A arte de Bruno Steinbach
PLETORA DOS ANTÍPODAS - A sua nudez se agiganta na minha afeição. E eu recolho o seu corpo como quem
persegue a salvação da vida. E persigo escalando suas encostas
íngremes e latejantes de carne firme, ilha perfumada nua em pêlo, arrepiada com
toda a seiva transbordante com cheiro bom de enlouquecer. E endoideço enquanto você se prolonga na
alegria do meu coração que se apropria de toda sua esbelta deidade tentadora
para deixá-la encurralada nas minhas carícias à queima roupa. E vou desenfreado pilhando seu corpo
enquanto se precipita sobre o poderio do meu falo rijo que lambuza a
generosidade do triângulo púbico até a celebração sinuosa da dança pélvica que
me arregala os olhos de forma assustadora com seu embalar de felicidade por
possuí-la suculenta e depravada. E na nossa obscena empatia vou explorando
as minas de ouro escondidas sob a língua sibilante da Britney cheia de
imprecações, no regato dos seios que nutre nossa atração recíproca e nossos
corpos mútuos, nos pontos de ebulição que acende a clareira de nossa vertigem
despudorada, nas nádegas arrebitadas que bamboleia para o meu completo
enlouquecimento, na sua guarita onde a minha vontade endurecida mergulha no
abismo para que possa hibernar soterrado de prazer. E na descoberta da delícia, vou
investindo com lambidas ferozes cada fatia da deusa do meu panteão, minha
suméria Nammu que pariu o céu e a terra no caos enquanto o meu sexo guerreiro
golpeia e empurro com estocadas loucas cerrando os dentes, penetrando sua alma
como um cavalo selvagem que atravessa o seu gemido gutural apertando meu membro
no prazer crescente e inevitável, até transbordar todos os impulsos e
peripécias do nosso bom bocado onde o bumerangue vence a parada de todo quilate
de sua satisfação tantalizada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS - Não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do
fracasso é tentar agradar a todo mundo. Pensamento do ator e comediante Bill Cosby.
A MENTE CONSCIENTE – [...] Quando percebemos, pensamos e atuamos, existe um ruído de
fundo de causalidade e processamento de informação, mas este processamento em
geral não ocorre na obscuridade. Existe também um aspecto interno; tem algo que
se sente como ser um agente cognitivo. Este aspecto interno é a experiência
consciente. [...] o conceito de percepção pode ser interpretado de uma forma
exclusivamente psicológica como o processo pelo qual os sistemas cognitivos são
sensíveis a estimulação ambiental de uma maneira tal que os estados resultantes
desempenham certo papel na direção dos processos cognitivos. Mas ele também
pode ser tomado fenomenalmente como a experiência consciente do que é percebido.
[...] Um fenômeno natural é explicável de
modo redutivo em termos de algumas propriedades de baixo nível, precisamente
quando é logicamente superveniente a estas propriedades. [...] Dados todos os fatos microfísicos acerca de
um lote particular de H2O, é logicamente impossível que estes fatos possam ser
válidos sem que a liquidez tenha sido instanciada. [...] Mesmo quando objetado que o meu gêmeo zumbi
acredita nas mesmas coisas que eu acredito, isto não torna plausível a hipótese
cética de primeira pessoa que eu poderia ser um zumbi. […]. Trechos extraídos
de The conscious mind (Oxford Press,
1996), do filósofo australiano David John Chalmers. Veja
mais aqui.
MISO SOUP - [...] A rua me parecia irreal. Embora estivesse atrás da rua da
Subprefeitura no conhecido bairro de Kabuki, sentia‐me vagando por uma
cidade estranha de um país estrangeiro. Tinha a impressão de estar vivendo um
sonho, dentro do qual não tinha para onde ir. Convenci a mim mesmo de que ainda
não estava completamente refeito do choque. Era incapaz de me controlar [...] Todos
pareciam cumprir ordens emitidas por alguém e apenas interpretavam seus papéis
de ser humano de algum tipo. Irritei‐me durante todo o
tempo em que estive em contato com aquelas pessoas que, ao meu ver, em vez de
sangue e carne tinham os corpos recheados de serragem e tiras de vinil, à
semelhança dos bonecos de pelúcia. Mesmo quando vi o sangue escorrer de suas
gargantas cortadas, nada me parecera real. Vendo o sangue pingando da garganta
da número cinco, tive a clara impressão de tratar-se de shoyu para sashimi. Era
como se ela fosse uma falsificação de ser humano [...] Para uma
estudante o Natal possui um significado especial. Tanto Jun como suas amigas
não sentem muita necessidade de homens ou namorados. Elas sempre dizem que
homem só serve para dar trabalho, que são ruins de papo e vivem sem grana. De
fato, Jun passou as férias de verão deste ano na praia com as amigas, e não
comigo. Porém, o Natal, para elas, é ocasião de um ritual particular, é a única
noite valiosa do ano que desejam realmente passar com um homem [...].
Trechos extraído da obra Miso soup (Companhia
das Letras, 2005), do escritor e cineasta japonês Ryu Murakami.
NA MARGEM
- No seu rosto algumas mulheres mergulham
desabaladamente. / Outras, mais cautelosas, já tendo apanhado da vida, chegam
pisando de lado, aproximam-se devagar. Começam por molhar os dedos, depois, com
um olhar que se quer / distraído, dispõem-se a banhar os pés (são estas,
talvez, as que correm maior perigo – pois, ao senti-las reticentes, suas águas
se temperam de encantos luminosos, flutuantes, evanescentes, e em breve se
estendem, em pequenas ondas graciosas, ao redor dos tornozelos. Quando dão por
elas – pronto!- já estão mergulhadas até o pescoço). / Outras, ainda, (as
tolas) acreditam possuir alguma qualidade especial que as tornará necessárias
ao mistério das suas profundezas. Como se os seus corpos, ao se banharem
naquele líquido, estivessem, por contraste, oferecendo a ele alguma coisa de
útil. / Pura ilusão. Não percebem, as desavisadas, as pretensiosas, que, no
contato íntimo da sua água com a pele, ela nunca, propriamente, as penetra.
Envolve, talvez. Adula, acaricia. Aquece. Recebe, torna macia e cheia de luz –
mas nunca, nunca a ela se mistura. / Aos seus olhos, portanto, cada mulher não
passa de um corpo, massa sólida a se deslocar de um lado para o outro, com
maior graça ou menor grau de desconforto, mas ainda e apenas isso: um objeto
fugidio, que nada tira nem em nada lhe acrescenta – um acaso do movimento que,
meramente, se dá. / Não eu. Eu não sou como nenhuma _ nem uma única _
dessas tristes mulheres. / Conheço e palmilho, a cada dia, a completa extensão
da sua orla. Percorro, de pés descalços, sua órbita, tropeçando em pequenas
pedras, cortando a pele no espinhal. Há ocasiões em que sangro profusamente, e
é preciso que pare e me sente para descansar em alguma pedra da região
desértica que circunda o seu perímetro. Nestas vezes, tenho oportunidade de
observar de perto o banho das outras mulheres: seus movimentos, a princípio
aéreos e leves; tremeluzindo no rosto, a surpresa e a delícia iniciais; a
seguir, o despontar do desconforto, e nas sobrancelhas franzidas, a breve
desconfiança da promessa de saciedade que nunca se realiza. E, logo, ao
constatarem a perda do próprio reflexo, os músculos que se retesam, os esgares
aterrorizantes, a tentativa de fuga entre grunhidos – apenas para, no fim, o
corpo, como um menir, ser tragado, inerte, para a areia escura lá no fundo. / E
é só por isso _ por ter assistido tantas e tantas vezes a este terrível
espetáculo / que reúno em mim as forças para manter a disciplina: por maior que
seja a sede, por mais que me deforme e arda no rosto esta máscara de barro
ressecado (à noite, sonho com o bálsamo do seu úmido abraço), em suas águas não
entrarei. Poema da poeta Claudia
Roquete-Pinto.
A arte de Bruno
Steinbach
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