais aqui.

 

CRIATURAS NOTURNAS – [...] Mamãe costumava me dizer que sangue é tudo, mas acho que estamos todos aqui desaprendendo esse sentimento, esfregando os joelhos e pedindo a estranhos para nos consertar. [...] A ideia de afogamento não me incomoda, no entanto, já que somos feitos de água de qualquer maneira. É como se seu corpo transbordasse de si mesmo. [...] Ela é o fundo do oceano, onde toda a magia se esconde sob muitas camadas de escuridão, água e sal. [...] a arte é a maneira como nos imprimimos no mundo, então não há como nos apagar [...] O silêncio nos mata de fome, chile. Alimente-se. [...] Estou dizendo a ela como essas ruas nos abrem e removem a parte de nós que mais vale a pena manter: a criança que resta em nós. [...] A escola tem tantos buracos quanto as ruas, sempre lascando, sempre nos fazendo tropeçar. [...] Estamos sempre mostrando nossas mãos às pessoas como se fosse uma prova de que somos humanos. [...]. Trechos extraídos da obra Nightcrawling (Random House, 2022), da escritora estadunidense Leila Mottley.

 

EFEITO TELÔMERO & REJUVENESCIMENTO LONGEVO & SAUDÁVEL– [...] Até certo ponto que nos surpreendeu e ao resto da comunidade científica, os telômeros não simplesmente executam os comandos emitidos pelo seu código genético. Seus telômeros, ao que parece, estão ouvindo você. Eles absorvem as instruções que você lhes dá. A maneira como você vive pode, na verdade, dizer aos seus telômeros para acelerar o processo de envelhecimento celular. Mas também pode fazer o oposto [...] Não seja muito tímido ou exigente com suas ações. Toda a vida é uma experiência. Quanto mais experimentos você fizer, melhor. [...] As extremidades dos nossos cromossomas podem alongar-se e, como resultado, o envelhecimento é um processo dinâmico que pode ser acelerado ou retardado e, em alguns aspectos, até mesmo revertido. [...] Foi demonstrado que diversas técnicas de mente e corpo, incluindo meditação e Qigong, reduzem o estresse e aumentam a telomerase, a enzima que repõe os telômeros.[...] Ruminação é um ciclo de pensamentos repetitivos e improdutivos sobre algo que está incomodando você. Se você não tem certeza de quantas vezes rumina, agora você pode começar a notar. A maioria dos gatilhos de estresse tem vida curta, mas nós, humanos, temos a notável capacidade de dar a eles uma vida vívida e prolongada na mente, deixando-os preencher nosso espaço mental muito depois que o evento passou. Ruminação, também conhecida como melancolia, pode escorregar para um estado mais sério conhecido como ruminação depressiva, que inclui pensamentos negativos sobre si mesmo e seu futuro. Esses pensamentos podem ser tóxicos. [...]. The Telomere Effect: A Revolutionary Approach to Living Younger, Healthier, Longer (Grand Central, 2017), da bióloga Prêmio Nobel australiana, Elizabeth Blackburn, que ao ser demitida do Conselho Presidencial em Bioética, pela Administração Bush, ela assinalou que: Há uma grande sensação de que a pesquisa científica – a qual, acima de tudo, é definida como uma busca pela verdade – está sendo manipulada para fins políticos. Há evidências de que tal manipulacão vem sendo realizada a partir da sobreposição de membros nos conselhos consultivos e do atraso e da deturpação de seus relatórios. Hoje ela é membro da Science Advisory Board of the Regenerative Medicine Foundation. Veja mais aqui.

 

A POESIA DE SOLANO TRINDADE

Eu ia fazer um poema para você \ mas me falaram das crueldades \ nas colônias inglesas \ e o poema não saiu \ ia falar do seu corpo \ de suas mãos \ amada \ quando soube que a polícia espancou um companheiro \ e o poema não saiu \ ia falar em canções \ no belo da natureza \ nos jardins \ nas flores \ quando falaram-me em guerra \ e o poema não saiu \ perdão amada \ por não ter construído o seu poema \ amanhã esse poema sairá \ esperemos.

Poema do escritor, pintor, ator, teatrólogo, cineasta, folclorista e ativista Solano Trindade (1908-1974). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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