quarta-feira, julho 22, 2009

MARGUERITE DURAS, NELSON RODRIGUES, MANGABEIRA UNGER, TEREZA HALLIDAY & BARRIGUDOS


BARRIGUDOS, AFAGANDO O EGO - As minhas amigas são para lá de gentis! Nossa! E como são gentis, amáveis e maravilhosas. Nos últimos dias mesmo, reparem só, só para afagar meu ego, mandaram a solidariedade de uma campanha dessas que são hilariantes e para lá de solidárias. Logo eu que tenho um calombo proeminente embaixo da caixa dos peitos! Não é pra menos. Mas vejam só o que elas dizem: "Homem sem barriga ou é duro ou é viado"!!!! Hehehehehehe. Mas não sou eu quem está dizendo, viu? Elas que dizem pros barrigudinho de plantão feito eu: Namore um barrigudinho! (palavras de uma psicóloga experiente). E continuam: tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já está começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute! Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçadamente descobrir como é sua barriga. Se for musculosa, torneada, estilo `tanquinho´, fuja! Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim. Homem bom, de verdade, precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chope. Se não, não presta. Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto. E eu digo por quê. Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os `tanquinhos´ farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores - e eu tenho dó das que caem. Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber? Cerveja! Ou coca-cola, tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com `clight´ que trouxe de casa. E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação. E no quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão´ é gostoso, mas você podia provar uma `Mc Salada´ com água de coco. Nunca! Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz. Outra coisa fundamental: homens barrigudinhos são confortáveis! Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível! Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional. Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar, a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz. Assinado: CARLA MOURA - PSICÓLOGA, ESPECIALISTA EM SEXOLOGIA E TERAPIA DE CASAIS. Eita pau! Em nome dos buchudins, pançudos, cinturas-de-ovo e assemelhados, muito obrigado. Vamos nessa, aprumando a conversa & tataritaritá!!!


DITOS & DESDITOSA prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira. Pensamento do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Veja mais aqui & aqui.

POLÍTICA - [...] Duas grandes forças construtivas trabalham a vida social. Uma é a experimentação incansável com instituições, ideias e técnicas em favor do aprimoramento de nossas capacidades práticas. Esta busca de crescimento no poder mundano funde-se com a procura de outra força menos tangível: a capacidade de questionar e revisar nossas instituições e premissas imaginativas comuns enquanto realizamos nossas tarefas diárias. É a oportunidade de unir engajamento com a consciência de si próprio e de evitar a escolha entre alienação e estupefação, de atuar com confiança dentro de uma sociedade ou de uma cultura sem nos tornarmos fantoches. A superposição entre as condições destes dois modos de engrandecimento é um fato surpreendente, e não uma verdade evidente em si. [...] O programa de democracia radical tem uma relação mais tumultuada com o fortalecimento e limpeza da solidariedade. O cumprimento de suas propostas não nos assegura uma coexistência em paz. Não troca nossos corações de pedra por corações de carne. Permite-nos, porem, viver mais completamente a ligação tensa, ambígua, enobrecedora entre solidariedade e engrandecimento, entre a experiência de aceitação mútua e o desenvolvimento de nossas faculdades, entre nossos desejos pelos outros e nossos esforços de encontrar vazão para o impulso que se rebela contra toda particularidade. O que mais podemos pedir da sociedade além de uma oportunidade melhor para sermos grandes e ternos? Trechos extraídos da obra Politica: os textos centrais a teoria contra o destino (Boitempo/Argos, 2001), do filósofo e teórico social Roberto Mangabeira Unger. Veja mais aqui.

DEITADO NO CORREDOR – [...] Estão deitados no corredor como que adormecidos enquanto outra coisa se prepara no lento retorno do desejo. Em gestos quase imperceptíveis eles estão se reaproximando. As peles, os suores que se tocam, os rostos, sua boca, a dela, reencontrada por ele. Eles ficam assim, tocados, à espera. E depois ela diz que deseja apanhar, ela diz no rosto, ela lhe pede, vem. Ele faz, ele vai, senta-se perto dela e olha mais. Ela diz: pancada, forte, como há pouco o coração. Ela diz que queria morrer. Eis que o retângulo da porta aberta é ocupado pelo corpo sentado do homem que vai bater. [...] Você diz que experimentar, tentar a coisa, tentar conhecer isso, se habituar a isso, a esse corpo, a esses seios, a esse perfume, à beleza, a esse perigo de colocar crianças no mundo que esse corpo representa, a essa forma imberbe sem acidentes musculares nem força, a esse rosto, a essa pele nua [...]. Não há mais nada no quarto além de você só. O seu corpo desapareceu. A diferença entre ela e você se confirma pela ausência súbita… Ao longe, nas praias, gaivotas gritariam na escuridão agonizante, elas começariam já a se nutrir dos bichos da vasa, a revistar areias deixadas pela maré baixa. No escuro, o grito louco das gaivotas famintas, parece-lhe repentinamente nunca tê-lo ouvido.[...] Trechos de Homem sentado no corredor (Cosac & Naify, 2007), da romancista, novelista, roteirista, poeta, diretora de cinema e dramaturga francesa Marguerite Duras (1914-1996). Veja mais aqui.

DELITOBoa nova para os amigos / que me abraçam sem interesse / e não me amam por categorias. / Num país de grande capitalismo / auferi lucro desavergonhado: / andei de carrossel no cavalinho / junto a menores de idade / ao som de valsas e marchinhas de retreta / no mesmo dia em que surgiu, impávido, / o primeiro fio de cabelo branco / ainda solitário em negra mata / ainda sem jeito de verdade. Poema da poeta, jornalista e tradutora Tereza Halliday.




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