segunda-feira, maio 19, 2025

JAMAICA KINCAID, JEWEL KILCHER, ELIANE BRUM & MARCOS NANINI

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Villa-Lobos Piano Music (8 Vols. Naxos, 1999/2008), da pianista Sonia Rubinsky.

 

Um dia e outro, qual amanhã...Dá licença, faça um favor! Chegue mais perto, sim? Dê-me sua mão nessa rua... E vamos pela manhã: o dia não espera por nós. Vamos pela tarde, a vida é uma lembrança perdida nos olhos. Vamos pela noite: há tempo de sobra para ainda ouvir a canção porque em nossas mãos o mundo é nosso. Vamos. Uns dias às carreiras da correnteza, noutros a chatura do vagar das coisas mansas quase paradas. É a vida e não só isso. A vida não é só isso não. Para onde ir, pra que lado pender, pelo menos um copo d’água gelada, por gentileza. Quem sabe minhas chagas sejam a sua dor e as dores dos outros, doutras mais fundas que há milênios nos fazem doer e chorar. Melhor acender o Fogão e frever no passo, né não? Dias pendurados na memória, dias esquecidos redivivos... Tudo passa. De longe as luzes dos postes são vagalumes em fila parados no ar. Os faróis são relâmpagos nas paredes. Os motores são trovões poluentes sufocando e ouço quem assobiava uma modinha tarde da noite, não sei, porque ouvi pisadas, um disparo, parece: alguém foi desta para melhor. Dias que ficaram dos idos sem fim... Reapareceram os que levam o nariz no umbigo e tudo de novo: quem mandou mexer com quem tá quieto? Se servir de consolo: vá se foder! Vamos vivendo pelos sonhos espiralados com imagens desbotadas de séculos reiterados do genocídio. A rua agora é uma serpente dançante reluzindo nuvens explosivas, meu chão é todo mundo e o mundo todo. De canto a recanto e tudo tem uns dias de chuva, outros de sol. A gente tem de mudar de preferências, de condução, avalie. Fui aprendendo com o tempo a ficar só, a me virar comigo mesmo e do jeito que der. Hoje os meus estão todos no cemitério, os que sobraram estão por aí e quase não sei, passaram os últimos... O que restou das matas, dos canaviais, das queimadas, repinicado dos violeiros, motes e glosas dos repentistas. Hoje é tudo muito brega com suas devoções cegas, com suas orações exaltadas e o que há para comer de enlatados e pré-cozidos, outros sonhos comprados nos supermercados, farofada na praia domingueira, bater perna pelo asfalto abrasado, olhares que seguem os automóveis e as fotos nas redes sociais. Os posudos endinheirados ninguém sabe como enriqueceram de uma hora pra outra, da noite pro dia. São só os queimas de estoques nas promoções do comércio e na zoada dos carros de som, a última moda, está tudo caro e custando os olhos da cara nas prestações intermináveis. E as recepcionistas vistosas para portabilidades infindas de amigo, de bancos, de telefônicas, de afetos e até de cara e cabelo, do que quiser e mudar de casa, de bairro, de condomínio, tudo muda, é só ligar a tevê, esquentar no micro-ondas, matar a barata, besouros infernais, jatos de inseticida, onde a pressa escondida atravessa a ponte, quem sabe, sobe ladeirão, desce pelo calçadão, aproveita o sinal aberto, pé na bunda... Desde criança que falo sozinho, as árvores, os bichos e outros eus com as paredes, coisas, sonhos de olhos abertos, acordados farrapos pelas noites roucas e resistem ao amanhecer, inevitáveis acordes de um redemoinho irisado, dramáticos arrependimentos de auroras nubladas. Estamos todos desorientados, doidos varridos, tontos aloprados. Quantos não lubrificaram seus cumbucos na dor de cotovelo de suas xués paixões, hem? Tá. Urdi invenções de desejos preteridos na palavra arredia, indomável, fugidia da semeadura dos meus pais e escapuli pro esvaziamento dos simulacros. Removi dos olhos as montanhas amedrontadas e desliguei os pavorosos motores para que a vida ecoasse Sol na alma e eu me sentisse livre da fuga humana, a sorrir da fortuna dos meus infortúnios. Só queria caraminholar ao léu como um cabrito solto no berro lá, bezerro mugindo sol, sapo coaxando si, deformado pelo dó, inconformado com o ré, desconforme de mi, a loucura vigente sou, cão desgovernado por sustenidos e bemóis desentoados. Meu coração pulsa aventureiro do escambau no oco do mundo como se fosse o núcleo da Terra prestes a explodir se estendendo por raízes e rizomas nos talos e todos os troncos pelos galhos de todas as folhas e flores, dos frutos que saltam no abissal instante dos ventos nos bicos dos pássaros, o polém que os zangões semeiam do grão de tudo, inutescência de nada. Rabiscado de catataus na barba maluca sou o cafuzo das mamelucas na minha pele de macuco. O que voga: o muro é só pro exercício do pulo com a visita da saúde e a hostilidade correndo frouxa à revelia preu pegar o beco, porque machucava os inutensílios, a música papulá e o que não vale um xis. E futucava caloteiros porque sempre só comigo mesmo, qualquer hesitação podia ser letal. O caduco aos agradinhos engabeladores pela pinoia, xingado, praguejado, tanto um como outro, tudo passa e a arte fica nua. E a poesia um arroz no prato com feijão e quitutes comestíveis feitos pela vó, cada casa é uma sombra de paiol arruinado. E se perdeu a condução, vai na outra, a fila do caixa, os preços subiram de novo, putzgrilla! Nunca mais viu-se o sol da manhã, faz tempo que não se aprecia o fim de tarde, só a moda da atriz, o galã da vez, o último sucesso das paradas, cair nas quebradas, dar um rolê, o que importa é estar empregada, sindicato pra quê, votar mesmo pra quê, tanta coisa pra quê? O padre falou o que o pastor disse, valha-me, Jesus! A urgência do instante, agora ou já! Não há pra depois! E não abrir mão de insinuar: se Deus quiser, dará! Vou de primeira, de segunda, de terceira e o que mais der na cabeça num zunzunzum, no corpo um chamego bom que ninguém de ferro. Preste atenção! Prestenção! Acode, cruz-credo! E como curar as chagas da fé? Um comprimido, cápsula, drágea, tem na farmácia e farmácia tem em tudo quanto é lugar, em todo canto. Estamos mesmo doentes demais, doentes de doer. Tem de cuidar da vista, de ir ao dentista, à manicure, fazer o cabelo, os mesmos, as mesmas semanas, os meses, os mesmos últimos anos, um barulho ensurdecedor e é só dobrar a esquina ou trocar de roupa a saborear tudo datado, não o prato frio, pra uns está sempre quente como se fosse a primeira vez, o impacto da primeira vez. Também tenho tudo e o que não quero, muito inventei. O que vi e o que li está no Tataritaritatá. Salve terra boa, mãe de todo vivente (de coisas que parecem até estarem vivas, de gente que só quer trempe e geme por manha e até por não ter o que fazer, nem preste para tal). Nasci na beira do rio e nele aprendi o que nem se ensinou: pra descer, vento e correnteza; pra subir, tem de nadar. Inventei outras tantas coisas, muito além do céu por limite, subterrâneo da maior fundura. Coisas que vi e amei, doutras nem sei o que é que diga - do raso nunca quis, todos os lados. Do alto pra baixo, do fundo pra cima, viscerais sucatas, cascatas viris e vitais. Tenho de ir embora, não importa o que vivo agora. Só tenho este instante, pouco importa o que passou ou virá. Meu nome é nada e tudo perece a cada momento a morrer. A vida é o meu circo, a poesia o meu pão. Até mais ver.

 

Mary di Michele: O inverno é longo demais para o meu gosto. Prefiro as estações intermediárias, as temperadas. Adoro maio, quando tudo floresce ao mesmo tempo aqui, incluindo os bordos com suas flores verde-ácidas; as florezinhas cobrem as calçadas... Veja mais aqui.

Rebecca Goldstein: Se você não se esforça, ou se seus esforços não valem de muita coisa, então é como se você nem tivesse se dado ao trabalho de aparecer para a sua existência... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Jenny Odell: Estou sugerindo que protejamos nossos espaços e nosso tempo para atividades e pensamentos não instrumentais e não comerciais, para manutenção, para cuidado, para convívio. E estou sugerindo que protejamos ferozmente nossa animalidade humana contra todas as tecnologias que ignoram e desprezam ativamente o corpo, os corpos de outros seres e o corpo da paisagem que habitamos... Veja mais aqui.

 

TRÊS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

EU NÃO ESTOU AQUI - Eu não sou daqui \ Meu cabelo cheira o vento \ e está cheio de constelações, \ E eu me movo sobre este mundo \ com uma descrença saudável. \ E eu me aproximo dos meus dias e do meu trabalho \ Com a consequência vaporosa \ Um toque que é translúcido, \ Mas pode violar a pedra.

PAIXÃO - A paixão é um estranho \ - Uma coisa. \ Uma criatura óssea fina com a alimentação de si mesma. \ É viciado não em seu assunto, mas em sua própria fome vã. \ E precisa apenas de um rosto bonito para alimentar sua imaginação desenfreada. \ É sofá húmido e palmas suas. \ São tapetes carnudos em chamas com conquista. \ Mas quando a conquista é completa, \ O sangue deixa seus membros e fica desencantado. \ Decepcionado até mesmo ao ponto de nojo \ com seu sujeito, que se senta então, como um tronco oco, \ Esvaziado da sua preciosa carga \ e deixado para desaparecer como navios de guerra derrotados. \ Uma semente aliviada de sua casca transparente, \ para se dissolver finalmente em uma língua áspera e impaciente.

AO ENTRAR NA MINHA VAN - Alegria, pura alegria, eu sou \ O que eu sempre quis \ Para crescer e ser \ As coisas estão se tornando \ Mais de um sonho com \ A cada dia de vigília... \ As sobrancelhas pesadas da vida diária \ Estão a ficar incrustados \ com brilho e o dedo agitramador \ A consequência é \ Começando a rir \ Homens velhos mal-humorados \ Tenha as asas \ Queimaduras esportes Halos \ e embotamento do dia-a-dia \ Já começou a respirar \ Como eu me lembro do \ Incrível leveza \ de viver.

Poemas da poeta, cantora, compositora e atriz estadunidense Jewel Kilcher, autora da obras livros A Night Without Armor (1998), Chasing Down The Dawn (2000), Chasing Down The Dawn PV (2001), Angel Standing By (1998), Heart Song (1998), Pieces Of Dream (1999) e Never Broken (2015), entre tantos outros.

 

AUTOBIOGRAFIA - A raça não é muito interessante para mim. O poder é. Quem tem poder e quem não tem. A escravidão me interessa porque é uma violação incrível que não parou. É preciso falar sobre isso. A raça é uma diversão... Eu realmente não entendia o racismo porque cresci em uma sociedade totalmente negra, então eu não vi como era possível não gostar de mim!... Estou tão acostumada a ser mal interpretada... Uma das coisas que a leitura faz, torna sua solidão administrável se você é uma pessoa essencialmente solitária... Pensamento da escritora de Antíqua e Barbuda, Jamaica Kincaid, autora da obra The Autobiography of My Mother (Farrar Straus Giroux, 2013), no qual expressa: […] Não importa o quão feliz eu tenha sido no passado, não sinto saudades. O presente é sempre o momento que eu amo. [...] O passado é uma sala cheia de bagagem e lixo e, às vezes, coisas que são úteis, mas se são realmente úteis, eu as guardei. […]. Já no livro Generations of Women: In Their Own Words (Chronicle Books Llc, 1998), assinalando que: […] O que eu não escrevo é tão importante quanto o que eu escrevo [...]. Ela também é autora das obras The Best American Essays (1995), Lucy (1990), A Small Place (1988), At the Bottom of the River (1983), entre outros.

 

BANZEIRO ÒKÒTÓ - [...] uma das experiências de alegria mais importantes que vivi. Alegria da partilha, alegria por ser liberada de precisar explicar o tempo todo por que não podemos destruir a única casa que temos, alegria por encontrar um lugar no sem lugar do mundo. Alegria por pertencer, eu que vivo despertencida [...] Não aconteceu de repente. Foi acontecendo. Ainda acontece. Nunca mais vai parar de acontecer, acho. A Amazônia não é um lugar para onde vamos carregando nosso corpo, esse somatório de bactérias, células e subjetividades que somos. Não é assim. A Amazônia salta para dentro da gente como num bote de sucuri, estrangula a espinha dorsal do nosso pensamento e nos mistura à medula do planeta. Já não sabemos que eus são aqueles. As pessoas seguem nos chamando por nossos nomes, atendemos, aparentemente estamos com nossas identidades intactas — mas o que somos, já não sabemos. O que nos tornamos não tem nome [...]. Trechos extraídos da obra Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo (Companhia das Letras, 2021), da escritora e jornalista Eliane Brum, que no livro Brasil, construtor de ruínas: Um olhar sobre o Brasil, de Lula a Bolsonaro (Arquipélago Editoria, 2019), ela expressou: […] Podemos concluir que, no senso comum, a infância não foi inventada para todas as crianças [...] E assim, com os males reais sendo invisibilizados e apagados, tudo continua como está. E aqueles que gritam seguem cimentados na mesma posição na pirâmide social. [...] Mesmo que isso não seja óbvio para todos, é a arte que expande a nossa consciência mais do que qualquer outra experiência, justamente por deslocar o lugar do real. Ao fazer isso, ela amplia a nossa capacidade de enxergar além do óbvio. [...]. No livro Meus Desacontecimentos: A História da Minha Vida Com as Palavras (Arquipélago, 2017), ela expressa que: [...] É este afinal o sentido da literatura da vida real. Ou pelo menos um deles. Tentar amalgamar pela linguagem o que foi separado pela carne. Mas a palavra é desde sempre insuficiente para abarcar a vida e aquele que escreve se condena ao fracasso. [...] Escolhi viver sem fronteiras definidas, nações não me interessam, limites só me importam os da ética. Tenho um coração andarilho, um corpo mutante, uma mente transgênera. [...]. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

A ARTE DE MARCOS NANINI

[...] Sou do Recife, com orgulho e com saudade, como dizia o Frevo nº 3, e gosto muito de pitombas! Essa é minha característica... [...] Teatro é minha vida! Porque logo que me entendi como pessoa, eu quis fazer teatro. Quando tinha teatro na escola, achava aquilo muito interessante! Ali não tinha profissionais da área, mas adorava aquela situação de fazer uma peça. Eu quis muito fazer isso dali por diante e é o que eu tenho feito até hoje. Eu já vivi muitas vidas graças ao teatro [...] O teatro tem um ponto. É uma referência grande para mim, pois ali começou tudo. Os outros eu tive que me adaptar. Porque quando fui fazer televisão, era tudo diferente. Aí fui observar, entender, compreender aquilo tudo. Só então, fiquei mais à vontade. A mesma coisa aconteceu com o cinema, porém gosto dos três. Até porque não gosto quando me falta um deles para fazer [...].

Trechos da entrevista Nanini, com orgulho e com saudade (Viver – Diário de Pernambuco, 2024), concedida ao jornalista Robson Gomes, pelo ator, autor, produtor teatral e dramaturgo Marcos Nanini (Marco Antônio Barroso Nanini), que teve sua biografia O avesso do bordado: Uma biografia de Marco Nanini (Companhia das Letras, 2023), publicada pela premiada jornalista, roteirista e professora universitária Mariana Filgueiras. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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segunda-feira, maio 12, 2025

DEBORAH LEVY, OLGA MARTYNOVA, ALEXANDRIA VILLASEÑOR & MARIANNE PERETTI

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Anima (CGD Leste-Oeste, 1997), Stanze (BMG, 1992), Ama (Sony Music, 2002), Sozinho (EMI Classics, 2006), Instanti (Egeu, 2009), Le mie corde (Sony Classical, 2013)) e Stanze (Decca, 2014), da harpista, compositora, cantora e escritora italiana, Cecilia Chailly, com composições próprias e partituras originais de Ludovico Einaudi.

 

A vida passa e já vai longe... – Bati o pé e cá comigo: não perdi o paraíso, mesmo que nada mais fosse que um sobrevivente dos abismos pela deslizante dança dos dias. Confesso: escapei pelas frestas de todas as espessuras, no meio dos gritos da noite e disparos de rumores, sequer governei a mim mesmo. Comia distância para extirpar meus demônios, sei lá como! Até prova em contrário, só me restava o brilho do sete-estrelo quando dava o ar da graça, com todas as dúvidas pro acerto, todos os beijos pra celebração, todas as vontades pro arrependimento e todos os passos pra consumação. Nada mais insignificante para quem fugia da persistente ameaça da miséria, célere mais que veemente no encalço da esperança e deleite das coisas, com promessa de reservar pragora o melhor que sempre ficou pra depois. E de repente corresse o fogo até as cinzas arremessadas aos ventos desatados, caindo nas chuvas pelas ondas empinadas das correntes marítimas, arrebentando na areia a lamber a Terra para que desse frutos sem que precisasse semear. Coisa mais sem graça, o mundo é tão cedo como diverso e se fizesse tão belo mesmo escorregando pela encruzilhada das horas e desse ali o não sabido, com uma topada no quatrivium da talmúdica Asmodéia – a rainha esquecida de Sodoma e do avéstico Aeshma deva de Zoroastro, arrastando o alarido de seus zis amantes. Dei de cara com a lascívia de suas 7 formas e tremia mais que vara verde com a ira de sua luxúria, as tentações de compradora de Sombras. Era a senhora dos descaminhos, dava fé, e com ela a solidão gemia e o escuro jamais teria fim. Caçou-me brincante às suas jornadas para me jogar no mar do esquecimento. Mesmo refém, não perdi minha sombra porque nunca venderia a alma ao diabo, escapulia. A alma avessa não dizia meu nome, judiava do meu pesar. Ao me caçar perdeu o sono e não arrastaria as malas na viagem em vão: apossou-se da minha flauta de Pã e, vingativa, nela extraiu a dulcíssima canção dos seus desvelos. Silenciei ao cabo de instantes sucessivos, sem que houvesse repouso: ela dominava meus sentidos e me fez pervertido insone a perseguir de seus meneios e passos. Quantas tentativas ousei a malograr diante da ameaça de ser corroído pela metástase de seus feitiços: muros desabados, fortaleza vulnerável. Nada perdi porque nunca tive e muito menos sei o que vou achar daqui pra diante. Mas não há nada para sempre assim e a palavra prévia suscitou a chance: a sorte antiga debelada ressuscitou e interviu shamir em meu socorro – como poderia, mesmo menor que um grão de cevada, quebrou todas as pedras, ferro e diamantes, chamou-me a atenção aos baques repetindo insistentemente: Ubuntu! Ubuntu! Não atinava, precisei de muito tempo para assimilar: eu só sou porque você é... Assim me salvei, acho, a vez do chega pra lá e peguei na virada - como se ela desencantasse e comigo servisse: a humanidade para todos. Um dia e outro não é sempre igual, já passou. E passará. Até mais ver.

 

Leonora Carrington: Quem pode dizer: um Deus para todo o universo? Acho que deve haver milhões de deuses! E nem todos são muito gentis... Veja mais aqui, aqui e aqui.

Mônica Martelli: Escolher é renunciar. Se opto estar aqui, não vou poder estar lá. Uma vez feita a escolha, tem que ir com tudo, tem que pisar fundo... Veja mais aqui.

Tina Fey: Não desperdice sua energia tentando mudar opiniões... Faça o que você faz e não se importe se eles gostam... Veja mais aqui.

 

QUATRO LONGOS MINUTOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

1 - Quatro longos minutos a andorinha riu dormindo (as noites são curtas aqui) e murmurou e suou sob a asa, então ela suspirou e voou para longe a negócios. — as poupas cortam o ar com seu semicírculo - (sul), - a manhã do queijo cottage continua sem data - (de repente). Quatro longos minutos a chuva soltou e escondeu suas garras, e Chvirik ouviu: la-la, a música caiu de folha em folha, caiu e flutuou para longe (desapareceu). — é hora de revelar como ele é, Chvirik: - Ele não tem um terno decente. - toc-toc, diz o pássaro, o outro responde: piar, - O que Chvirka realmente está pensando?

2 - Mas a questão é que Chvirik não é um pássaro.

3 - Ele quer escrever algo, e o caderno se desfaz. Três longos minutos – e aquele caderno desapareceu. Em dois minutos a floresta desmoronou, tornou-se lixo, pó, nudez. Um minuto não foi suficiente para a subida íngreme, para derramar no pequeno lago lá de cima. Chvirik foi esse momento.

4 - Oh Chvirik, quando sou uma sombra sorridente fico envergonhado Eu deslizarei para este mundo, construído por nós em carne e osso (o que é estranho), voando pelas encostas das árvores, com sua vida presa na casca... - Oh Chvirka, não pense nisso, então vamos embora daqui. - Ó Chvirik, diga-me: sem engano? - Chvirka, oh minha chvirka! Os pássaros ouviram e começaram a rir: hee-hee. 0 E não existe tal minuto, e não há minuto, nem terceiro nem quarto, nem o primeiro nem o segundo.

Poema da premiada escritora russo-alemã Olga Martynova, autora de obras como Postup´yanvarskikh sadov (1989), Sumas`shedshiy kuznechik (1994), Chetyre vremeni nochi (1998), Frantsuzskaia biblioteka (2007) e Ó Vvedenskom. O Chvirike i Chvirke / Issledovaniya v stikhakh (2010).

 

CUSTO DE VIDA – [...] A vida desmorona. Tentamos nos controlar e nos manter firmes. E então percebemos que não queremos nos manter firmes. [...] Nunca deixarei de lamentar meu antigo desejo por um amor duradouro que não reduza seus protagonistas a algo menor do que eles são. [...] A liberdade nunca é de graça. Quem já lutou para ser livre sabe o quanto isso custa. [...]. Trechos extraídos da obra The Cost of Living: A Working Autobiography (Bloomsbury, 2019), da escritora e dramaturga britânica Deborah Levy, que na obra Hot Milk (Bloomsbury, 2017), ela expressou que: […] Confesso que muitas vezes me perco em todas as dimensões do tempo, que o passado às vezes parece mais próximo que o presente e muitas vezes temo que o futuro já tenha acontecido. [...]. Noutra de suas obras, a Things I Don't Want to Know (Hamish Hamilton, 2018), ela expressa que: […] Para me tornar um ESCRITOR, tive que aprender a INTERROMPER, a falar mais alto, a falar um pouco mais alto, e depois MAIS ALTO, e então apenas falar com minha própria voz, que NÃO É NEM UM POUCO ALTA. [...]. Na obra Swimming Home (Bloomsbury, 2012), ela observou que: […] A vida só vale a pena ser vivida porque esperamos que ela melhore e que todos cheguemos em casa em segurança. Mas você tentou e não conseguiu chegar em casa em segurança. Você não conseguiu chegar em casa de jeito nenhum. [...]. Por fim, na sua obra Pillow Talk in Europe and Other Places (Dalkey Archive Press, 2004), ela considerou que: […] Certifique-se de aproveitar a linguagem, experimentar maneiras de falar, ser exuberante mesmo quando não tiver vontade, porque a linguagem pode tornar o seu mundo um lugar melhor para se viver. [...].

 

GREVE PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – [...] Minha geração sabe que as mudanças climáticas serão o maior problema que enfrentaremos [...] É perturbador que minha geração tenha que pressionar esses líderes a agir. Não vamos parar de fazer greve até que mais leis sejam aprovadas. [...]. Trechos do depoimento recolhido na matéria We won't stop striking': the New York 13 year-old taking a stand over climate change (The Guardian, 2019), em que a jovem ativista climática estadunidense Alexandria Villaseñor, faz um alerta de greve por conta das mudanças climáticas. Ela é adepta do movimento Fridays for Future, cofundadora da US Youth Climate Strike e fundadora da Earth Uprising. Durante a solenidade da Child petitioners protest lack of government action on climate crisis (UNICEF Headquarters, 2019), ela assinalou que: Estamos aqui como cidadãos do planeta, como vítimas da poluição que tem sido despejada descuidadamente em nossa terra, ar e mar por gerações, e como crianças cujos direitos estão sendo violados. Hoje estamos lutando. Há 30 anos o mundo nos fez uma promessa. Praticamente todos os países do mundo concordam que as crianças têm direitos que devem ser protegidos. E os países que assinaram o 3º Protocolo Facultativo sobre Comunicação se comprometeram a nos permitir apelar às Nações Unidas quando esses direitos estiverem sendo violados. Então é exatamente isso que estamos fazendo aqui hoje. Cada um de nós teve seus direitos violados e negados. Nossos futuros estão sendo destruídos. E na matéria New York’s Original Teen-Age Climate Striker Welcomes a Global Movement (de Carolyn Kormann, no The New Yorker, 2019), ela expressou: Vejo mais as estruturas que a sociedade criou. E é por isso que a minha geração teve tanto impacto no movimento climático. Estamos nos organizando fora das estruturas em que os adultos trabalham. Desde que me envolvi, vejo como o sistema está quebrado, e isso é uma das coisas que precisam mudar.

 

A ARTE MONUMENTAL DE MARIANNE PERETTI

[...] Enquanto houver um artista com talento e capaz de desenhar em tamanho real e artesão com sabedoria e paciência, teremos vitrais para iluminar nossa vida [...] Os grandes tamanhos me agradam, porque neles posso me exprimir com mais liberdade e sempre estou incorporando elementos novos e também diferentes dessas linguagens, uns aos outros, tudo com muita liberdade [...].

Trechos extraídos do catálogo da exposição A arte monumental de Marianne Peretti (Museu Nacional – Conjunto Cultural da República, Brasília, 2016), da vitralista e artista plástica Marianne Peretti (Marie Anne Antoinette Hélène Peretti – 1927-2022). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

&

ROMEU & JULIETA, COM ARAMIS TRINDADE

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segunda-feira, maio 05, 2025

JANET MOCK, OLGA DÍAZ, ATHENA FARROKHZAD, SETÍGONO, ASCENSO & ARTE NA ESCOLA

 

 Imagem: Setígono – Acervo ArtLAM.

Ao som de I give you the end of a golden string (2013), In the Land of Uz (2017), Concerto para Oboé (2018), The Prelude (2018–2019), The True Light (2018), By Wisdom (2018), Music, Spread Thy Voice (2022), Like as the hart (2022) e Begin Afresh (2022), da compositora britânica Judith Weir.

 

Setígono outra vez, pálin!(Fechando a conta)... - Na primeira lapada: Um título se fez verso nas brumas do meu coração... E como um verso nunca vem sozinho, um puxoutro e trouxe outra cipoada: Semanada já sextou pro clima do alto astral... E o papo foi e veio noutro, porque era 31 de março e aniversário do meu saudoso pai. E a ideia voou, foi lá pra trás quando eu só tinha 4 anos pra comemorar o dia dele e conheci de frente aquele que se fez inimigo: estava fardado, marchava com civis pariceiros e até conhecidos, se pareciam comigo e com os meus, a mesma língua e pátria, e fizeram-se aminimigos da minha gente e do meu povo. O susto paterno não era só dele: foi longa a noite dos anos que se passaram. Meu pai se acomodou e, em mim, as feridas abertas sangravam até fechar a primeira conta: como se um heptágono desse um pentágono dentro. E deu, foi o jeito. Veio mais outra pancada: A segunda foi no toitiço e na caixa dos peitos! E queria de néstogas apreender, porque no dia 8 de janeiro vi repetir-se a face desfigurada daqueles outros tais inimigos da minha Terra e do meu país. Era domingo e eles em festa: um golpe de tantos outros anos a fio, recorrente dos antros e fanáticos que amavam idolatrados outros, outra língua, outra bandeira, outra pátria que não as nossas e o ódio de dentes rangendo sobre o que sou e os meus. Por que tinha que ser assim, hem? Cicatrizes reabertas pelas veias que ainda doíam de antanho. Precisava me apaziguar, mais que necessário. Nada como mudar de ares, de cara e das ideias. Não virei casaca e parti prum modo jeitoso de martelada, castigando nos sete pés os decassílabos! Então, fui lá e foi: Como a terceira pra fechar a conta: \ conta mesmo senão reatar a lida \ recomeçar do zero no então \ recolher as sementes da vida \ um poema fazer a vez do coração \ virar pros cantos com tez erguida: quem me dera agora outro refrão! E vamos aprumar a conversa! Até mais ver.

 

Jennifer Esposito: O vínculo que liga a sua verdadeira família não é de sangue, mas de respeito e alegria na vida um do outro... Veja mais aqui.

Arina Tanemura: Os sonhos são um reflexo dos seus desejos... Veja mais aqui e aqui.

Naomi Klein: O argumento que eu apresento não é que não sejamos competitivos, egoístas e gananciosos. Nós somos. Somos tudo isso. Somos complexos, competitivos, gananciosos e desagradáveis, e gentis, generosos e compassivos... Veja mais aqui.

 

FOLHA DE CASAMENTO

Imagem: Acervo ArtLAM.

Eu sou mais largo que a oração \ direcionado para o oeste, em um momento incerto \ que os espinhos picam as nuvens \ com mistérios de madeira \ carne e osso. \ Eu dependo de corpo e pedra \ e as raízes estão entrelaçadas no meu cérebro. \ É assim que é meu voo. \ Torna-se dilacerante até o final. \ Não vou provar a lua. \ com sonhos frios, mas os dentes rangem \ meu corpo todo aberto \ no sol profundo.

Poema da escritora espanhola Olga Xirinacs Díaz. Veja mais aqui.

 

MINHA MÃE DISSEHá experiências sobre as quais não posso escrever aqui. Experiências que revelam violência patriarcal, numa esfera íntima, que me parecem impossíveis de serem descritas a uma audiência predominantemente branca, pois meu agressor se parece comigo... Pensamento da poeta, dramaturga, tradutora e crítica literária iraniana-sueca Athena Farrokhzad, autora do poema: Minha mãe disse: Parece que nunca lhe ocorreu que é do seu nome a civilização descende \ Minha mãe disse: A escuridão em minha barriga é a única escuridão que você comanda \ Minha mãe disse: Você é um sonhador nascido para desviar os olhos retos \ Minha mãe disse: Se você pudesse considerar as circunstâncias como atenuantes você me deixaria escapar mais facilmente \ Minha mãe disse: Nunca subestime o trabalho que as pessoas terão para formular verdades que sejam possíveis de suportar \ Minha mãe disse: Você não era digno de viver, mesmo desde o início \ Minha mãe disse: Uma mulher arrancou os olhos de sua mãe com os dedos para que a mãe fosse poupada da visão do declínio da filha \ Meu pai disse: Você tem uma tendência à metafísica \ Ainda assim, eu o ensinei os meios de produção quando seus dentes de leite estavam intactos \ Minha mãe disse: Seu pai viveu para o dia do julgamento \ Sua mãe também, mas ela foi forçada a outras ambições \ Minha mãe disse: Durante o sono de seu pai, vocês são executados juntos \ Em seu \ O sonho do meu pai: você forma uma genealogia de revolucionários \ Meu pai disse: Sua mãe te alimentou com colheres de prata importadas \ Sua mãe estava em todos os lugares, na sua cara \ Penteava freneticamente os cachos \ Minha mãe disse: Por uma vida inteira invejei os traumas do seu pai \ Até perceber que os meus eram muito mais marcantes \ Minha mãe disse: Gastei uma fortuna com suas aulas de piano \ Mas no meu funeral você se recusará a tocar \ Minha mãe tirou o sonho das mãos do meu pai e disse: Todo esse açúcar não vai te deixar mais doce \ Dê uma volta pela casa antes de tomar a insulina \ Meu pai disse: Eu vivi minha vida, eu vivi minha vida \ Eu fiz a minha parte \ Agora nada resta dos dias felizes da juventude \ Minha mãe disse ao meu irmão: Cuidado com estranhos \ Lembre-se de que você não tem para onde voltar caso se tornem perigosos \ Meu irmão disse: Tive um sonho tão estranho \ Aquela aurora morreu em meus olhos antes que o sono se dissipasse \ Uma humanidade de açúcar e matança \ Quando me despedi da luz, eu sabia de tudo \ Minha mãe disse: Da divisão das células de um material genético da cabeça do seu pai \ Mas não de mim \ Meu pai disse: Do choque de civilizações de um antagonismo fundamental da minha cabeça cansada \ Mas não dela \ Meu pai disse: Se fosse possível competir no martírio sua mãe faria de tudo para perder \ Minha mãe disse: O coração não é como o joelho que pode ser dobrado à vontade \ Meu pai disse: Até o galo que não canta consegue ver o sol nascer \ Minha mãe disse: Mas se a galinha não botar um ovo, ela será servida no jantar \ Meu pai disse: Seu irmão se barbeou antes que a barba começasse a crescer \ Seu irmão viu o rosto do terrorista em o espelho e queria uma chapinha de Natal \ Meu irmão disse: Um dia eu vou morrer em um país onde as pessoas possam pronunciar meu nome \ Meu irmão disse: Não pense que está em seu poder me oferecer algo \ Meu pai disse: De quem você está tratando o pai? \ Minha mãe disse: De quem você está falando? \ Meu irmão disse: De quem é o irmão que está sendo mencionado? \ Minha avó disse: Se você não terminar de cortar os vegetais logo, não haverá jantar. \ Meu pai disse: Para aqueles que têm mais será dado, e daqueles que têm menos, ainda mais será tirado. \ Minha mãe disse: Pegue mais leite antes que estrague. \ Minha mãe disse: Não seria estranho sentir uma única noite como esta minha língua na sua boca. \ Meu pai disse: Uma colherada para os carrascos, uma colherada para os emancipadores, uma colherada para as massas famintas, \ E uma colherada para mim. \ Minha mãe entregou o copo para a mãe dela e disse: Agora estamos quites. \ Aqui está o leite de volta. \ Minha avó disse: Sua mãe descende do sol nascente. \ Ela recebeu o nome do botão da flor, pois nasceu na primavera. \ Sua mãe lhe deu o nome de um guerreiro para prepará-la para o inverno. \ Minha avó disse: Durante a primavera, em Marghacho, a hortelã crescia ao longo dos riachos. \ O poema que você é \ Escrevendo, revele qualquer coisa disso \ Minha avó disse: Seu vira-lata ranzinza \ Venha aqui que eu tiro suas medidas e tricoto um suéter de lã para você \ Minha mãe disse: Se nos encontrarmos novamente, não vamos deixar transparecer que nos conhecemos quando você estava com fome e fui eu quem levou o leite \ Meu irmão disse: Leite negro da aurora, nós bebemos você à noite \ O passado é um ataque que nunca será completado \ Minha mãe disse: Escreva assim \ Pelas minhas oportunidades, minha mãe sacrificou tudo \ Devo ser digno dela \ Tudo o que eu escrever será verdade \ Minha avó disse: Escreva assim \ Mães e línguas se assemelham porque mentem incessantemente sobre tudo \ Minha mãe disse: Todas as famílias têm suas histórias mas para que elas surjam é preciso alguém com uma vontade particular de desfigurar \ Minha mãe disse: Você distorce a injúria com sua mentira infeliz \ Há uma mudez que não pode ser traduzida \ Meu irmão disse: Sempre há algo imperfeito que permanece inescapável \ Sempre há algo incompleto faltando \ Minha mãe disse: Sua família nunca se recuperará da mentira que a prende \ Meu pai disse: Sua família nunca voltará aos telhados quando esfriar \ Meu irmão disse: Sua família nunca ressuscitará como rosas após um incêndio \ Minha avó disse: Há um tempo para tudo sob o sol hora de voltar aos telhados quando esfriar \ Minha avó disse: Pistaches para os desdentados rosários para os ímpios tapetes para os sem-teto e uma mãe para você \ Meu pai disse: empregos para os desempregados salários para os sem-salário papéis para os sem-papéis e um pai para você \ Meu irmão disse: cabos para os sem-fio órgãos para os sem-corpo transfusões para os sem-coração e um irmão para você \ Minha mãe disse: Oxigênio para os sem vida \ Vitaminas para os apáticos \ Próteses para os sem membros \ E uma linguagem para você \ Minha mãe disse: Eu recuperarei o que me pertence \ Você encontrará a morte roubada da linguagem \ Sem palavras você veio, sem palavras você retornará \ Meu pai disse: Eu escrevi sobre pão e justiça \ E enquanto os famintos pudessem ler A fonte não importava para mim Meu pai disse: A serifa fura meus dedos \ Meu pai disse: Quanta resistência a gordura humana pode suportar \ Antes que as chicotadas se tornem permanentes \ Meu pai disse: Se você esquecer o alfabeto \ Você o encontrará nas minhas costas \ Meu pai disse: Somente quando você perdoar aquele que o entregou \ Você saberá o significado da violência \ Meu pai disse: Houve aqueles que foram executados ao amanhecer antes que o sono se dissipasse \ Minha mãe disse: Houve aqueles que tiveram que pagar pelas balas \ Para enterrar suas filhas \ Minha mãe disse: Em que noite de vitória esta vitória se lançou nós \ Meu pai disse: Seu tio estava lá em uma linha telefônica crepitante \ Seu tio refinava suas metáforas a cada chicotada \ Meu irmão disse: Não me enterre aqui \ Enterre-me onde as chicotadas são virtuais \ Meu tio disse: Você esquecerá tudo exceto a memória, da qual você sempre se lembrará \ Eu me lembro que antes da guerra o soldado mastigava com meus dentes \ O agitador gritava com minha garganta \ Meu tio disse: Pelos meus ombros caídos pelo meu sorriso constante Por esta pilha de pedras que um dia foi minha casa \ Meu tio disse: Existe uma poça d'água onde a guerra não lavou suas mãos ensanguentadas? \ Meu tio disse: Havia aqueles que eram executados a cada nascer do sol. \ Havia aqueles que permaneciam e viam as sentenças serem executadas. \ Minha mãe disse: Por que eles invocam Deus dos telhados? \ Será que eles se esqueceram de que era Deus quem segurava o chicote? \ Quando suas mães eram torturadas?...

 

SUPERANDO A CERTEZA – [...] Ninguém pode te curar. Você precisa aprender a ser sua própria companhia, sua própria cura. Você não pode se refugiar em outra pessoa em busca de realização. [...] Temos continuidade em nossos corpos, que guardam experiências que nunca nos abandonam, experiências que nossos corpos escondem para que possamos seguir em frente. Elas se prendem firmemente a elas — até que tenhamos confiança para confiar em nossos corpos novamente, para afrouxar seu domínio. [...] Gerações de meninas foram informadas de que a única maneira de sobreviverem é permanecerem em silêncio, passarem despercebidas e se misturar. [...]. Trechos extraídos da obra Surpassing Certainty: What My Twenties Taught Me (Atria, 2018), da escritora, jornalista e ativista estadunidense Janet Mock. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

TODO DIA É DIA DE ASCENSO FERREIRA

Programação da Semana Ascenso Ferreira na Biblioteca Pública Fenelon Barreto, em Palmares (PE). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

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Livros Infantis Brincarte do Nitolino aqui.

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Literatura Indígena: Cosmovisões & Pela Paz aqui & aqui.

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Cantarau Tataritaritatá aqui.

Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.

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JAMAICA KINCAID, JEWEL KILCHER, ELIANE BRUM & MARCOS NANINI

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Villa-Lobos Piano Music (8 Vols. Naxos, 1999/2008), da pianista Sonia Rubinsky .   Um dia...