quarta-feira, julho 15, 2009

HERMILO, SUSAN SONTAG, ROLAND BARTHES, OTTO MESSMER, CORDEL & LITERÓTICA.


A arte do desenhista, quadrinista e ilustrador estadunidense Otto Messmer (1892-1983). Veja mais aqui & aqui.

LITERÓTICA: O FOGUETE DE DARCY – Ela chegou como o impacto das grandes catástrofes, inevitável. Mais parecia invernada com as tempestades ruidosas, raios devastadores e tremores desarrumando o mundo e o universo. Deu-se o nosso letificante encontro naquela tarde perdida no calendário. Ela olhos vivos, riso solto, fisionomia resplandescente. A boca sedutora, um convite lascivo; o rosto febril, inquietante; o jeito e o gesto magnetizantes. Horas, muitas horas de imantação. O primeiro beijo, fatal. Ela arrepiada com a suavidade do alisado de minhas mãos por suas faces, pescoço, seu corpo delineado, sangue fervente, seus contornos, vasculhando sua vastidão: seios, pernas, quadris, nuca. Tremia com minhas carícias, visivelmente tremulava embaixo do vestido, sensível, desmanchada, revelando a sua secreta ebulição. Seu corpo ardia a ponto de seu desejo escorrer pelas pernas empoçando o chão, até se amparar em mim até a cama para galgar com frenesi, vingativa, possessa, possuída. Essa a primeira vez. Da segunda, ao me ver de chegada, uma euforia incontida, imprudente, molhada calcinha. Ao menor contato, se derretia e me agarrava, beijava, rodopiava, a sua embriaguez. E se entregava, espremida contra a parede, de bruços sobre o balcão da cozinha, na alcova e enlouquecia gozando no nosso covil escuro. E reacendia seu fogo vulcânico, fogosa, atiçada, a dançar nua, a rir e chorar, e se escalpelava penetrada até a alma, enfiada em meu sexo por horas e dias. E amanhecia afogueada, acercava-se furtivamente do meu pênis como quem avidamente procura a salvação. Tomava-o carinhosamente entre as mãos e os lábios, esfregando-o às faces e pele com a blandícia dos sussuros apaixonados, faminta, obscena, e só descansava quando arrancava de mim a explosão de um gozo incontido na sua boca sedenta. Depois do gozo extraordinário, cometia versos, milhares de poemas com juras de amor, escrevia nas paredes, nos panos, guardanapos, azulejos, pratos e páginas imensas. E me provocava no cio, reboladeira, insana puta safada, até cairmos exaustos na nossa orgia interminável. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOS - Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo. Pensamento do escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e crítico literário francês, Roland Barthes (1915-1980). Veja mais aqui e aqui.

IMAGINAÇÃO PORNOGRÁFICA - [...] por domesticada que possa ser, a sexualidade permanece como uma das forças demoníacas na consciência do homem –impelindo-­nos, de quando em quando, para perto de proibições e desejos perigosos, que abrangem do impulso de cometer uma súbita violência arbitrária contra outra pessoa ao anseio voluptuoso de extinção da consciência, à ânsia da própria morte [...] quase toda a pornografia [...] aponta para algo mais amplo que o simples dano sexual. Trata-se da traumática incapacidade da sociedade capitalista moderna de oferecer saídas autênticas ao perene instinto humano para as obsessões visionárias inflamadas, assim como de satisfazer o apetite de modos de concentração e de seriedade exaltados e autotranscendentes. A necessidade dos seres humanos de transcender ‘o pessoal’ não é menos profunda que a de ser uma pessoa, um indivíduo. No entanto, nossa sociedade atende pobremente a tal necessidade [...]. Trechos extraídos da obra A vontade radical (Companhia das Letras, 1987), da premiada Susan Sontag, pseudônimo da escritora, crítica de arte e ativista estadunidense Susan Rosenblatt (1933-2004). Veja mais aqui e aqui.

SOL DAS ALMAS – [...] Era um lindo quadro, vê-la adormecida, ainda repousando de lado. O único lençol que nos cobria tinha escorregado durante a noite; ela estava completamente nua, em toda a sua beleza e mocidade. Tinha os pés pequenos, as pernas bem feitas, coxas e nádegas mais delgadas que as de Camilla, pois são partes que se desenvolvem com a idade. Os seios eram soberbos, mais rijos e mais belos que os de Camilla. Contemplei a penugem negra que rodeava a gruta, os pelinhos eriçados que se perdiam entre as nádegas. Toda a sua carne tinha um tom de jambo peculiar às francesas do sul [...] subi para o gabinete. Tranquei-me por dentro e comecei a ler o livro. Logo às primeiras cenas fiquei terrivelmente excitado, parando de instante em instante para saborear aquele mundo até então completamente desconhecido. Tudo se transformava em sexo e o ato da procriação passava a ter uma importância secundária, era uma festa dos sentidos, uma volúpia cuja exacerbação eu sentia desde a planta dos pés. [...] Quando o pecado se aninhava principalmente na cabeça, Tu me marcaste no pescoço; mas depois que ele se concretizou em atos. Tu me marcaste na sujeira. Meu corpo se transformará numa chaga, eu sei, porque a estrada é longa e não sairei para a margem, mesmo porque já não há mais forças para me deter na caminhada. [...] Trechos da obra Sol da almas (José Olympio, 1974), do advogado, escritor, crítico literário, jornalista, dramaturgo, diretor, teatrólogo e tradutor Hermilo Borba Filho (1917-1976). Veja mais aqui.


QUE LINGUA É A NOSSA?

Alguns dizem que a nossa lingua
È chamada de lingua portugues
Mas iscordo pois exite diferença
Veja bem e examine com claresa

Se ela fosse igual a que falamos
Não haveria no verbo diferença
Veja bem o que eu fui pesquisar
E lhe mostro até sua sua presença

Tira-cápsulas que els dizem por lá
Simplesmente aqui fala abridor
Picheleiro em Portugal quer dizer
O que aqui chamamos encanador

O banheiro por lá é casa de banho
Peúgas quer dizer o mesmo que meias
Me desculpem então nossos patricios
Mas as suas palavras soam feias

Autoclismo da retrete quer dizer
A descarga do vaso sanitário
É quase um palavrão a tal pronuncia
Que entontece o tal vocabulário

Trem por lá eles chamam de comboio
Descapotável se refere a conversivel
O pedestre eles chamam de peão
Cá prá mim é comparação terrivel

Ponto de ônibus eles chamam de paragem
Aeromoça é hospedeira de bordo
A calcinha eles chamam de cueca
E com este linguajar eu não concordo

Líxivia é água sanitária
Apostila tem o nome de Sebenta
Se eu seguir a gramática portuguesa
A cabeça de certo se arrebenta

Blusão eles chamam camisola
Xicara tem o nome de chávena
Fila por lá recebe o nome de bixa
Eita lingua esquisita da granguena

È por estas que discordo meus amigos
Discordarei pela minha vida inteira
Nada tenho contra o povo Português
Mas prefiro minha lingua Brasileira

Quantos outros exemplos lá existem
Me desculpe mas não conheço o dicionário
Mas confesso que irei pesquisar
Pra traduzir o luso vocabulário

E com este acordo ortográfico
Quais serão as mudanças atuais
De que forma melhor entenderemos
Os acertos dos tons gramaticais?

Quando eu viajar pra Portugal
Vou em busca de conhecer bem de perto
Nossa lingua Brasileira é errada,
Ou será que o português é que está certo?

Eu só sei que Pero Vaz de Caminha
Diferente de Camões ele escreveu
Gil Vicente com “o monologo do vaqueiro”
A linguagem popular aconteceu

O primeiro documento literário
Conhecido até então em Portugal
Tem o nome A cantiga da Ribeirinha
De 1198 a obra tal

Paio Soares de Taveirós
Usa a satira e também o lirismo
Nesta data aparecia para o mundo
O movimento chamado trovadorismo

Cada um ao seu modo fez historia
Recriando a rica filologia
Nossa lingua,Portuguesa ou Brasileira
Não importa, o que vale é a poesia



Carlos Silva é poeta cantador
trovador aspirante a cordelista
Aqui em versos revelo o meu querer
Minha alma e meu sangue de artista

Vou brincando nesta “Gramaticagem”
Exercendo o oficio de poeta
Na experança que um dia me revelem
Qual seria a linguagem mais correta???

DESMATAZONIA
Autores: Carlos Silva e Sandra Regina

Vi a queda da bela Araucária
Vi o tombo do gigante Jatobá
Umburana, angirco e pau ferro
Não mais servem pro pouso do sabiá

Madeireiro sorrindo abastado
A natureza amargando a própria dor
E o Homem,um ser Desumanizado
Ao jardim do Nosso Deus Não deu valor

Carbonizam a nossa Amazônia
Desfolhando nosso verde natural
Desmatando a mata que não mata
Maltratada pela ação do marginal

A ambição causa morte e desgraça
O corrupto imunidade já ganhou
Chico Mendes com grito de liberdade
Uma bala traiçoeira lhe calou

A extração da madeira é um “BOM NEGOCIO”
Lucrativo que deslucra a natureza
Nossos rios, Tapajós e o Xingu
Jarauçu pagará tenho certeza

Terra do meio é um meio assustador
Bem perto de Prainha e Porto de Moz
Quem irá desligar as moto-serras,
Oh meu Deus quem ouvirá a nossa voz?

E enquanto a resposta ainda é muda
Os Ribeirinhos em palafitas vão vivendo
Nosso verde, nossos rios e nossas matas
Nossos bichos pouco a pouco estão morrendo

E quem cuida descuidou desse cuidar
Pois o vil metal já lhe corrompeu
E a troca do trocado recebido
Não VALE o preço do verde que se vendeu

CARLOS SILVA – Nascido em São Paulo, o poeta cantador Carlos Silva tem suas raízes fincadas no sertão da Bahia, tendo uma infância e crescimento ouvindo trovadores e cordelistas na vila de Itamira no município de Aporá, cidade do interior baiano. Sua carreira de cantador começa em 1978, quando passou a entoar os primeiros acordes dos artistas que influenciaram sua arte, Luíz Gonzaga, Vital Faria, Xangai, Geraldo Azevedo, Trio Nordestino, Zé Limeira, Patativa do Assaré, Gordurinha, Téo Azevedo, Assis Ângelo e Moreira do Acopiara. Em 2000 ele lança seu primeiro trabalho em cd numa produção independente. Logo em 2003, viria o segundo cd “Retratando”, álbum que presta justa homenagem a todos os cordelistas, trovadores, cantadores e, em especial, a Mestre Vitalino e outros ícones da nossa cultura. A partir disso se une ao pessoal da Cooperifa - Cooperativa dos Poetas da Periferia – movimento literário da capital paulista do qual faz parte, participando da coletânea Rastilho de Pólvora, êxito que foi repetido em 2006 com o lançamento de um cd de poesias pela Cooperifa e duas canções compostas por ele em parceria com o músico Zé Riba. Recentemente lançou o seu cd "Versando Cantorias" e agora traz o seu dvd. Veja a entrevista dele no MT&C.





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    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...