A PARANOIA DA
PAIXÃO POR ELA - Quando a
tarde chega ela sorri tal qual minha nega, minha musa, avalie! E ri como o dia
nasce. Não usa disfarce no perfume que exala incensando a sala e me dopando
além. Blém, blém, eu folgo inchado e puxo ela do lado e dou-lhe uns arrochos.
São vários acôchos daqueles bem dado de só o corpo colado dela me aproveitar.
Larali, laralá. E pego a pegar, me ajeito e só puxo, esfrego, acarinho e repuxo
e ela toda no gingado. Dela eu dou cabo dos pés ao cabelo no maior desmantelo,
maior forunfado, maior que o pecado quando nela me ajeito, no seu corpo
perfeito, minha salvação. Mas ela então, no meio dos meneios, inventa arrodeio
e quer prestar contas. Vixe, que tonta, ela chama na grande, uma ficha se
expande com muita exigência. Ela adiou a urgência, salta de lado emergência pra
aprumar a conversa. Vixe que tô na travessa e ela vai debulhando até ficar
reclamando as coisas que eu desdigo. E me faz de Rodrigo e ela Macabéa, quando
é a panacéia da minha ginofagia. Tenho essa regalia quando fala sabiá ou quando
quer me tratar com os regalos melhores. Depois todos pormenores ela bota na
lista me acusando de artista de quinta categoria. Eita, que aleivosia, maior
paranóia, ela solta a pinóia do meu senso empenar. E em primeiro lugar não
alivia o badalo e joga sem intervalo que sou badass mothafuckes que só lhe
sufoca e ainda banco o durão. Tem mais, então, ela se diz vítima de atentado e
que sou apontado por fora-da-lei. Eita, teibei! Facínora execrado e infeliz
desgraçado pior no mundo sou eu. Belzebu! Asmodeu! Pedra ruim e vasilha
imprestável, o maior irresponsável, trepeça e malfeitor. Ela virou promotor e
me lascou pro babau, com o Código Penal todinho invocado. Tô réu apenado com
sangue fervendo, com processo respondendo com qual culpa imputado? Eu tô mesmo
é condenado na volta dessa mulher. Na verdade ela quer me ver todo lascado.
Porque solta o ditado que vai findar tísica sem integridade física porque sou
genioso. Pior, sou mafioso, o pior dos bandidos e o maior foragido da face da
terra. Ela mais me enterra provocando arenga pruma maldita pendenga pelos
tribunais. E me inferniza demais no maior desaforo, jogando duro em meu foro
com insulto desalmado. É quando eu fico invocado e ela sai na defensiva, bicha
sabida e viva, negaceia e apruma o tom. E em alto e bom som, ela parte pro
piquete, zomba que sou um sorvete e que tá completamente louca. É quando me
beija na boca e depois ela arteira faz bico é quando me faz ficar rico de tanto
amolego e carinho. Aí viro seu amorzinho e não deixo barato, dou sacolejo nos
quartos com apetrechos e talher – porque não sou banguela! E eu de cima dela
não saio nem que vire o mês de maio e seja mais o que Deus quiser! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui. DITOS & DESDITOS - Tudo o que sabemos sobre a sociedade, ou mesmo sobre o
mundo em que vivemos, sabemos por meio da mídia de massa. Isso se aplica não
apenas ao nosso conhecimento da sociedade, mas também ao nosso conhecimento da
natureza. Pensamento do
filósofo alemão Niklas Luhmann
(1927-1998). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Nada que resulta
em progresso humano é alcançado com consentimento unânime. Pensamento do
navegador italiano Cristóvão Colombo
(1451-1506). Veja mais aqui.
MATER DOLOROSA – [...] Enquanto
as formas primordiais restarem na memoria, haverá sobrevivencia e
possibilidades de recomeço. [...] De boca
ao ouvido, durante muitas luas, as linhas foram passadas. As informações das
linhas. As formações das linhas. As linhas. Com elas, sem que eles soubessem, redesenhamos
a vida e sobrevivemos. As nossas primeiras ferramentas de armar, geradas do sol
e da água. Luz ou água quem estava no princípio? Os velhos diziam: juntas,
sempre estiveram [...] Os velhos contavam: no princípio nunca foi o caos. E
o primeiro nunca dormiu. Olho imenso. Bojudo. Luz de muitos olhos. Flutuante.
Circulante. Circulando. Circulações geradoras. O círculo-alimento; entranhado
no corpo. As misteriosas relações do espírito e do estômago: no fundo, a mesma
forma. Sol alto, alto e sem sair do meu corpo. Daí, água e ar desenharam as
linhas impensáveis. E o círculo gerou todas as formas [...]. Trechos extraídos
da obra Mater dolorosa – in memoriam ii – Da criação e sobrevivência
das formas (Rio de
Janeiro, 1982), do poeta, publicitário e artista plástico Roberto Evangelista.
UM LINDO CASO DE AMOR - [...] Mas de fato, ele me fazia a corte: trazia
bombons, flores, levava-me a passear. Dizia-se que ao ver-me ficava elétrico [...] Saia muito com ele, de manhã, passeávamos
a Pê pela Avenue dês Acácias, depois ã Porte Dauphine tomar um vinho do Porto [...] Tinha horror a jazz... e dizia: ‘se tiver
jazz não vou, nem quero ver muita gente. Os maridos, ainda suporto, mas
barulho, não’. [...]. Trechos extraídos da obra Tudo em cor-de-rosa (Nova Fronteira, 1976),
da socialite e princesinha do café Yolanda
Penteado (1903-1983), pertencente a tradicionais famílias paulistas
quatrocentonas, contando do seu relacionamento afetivo com o aeronauta Alberto Santos Dumont (1873-1932). Há
quem diga que o livro deveria se chamar Um lindo caso de amor.
A CÂMARA - [...] Reconhecer o studium – interesse que a foto desperta – é fatalmente
encontrar as intenções do fotógrafo, entrar em harmonia com elas, aprová-las,
desaprová-las, mas sempre compreendê-las, discuti-las em mim mesmo, pois a
cultura é um contrato feito entre os criadores e os consumidores. [...]
Trecho extraído da obra A câmara clara
(Nova Fronteira, 1984), do filósofo francês Roland Barthes (1915-1980). Veja mais aqui e aqui.
O DIABO SENTA-SE NO
ESPELHO: COMO A
PERCEPÇÃO SE INVENTA - [...] Percebo
que em minha memória não permanece preferencialmente aquilo que aconteceu no
plano exterior, que se denomina fato. O que permanece mais fortemente é aquilo
que também lá estava na cabeça e que pode ser revivido, aquilo que vinha do
interior em vista do exterior, dos fatos. [...] Sempre nos encontramos despreparados diante das coisas. Sempre elas se
inventam, enquanto fazemos algo. [...] a
invenção da percepção fosse a única possibilidade de mudar o mundo ao meu
redor. Ele não se tornou mais suportável. Ele tornou-se mais ameaçador. Porém,
ao menos esse acréscimo tinha algo a ver comigo mesma. [...] Pedaços de mundo se desprendem, como se eu
tivesse engolido tudo o que eu não posso carregar. [...] Esse é o círculo vicioso: eu procuro viver,
para não ter de escrever. E, justamente porque procuro viver, tenho de escrever
a respeito. [...]. Trechos extraídos da obra Der Teufel sitzt im Spiegel. Wie Wahrnehmung sich erfindet (Rotbuch,
1991), da escritora e ensaísta
alemã Herta Müller. Veja mais
aqui e aqui.
CALÇADAS DE MIM (para o mestre, Luiz Alberto Machado. Um poeta irmão). - Essas calçadas sabem mais do que eu / Solas de
vidas, sapatos gastos no tempo / do trépido destino por sobre o breu / onde
inda cravo os dedos descontento / Cuspo pedras dos rins em palavras / De dor
que dói mais que os próprios / Nestas calçadas como presépios / Paradoxalmente
ainda teimas, cravas / Não quero o velho e nem este novo / Nem o futuro que se
desenha quantum / Nestas calçadas de sonhos de ovo / Busquei a toda vida no
prazer do ser / Do sonho em desalinho ao todo comum / Nas ruas desoladas de
mim, irreal crer. Poema do
poeta, compositor, artesão e artista plástico Zé Ripe. Veja mais aqui, aqui & aqui.
NORA BARNACLE – O drama Nora (2000), dirigido pela irlandesa Ruth Barton, conta a história
de uma camareira de hotel, Nora Barnacle,
que depois de um encontro tornou-se a relação apaixonada e turbulenta do
escritor James Joyce, que escreveu para ela em 15 de junho de 1904: Eu posso estar cego. Fitei por muito tempo
uma cabeça coberta de cabelos castanho-avermelhados e decidi que não era a tua.
Voltei para casa bem deprimido. Gostaria de marcar um encontro, mas talvez não
te convenha. Espero que tenhas a bondade de marcar um comigo --se não te
esqueceste de mim! [...] Sentia tuas
nádegas gordas e suadas debaixo de meu ventre e via teu rosto em fogacho e teus
olhos aloucados [...]. O dia seguinte, 16 de junho de 1904, foi imortalizado
na obra Ulisses, e transformado em Bloomsday, o dia de Leopold Bloom, o
personagem central do livro, que se tornou uma data nacional na Irlanda e é
comemorado no mundo inteiro, inclusive no Brasil, pelos fãs do escritor, quando
ocorrem festividades, leituras, palestras e bebedeiras. O filme foi baseado na
biografia homônima escrita por Branda Maddox. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PROGRAMA
DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo
Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário
de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio
Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 09/12 do programa
Domingo Romântico, apresentação da radialista e poeta Meimei Correa e produção de Luiz Alberto Machado, conta na sua
programação as atrações: Horácio, Clarice
Lispector, Wagner Tiso, Florbela Espanca, John Lennon, Tom Jobim,
Emerson Fittipaldi & George Harrisson, Emily Dickinson,
Alaíde Costa, Chico Buarque, Maria Bethânia, Beth Goulart, Djavan, Ná Ozzetti,
Leoni, Simone, Antonio Abujamra, Milton Gonçalves, Gilberto Gil, Gerusa Leal, Rosana, Gilberto de Abreu, Bruno
Vinci, Shakira & Ivete Sangalo, Herbert Viana & Gabriel Pensador,
Cassia Eller, Eliezer Setton, Carlos Moura, Vinicius Cantuária & Boca
Livre, Leureni, Ibys Maceioh, Zé Geraldo, Frank Sinatra, Dionne Warwick, Marquinhos Cabral, Maria Dapaz,
Marco Araujo & Airton Costa, Fagner, Sinéad O´Connor, tudo isso muito mais!! Veja mais aqui.






