sexta-feira, junho 10, 2011

BLOOMSDAY, ULYSSES & JAMES JOYCE



JAMES JOYCE: FRAGMENTO DE ULISSES

CAUSAS PERDIDAS NOBRE MARQUÊS É MENCIONADO. – Sempre fomos fiéis às causas perdidas – disse o professor. – O bom êxito para nós é a morte do intelecto e da imaginação. Nunca fomos fiéis aos vitoriosos. Servimo-los. Eu ensino o latim bombástico. Falo a língua de uma raça cuja mentalidade tem seu acme nesta máxima: tempo é dinheiro. Domínio material. Dominus! Senhor! Onde está a espiritualidade? Senhor Jesus! Senhor Salisbury. Um sofá num clube de Westend. Mas os gregos!...

UM PERÍODO POLIDO – J. J. O´Molloy retomou, moldando suas palavras: - Eis o que disse: essa efígie pétrea em musica enregelada, cornuda e terrível, da divina forma humana, esse símbolo eterno da sabedoria e da profecia, que a haver algo que a imaginação ou a mão do escultor talhou em mármore anima-transfigurado e animatransfigurante merece viver, merece viver.
Sua esguia mão embelecia numa onda eco e queda. – Esplêndido! – disse em seguida Myles Crawford. – O aflato divino – disse o senhor O´Madden Burke. – Agrada-lhe? – perguntou J.J. O´Molloy. Lenehan acendeu-lhes como antes os cigarros e pegou do seu troféu, dizendo: - Muitibus obrigadibus.
[...]
- Era o discueso, observam – dizia o professor -, de um orador consumado, pleno de altiva cortesia e vazado em dicção castiça, não direi que com o extrato de sua cólera mas que vazado pela contumélia de um homem altaneiro contra o novo movimento. Era então um novo movimento. Éramos fracos, portanto, desprezíveis. Cerrou seus longos lábios finos um instante mas, ansioso por prosseguir, levou uma das mãos espanejantes aos óculos e, com o polegar e anular trementes tocando ao de leve a negra armação, ajustou-os a um novo foco.

[...] A idéia de que o outro paga é o melhor molho do mundo. Fá-los sentir-se inteiramente em casa. [...] As coisas continuam as mesmas; dia após dia; pelotões de policia marchando para diante, para trás; bondes indo, vindo. Aqueles dois aluados acuados por aí. Dignam acarretado. Mina Purefoy barriga inchada num leito ganindo para ter um filho arrancado de dentro dela. Um nascido a cada segundo alhures. Outro morrendo a cada segundo. Desde que dei de comer às aves faz cinco minutos. Trezentos bateram com o cu na cerca. Outros trezentos nascidos, relavados do sangue, todos são lavados no sangue do anho, mugindo maaaaaa.

[...] A juventude de minha alma eu lhe dei a ele, noite após noite. Deus o acompanhe. Boa caça. Mulligan tem o meu telegrama. Bobices. Persiste. – Nossos jovens bardos irlandeses – censurava John Eglinton – têm que criar ainda uma personagem que o mundo ponha lado a lado com o Hamlet do saxão Shakespeare, se bem que eu o admire, como com idolatria o admirava o velho Bem. – Todas essas questões são puramente acadêmicas – pitonisou Russel de sua sombra. – Quero dizer, saber se Hamlet é Shakespeare, James I ou Essex. Discussão de clérigos sobre a historicidade de Jesus. A arte tem de revelar-nos idéias, essências espirituais sem forma. A suprema questão sobre uma obra de arte está em quão profunda é uma vida que ela gera. A pintura de Gustave Moreau é a pintura das idéias. A mais profunda poesia de Shelley, as palavras de Hamlet, põem nosso espírito em contacto com a sabedoria eterna, o mundo das idéias de Platão. Tudo o mais é especulação de estudantezinhos para estudantezinhos. A.E. andou dizendo-o a um repórter ianque. Paredão, danação fuzila-me! – Os estudiosos foram antes estudantezinhos – disse Stephen superpolidamente. – Aristóteles foi um momento estudantezinho de Platão. – E continuou sendo, é o que se devia desejar – disse John Eglinton sossegadamente. – Pode-se vê-lo, um estudantezinho modelo com seu diploma debaixo do braço. Ria de novo à agora sorridente cara barbada. Espirituais sem forma. Pai, verbo e espírito santo. Omnipater, o homem celestial. Hiesos Kristos, mágico da beleza, o Logos que sofre em nós a todos instante. Isso veramente é aquilo. Sou o fogo no altar. Sou o bútiro sacrificial.

[...] Para eles a terra não é campo espoliável, mas mãe vivente.

[...] – Se você quer saber quais foram os ventos que lançaram sua sombra sobre o inferno do tempo de King Lear, Othelo, Hamlet, Troilus and Cressida, olha para ver quando e como as sombras se desvanecem. Que é que abranda o coração do homem, naufragado em tempestades tórridas, provado, como outro Ulisses, Péricles, príncipe de Tiro?
Cabeça, rubriconicoroada, espancada, lagrimenceguecida.

[...] Cuidado com o que queres na juventude, pois o terás na maturidade.



JAMES JOYCE – O escritor irlandês expatriado James Augustine Aloysius Joyce (1882-1941), é considerado um dos mais importantes autores do século XX. Ele é autor de obras, tais como Dublinenses (1914), Retrato do artista quando jovem (1916), Ulisses (1922) e Finnegans Wake (1939). Participou do Modernismo e do Imagismo. O romance Ulisses foi criado enquanto o autor concluia Dublinenses, em 1906, a partir de um negociante judeu, Leopoldo Bloom, só escrita a partir de 1914. A obra foi proibida nos Estados Unidos de 1920 até 1933. Foi publicado em Paris e na Inglaterra em 1922 tendo problemas de censura, bem como a aparição de versões proscritas. Nesse romance de 18 capítulos, compreendendo cada um a partir das 8 da manhã até às 2 da madrugada, o autor utiliza-se do fluxo da consciência, da paródia, de piadas e de todas as técnicas literárias. A ação ocorre em único dia: 16 de junho de 1904, parodiando os principais personagens da Odisséia homérica, Ulisses, Penélope e Telemaco, em Leopoldo Bloom, Molly Bloom e Stephen Dédalos.
O 16 de junho possui mais uma representação, a de ser o dia que o autor fez sexo pela primeira vez com a sua futura companheira Nora Barnacle.



BLOOMSDAY – É a data festiva comemorada no mundo inteiro, desde 1940, dedicada a James Joyce: 16 de junho. É uma homenagem ao seu romance Ulisses, relembrando os acontecimentos vividos pelos personagens pelas 16 horas daquele dia e 19 ruas de Dublin.



FONTE
JOYCE, James. Ulisses. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.  Veja mais James Joyce aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


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