sexta-feira, junho 03, 2011

A ESPERA DE BIA & ELAS FAZEM POESIA & SEXO!!!!



A ESPERA DE BIA, ARIANA – Imagem: arte by Ísis Nefelibata - É noite e eu respiro o meu segredo e a minha solidão nessa casa vazia. Apenas este espelho é testemunha de tudo, e tudo que vejo refletido é a menina que se escondera em algum recanto esquecido dentro de mim e que hoje resultou numa mulher fatigada que confere seu jeito procurando dela a ânima linda de ontem para se iluminar. Não, não é mais a mesma, eu sei, nunca mais fora a mesma, o tempo assim fizera agora ajeitando as flores do jarro, removendo a poeira impregnando tudo e que pesam nos ombros, ajeitando a pulseira, alisando a face, escondendo com as mãos os cabelos que já se insinuam esbranquiçados, os brincos, o batom, o estojo de maquiagem, sabendo que não adianta querer me embelezar, ele, por certo, não virá. A noite é apenas descoberta por uma simples vela no castiçal de madeira, a minha única companhia enquanto escuro está todo o mundo ao meu redor. Onde estará ele? Sei lá, já perdi a conta de esperar. Só me resta olhar essa face lívida e cansada na frente do espelho enquanto tento solfejar qualquer canção de amor e depois me enrolar no lençol, o travesseiro, a fronha, a minha repetitiva existência, até adormecer e não mais acordar... Ah! espelho, só você flagra a minha lágrima, o batom borrado, as rugas indesejáveis, penteando os cabelos, apascentando minhas feras que botam as garras de fora dentro de mim. Você, espelho, consegue ser o caleidoscópio da minha vida passada a limpo: o noivado que findou trágico, o casamento que acabou antes da hora e o namorado que se esqueceu de voltar no meio da fantasia. O lado bom disso, são as minhas filhas e a dor de ser mãe que não passa, vigilante, noites e dias e dias e noites. Os sonhos, ah! os sonhos de felicidade, a vida dura doendo no peito, a esperança de sempre. Olho para ontem e vejo... ah! não quero lembrar. Olho para o amanhã e sei que tudo vai se repetir parece que da mesma forma de sempre. Pos é, nesse rosto realçado pela sombra que me atormenta e pela luz da vela que me falagra, está tudo o que me resta das cirurgias, dos dias de choro, dos dias de riso solto, do ventre ardendo de prazer e me reduzindo à lembrança do namorado que não voltou nunca mais. Não dá para ver-me prendendo as mãos entre as pernas e o sexo. Tudo, tudo é muito difícil. Vou rabiscar uma carta, mandar um mail, discar no telefone para algum número, não, eu sei, não adianta, a vida está fazendo a sua parte. Ah! se eu pudesse rever a infância mimada, a adolescência agitada, tudo muito riso e muita felicidade. Agora, sozinha no quarto e nesta casa juntando as jóias nenhuma, algumas bijouterias, o diadema, algumas lembranças risíveis do passado, o castiçal molhado de puras lágrimas, o botão da flor como se estivesse nas feiras livres onde tudo está a granel: desejos, vassouras, verduras, panelas, pratos, talheres, gavetas, toalhas, tudo na carne da unha infestando-me de recordações no alvoroço de minha inquietação. Eu me espremo sozinha, passo o perfume na face, a fragrância na pele, tudo guardado esperando por quem nunca vem. Eu fico só no meio dessas tranqueiras foleadas, brincando de mentirinha que ainda sou amada. Ah! Quantos prazeres guardo embaixo da saia? Quanta volúpia nasceu da minha boca e da minha língua? Quanto frenesi acendi com meu corpo os prazeres do homem que insiste em não voltar? Eu me joguei de cabeça nesse amor e ele tarda e teima sem retorno. Estou só, toda esperança no peito, as mãos sentidas ávidas por afagá-lo enquanto eu morro supliciada com o desejo arraigado de alcançar elevadas alturas orgásmicas, o bom-gosto dos suntuosos lugares, o fausto do refinamento, a nobreza da fuga sentimental enquanto lições e tribulações são o línquido azedo da taça da vida que queima a minha ânsia interior e fujo do sórdido e da vulgaridade. Eu tenho o compromisso na palavra como jura de fogo no toque dos metais: eu amo. Eu sei, sou dominadora, sou imponentemente afável, às vezes impaciente com a demora, e me enganando ao fazer algo como ir decorando a casa, adornando o corpo, risonha para mim, teimosa por querer sempre sem que a piedade apaziguasse, e despetalando a rosa bem-me-quer, mal-me-quer. Ele me quer, eu sei, não vem e quem lhe chama na noite escura debruçada numa fria madeira do móvel a fitar duma vela que denuncia o meu ser no espelho, onde eu percebo o meu olfato aguçado do seu cheiro se aproximando, minha audição aguda ouvindo seus passos ao meu encontro, e à noite minha íris abre-se para buscar-lhe a imagem alhures na querência que venha, e se não vier boto prá fora minha sanha de suçuarana, andando na ponta dos pés como uma felina furiosa, na minha espinha flexível e poderosa, feroz, eu trêmula, pálida de raiva escondendo a saudade nos olhos e vingança de esganá-lo ao primeiro contato. É, ele não vem nunca e quando chega eternamente exausto, regiamente maduro, estupidamente tímido, enquanto eu balanço fogosa, tremendo na base com uma a chuva de uivos de loba e o meu amor numa areia movediça como se fosse o meu maior pecado lanhando meu dorso, o grande amor que aciona as palpitações do corpo, a luxúria da carne quando eu saio das trevas sem dar-me conta, abrindo o vestido, nua e deslumbrada, o cetro dele a me seduzir, eu voluptuária enfermeira, rameira particular, passeando por paisagens fenícias, Veneza, Berna, o lago Zurique e Edinburgh durante o seu beijo e o seu afeto. Eu me desmanchando atenta, zelosa, delirante, sem pose, a sua posse, o meu espanto com o formigamento na epiderme, o apetite e o deleite da matéria em movimento, na minha alcova onde somos iguais na forte atração recíproca, ah! como esqueço de mim e entrego-lhe tudo o que sou, eu com meu peito que se estufa de alegria, cheia de meneios fazendo-me flor quando faz de mim seu saxofone, servindo-me orvalhada ao seu ter, cheia de graça, deitada ao seu colo e mexendo todos os seus meridianos. Sou sua oferenda, a sua taça erguida, porque ele é como se fosse um deus e eu como uma mercadoria cobiçada, invadida até nos pensamentos, possuída toda pelo seu hálito de álcool e cigarro, a sua cara de Aretino safado, com seu hedonístico jeito obsceno de me cativar, seu refinado sondar, seu galante jeito de me descobrir, como um Diderot lúbrico, um Voltaire lascivo, um Mirabeau fanático, um Marquês de Sade indomável, a me chamar de Vênus arrancando-me a camisola, empurrando-me violentamente o seu cordão de São Francisco, a sagrada serpente que me leva ao orgasmo e à revelação espiritual, revolvendo minhas entranhas com suas mãos buliçosas, precitando-se de mim. Ah! eu sempre fora a sua plantação regada de carinhos e quando dou as costas, eu sei, ele me morde o ombro com uma sede de séculos. Ah! mas sua presença é algo além de minhas forças, enlouqueço e definho enquanto ele desenguiça minha máquina sobejando meus líquidos divinos e me enterrando sua gula profana, ah! quantas vezes se afogou em mim como quem mergulha águas prazeirozas, fazendo com que eu conheça todos os seus músculos, todas as mentiras, toda luxúria de um homem apaixonado se acercando dos meus ouvidos com seus gritos lancinantes de prazer; depois sentir-lhe o membro viril tocar entre as minhas pernas; e despejar o sêmen dele na minha mão, no meu rosto, na minha boca, nos meus seios, no meu ânus, minha vagina, minhas coxas, braços, pernas, labuzada toda para ser dele que se aproveita disso, atingindo a vulva, o útero, fecundada a fonte e todos os meus rios. Parece insaciável mordendo o meu pescoço e arrepiando-me ao seu contato até que mergulha no meu decote e descobre o meu pudor de santa, o meu pecado de puta de que fui sua janta, café da manhã, ceia, almoço e sobremesa; fui sua cama, mesa e banho; sua barba, cabelo, bigode e pentelho; fui bebida e sobejada; servida e seviciada; amada, comida e rejeitada; santa e demoníaca; panacéia e veneno; pronta para a carícia e o escalpelo; puxada pelos cabelos, partida em bandas, cuspida e escarrada; banida e enjaulada como a cobaia e a punição; seduzida e estrupada; fui o clímax da sua satisfação e a maldição dos tempos; fui jurada de morte e de cortes vitimada; gloriosa e sucumbida; desejada e maldita; adorada demais e a costela desprezada; fui égua em sua cavalgadura e senti seu peso nas minhas costas, na dor de perder-me a alma e o senso no coito anal, quando depois de gozar se estendia do lado enquanto eu lhe punha para dormir o sono dos justos, alisando o seu sexo. E depois ir embora sem ao menos dizer adeus, até logo, o beijo derradeiro, deixando o meu sorriso em sua carne; e eu sem sossego amarrando o bode onde podia, delirante para não deixá-lo ir nunca mais, mas fora, e eu ficara e continuo a me espremer sozinha, a vela apagada e eu choro a noite no travesseiro. Daqui a pouco o sol se levanta e eu tenho que sorrir para a vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor. Veja mais aqui.



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