DITOS & DESDITOS - Tudo o que sabemos sobre a sociedade, ou mesmo sobre o
mundo em que vivemos, sabemos por meio da mídia de massa. Isso se aplica não
apenas ao nosso conhecimento da sociedade, mas também ao nosso conhecimento da
natureza. Pensamento do
filósofo alemão Niklas Luhmann
(1927-1998). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Nada que resulta
em progresso humano é alcançado com consentimento unânime. Pensamento do
navegador italiano Cristóvão Colombo
(1451-1506). Veja mais aqui.
MATER DOLOROSA – [...] Enquanto
as formas primordiais restarem na memoria, haverá sobrevivencia e
possibilidades de recomeço. [...] De boca
ao ouvido, durante muitas luas, as linhas foram passadas. As informações das
linhas. As formações das linhas. As linhas. Com elas, sem que eles soubessem, redesenhamos
a vida e sobrevivemos. As nossas primeiras ferramentas de armar, geradas do sol
e da água. Luz ou água quem estava no princípio? Os velhos diziam: juntas,
sempre estiveram [...] Os velhos contavam: no princípio nunca foi o caos. E
o primeiro nunca dormiu. Olho imenso. Bojudo. Luz de muitos olhos. Flutuante.
Circulante. Circulando. Circulações geradoras. O círculo-alimento; entranhado
no corpo. As misteriosas relações do espírito e do estômago: no fundo, a mesma
forma. Sol alto, alto e sem sair do meu corpo. Daí, água e ar desenharam as
linhas impensáveis. E o círculo gerou todas as formas [...]. Trechos extraídos
da obra Mater dolorosa – in memoriam ii – Da criação e sobrevivência
das formas (Rio de
Janeiro, 1982), do poeta, publicitário e artista plástico Roberto Evangelista.
UM LINDO CASO DE AMOR - [...] Mas de fato, ele me fazia a corte: trazia
bombons, flores, levava-me a passear. Dizia-se que ao ver-me ficava elétrico [...] Saia muito com ele, de manhã, passeávamos
a Pê pela Avenue dês Acácias, depois ã Porte Dauphine tomar um vinho do Porto [...] Tinha horror a jazz... e dizia: ‘se tiver
jazz não vou, nem quero ver muita gente. Os maridos, ainda suporto, mas
barulho, não’. [...]. Trechos extraídos da obra Tudo em cor-de-rosa (Nova Fronteira, 1976),
da socialite e princesinha do café Yolanda
Penteado (1903-1983), pertencente a tradicionais famílias paulistas
quatrocentonas, contando do seu relacionamento afetivo com o aeronauta Alberto Santos Dumont (1873-1932). Há
quem diga que o livro deveria se chamar Um lindo caso de amor.
A CÂMARA - [...] Reconhecer o studium – interesse que a foto desperta – é fatalmente
encontrar as intenções do fotógrafo, entrar em harmonia com elas, aprová-las,
desaprová-las, mas sempre compreendê-las, discuti-las em mim mesmo, pois a
cultura é um contrato feito entre os criadores e os consumidores. [...]
Trecho extraído da obra A câmara clara
(Nova Fronteira, 1984), do filósofo francês Roland Barthes (1915-1980). Veja mais aqui e aqui.
O DIABO SENTA-SE NO
ESPELHO: COMO A
PERCEPÇÃO SE INVENTA - [...] Percebo
que em minha memória não permanece preferencialmente aquilo que aconteceu no
plano exterior, que se denomina fato. O que permanece mais fortemente é aquilo
que também lá estava na cabeça e que pode ser revivido, aquilo que vinha do
interior em vista do exterior, dos fatos. [...] Sempre nos encontramos despreparados diante das coisas. Sempre elas se
inventam, enquanto fazemos algo. [...] a
invenção da percepção fosse a única possibilidade de mudar o mundo ao meu
redor. Ele não se tornou mais suportável. Ele tornou-se mais ameaçador. Porém,
ao menos esse acréscimo tinha algo a ver comigo mesma. [...] Pedaços de mundo se desprendem, como se eu
tivesse engolido tudo o que eu não posso carregar. [...] Esse é o círculo vicioso: eu procuro viver,
para não ter de escrever. E, justamente porque procuro viver, tenho de escrever
a respeito. [...]. Trechos extraídos da obra Der Teufel sitzt im Spiegel. Wie Wahrnehmung sich erfindet (Rotbuch,
1991), da escritora e ensaísta
alemã Herta Müller. Veja mais
aqui e aqui.
Solas de
vidas, sapatos gastos no tempo / do trépido destino por sobre o breu / onde
inda cravo os dedos descontento / Cuspo pedras dos rins em palavras / De dor
que dói mais que os próprios / Nestas calçadas como presépios / Paradoxalmente
ainda teimas, cravas / Não quero o velho e nem este novo / Nem o futuro que se
desenha quantum / Nestas calçadas de sonhos de ovo / Busquei a toda vida no
prazer do ser / Do sonho em desalinho ao todo comum / Nas ruas desoladas de
mim, irreal crer. Poema do
poeta, compositor, artesão e artista plástico Zé Ripe. Veja mais aqui, aqui & aqui.
NORA BARNACLE – O drama Nora (2000), dirigido pela irlandesa Ruth Barton, conta a história
de uma camareira de hotel, Nora Barnacle,
que depois de um encontro tornou-se a relação apaixonada e turbulenta do
escritor James Joyce, que escreveu para ela em 15 de junho de 1904: Eu posso estar cego. Fitei por muito tempo
uma cabeça coberta de cabelos castanho-avermelhados e decidi que não era a tua.
Voltei para casa bem deprimido. Gostaria de marcar um encontro, mas talvez não
te convenha. Espero que tenhas a bondade de marcar um comigo --se não te
esqueceste de mim! [...] Sentia tuas
nádegas gordas e suadas debaixo de meu ventre e via teu rosto em fogacho e teus
olhos aloucados [...]. O dia seguinte, 16 de junho de 1904, foi imortalizado
na obra Ulisses, e transformado em Bloomsday, o dia de Leopold Bloom, o
personagem central do livro, que se tornou uma data nacional na Irlanda e é
comemorado no mundo inteiro, inclusive no Brasil, pelos fãs do escritor, quando
ocorrem festividades, leituras, palestras e bebedeiras. O filme foi baseado na
biografia homônima escrita por Branda Maddox. Veja mais aqui, aqui e aqui.