terça-feira, junho 14, 2011

CORTÁZAR, TIM INGOLD, NECHVATAL, TERESA GOYRI, ADÉLIA PRADO, REBOUL & JORGE CALHEIROS


 A arte do artista post-art conceitual e teórico de arte estadunidense Joseph Nechvatal.

 

SONHAÇÕES – Quando sonhei o que eu seria menino dos olhos inquietos além do quintal, era tudo imenso na carreira da rodagem com pássaros e árvores ao alcance da mão. E sonhava a alegria do que não era de noite, tudo tão perto quanto mais longe de não caber no sorriso nem na ideia. Quando sonhei o que eu seria adolescendo de tarde o que era outro dia, tão mais inquieto quanto o que fosse impossível na força e coragem, enquanto o que via era outra coisa e não era nem nunca foi tão diferente. Quando sonhei o que eu seria maduro das coisas já não eram mais tão perto de longe, entendia tão pouco do que sabia o menino para cima e pra baixo, como se perdesse a real liberdade de se imaginar além do que podia. Quando sonhei o que eu seria já quase sem sonhos dos muitos perdidos, havia a manhã ensinando que eu não era mais que os olhos inquietos além do quintal esquecido. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui aqui e aqui.

  


A arte do artista post-art conceitual e teórico de arte estadunidense Joseph Nechvatal.

 

DITOS & DESDITOSA evolução é o processo no qual os organismos se tornam seres com suas formas e capacidades particulares e, mediante suas ações ambientalmente situadas, estabelecem condições de desenvolvimento para seus sucessores. Seres humanos são tão aprisionados neste processo quanto os organismos humanos. Crianças, assim como os jovens de muitas outras espécies, crescem em ambientes providos pelas gerações anteriores, e assim como fazem, carregam as formas de seus modos de vida em seus corpos - nas habilidades específicas, sensibilidades e disposições. Trecho extraído de A evolução da sociedade (Edusc, 2003), do antropólogo britânico Tim Ingold.

 

ALGUÉM FALOU: Era uma vez uma tigela de sopa em que uma menina de olhos enormes brincava de pescar letras com uma colher. –María Teresa, mais uma vez você é a última a comer, você está castigada! –A freira que cuidava da cantina da escola gritou muito brava. "Sinto muito, mas estou escrevendo com as letras da sopa", respondeu Maria Teresa sem tirar os olhos do prato. - E o que é tão importante que você escreve? Perguntou a freira em tom astuto. - Escrevo a palavra mais importante do mundo, aquela que ninguém deve esquecer: LIBERDADE. E assim que ela disse isso, ela pegou o prato com as duas mãos, levou-o à boca e de um gole bebeu a sopa. Aprendeu aquela palavra de que tanto gostava em casa com seus tios Ramón Menéndez Pidal e María Goyri. Ambos estudavam e liam muito e tinham uma grande biblioteca. María Teresa passou dias inteiros naquela casa que cheirava a papel. Ela admirava muito sua tia, María Goyri, porque foi a primeira espanhola a obter o doutorado em Filosofia e Letras. “Quero ir para a universidade como minha tia Maria e ser escritora”, Maria Teresa costumava protestar na escola. Como ela estava quase em silêncio sobre o que estava pensando, os professores ficaram muito bravos com ela e eventualmente a expulsaram da escola. Seus tios estavam bastante felizes, mas seus pais, por outro lado, não achavam nada divertido, então decidiram ir de Madrid a outra cidade, a Burgos, para ver se aquelas idéias lhe saíam da cabeça. Mas em Burgos, María Teresa não se curou de querer ser escritora e, para escrever sem medo, deu-se um nome falso, Isabel Inghirami, a heroína de um livro de que gostava muito. "Agora ninguém vai me proibir de dizer o que penso", disse ela a si mesma, lembrando-se de sua palavra favorita de oito letras. Você se lembra que palavra era? (LIBERDADE!) Em Burgos, muitas outras coisas aconteceram com ela. Conheceu um professor universitário e logo se casou com ele. Ela tinha apenas dezessete anos na época, era quase uma menina, mas seus pais achavam que talvez assim ela parasse de escrever coisas estranhas. Pouco depois de se casar, ela era mãe de um menino, Gonzalo. E com a idade de cinco anos seu segundo filho, Enrique, nasceu. Ela os amava muito, cantava canções para eles e lia muitas histórias para eles, algumas delas escritas por ela. Mas María Teresa queria estudar mais, encontrar pessoas que lhe ensinassem história, literatura, ciências... “- Em Burgos não aprendo nada. Tenho que sair daqui”, disse ela com muita tristeza um dia ao marido. "Se você quiser ir embora, você o fará sozinha, sem mim e sem os filhos", respondeu o marido, muito zangado. "Isso é o que mais me dói", disse ela. E ela começou a chorar. Mas vou seguir meu caminho. Quando as crianças crescerem, explicarei o que aconteceu. Naquela época, as mulheres não podiam se divorciar de seus maridos e, se o fizessem, por qualquer motivo, perderiam seus filhos. Finalmente ela voltou para Madrid. Começou a visitar bibliotecas, a encontrar outros escritores e escritoras, a ir ao teatro, a visitar os tios, a inventar histórias... Um dia foi apresentado a um poeta andaluz; seu nome era Rafael. Enquanto se cumprimentavam, ele exclamou com sotaque de Cádis: -Seus olhos são duas estrelas! Você vai me deixar tomar banho neles? O poeta era Rafael Alberti e ele queria se conectar com ela. Então ele começou a recitar versos e versos e mais versos até que a lua virou sopa, as estrelas bocejaram e só gatos correram pelas ruas de Madrid. Meio adormecida, María Teresa explicou: –Eu também escrevo contos, peças, novelas... Eu sou um escritor, morreria sem escrever. –Bem, porque podemos trabalhar juntos e iluminar o mundo com novas ideias. -Bem, você já deslumbra, Rafael, você dá tanta luz quanto um cometa. Eu poderia ser a cauda do cometa ao seu lado –María Teresa apontou. A partir daqui, a história se torna o conto dos dois escritores. Juntos aprenderam, juntos publicaram livros, juntos viajaram por muitos países, juntos apoiaram os soldados republicanos na guerra civil espanhola, juntos protegeram as pinturas do Museu do Prado das bombas, juntos descobriram o comunismo e juntos foram para o exílio, juntos eles tiveram uma filha, Aitana... Juntos eles viveram suas vidas inteiras e se amaram muito. Rafael ficou muito famoso. Por outro lado, María Teresa, que escrevia tanto quanto ele, vivia em sua sombra, ajudando o poeta em seu trabalho, cuidando de sua filha, cuidando para que nada lhes faltasse. Isso significava ser a cauda do cometa! Fique na sombra. Porque aos poucos María Teresa León, que era seu nome completo e porque ela autografava seus livros, passaram a chamá-la simplesmente de "esposa de Alberti", apesar de ela escrever muito e muito bem: peças, roteiros de filmes, histórias, ensaios, romances... Um dia, enquanto Rafael dava as últimas pinceladas a um quadro, María Teresa, que começava a esquecer muitas coisas por causa do Alzheimer, disse-lhe: - Eu quero tomar sopa, aquela sopa de letrinhas que nos deram na escola. "Como você pode se lembrar daquela sopa se já não se lembra de quase nada?" - Rafael exclamou surpreso. - Eu sou uma mulher de letras, Rafael, por isso escrevo todos os dias da minha vida. Nunca se esqueça disso, mesmo que eu esteja me esquecendo. Quero procurar novamente as letras da minha palavra favorita porque sinto falta desse sabor. Trechos recolhidos da história da escritora espanhola María Teresa León Goyri (1903-1988).

 

JOGO DA AMARELINHA - Toco a sua boca, comum dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha não escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mão te desenha. Me olhas, de perto me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam entre si, sobrepõem-se e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta, e eu te sinto tremular contra mim, como um lua na água. Trecho extraído da obra O jogo da amarelinha (Abril Cultural, 1985), do escritor argentino de origem belga Julio Cortázar (1914-1984). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

COM LICENÇA POÉTICA - Quando nasci um anjo esbelto, / desses que tocam trombeta, anunciou: / vai carregar bandeira. / Cargo muito pesado pra mulher, / esta espécie ainda envergonhada. / Aceito os subterfúgios que me cabem, / sem precisar mentir. / Não sou tão feia que não possa casar, / acho o Rio de Janeiro uma beleza e / ora sim, ora não, creio em parto sem dor. / Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. / Inauguro linhagens, fundo reinos / -- dor não é amargura. / Minha tristeza não tem pedigree, / já a minha vontade de alegria,/ sua raiz vai ao meu mil avô. / Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. / Mulher é desdobrável. Eu sou. Poema da poeta, filósofa e professora Adélia Prado. Veja mais aqui e aqui.

 

INTRODUÇÃO À RETÓRICA - O presente trabalho se desenvolveu para familiarização com os preceitos e regras estabelecidos pelo Olivier Reboul em sintonia com a retórica aristotélica. Após detida observação nos capítulos correspondentes ao livro Introdução à retórica do Reboul, iniciamos uma pesquisa elucidatória acerca dos conceitos e definições atinentes ao aspecto retórico de discurso, fundamentando nas argumentações convenientes e suas implicações. Este é o tema do primeiro capítulo. Em seguida, no segundo capítulo, nos detivemos na resenha literária escrita pela professora Maria José Tonelli, sobre o livro Demissão: causa, efeitos e alternativas para empresa e indivíduos, de Miguel P. Caldas, onde estão inscritas as problemáticas do desemprego e da demissão para saneamento das empresas no contexto brasileiro. No terceiro capítulo, efetuamos análise acerca do artigo Seja você mesmo, de Juliana De Mari, publicado na edição de setembro da revista Você s a ., onde a mesma trata de particularidades empresariais dos dias de hoje em abrir espaço para os funcionários, elegendo maneiras para que o interlocutor assuma posicionamentos transparentes para galgar melhores posições na hierarquia das empresas. Logo após, analisamos a matéria A administração depois da Internet, artigo publicado pela na edição de setembro-outubro da revista HSH Management, sobre uma palestra proferida pelo executivo Jack Welsh, onde o mesmo relata sua experiência de profissional bem sucedido e prescrevendo receitas para aquisição do sucesso na empreitada de qualquer indivíduo na escala trabalhista. Finalmente, encetamos uma conclusão acerca dos trabalhos analisados e nossa perspectiva perante o aprendizado no processo retórico. Através de uma observação aos ditames propostos por Reboul, o profissional da área necessita no dia de hoje, de uma ética transparente e de um posicionamento persuasivo, além de participativo e coerente, no seio de suas relações de trabalho com a empresa e seus colegas. A modernidade nos delineia uma atividade profissional em que haja sempre uma preparação, um treinamento, uma qualificação eficaz e eficiente para participar da competitividade com competência e retidão de caráter. As questões do desemprego, da crise econômica nacional e a revitalização na personalidade de um profissional fazem a base de uma consistente formação no sentido de galgar êxito na empreitada e na hierarquia funcional das organizações. O executivo, o gerente, o funcionário responsável pela gestão de pessoas e estratégias mercadológicas, hoje necessita de uma compacta formação intelectual que possibilite uma trajetória menos turbulenta e segura no futuro do profissional. Veja mais aqui.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1972
COSTA, Ana R. F. ett alli. Orientações metodológicas para produção de trabalhos acadêmicos. Maceió: Edufal, 1999.
MARI, Juliana De. Seja você mesmo. In: Revista Você s.a. 27:3. São Paulo: set./2000 p. 56-60
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998
TONELLI, Maria José. Demissão. In: RAE- Revista de Administração de Empresas. Out./dez./2000, 40:4, p.103-108.
WELCH, Jack. A administração depois da Internet. In: Revista HSM Management, 22:4 São Paulo: set./out, p.6-12, 2000.

ARTICULAÇÃO PELA CULTURA POPULAR E AFRO-ALAGOANA – JORGE CALHEIROS. A Articulação pela Cultura Popular e Afro-Alagoana convida para grande festa em homenagem ao cordelista Jorge Calheiro: O CLIMA BOM de JORGE CALHEIROS – Cordéis e Outros Encantos. A Articulação propõe uma justa homenagem ao cordelista Jorge Calheiros, que com 72 anos de idade, semi-analfabeto, morando a mais de 50 anos no bairro do Clima Bom, funde em alquimia o humor, a criticidade e o registro histórico no cerne dos folhetos que escreve, popularizando de forma maciça a literatura de cordel alagoana. A literatura de cordel em Alagoas tem alcançado considerável crescimento e chamando a atenção de pessoas de todas as faixas etárias que buscam ler, pesquisar, e praticá-la. Esta forma de linguagem e comunicação tornou-se comum nas diversas mídias e eventos das empresas públicas e privadas, e os estudantes passaram a usar o cordel em seus trabalhos escolares e acadêmicos, até mesmo as grandes emissoras de TV do Brasil já atentam para a força e originalidade da literatura de cordel. Escritores e escritoras cordelistas retomaram a esperança e voltaram a produzir seus escritos versificados, metrificados e rimados. E neste contexto o poeta popular Jorge Calheiros foi o que mais ganhou notoriedade e contribuiu para a repopularização da literatura de cordel, através da originalidade e genialidade dos seus textos e pela forma única de declamar de cor seus mais de 80 títulos publicados. Jorge Calheiro tem dado uma inegável contribuição para a cultura alagoana, sendo constantemente chamado para se apresentar e palestrar em diversos municípios de Alagoas, Sergipe e Bahia, levando e elevando a nossa cultura popular nos lugares por onde anda. O CLIMA BOM de JORGE CALHEIROS – Cordéis e Outros Encantos Programação: Coletivo AfroCaeté com participação especial de Izabel e Nany Moreno (Afoxé Oju Omin Omorewá); Jogos de Cordéis; Roda de capoeira dos grupos Muzenza e Guerreiros; Poesia Musicada no Pandeiro; Chau do Pife; Bumba meu boi e Airê Iorubá (Núcleo Cultural da Zona Sul); Luiz Alberto Machado; Coco de Roda Renascer; Dona Mariquinha; Poesia de Gentileza de Diego Januário (CEPA Quilombo); Jorge Calheiros e Demis Santana; exibição do filme: O Matuto Zé Cará; além de trios de forró e violeiros do Clima Bom. Local: Praça do terminal dos ônibus do Osman Loureiro Data: 18 de junho de 2011 (Sábado) Horário: das 16 às 22 horas Contatos: (82) 8852-4746 / 8845-4068 Texto com colaboração de Demis Santana Ernani Viana Turismólogo & Produtor Cultural Coletivo AfroCaeté Cel.: 82 8878 1465 Blogs: http://alagoastur.blogspot.com & http://ernaniviana.blogspot.com & http://coletivoafrocaete.blogspot.com & http://arnaudeernaniproducaocultural.blogspot.com/.


 
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