sexta-feira, julho 10, 2009

MURAKAMI, CHALMERS, CLAUDIA ROQUETE-PINTO, BILL COSBY, BRUNO STEINBACH &LITERÓTICA

 
A arte de Bruno Steinbach


PLETORA DOS ANTÍPODAS - A sua nudez se agiganta na minha afeição. E eu recolho o seu corpo como quem persegue a salvação da vida. E persigo escalando suas encostas íngremes e latejantes de carne firme, ilha perfumada nua em pêlo, arrepiada com toda a seiva transbordante com cheiro bom de enlouquecer. E endoideço enquanto você se prolonga na alegria do meu coração que se apropria de toda sua esbelta deidade tentadora para deixá-la encurralada nas minhas carícias à queima roupa. E vou desenfreado pilhando seu corpo enquanto se precipita sobre o poderio do meu falo rijo que lambuza a generosidade do triângulo púbico até a celebração sinuosa da dança pélvica que me arregala os olhos de forma assustadora com seu embalar de felicidade por possuí-la suculenta e depravada. E na nossa obscena empatia vou explorando as minas de ouro escondidas sob a língua sibilante da Britney cheia de imprecações, no regato dos seios que nutre nossa atração recíproca e nossos corpos mútuos, nos pontos de ebulição que acende a clareira de nossa vertigem despudorada, nas nádegas arrebitadas que bamboleia para o meu completo enlouquecimento, na sua guarita onde a minha vontade endurecida mergulha no abismo para que possa hibernar soterrado de prazer. E na descoberta da delícia, vou investindo com lambidas ferozes cada fatia da deusa do meu panteão, minha suméria Nammu que pariu o céu e a terra no caos enquanto o meu sexo guerreiro golpeia e empurro com estocadas loucas cerrando os dentes, penetrando sua alma como um cavalo selvagem que atravessa o seu gemido gutural apertando meu membro no prazer crescente e inevitável, até transbordar todos os impulsos e peripécias do nosso bom bocado onde o bumerangue vence a parada de todo quilate de sua satisfação tantalizada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOS - Não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar a todo mundo. Pensamento do ator e comediante Bill Cosby.

A MENTE CONSCIENTE – [...] Quando percebemos, pensamos e atuamos, existe um ruído de fundo de causalidade e processamento de informação, mas este processamento em geral não ocorre na obscuridade. Existe também um aspecto interno; tem algo que se sente como ser um agente cognitivo. Este aspecto interno é a experiência consciente. [...] o conceito de percepção pode ser interpretado de uma forma exclusivamente psicológica como o processo pelo qual os sistemas cognitivos são sensíveis a estimulação ambiental de uma maneira tal que os estados resultantes desempenham certo papel na direção dos processos cognitivos. Mas ele também pode ser tomado fenomenalmente como a experiência consciente do que é percebido. [...] Um fenômeno natural é explicável de modo redutivo em termos de algumas propriedades de baixo nível, precisamente quando é logicamente superveniente a estas propriedades. [...] Dados todos os fatos microfísicos acerca de um lote particular de H2O, é logicamente impossível que estes fatos possam ser válidos sem que a liquidez tenha sido instanciada. [...] Mesmo quando objetado que o meu gêmeo zumbi acredita nas mesmas coisas que eu acredito, isto não torna plausível a hipótese cética de primeira pessoa que eu poderia ser um zumbi. […]. Trechos extraídos de The conscious mind (Oxford Press, 1996), do filósofo australiano David John Chalmers. Veja mais aqui.

MISO SOUP - [...] A rua me parecia irreal. Embora estivesse atrás da rua da Subprefeitura no conhecido bairro de Kabuki, sentiame vagando por uma cidade estranha de um país estrangeiro. Tinha a impressão de estar vivendo um sonho, dentro do qual não tinha para onde ir. Convenci a mim mesmo de que ainda não estava completamente refeito do choque. Era incapaz de me controlar [...] Todos pareciam cumprir ordens emitidas por alguém e apenas interpretavam seus papéis de ser humano de algum tipo. Irriteime durante todo o tempo em que estive em contato com aquelas pessoas que, ao meu ver, em vez de sangue e carne tinham os corpos recheados de serragem e tiras de vinil, à semelhança dos bonecos de pelúcia. Mesmo quando vi o sangue escorrer de suas gargantas cortadas, nada me parecera real. Vendo o sangue pingando da garganta da número cinco, tive a clara impressão de tratar-se de shoyu para sashimi. Era como se ela fosse uma falsificação de ser humano [...] Para uma estudante o Natal possui um significado especial. Tanto Jun como suas amigas não sentem muita necessidade de homens ou namorados. Elas sempre dizem que homem só serve para dar trabalho, que são ruins de papo e vivem sem grana. De fato, Jun passou as férias de verão deste ano na praia com as amigas, e não comigo. Porém, o Natal, para elas, é ocasião de um ritual particular, é a única noite valiosa do ano que desejam realmente passar com um homem [...]. Trechos extraído da obra Miso soup (Companhia das Letras, 2005), do escritor e cineasta japonês Ryu Murakami.

NA MARGEM - No seu rosto algumas mulheres mergulham desabaladamente. / Outras, mais cautelosas, já tendo apanhado da vida, chegam pisando de lado, aproximam-se devagar. Começam por molhar os dedos, depois, com um olhar que se quer / distraído, dispõem-se a banhar os pés (são estas, talvez, as que correm maior perigo – pois, ao senti-las reticentes, suas águas se temperam de encantos luminosos, flutuantes, evanescentes, e em breve se estendem, em pequenas ondas graciosas, ao redor dos tornozelos. Quando dão por elas – pronto!- já estão mergulhadas até o pescoço). / Outras, ainda, (as tolas) acreditam possuir alguma qualidade especial que as tornará necessárias ao mistério das suas profundezas. Como se os seus corpos, ao se banharem naquele líquido, estivessem, por contraste, oferecendo a ele alguma coisa de útil. / Pura ilusão. Não percebem, as desavisadas, as pretensiosas, que, no contato íntimo da sua água com a pele, ela nunca, propriamente, as penetra. Envolve, talvez. Adula, acaricia. Aquece. Recebe, torna macia e cheia de luz – mas nunca, nunca a ela se mistura. / Aos seus olhos, portanto, cada mulher não passa de um corpo, massa sólida a se deslocar de um lado para o outro, com maior graça ou menor grau de desconforto, mas ainda e apenas isso: um objeto fugidio, que nada tira nem em nada lhe acrescenta – um acaso do movimento que, meramente, se dá. / Não eu. Eu não sou como nenhuma _ nem uma única  _ dessas tristes mulheres. / Conheço e palmilho, a cada dia, a completa extensão da sua orla. Percorro, de pés descalços, sua órbita, tropeçando em pequenas pedras, cortando a pele no espinhal. Há ocasiões em que sangro profusamente, e é preciso que pare e me sente para descansar em alguma pedra da região desértica que circunda o seu perímetro. Nestas vezes, tenho oportunidade de observar de perto o banho das outras mulheres: seus movimentos, a princípio aéreos e leves; tremeluzindo no rosto, a surpresa e a delícia iniciais; a seguir, o despontar do desconforto, e nas sobrancelhas franzidas, a breve desconfiança da promessa de saciedade que nunca se realiza. E, logo, ao constatarem a perda do próprio reflexo, os músculos que se retesam, os esgares aterrorizantes, a tentativa de fuga entre grunhidos – apenas para, no fim, o corpo, como um menir, ser tragado, inerte, para a areia escura lá no fundo. / E é só por isso _ por ter assistido tantas e tantas vezes a este terrível espetáculo / que reúno em mim as forças para manter a disciplina: por maior que seja a sede, por mais que me deforme e arda no rosto esta máscara de barro ressecado (à noite, sonho com o bálsamo do seu úmido abraço), em suas águas não entrarei. Poema da poeta Claudia Roquete-Pinto.


A arte de Bruno Steinbach



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