quinta-feira, outubro 30, 2014

IDA GRAMCKO, ÓMARSDÓTTIR, CORITA KENT, CASTIANO, CRÔNICA & LITERÓTICA

 


A CARTOMANTE & O MAGO – Noite ádvena dos momentos mais impróprios, ela me apareceu do mais improvável. Não sabia nem quem era e me serviu com um sorriso de afeto. Dá licença? À vontade. Sentou-se mais familiar que gentil a me contar do quanto precisava falar comigo. Nunca vira quem mais simpática e me deixei levar. Na segunda dose já nos identificávamos como conhecidos de décadas, às risadas pelas coincidências. Na terceira, já estávamos confidentes: segredando coisas de arrepiar qualquer ouvinte. Na quarta, nos tornamos mãos bobas, alisados e ôpas às desculpas pelo descuido ou adiantamento. Bateu de cara, acertou em cheio. Nada mais côncavo no encontro convexo das afinidades, encaixante. Mais três ou quatro, sei lá, perdi a conta, hora de ir embora. Vamos? Prazer. Nos despedimos, porém saímos juntos e pelo corredor, porta afora, rua a nos levar. Moro aqui. E um convite, a saideira. Fui de cabeça pro desconhecido. Chave à porta, adentramos. Luz acesa pro mistério: convidou-me à mesa ilustrada pelos quatro naipes do Tarô e logo dei de cara com a inscrição hermética “Assim como embaixo é em cima” inscrita ao longo da toalha. Duas taças, vinho branco, seco. Tlin, tlin! E me apontou no centro da parede The Magician: Olha você ali! Eu? Nesta parede reproduções de Chagall. Muitas. Ao lado do quadro central estava Les mariés de la Tour Eiffel, entre outras ilustrações eróticas do pintor e, ornando o ambiente, caramanchões, lírios e rosas. Gostou? Aconchegante. No lado esquerdo da porta, uma pequena estátua do Le Captif de Michelângelo e várias outras miniaturas de estátuas femininas eróticas distribuídas em prateleiras nas demais paredes. Parei a vista numa pequena estante que me aguçou a curiosidade. Levantei-me e fui até lá: clássicos da literatura erótica, desde Safo a poemas de Hilda Hilst, Drummond, Henry Miller, Bataille. Aprecio. Também gosto, a certidão das coisas que mutuamente nos apraziam. Voltei a sentar-me folheando Afrodite de Isabel Allende, nunca tinha lido. Tem mais. Eu sei. Quer conversar? Sim? Não precisa falar, Le Bateleur, sei que você é um labirinto de contradições e, por isso mesmo, quero o encantamento das suas múltiplas facetas. Como assim? Aí ela mostrou-se mais misteriosa: Isto é um encontro com o insólito! Hein? E que fora convidada para ser acolhida por mim com muito prazer para o espetáculo cósmico. Então, levantou-se e sumiu. Ao retornar, trouxe-me uma túnica de variegadas cores vibrantes: É pra você! E fez questão de arrodear a mesa e se aproximar: Dá licença? Aquiesci. E fez-me levantar. E me desnudou para vesti-la. Vi-me um estranho comigo mesmo. E, depois, colocou sobre minha cabeça um chapéu com duas elipses unidas por uma grande corcova e que mais parecia a Lemniscata de Bernoulli, com a curva do sinal vermelho da aba, como um oito deitado de lado com o símbolo chinês Tai Chi no centro – a interação de yin e yang. Afastou-se, conferiu-me e fez um sinal: nos trinques! Disse-me: Gigantescos óculos das lentes que não são cor-de-rosa, essa a sua coroa. Vejo agora a cabeça da Medusa! Quem? Começou a falar dando-me a impressão de que me ligava ao seu antepassado e que eu era Hermes, o deus das revelações. Eu? E veio com um papo sobre o processo alquímico dos poderes mágicos de Mercúrio, pedindo-me para ensiná-la. Queria que eu fizesse ritos místicos para que eu a levasse ao mundo transcendental. Nem me mexia. Pensei: Será que ela é louca? Nem deu tempo pensar direito e já foi me dizendo que eu era um viajante amadurecido e pediu-me demonstrações. De quê? E interrogou-me: quais eram os meus planos para ela. Dei de ombros e ela já foi logo dizendo que estava disposta a ser minha cúmplice e a colaborar com a minha missão. Sabia-me um profissional sério, um artista dedicado: Você é o trunfo número 1! O quê? E ajoelhou-se diante de mim, mãos postas sobre minha virilha sob a túnica: Oh, Mago de Marselha, dá-me a moeda de ouro escondida na outra mão! Suas mãos são o momento fugaz da criação que nunca para! Aí meteu as mãos por baixo da túnica, alcançando meu pênis e o segurou com a mão esquerda, como se fosse a sua varinha mágica. Ao apalpá-lo começou a dizer em voz alta, impostada: La flûte enchantée de Chagall, a realizadora de todos os prodígios! E começou a felar enquanto entre uma abocanhada e outra ronronava: “Benditos são os que saciam a fome e a sede”. E segurando- o como se fosse um microfone entoou: É esta a batuta que me conduzirá! E estou pronta para minha cooperação consciente, porque sou afeiçoada por aquele que me levará ao pódio. Este o dedo indicador da Criação de Michelangelo di Buonarroti Simoni! Ofereço-lhe a abóbada palatina da minha Capela Sistina. Levou tempo e o delírio da sua dedicação não me deixou saber o que fazer. Completamente extasiada e tomada pelo entorpecimento de seu ato, levantou-se e começou a se despir como se orasse: Venha, meu maestro, orquestre em mim as energias! Quero transcender meu ego, venha! Dê-me a água que Moisés tirou da rocha! Quero o líquido milagroso! Diante da minha estupefação, agarrou-me e fez brandir meu cajado a gritar: Rasgue-me os véus! Quero a energia inseminadora do Deus de Rodin, a natureza mais bondosa de Ovídio! Estou tomada pelo sentimento de deveniridade e quero saber o princípio criativo por trás da diversidade e aprender a como manipular a natureza, como domesticar a energia e as cerimônias da fertilidade. Venha, traga-me o Trismegisto e Tot, estou sentindo o ritmo circular do fluir da água benta. E mais me introduzia no seu ser. E com voz diferente começou a apregoar: Quero aprender as relações ocultas e a revelação do fundamental. Leve-me para as profundezas da perfeição com todos os seus opostos e me conduza para a manjedoura do milagre de Camelot. E enquanto mais remexia com meu membro enfiado nela, mais delirava: Sinto-me habilitada ao Grande Círculo da Unidade e A Separação dos Elementos de Goltzius, na dança dos Dervixes Rodopiantes, a coreografia das revelações. E assim mais se escancarava no seu extase a sentir os calores alquímicos, a interação dos Vinte e Dois Trunfos, os múltiplos orgasmos da substância transformadora, a libertar o espírito mercurial aprisionado dentro de si. E estertorou e mais se debateu, até cair arriada agarrada em mim. Ao meu ouvido ouvi-lhe os suspiros de que obrei milagre nela criando maya em seu íntimo com as dez mil coisas e que são uma só. E insistiu sussurrante que eu era o Mestre da Mão. Eu me deliciava com tudo, mas, cá comigo: Ué, o mago sou eu ou é você que é bruxa? Por sinal, fugindo dos estereótipos, bem lindíssima. Mais agarrada em mim e já sonolenta se entregou: A sua tempestade é maior que a shakespeareana e me lavou. Você é o meu Próspero e liberou a Ariel que há em mim. Você revelou a minha sombra! Estou em Tao: "Somos da mesma substância que os sonhos”. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - A arte não vem do pensar, mas da resposta. Considere tudo um experimento... A criatividade pertence ao artista que existe em cada um de nós. Criar significa relacionar-se. A raiz do significado da palavra arte é “encaixar” e todos nós fazemos isso todos os dias... É um enorme perigo fingir que coisas terríveis não acontecem. Mas você precisa de esperança suficiente para continuar. Estou tentando criar esperança. As flores crescem na escuridão... Pensamento da freira, artista e educadora estadunidense Corita Kent (Frances Elizabeth Kent, depois conhecida como Irmã Mary Corita Kent – 1918-1986). A arte era seu ativismo, e através de seu trabalho social e espiritual, promovia amor e tolerância.

 

ALGUÉM FALOU: A floresta está perdendo capacidade de sequestrar carbono porque está doente... Em 2003 e 2004 a floresta já estava bastante alterada, mas ainda não tinha chegado próxima ao ponto de não-retorno. Pesquisas recentes mostram que o ar sobre a porção leste da floresta está mais seco. Isso significa maior vulnerabilidade ao fogo e maior mortalidade de árvores, portanto menor capacidade de produzir serviços ambientais para o clima e menor resistência à mudança climática. A floresta está perdendo capacidade de sequestrar carbono porque está doente. A cada ano, a estação seca está ficando maior: antes a chuva começava no final de setembro. Agora, em meados de novembro ainda não começou a chover em grande parte da Amazônia... Pensamento do agrônomo, biólogo e ambientalista Antônio Nobre.

 

LEITURA: A CRÔNICA NA SALA DE AULA – Na obra O narrador (Brasiliense, 1994), o filósofo alemão Walter Benjamin expressa: [...] O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido na história. [...]. Já o escritor Carlos Heitor Cony, no seu artigo A crônica como gênero e como antijornalismo (Folha de São Paulo. 16 de outubro de 1998), expressa que: [...] temos a crônica esportiva, a social, a policial, a política, a econômica. Elas se diferenciam do artigo porque são centradas num eixo permanente: o “eu‟ do autor. Daí que o gênero é romântico por definição e necessidade [...]. No estudo da professora Margarida de Souza Neves, Uma escrita do tempo: memória, ordem e progresso (Unicamp/FCRui Barbosa, 1992), ela considera que: [...] A crônica, pela própria etimologia − chronus/crônica −, é um gênero colado ao tempo. Se em sua acepção original, aquela da linhagem dos cronistas coloniais, ela pretende-se registro ou narração dos fatos e suas circunstâncias em sua ordenação cronológica, tal como estes pretensamente ocorreram de fato, na virada do século XIX para o século XX, sem perder seu caráter de narrativa e registro, incorpora uma qualidade moderna: a do lugar reconhecido à subjetividade do narrador. [...]. No estudo da professora Ana Cristina Coutinho Viegas, intitulado Para o início de uma conversa – a crônica na sala de aula (Pensares em Revista, 2013), consta em suas reflexões que: [...] Constitui papel fundamental de a escola ampliar e aprofundar a convivência dos alunos com a variedade e a complexidade dos gêneros textuais, entre os quais se encontram os gêneros literários. [...] A experiência com o texto literário pode ocorrer por meio de uma leitura que dá asas à imaginação e envolve emocionalmente o leitor, uma leitura crítica que possibilita discernir questões éticas, ideológicas, além de uma leitura capaz de perceber a construção do texto. Esses diferentes modos de ler podem e devem ser experimentados desde o Ensino Fundamental, visando à formação de um leitor autônomo. [...] Nesse caso, destacamos outra faceta do emprego das crônicas como material didático. No Ensino Fundamental, a preocupação dos professores se concentra na leitura e em breve caracterização do gênero, visto que as discussões literárias só aparecem mais formalmente no Ensino Médio. Por outro lado, esses jovens leitores já possuem um repertório que lhes permite criar suas próprias crônicas. Para incentivar essa produção, nada melhor do que proporcionar leitores para essas crônicas que não se restrinjam aos professores. [...] o principal argumento para se continuar a ensinar literatura na contemporaneidade é o de que a leitura literária é um direito de todos desde a infância. Ainda que o aluno não tenha interesse pelos textos literários, negar o contato com qualquer tipo de representação artístico-literária é privá-lo de exercer sua humanidade plenamente. E as crônicas, esses pequenos textos aparentemente despretensiosos, podem cumprir papel de grande relevância para esse exercício. [...]. Por fim, o poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade esclarece sobre a crônica que: Crônicas escritas há mais de cem anos estão hoje vivas como naquele tempo. Os acontecimentos perderam a atualidade, mas a crônica não perdeu. Ela surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece. E se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Veja mais aqui, aqui e aqui,

 

FILOSOFIA AFRICANA - [...] Podemos falar em liberdade, quando falamos da possibilidade do ser humano poder agir sem coerção ou impedimento, poder determinar-se a si mesmo com base na sua consciência e, acima de tudo, após uma reflexão [...] O processo da intersubjectivação da filosofia (pensamento) africana passa necessariamente pela criação de valores e atitudes que levem ao reconhecimento do outro como um interlocutor válido, como um sujeito com dignidade e conhecimento [...] precisa desenvolver uma atitude filosófica para com as tradições no sentido de ver e aprender com que conceitos e referenciais as tradições em causa constroem a segunda natureza [...] como uma condição que unicamente o ser humano possui, o de agir livremente. Este agir livremente significa sempre «consciência da necessidade», isto é, a liberdade de agir na base do conhecimento que possui sobre as leis que condicionam a sua acção perante a Natureza, para agir consoante a sua vontade [...] sempre «consciência da necessidade», isto é, a liberdade de agir na base do conhecimento que possui sobre as leis que condicionam a sua acção perante a Natureza (por exemplo a lei da queda livre dos corpos); para agir consoante a sua fantasia (tempo livre), agir consoante a sua vontade (decisão sem constrangimentos). [...] Há duas formas ou dimensões principais de reconhecimento do Outro: trata-se do Outro colectivo, portanto como uma categoria social, e o Outro individual, portanto como uma categoria ontológica, enquanto ser humano antes de ser um ser social [...]. Trechos extraídos da obra Referenciais da Filosofia Africana: em busca da intersubjectivação (Ndjira. 2010), do filósofo moçambicano José Castiano.

 

BOSQUES DAS RENAS - [...] As pessoas devem ser confiadas com suas próprias vidas. As pessoas devem ser independentes em todos os aspectos. Ninguém deveria possuir nada. A propriedade deveria ser gratuita como as pessoas. As estradas não devem pertencer a nenhuma pessoa, para impedir que alguém cobre pedágios dos viajantes. Um padre não deveria cobrar caro pelas orações. Um lavrador não deveria cobrar caro pelos frutos da terra. A companhia telefônica não deveria cobrar caro pelas conversas. Totalmente gratuito, como se o tempo do feto dentro da mãe continuasse a ser após o seu nascimento [...]. Trecho extraído da obra Children in Reindeer Woods (Open Letter, 2012), da escritora e dramaturga islandesa Kristín Ómarsdóttir. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - POEMA 14 - O amor invalida nosso reflexo \ para transformá-lo em cúmplice submisso. \ Estupor, desafio antigo, \ humilhação em ambientes encantados \ onde os tocados, os tímidos, os perplexos \ sofrem culpa e sentem o cheiro do paraíso \ Esta ainda é \ uma paz perturbada pelas lágrimas. \ Este era eu: um \ aluno molhado, aberto e ansioso. \ Devo ser isso: chorar, enquanto viver. \ Um soluço ereto me levanta, \ me faz caminhar pelos picos, me encaminha \ para a montanha azul. \ E lá está o sorriso \ como uma flor silvestre esperando por mim. \ Verei a flor branca e ela será minha, \ minha!, ​​e terei, chorando, de arrancá-la \ do fundo do meu ser, pequena e quente, \ do alto do cume, pura e branca. \ Meu! E as lágrimas correm pelo meu rosto \ para que eu mereça sua fragrância. PRECE - Não te posso nomear. Não tens nome. És o que se sente. Nunca o que se explica. Oh meu Amado Absoluto, a quem descubro agora sem que nenhuma forma o limite! Perdoa-me a antiga reflexão. \ Não és o que se pensa. És o que se ama. Não és conhecimento, mas apenas estupefação. Não és o perfil, mas o assombro. Não és a pedra, mas o inaudito. Não és a razão, mas o amor.\ Pela mão do Anjo, ascendi ao teu encontro, que nunca é um tesouro concreto, mas continuamente uma descoberta inenarrável. O Anjo, ao meu lado, também sentiu intensamente, mais intensamente do que nunca, mais intensamente do que com algo ou alguém, essa visão de imensidão. Como com ninguém, não porque cada caso é singular, mas porque aquele ato foi mais profundo do que todos os seus, como se recebêssemos de repente um advento de infinito.\ E é inútil pensar em te encarnar. És o que nunca se pode encarnar ou nomear, porque apenas nos fazes juntar as mãos e dobrar os joelhos.\ Deixa-me sentir-te, oh infinitude, oh zona imensa, dimensão sobre-humana, oh meu Deus, sempre com a pele deslumbrada a ponto de o corpo se tornar luz! Deixa-me perplexa, arrebatada, e permite-me vibrar para sempre com a minha palpitante e íntima pulsação.\ Quisera ser aquela que permanece, atônita, diante de ti. A que não conhece o teu nome, a que não conhece a tua forma, uma ignorante estremecida. E que assim seja. Poema da escritora, dramaturga e jornalista venezuelana Ida Gramcko (1924-1993).

 

PSICOTERAPIA & HUMOROUTRAS DICAS

 

A PSICOTERAPIA DE ALAN WATTS - Sou um daqueles que acreditam que não seja uma virtude necessária do filosofo o passar a vida defendendo uma mesma posição. É certamente uma espécie de orgulho espiritual evitar pensar alto e não desejar que uma tese seja impressa até que se esteja em condições de defendê-la até a morte. A filosofia, como a ciência, é uma função social, pois um homem não pode pensar corretamente sozinho e o filósofo deve publicar seu pensamento, ainda que seja somente para aprender, através da crítica, a contribuir com uma parcela para a sabedoria. Se, portanto, algumas vezes faço afirmações autoritárias e dogmáticas, é com o propósito de contribuir para a clareza e não com o desejo de parecer um oráculo. (Alan Watts, Suprema Identidade). A VIDA CONTEMPLATIVA – O livro A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da religião mística, pelo guia espiritual da juventude moderna, do filósofo e escritor britânico Alan Wilson Watts (1915-1973), aborda temas como a época do espírito, a dádiva da união, a realização da união, a existência e o coração de Deus, a vida de ação, a vida contemplativa. [...] O homem, queira ele ou não – ou melhor, a sua inteligência consciente -, deve, portanto, governar o mundo. Tal coisa constitui uma conclusão surpreendente para um ser que pouco sabe sobre si mesmo e até mesmo admite que ciências da inteligência, como a psicologia e a neurologia, não são mais que um estágio preliminar, superficial. Se nem mesmo sabemos como proceder para sermos conscientes e inteligentes, mais temerário seria admitir que sabemos qual a finalidade da inteligência consciente e muito mais ainda que a mesma tem condições de dirigir o mundo. [...] A natureza e o homem natural são ambos um objeto que é sempre estudado de acordo com uma técnica que os torna exteriores e, portanto, diferentes para um observador subjetivo. [...] Ao mesmo tempo, mesmo sob o ponto de vista intelectual mais frio, torna-se cada vez mais claro que não vivemos em um mundo dividido. As rígidas divisões entre espírito e natureza, mente e corpo, sujeito e objeto e controlador e controlado são vistas, mais e mais, como inadequadas convenções de linguagem. São termos grosseiros e ilusórios de descrição de um mundo em que todos os eventos parecem ser mutuamente interdependentes – um complexo imenso de relações sutilmente equilibradas que, como um nó sem fim, não tem uma ponta que permita desfazê-lo a fim de colocá-lo em suposta ordem. [...] Premissas defeituosas somente podem ser abandonadas por aqueles que vão às raízes de seu próprio pensamento e conseguem descobrir o que realmente são. (Alan Watts, O homem, a mulher e a natureza). O HOMEM, A MULHER E A NATUREZA – O livro O homem, a mulher e a natureza, de Alan Watts, trata de temas como o homem e a natureza, Urbanismo e Paganismo, a ciência e a natureza, a arte do sentimento, o mundo como êxtase, o mundo sem sentido, o homem e a mulher, espiritualidade e sexualidade, amor sagrado e profano, consumação, entre outros temas. [...] os Estados totalitários sabem o perigo do artista. Corretamente – se bem que por motivos errados – eles sabem que toda a arte é propaganda, e que arte que não apoia o sistema deve ser contra ele. Eles sabem intuitivamente que o artista não é um excêntrico inofensivo, mas uma pessoa que sob o disfarce de irrelevância cria e revela uma nova realidade. [...] Da mesma forma não se ouve um som. O som é o ouvir; fora disso, fica sendo simplesmente uma vibração no ar. Os estados do sistema nervoso não precisam, como supomos, ser vigiados por alguma coisa mais, por um homenzinho situado dentro da cabeça e que os registra. Não precisaria esse homenzinho de ter outro sistema nervoso, e outro homenzinho na cabeça [...] A sociedade está convencendo o indivíduo a fazer o que ela quer mediante o recurso de fazê-lo crer que as ordens dela são ordens do ser interior do indivíduo. [...] A ciência e a psicoterapia já fizeram muito também para nos libertar da prisão que nos isolava da natureza, prisão na qual tínhamos de renunciar a Eros, desprezar o organismo físico e depositar todas as nossas esperanças em um mundo sobrenatural – que viria depois. [...] Sempre que o terapeuta se coloca ao lado da sociedade, ele interpreta o seu trabalho como sendo ajustar o indivíduo e encaminhar os seus “impulsos inconscientes” para a respeitabilidade social. Mas essa “psicoterapia oficial” carece de integridade e se transforma em instrumento obediente de exércitos, burocracias, igrejas, empresas e de toda instituição que exija lavagem cerebral dos indivíduos. Por outro lado, o terapeuta interessado em ajudar o indivíduo é forçado à crítica social. Isso não quer dizer que ele tenha de se empenhar diretamente em revolução política; significa que ele tem de ajudar o indivíduo a se libertar de várias formas de condicionamento social, libertá-lo inclusive do ódio contra esse condicionamento – pois odiar é uma forma de se escravizar ao objeto odiado. [...] (Alan Watts, Psicoterapia oriental e ocidental). O BUDISMO ZEN –O livro O budismo zen, de Alan Wats, aborda temas como a filosofia do Tao, as origens de Budismo, Budismo Mahayana, origem e desenvolvimento do Zen, princípios e práticas, vazio e maravilhoso, sentado tranquilamente nada fazendo, Za-Zen e Koan, o Zen das artes, entre outros assuntos. Tal como o verdadeiro humor é rir de si mesmo, a verdadeira humanidade é o conhecimento de si mesmo. As outras criaturas talvez também amem e riam, falem e pensem, mas a peculiaridade especial dos seres humanos parece ser seu raciocínio: pensam sobre o pensamento e sabem que sabem. [...] A consciência de si mesmo conduz à admiração e a admiração à curiosidade e à investigação, de maneira que nada interessa mais às pessoas do que as pessoas, mesmo que seja apenas a própria pessoa de cada um. Todos os indivíduos inteligentes desejam saber o que é que os faz funcionar e, apesar disso, sentem-se fascinados e frustrados pelo fato de que seu próprio ser é o que existe de mais difícil para conhecer. [...] Aqueles a quem somos tentados a chamar de estúpidos ou chatos são, justamente, os que nada encontram de fascinante em serem humanos; sua humanidade é incompleta, já que nunca os surpreendeu. Também há algo de incompleto naqueles que nada encontram de fascinante em ser. O leitor poderá dizer que isto é um preconceito profissional de filósofo – que as pessoas são defeituosas por não terem o sentido do metafísico. Mas qualquer pessoa que pense tem de ser um filósofo – bom ou ruim – pois é impossível pensar sem premissas, sem suposições básicas (e, neste sentido, metafísicas) sobre o que é sensato, o que é a vida adequada, o que é a beleza e o que é o prazer. Ter tais suposições, consciente ou inconscientemente, é filosofar. (Alan Watts, Tabu – o que não deixa saber quem você é?). Veja mais aqui e aqui.

REFERÊNCIA
WATTS, Allan. O homem, a mulher e a natureza. Rio de Janeiro: Record, 1958.
______. A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da relição mística, pelo guia espiritual da juventude moderna. Rio de Janeiro: Record, 1971.
______. O budismo zen. Lisboa: Presença, 1979.
______. Tabu – O que não o deixa saber quem você é? São Paulo: Três, 1973.
______. Psicoterapia Oriental & Ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1961.

TODOS OS BRASIS DO BRASIL!!!!


AFINAL QUEM ELEGEU DILMA PRESIDENTE??? – O professor Livio Lavergetti trouxe para aula de Estatística o trabalho desenvolvido pelo mestrando em Economia da Unicamp, Thomas Victor Conti, se posicionando contra o preconceito deflagrado pelo resultado das eleições presidenciais. O trabalho dele deixa claro uma coisa:



VOTOS PRÓ-DILMA NORTE/NORDESTE

24,8 milhões de votos (inclusive o meu que está nessa tuia).



VOTOS PRÓ-DILMA SUL/SUDESTE

26,7 milhões de votos



Resultado: qual a conclusão que podemos tirar desses dados? Dá pra entender ou quer que eu desenhe? Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá!!!!! E cantando Querelas do Brasil, de Maurício Tapajós & Aldir Blanc.



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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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quarta-feira, outubro 29, 2014

GERALDINE BROOKS, RACHEL CORRIE, HOBHOUSE, CHARLES WILLIAMS, SALIE NICHOLS, FANNIE PERKINS & LITERÓTICA

 


UM LOUCO AMOR... – Ao vê-lo brilhando no palco por cenas engraçadas, logo ela estremeceu. Era ele bulindo no seu coração. Ao final do espetáculo seguiu para o camarim e na fila ele a viu e logo aproximou-se: Sou primo do velho Sábio! Disse-lhe com ares de andarilho enérgico, como quem chegasse varrendo tudo à frente, levando tudo de roldão com seus ventos fortes.  Beijou-lhe as faces e saiu. Alguém na fila logo insinuou: Manter um louco por perto afasta o mau-olhado. Ela sorriu com o gracejo. Advertiram cochichando: É um embusteiro. Ele ficou séria reprovando a insinuação. Abandonou a fila e dirigiu-se de volta para sua residência. No meio do caminho sentiu passadas ao seu encalço. Era ele risonho: Vai pra onde, moça? Sou um pobre diabo na dança da vida dos grandes trunfos de Charles Williams e perseguindo seus passos. Como assim? Deixe-me apresentar: Sou Le Fou: Eu sou luz e viajo leve... Cheguei de Marselha! O espalhafato dele parecia invadir suas entranhas de forma gostosa. Chamou-a de Squeaky Fromme. E repetiu silabicamente: Lynette Alice Squeaky Fromme. E acrescentou: Agora dará certo. Sou il Matto. Ela sorria sem entender nada daquilo tudo. Ele então com um ar enigmático e ubíquo fez-se príncipe Mishkin do Idiota de Dostoiewsky: Oh! Tempo é que não me falta; é inteiramente propriedade minha... E firmou seus olhos no dela: Tens a beleza enlouquecedoura de Nastácia Filíppovna. E a seduziu convencendo-a de que foi tocado pela mão de Deus. Continuaram às passadas e ele mais incisivo: Sou de Tarocchi, bem recebido em toda parte! Sabe o que é? Não. Sou Coringa: sei todas as faces do diabo! Estou nos dois mundos de Puck e com o rei Oberon e, quando quero, sou o bobo do Rei Lear de Shakespeare: Tenho os ossos do universo e o Ovo do Mundo! Ela espantava-se com loquacidade dele, abrindo bem os olhos, admirada. Aquilo tudo para ela ere muito encantador. E seguiram dela nem notar direito os passeios por Stonehenge, pela Hagia Sophia e o Templo de Delphos. Disse-lhe Lao-tzu: Nós fazemos vasos de barro, mas a verdadeira natureza deles está no vazio interior... Ela estava encantada com sua fanfarrice e mais ainda com os ensinamentos Ouroboros: Deus é uma esfera inteligível, cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em parte alguma. Vamos? Pra onde? Quem não tem meta fixa nunca perde o caminho. Ela olhou de lado e era como se estivesse no salão de um castelo escuro. Como chegamos aqui? Ele estalou os dedos, as luzes acenderam; novamente os dedos, fez-se escuridão: apenas um raio de luar sobre as faces deles. Ele sorrateira e diligentemente de forma enfeitiçante desabotoou cada um dos botões de sua blusa e a retirou para contemplar seus atraentes seios rijos. Tocou delicadamente o bico de um seio e a sentiu estremecer fechando os olhos como resignada refém. Deixou-a apenas com a sua longa saia vermelha, afastando-se para admirá-la, entregando-se um buquê de flores, ornou-a com uma coroa de flores à cabeça e, ao seu pescoço, colocou-lhe um cordão com uma insígnia realçada entre os seios nus. Ajoelhou-se aos seus pés e com juras desmesuradas prometeu ensinar-lhe a voar com salvo-conduto sagrado pelo universo num tapete mágico que a presentearia tão logo anuísse com todo o seu ritual. Sorridente e com nuto positivo ela deixou-se levar. Ele fez-se The Pied Piper e expôs a flauta mágica de Papageno: Vamos pros jogos que a gente joga? Tomou-lhe as mãos e a fez amolegar seu sexo sussurrando-lhe ao ouvido: Você é a minha coringa, verá minha face idiota risonha ao espelho. Sejamos loucos pelo amor de Jesus. Fez-se bufão despudorado e enredou-a nas cenas do Parsifal de Wagner, pelas colinas do Monte Salvat, como se fosse um cavaleiro do Santo Graal: Vamos ao jardim mágico do mago negro Klingsor! Ela segurava seu pênis enquanto ele estertorava ferindo cisnes no ar. Estava seduzido por ela: Você é a escrava amazona Kundry. Ousou beijá-la novamente para se desviar das lanças que destruíram o castelo mágico. Entre os escombros ele afastou-se descendo degraus, tocou-lhe os pés e suas mãos se atreveram a contornar suas pernas trêmulas por baixo da saia, alisando os joelhos à mostra e intrometendo-as entre as coxas dela, alisando sua calcinha escarlate, cuidadosamente removida para cheirar o aroma de sua intimidade e guardá-la ao bolso. Desabotoou então as presilhas da saia para desnudá-la e nela fez a festa da epifania The Swabian-Alemannic Fastnacht, e celebrou a Mardi Gras, fez do seu corpo as ruas de Hamelim e envolveu-a numa onírica viagem ao Getsêmani para ser azeitada por sua prensa no jardim ao sopé do Monte das Oliveiras. E ela suou o sangue em grandes gotas a correrem até o chão. Estava premiada com a fertilidade quebrando seus votos de castidade. Disse-lhe ele sussurrante que ali se tornara imortal: Alguém lá em cima está do meu lado, sou agora mais amigo de Deus. Veja mais aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A maioria dos problemas do homem neste planeta, na longa história da raça, foram enfrentados e resolvidos, parcial ou totalmente, através de experiências baseadas no bom senso e realizadas com coragem. Não é da natureza do homem, a meu ver, estar sempre bastante satisfeito com o que tem na vida... O contentamento tende a gerar relaxamento, mas um descontentamento saudável mantém-nos alertas às novas necessidades do nosso tempo... A porta poderia não ser aberta novamente para uma mulher por muito, muito tempo, e eu tinha uma espécie de dever para com outras mulheres de entrar e sentar na cadeira que foi oferecida, e assim estabelecer o direito dos outros por muito tempo e muito distantes na geografia para sentar nos assentos altos. Feminismo significa revolução e eu sou uma revolucionária. A acusação de que sou mulher é incontestável... Pensamento da socióloga estadunidense Fannie Perkins (1880-1965).

 

ALGUÉM FALOU: Um grande número de pessoas amontoadas em pequenas tendas: alguns doentes, alguns moribundos, ocasionalmente um morto entre eles; rações escassas distribuídas cruas; falta de combustível para cozinhá-los; falta de água para beber, para cozinhar, para lavar; falta de sabão, escovas e outros instrumentos de limpeza pessoal; falta de roupa de cama ou de camas para manter o corpo longe da terra nua; A conclusão é que todo o sistema é cruel e deveria ser abolido. Trecho do relatório Para o Fundo de Socorro SA, Relatório de uma visita aos campos de mulheres e crianças nas Colônias do Cabo e do Rio Orange (1901), escrito pela enfermeira e ativista britânica Emily Hobhouse (1860-1926), durante a Guerra Anglo-Boer. Veja mais aqui.

 

OS GRANDES TRUNFOS – […] Nada era certo, mas tudo estava seguro – isso fazia parte do mistério do Amor. [...] São mãos lindas; embora tenham arruinado o mundo, são mãos lindas. [...] Toda beleza retorna. Espere um pouco. [...] é chamado de Louco porque a humanidade julga tratar-se de loucura até conhecê-la. É soberano ou não é nada e, se não for nada, o homem nasceu morto. [...] Diz-se que o embaralhar das cartas é a terra, e o bater das cartas é a chuva, e o bater das cartas é o vento, e o apontar das cartas é o fogo. Esse é um dos quatro naipes. Mas dizem que os Grandes Trunfos são o significado de todo o processo e a medida da dança eterna.[...]. Trechos extraídos da obra The Greater Trumps (Victor Gollancz, 1932), do escritor britânico Charles Williams (Charles Walter Stansby Williams – 1886-1945), uma narração vívida e apaixonada de uma tentativa de usar as cartas originais do Tarô para descobrir o significado de todos os processos cósmicos, tanto microscópicos quanto macroscópicos, que o autor chama de "A Dança da Vida". Uma advertência do autor: O uso egoísta e egocêntrico dessas imagens arquetípicas mostra-se desastroso; seu uso adequado revela o Amor no cerne da Dança. As decisões dos protagonistas de aceitar ou rejeitar o Amor onipresente como o centro de todo o ser tornam-se o foco para a conclusão dramática do romance, ao longo do qual explora dois dos principais temas de seus escritos - o Caminho da Afirmação e o Caminho da Negação.

 

BOBO DA CORTE & O LOUCO - [...] Era função do bobo do rei recordar-lhes as suas loucuras, a mortalidade de todos os homens e ajudá-lo a guardar-se do pecado da arrogância e do orgulho jactancioso. Um bobo quase idêntico ao rei não pode exercer adequadamente essas funções, nem pode afastar o “mau-olhado”. E, como o demonstrou a “tragédia de Watergate” do início dos anos setenta, uma corte composta inteiramente de pessoas que sempre concordam com o rei está destinada à ruína [...] Se dermos ao louco as boas-vindas ao nosso mundo, ele talvez nos ensine a voar e nos ofereça salvo-conduto para viagens semelhantes ao seu mundo, contanto, naturalmente, que o ajudemos a arrumá-lo um pouco. [...] A doença mental está aumentando num ritmo alarmante. Ironicamente, mas não inesperadamente, a coisa que mais temíamos desceu sobre nós. Paradoxalmente, o caminho para a verdadeira sanidade passa através da infantilidade e da loucura. [...] Como assinalou muitas vezes Margaret Mead, quem quer que tenha nascido depois da Segunda Guerra Mundial está ingressando num clima científico cultural desconhecido de seus pais e para eles sempre incognoscível. [...]. Trechos extraídos da obra Jung e o tarô: uma jornada arquetípica (Cultrix, 1980), da escritora britânica Salie Nichols. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

MARÇO - [...] Conhecer a biblioteca de um homem é, em certa medida, conhecer a mente de um homem. [...] Você continua. Você coloca um pé na frente do outro e, se uma voz fina grita, em algum lugar atrás de você, você finge não ouvir e segue em frente. [...] Eu não estou sozinho nisso. Eu apenas o deixei fazer comigo o que os homens já fizeram com as mulheres: marchar para a glória vazia e a aclamação vazia e nos deixar para trás para juntar os cacos. As cidades destruídas, os celeiros queimados, os animais inocentes feridos, os corpos arruinados dos meninos que geramos e dos homens com quem nos deitamos. O desperdício disso. Eu sento aqui e olho para ele, e é como se cem mulheres estivessem sentadas ao meu lado: a esposa revolucionária da fazenda, a camponesa inglesa, a mãe espartana - 'Volte com seu escudo ou sobre ele', ela gritou, porque era isso que se esperava que ela chorasse. E então ela se inclinou sobre o corpo quebrado do filho e as palavras viraram pó em sua garganta. [...]. Trechos extraídos da obra March (Penguin, 2006), da escritora australiana Geraldine Brooks.

 

DOIS POEMAS - I – Estou aqui por outras crianças. Estou aqui porque me importo. Estou aqui porque as crianças de todo o mundo estão sofrendo e porque quarenta mil pessoas morrem de fome todos os dias. Estou aqui porque essas pessoas são, em sua maioria, crianças. Temos de compreender que os pobres estão à nossa volta e que os ignoramos. Precisamos entender que essas mortes são evitáveis. Temos de compreender que as pessoas nos países do terceiro mundo pensam, preocupam-se, sorriem e choram tal como nós. Temos que entender que eles sonham os nossos sonhos e nós sonhamos os deles. Temos que entender que eles somos nós. Nós somos eles. O meu sonho é acabar com a fome até ao ano 2000. Meu sonho é dar uma chance aos pobres. Meu sonho é salvar as 40 mil pessoas que morrem todos os dias. Meu sonho pode e se tornará realidade se todos olharmos para o futuro e vermos a luz que lá brilha. Se ignorarmos a fome, essa luz se apagará. Se todos ajudarmos e trabalharmos juntos, ele crescerá e se libertará com o potencial de amanhã. II – Todos nascemos e um dia todos morreremos. Provavelmente até certo ponto sozinho. E se a nossa solidão não for uma tragédia? E se a nossa solidão for o que nos permite falar a verdade sem ter medo? E se a nossa solidão for o que nos permite aventurar-nos – experimentar o mundo como uma presença dinâmica – como algo mutável e interativo? Se eu morasse na Bósnia ou em Ruanda ou sabe-se lá onde mais, a morte desnecessária não seria um símbolo distante para mim, não seria uma metáfora, seria uma realidade. E não tenho direito a esta metáfora. Mas eu uso isso para me consolar. Para dar uma fração de significado a algo enorme e desnecessário. Esta realização. Essa constatação de que viverei minha vida neste mundo onde tenho privilégios. Não consigo resfriar águas ferventes na Rússia. Não posso ser Picasso. Eu não posso ser Jesus. Não posso salvar o planeta sozinho. Posso lavar louça. Poemas da ativista estadunidense Rachel Corrie (1979-2003), que era membro do Movimento de Solidariedade Internacional (MSI), e atuava nos territórios palestinos da Faixa de Gaza ocupados por Israel, quando foi emagada até a morte por uma escavadeira blindada israelense.

 

MAIS DICAS & HUMOROUTROS


E O DORO: BOM DILMA, GENTE!
– Na última semana ouvi tudo: maior barraco geral. Esta semana, não deu menos: só baixaria. Parece mais que tem gente feito o que o Doro diz: - “Quando pensa, peida. Quando fala, caga!”. Até ouvi o desaforo de que Pernambuco traiu a memória de Eduardo Campos. E foi o Doro quem enredou: - “Tumém, esse tarzinho de Aercio da Capitinga foi gruvernadô, senadô, deputadô e tudo o mais lá de dor nas Minas e nem lá ganhô! A Marina, coitada, pra mim si interrô-se de veizi, avalie! A genti dexa o PSDêBê-que-foi-pra-pqp-cum-Fegacê pra SumPaulo e pro Sú! Afora isso, nem aqui nem na China!”. Tá dito. Veja mais aqui e aqui.

PSICOLOGIA DA ARTE – Um livro mais que recomendável para quem milita na arte é Psicologia da arte, de Lev Semenovitch Vygotsky (Martins Fontes, 1999) que aborda o problema psicológico da arte, estética e teoria marxista da arte, psicologia social e individual da arte, psicologia subjetiva e objetiva da arte, método objetivo-analítico e sua aplicação, a arte como conhecimento, a arte como conhecimento, psicologia da forma, dependência em face da psicologia associativa e sensualista, a arte como procedimento, psicologia do enredo e da personagem, psicologia do formalismo, arte e psicanálise, a psicanálise da arte, análise da reação estética, análise da fábula, a novela, a tragédia, Lessing e Potiebnya, a fabula em poesia e prosa, alegoria, as fábulas de Krilov, a tragédia de Hamlet, a arte como catarse, a teoria das emoções e da fantasia, a lei do menor esforço, a teoria do tom emocional e da empatia, a lei da dupla expressão das emoções, psicologia do verso, heróis e personagens, o drama, o teatro, a pintura, a escultura, a arquitetura, arte e vida, teoria do contágio, sentido social da arte, arte e pedagogia, arte do futuro, entre outros importantes assuntos. Veja mais aquiaqui, aqui e aqui.

A ARTE DE ENVELHECER – Uma valiosa lição essa de Marco Túlio Cícero: “Assim como estimo um adolescente no qual se encontra algo de um velho, assim aprecio um ancião no qual se encontra alguma coisa de um adolescente; aquele que seguir esta regra, poderá ser velho de corpo, não o será jamais da alma”.

FAZENDO SEU ERRADO DAR CERTO – Uma leitura recomendável é a do livro Fazendo seu errado dar certo: um método simples para transformar problemas em soluções, de Dawna Markova (Summus, 2000), trata da cura como libertação, o eu limitado, momento decisivo, coração aberto, pensando para mudar, a mente mutável, aprendendo com as feridas, compaixão, tecendo um futuro possível, explorando padrões de prevenção, conexão com a comunidade, assumindo e encenando compromissos, integração por meio de símbolos e cerimônias, entre outros diversos assuntos.

OS IDEAIS E AS AMBIÇÕES – Já dizia Heniz Kohut: “O homem é conduzido por seus ideais e empurrado por suas ambições”.

DO PLAYBACK THEATRE AO TEATRO DE CRIAÇÃO – Uma dica de leitura é o livro Do playback theatre ao teatro de criação, de Albor Vives Reñones (Ágora, 2000), aborda temas como o diretor, aquecimento de atores e plateia, direção de cenas ou representando a história, atores e músicos, narração, musicalização, participar da representação, ensaios, multiplicações, ressonância, raízes e rizomas, trocas de experiências, reforçar a integração e a coesão do grupo, repertório de técnicas de impacto, música e teatro, arte dramática, composição, psicodrama, entre outros importantes assuntos. Veja mais aqui e aqui.

O FUTURO DE UMA ILUSÃO, DE SIGMUNDO FREUD - [...] A civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais - e desprezo ter que distinguir entre cultura e civilização -, apresenta, como sabemos, dois aspectos ao observador. Por um lado, inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das necessidades humanas; por outro, inclui todos os regulamentos necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível. As duas tendências da civilização não são independentes uma da outra; em primeiro lugar, porque as relações mútuas dos homens são profundamente influenciadas pela quantidade de satisfação instintual que a riqueza existente torna possível; em segundo, porque, individualmente, um homem pode, ele próprio, vir a funcionar como riqueza em relação a outro homem, na medida em que a outra pessoa faz uso de sua capacidade de trabalho ou o escolha como objeto sexual; em terceiro, ademais, porque todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização, embora se suponha que esta constitui um objeto de interesse humano universal. É digno de nota que, por pouco que os homens sejam capazes de existir isoladamente, sintam, não obstante, como um pesado fardo os sacrifícios que a civilização deles espera, a fim de tornar possível a vida comunitária. A civilização, portanto, tem de ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa. Visam não apenas a efetuar uma certa distribuição da riqueza, mas também a manter essa distribuição; na verdade, têm de proteger contra os impulsos hostis dos homens tudo o que contribui para a conquista da natureza e a produção de riqueza. As criações humanas são facilmente destruídas, e a ciência e a tecnologia, que as construíram, também podem ser utilizadas para sua aniquilação. Fica-se assim com a impressão de que a civilização é algo que foi imposto a uma maioria resistente por uma minoria que compreendeu como obter a posse dos meios de poder e coerção. [...] Assim, a religião seria a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai. A ser correta essa conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento, e nos encontramos exatamente nessa junção, no meio dessa fase de desenvolvimento. Nosso comportamento, portanto, deveria modelar-se no de um professor sensato que não se opõe a um novo desenvolvimento iminente, mas que procura facilitar-lhe o caminho e mitigar a violência de sua irrupção. Decerto nossa analogia não esgota a natureza essencial da religião. Se, por um lado, a religião traz consigo restrições obsessivas, exatamente como, num indivíduo, faz a neurose obsessiva, por outro, ela abrange um sistema de ilusões plenas de desejo juntamente com um repúdio da realidade, tal como não encontramos, em forma isolada, em parte alguma senão na amência, num estado de confusão alucinatória beatífica. Mas tudo isso não passa de analogias, com a ajuda das quais nos esforçamos por compreender um fenômeno social; a patologia do indivíduo não nos provê de um correspondente plenamente válido. [...] É possível que a educação libertada do ônus das doutrinas religiosas não cause grande mudança na natureza psicológica do homem. [...] Acreditamos ser possível ao trabalho científico conseguir um certo conhecimento da realidade do mundo, conhecimento através do qual podemos aumentar nosso poder e de acordo com o qual podemos organizar nossa vida. Se essa crença for uma ilusão, então nos encontraremos na mesma posição que você. Mas a ciência, através de seus numerosos e importantes sucessos, já nos deu provas de não ser uma ilusão. Ela conta com muitos inimigos manifestos, e muitos outros secretos, entre aqueles que não podem perdoá-la por ter enfraquecido a fé religiosa e por ameaçar derrubá-la. É censurada pela pequenez do que nos ensinou e pelo campo incomparavelmente maior que deixou na obscuridade. Nisso, porém, as pessoas se esquecem de quão jovem ela é, quão difíceis foram seus primórdios e quão infinitesimalmente pequeno foi o período de tempo que decorreu desde que o intelecto humano ficou suficientemente forte para as tarefas que ela estabelece. Não nos achamos todos nós em falta, ao basear nossos julgamentos em períodos de tempo que são curtos demais? Deveríamos tomar os geólogos como modelo. As pessoas queixam-se da infidedignidade da ciência, do modo como ela anuncia como lei hoje o que a geração seguinte identifica como erro e substitui por uma nova lei cuja validade aceita não perdura por mais tempo. Mas isso é injusto e, em parte, inverídico. As transformações da opinião científica são desenvolvimentos, progressos, e não revoluções. Uma lei que a princípio foi tida por universalmente válida, mostra ser um caso especial de uma uniformidade mais abrangente ou é limitada por outra lei, só descoberta mais tarde; uma aproximação grosseira à verdade é substituída por outra mais cuidadosamente adaptada, a qual, por sua vez, fica à espera de novos aperfeiçoamentos. Existem diversos campos em que ainda não superamos uma fase de pesquisa na qual fazemos experiências com hipóteses que em breve têm de ser rejeitadas como inadequadas; em outros campos, porém, já possuímos um cerne de conhecimento seguro e quase inalterável. Finalmente, tentou-se desacreditar o esforço científico de maneira radical, com o fundamento de que, achando-se ele ligado às condições de sua própria organização, não poderia produzir nada mais senão resultados subjetivos, ao passo que a natureza real das coisas a nós externas permanece inacessível. Mas isso significa desprezar diversos fatores de importância decisiva para a compreensão do trabalho científico. Em primeiro lugar, nossa organização - isto é, nosso aparelho psíquico - desenvolveu-se precisamente no esforço de explorar o mundo externo, e, portanto, teria de ter concebido em sua estrutura um certo grau de utilitarismo; em segundo lugar, ela própria é parte constituinte do mundo que nos dispusemos a investigar e admite prontamente tal investigação; em terceiro, a tarefa da ciência ficará plenamente abrangida se a limitarmos a demonstrar como o mundo nos deve aparecer em consequência do caráter específico de nossa organização; em quarto, as descobertas supremas da ciência, precisamente por causa do modo pelo qual foram alcançadas, são determinadas não apenas por nossa organização, mas pelas coisas que influenciaram essa organização; finalmente, o problema da natureza do mundo sem levar em consideração nosso aparelho psíquico perceptivo não passa de uma abstração vazia, despida de interesse prático. Não, nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que aquilo que a ciência não nos pode dar, podemos conseguir em outro lugar. O FUTURO DE UMA ILUSÃO – A obra O futuro de uma ilusão, de Sigmund Freud, trata sobre a civilização humana, instinto, frustração, renúncias instintuais, privação, opressão, hostilidades, os ideais, a cultura, a satisfação narcísica e o ideal cultural, a arte e as satisfações substitutivas, educação, a humanização da natureza, o desamparo humano, o destino, os vales da civilização as ideias religiosas, o totemismo, a significação psicologia dos ideais religiosos, os ensinamentos da religião, as ilusões derivam do desejo humano, as doutrinas religiosas, o espírito científico, as leias e as convenções humanas, o pai primevo, entre outros assuntos. No mesmo volume encontram-se ainda O mal-estar da civilização, fetichismo, o humor, uma experiência religiosa, Dostoievski e o parricídio, alguns sonhos de Descartes, o prêmio Goethe, relação dos trabalhos de Freud que tratam da arte, literatura e teoria da estética, tipos libidinais, sexualidade humana e breves escritos. REFERÊNCI: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Veja mais aqui e aqui.

O SEMINÁRIO – O EU NA TEORIA DE FREUD E NA TÉCNICA DA PSICANÁLISE, DE JACQUES LACAN - O livro O seminário o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, de Jacques Lacan, trata inicialmente acerca da psicologia e metapsicologia, a verdade e saber, o cogito dos dentistas, a crise de 1920, a natureza do eu, origem da linguagem, Sócrates, a literatura, Descartes, a cacofonia teórica, além do princípio do prazer. Em seguida trata do saber, verdade, opinião, a psicanálise e seus conceitos, forma e símbolo, Péricles psicanalista, instinto e o simbólico. Logo após trata de além do principio do prazer, a repetição, o universo simbólico, diálogos sobre Lévi-Strauss, a vida e a máquina, Deus, a natureza e o símbolo, o imaginário material, o dualismo freudiano, uma indefinição materialista do fenômeno da consciência, a vivência e o destino, o núcleo do ser, o eu é um objeto, fascinação, rivalidade, reconhecimento, as resistências, a família, homeostase e insistência, idolatria, autocontagem do sujeito, heterotipia da consciência, análise do não eu é análise do inconsciente ao avesso, Freud, Hegel, a máquina, o instinto de morte, racionalismo de Freud, alienação do sonho, a psicanálise não é um humanismo, Freud e a energia, o circuito, Maurice Merleau-Ponty e a compreensão, conservação, entropia, informação, princípio do prazer e princípio da realidade, a aprendizagem do Griboville, reminescencia e repetição, Kierkgaard, introdução ao Entwurf, sobre o nível das reações psicossomáticas, o real é sem fissura, a redescoberta do objeto, jogo de escrituração, loucura não é sonho, quatro esquemas, oposição e mediação, o processo primário, a entificação da percepção-consciência, da Entwurf à Traumdeutung, a entropia ao pé da letra, os paradoxos de ômega, tudo está sempre aí, sonho e sintoma, a conversa com Fleiss, a censura não é resistêcia, a mensagem como discurso interrompido e que insiste, o rei da Inglaterra é um babaca, Freud e Fechner, os embaraços da regressão, paradoxos dos esquemas freudianos, percepção e alucinação, função do ego, o sonho da injeção de Irma, o imaginário, o real e o simbólico, par ou impar, para além da intersubjetividade, um quod derradeiro, a máquina que joga, memória e rememoração, introdução à carta roubada, perguntas àquele que ensina, o discurso comum, a realização de desejo, o desejo de dormir, o verbo e as tripas, a questão do realismo, o desejo, a vida e a morte, a libido, desejo sexual, instinto, resistência da análise, o para além de Édipo, a vida só pensa em morrer, introdução do grande outro, a paranoia pós-analítica, o esquema em Z, para além do muro da linguagem, para se formam os analistas, a análise objetivada, critica a Fairbain, a fala na análise, economia imaginária e registro simbólico, o universo irracional, sósia, o marido e a mulher, a mulher objeto de troca, o eu que boto pra fora, desdobramento obsessivo, o apólogo do marciano, o apólogo dos três prisioneiros, psicanálise e cibernética ou da natureza da linguagem, a.m.a.s, verbum a dabar, a máquina e a intuição, esquema do tratamento, o libidinal e o simbólico. REFERÊNCIA: LACAN, Jacques. O seminário: o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. Veja mais aqui, aqui e aqui


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