segunda-feira, outubro 13, 2014

MÁRCIA KAMBEBA, DARCY, KRENAK, ESTEVÃO PINTO & EDILENE KIRIRI

 


MAÍRA, A DONA CLARA – A paisagem nos seus olhos, o vento nos seus cabelos negros, sua pele bronzeada pela margem esquerda do rio Potengi. Sua destreza com a lança, o tacape e o arco e flecha davam-lhe qualidades heroicas. Esta a jovem potiguara Maíra, aquela que se apaixonou por Poti, o Potiguaçu da sua tribo. Com a chegada dos jesuítas no aldeamento do Guajiru, ela foi catequizada e batizou-se Clara. E seguiu com seu marido para a capitania de Pernambuco montada em seu cavalo e disposta a enfrentar as espadas e arcabuzes inimigos. Impedida de integrar os guerreiros, ela formou um pelotão e liderou uma tropa feminina de nativas, negras e mamelucas, que escoltava famílias para o refúgio de Porto Calvo. Sua valentia afrontou perigos e atuou na vitoriosa batalha de Tejucupapo contra os invasores holandeses. Daí serviu na primeira batalha dos Guararapes, na qual atuou como escudeira do marido que era integrante do exército regular e das companhias de guerrilheiros. Após o triunfo seu marido vitimou-se da malária e deu-lhe a viuvez e o anonimato. Os tempos passaram e justiça foi feita: ganhou a insígnia e as regalias oferecidas a alta nobreza e tornou-se Dona Clara, a guerreira Maria Clara Filipa Camarão. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOSOuça o que dizem os antigos. Preste atenção na fala dos velhos sábios, pois eles guardam a Palavra Criadora... Pensamento do indígena, ambientalista, filósofo e escritor Ailton Krenak. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Enquanto existir uma erva, uma árvore ou um rio no planeta, nós povos indígenas existiremos... Pensamento da professora Edilene Batista Kiriri, fundadora da Associação das Mulheres Indígenas Kariri (ASSMIK).

 

HISTÓRIA INDÍGENA - [...] Em Pernambuco, contam-se alguns núcleos de remanescentes indígenas, entre os quais o do Brejo dos Padres (índios Pançararu), de Colégio (índios Shocó e outros), e de Palmeira dos Índios (índios xucurus) e o de Águas Belas (índios fulniô). [...]. Trecho extraído da obra Muxarabis & Balcões £ outros ensaios (CEN/Brasiliana, 1958), do antropólogo, professor, historiador, advogado e pesquisador Estevão Pinto (1895-1968). Nesta obra ele também expressa sobre os pancararu: [...] Sociologicamente falando, os Pancararus estão degenerados, isto é, perderam o que Gilberto Preyre chama, com apoio de Pitt-Rivers, o potencial, o ritmo, a capacidade construtora da cultura. Assim , muitos dos seus traços culturais desapareceram, diluídos ou diferenciados, embora alguns deles possam, ainda hoje, ser surpreendidos ou apontados em um quase flagrante. [...]. O autor já havia publicado outras obras, como Mosaicos (1913), A Escola e a Formação da Mentalidade Popular no Brasil (1932) e O Problema da Educação dos Bem Dotados (1933). Sobre os fulniô expressa na obra Etnologia Brasileira - Fulnio – os últimos tapuias (CEN/Brasiliana, 1956): [...] O contato dos fulniô com alguns grupos da família tupí-guaraní não poderia ser motivo para a existência, entre os mesmos, desse complexo, pois [...] os tupi em geral, quando muito, identificavam juruparí com as almas dos avoengos. [...]. Em uma das minhas primeiras visitas à aldeia dos Fulniô levei numerosos presentes para os índios. Esgotados os presentes, tive de lançar mão de dinheiro, que me voou todos dos bolsos. Meu próprio cachimbo e minha própria lâmpada portátil caíram em poder dos caboclos. [...] Continuamente explorados e ludibriados, os ameríndios habituram-se, de igual modo, à velhacaria e aos processos de exploração. E já hoje é difícil corrigir um erro que vem de tantos anos. [...]. Outras obras publicadas do autor sobre o tema são: Os indígenas do Nordeste (CEN/Brasiliana, 1935) e Os indígenas do Nordeste. Organização e estrutura social dos indígenas do Nordeste brasileiro (CEN/Brasiliana, 1938). Além destas obras, também publicou os estudos: Alguns aspectos da cultura artística dos Pancarús de Tacaratú (MEC, 1938), A medicina dos tupi-guaranis (Actas Cibas - Tipografia Irmãos Barthel, 1944), As máscaras-de-dansa dos Pancararu de Tacaratu - remanescentes indígenas dos sertões de Pernambuco (Journal de la Société des Américanistes, 1952), Estórias e Lendas Indígenas (UFPE, 1955) e Os Fulniô de Águas Belas (Anhembi, 1955). Já na obra Introdução a História da Antropologia (IJNPS,1964), o autor expressa que: [...] Os antropólogos procuraram aproveitar os ensinamentos de Freud e de sua escola, aceitando-os, não como teoria psicanalítica, mas como uma contribuição da Psicologia profunda aos problemas da ciência do homem. Tentando resolver questões específicas de antropologia, Freud explica as origens do Totemismo e da proibição do incesto, por meio de teorias consideradas logo fantasiosas. [...] os antropólogos não tardaram a descobrir que a teoria de Freud levava a consequências que o próprio Freud não visa. O alcance, por exemplo da hipótese de que o tratamento e as experiências da primeira infância influem de forma decisiva no desenvolvimento do tipo de personalidade. [...] O conceito de raça, identificado com o de nação, transformou-se «no mais perigoso dos mitos humanos [...]. FONTES: A dissertação de mestrado O silêncio conivente – Estêvão Pinto, Etnólogo: Trajetória intelectual e Opções Teóricas (UFPE, 1992), de José Maria Tenório Rocha, a obra organizada pelo Dr. Lourenço Filho: A escola e a formação da mentalidade popular do Brasil pelo Dr. Estêvão Pinto (Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1932) e as notas biográficas de Mariana Tenório da S. Lima (UFAL, 2019).

 

MAÍRA - [...] No vasto mundo dos poucos mairuns viventes e dos muitos que viveram e morreram, corre a notícia. O tuxaua Anacã decidiu que nesta noite dos vivos ele deitará para dormir, como sempre, mas só acordará de madrugada, morto-vivo, no fim do dia dos mortos, para ver a luz do sol negro iluminando. [...] Anacã morre para que os mairuns renasçam. Simultaneamente se vão dissolvendo na morte suas carnes regadas cada dia e renascendo seu povo nos ritos que reacendem em cada um o gosto de comer, a alegria de cantar, o prazer de dançar, a coragem de ousar, o gozo de foder. [...]. Habituados com suas mulheres que parem como cachorros ou animais selvagens, não deram qualquer atenção especial ao parto dessa mulher branca e civilizada (apesar de extravagante) que estava no meio deles. Ela, vendo-se sozinha, numa praia, com as dores do parto que podem ter sobrevindo de repente, não teria resistido. Foi vítima de sua própria afoiteza em meter-se, aventurosamente, por essas matas e aqui deixar-se prenhar [...]. Que será este meu filho ou esta minha filha? Será mairum como eu quero que seja? Será um branco, um caraíba, no sentido de civilizado e de cristão, como eu fui, como eu era, como ainda sou, apesar de mim? [...]. Trechos extraídos da obra Maíra (Global, 2014), do antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS - OS FILHOS DAS ÁGUAS DOS SOLIMÕES - A água é a mãe que sustenta \ A vida que nasce como flor\ Alimenta a planta e o ser vivente\ É estrada onde anda o pescador.\ Na enchente, vem veloz e furiosa\ Derrubando ribanceiras e plantações\ Afeta a vida do indígena e ribeirinho\ É um ciclo, que se renova a cada estação.\ Na vazante o rio quase some\ E a praia começa a surgir\ A água, agora bem calminha\ Não tem forças para a roça destruir.\ Nas margens de um rio em formação\ Vive um povo que a água fez nascer\ Em um parto de dor e emoção\ Na várzea o Kambeba escolheu viver.\ Mas em um contato fatal\ Com um povo mais socializado\ Fez dos herdeiros das águas\ Um povo desaldeado.\ Tomando seu solo sagrado\ Sem dor, piedade ou compaixão\ Os Kambebas foram escravizados\ Apresentados a “civilização”\ Exploraram a sua força\ Forjando uma falsa proteção. ÍNDIO EU NÃO SOU - Não me chame de “índio” porque\ Esse nome nunca me pertenceu\ Nem como apelido quero levar\ Um erro que Colombo cometeu.\ Por um erro de rota\ Colombo em meu solo desembarcou\ E no desejo de às Índias chegar\ Com o nome de “índio” me apelidou.\ Esse nome me traz muita dor\ Uma bala em meu peito transpassou\ Meu grito na mata ecoou\ Meu sangue na terra jorrou.\ Chegou tarde, eu já estava aqui\ Caravela aportou bem ali\ Eu vi “homem branco” subir\ Na minha Uka me escondi.\ Ele veio sem permissão\ Com a cruz e a espada na mão\ Nos seus olhos, uma missão\ Dizimar para a civilização.\ “Índio” eu não sou.\ Sou Kambeba, sou Tembé\ Sou kokama, sou Sataré\ Sou Guarani, sou Arawaté\ Sou tikuna, sou Suruí\ Sou Tupinambá, sou Pataxó\ Sou Terena, sou Tukano\ Resisto com raça e fé. Poema da poeta e geórgrafa Márcia Wayna Kambeba (Márcia Vieira da Silva), de etnia Omágua/Kambeba por ter nascido numa aldeia ticuna em Belém do Solimões, atual Tabatinga e autora da obra Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade (Grafisa, 2013).

 

DICAS & OUTRAS

 

A PSICOLOGIA DE PIERRE WEIL - [...] Nosso mundo está em crise, provocada por lacunas e falhas no paradigma reinante e suas extrapolações. A felicidade prometida pelas aplicações indiscriminada da ciência moderna sob forma de tecnologia está se transformando no seu contrário: de um lado, temos a falta elementar de alimento e conforto, que traz fome e miséria física ao Terceiro Mundo; do outro lado, temos a miséria psicológica que acompanha o excesso de alimento e conforto dos países desenvolvidos, onde crescem a solidão, a indiferença, a violência sob todas as suas formas; o conforto não trouxe a felicidade, qualquer que seja o regime político reinante [...]. Na educação, a fragmentação do ensino aumenta à medida que se atinge as series superiores, chegando a fazer das universidades atuais verdadeiras torres de Babel. Uma separatividade fundamental impregna a educação: o intelecto é confiado às escolas e o caráter, incluindo sentimentos e valores, supostamente ainda está nas mãos da família. Pela força da escolaridade, disso resulta uma visão unilateral do mundo, puramente intelectual, onde sentimentos e valores são relegados a segundo plano ou simplesmente ignorados. O conhecimento se torna uma espécie de mercadoria a ser a ser adquirida e estocada no armazém da memória. A mentalidade consumista se introduziu no seio mesmo da educação. O hemisfério cerebral esquerdo passa a predominar sobre as áreas intuitiva e criadora do hemisfério direito. Muitas vezes, o produto final dessa fragmentação é o tecnocrata ou burocrata frio, insensível e profundamente egoísta [...] A frieza da objetividade científica, o paciente considerado como objeto de estudo, o corpo percebido como uma máquina a ser consertada, o desprezo pelos aspectos psicológicos da doença são, entre outros aspectos, consequência direta ou indireta do antigo paradigma. ONDAS À PROCURA DO MAR – O livro Ondas à procura do mar, do psicólogo francês, professor universitário e fundador de diversas associações de psicoterapia, Pierre Weil (1924-2008), trata de Ondina e a metamorfose das ondas, a conferência de Agadoisó e as entrevistas de Pena de Ganso, amores de Brilhantina e Conta-Gotas, a loucura de Lunático e Onda Louca, as gotas de ouro aumentam a tensão interondina, a peregrinação de Brilhantina, Manitu começa a revelar o grande mistério, os Ondinos vão à guerra, o Retiro do Penhasco, o grande retorno, a Batalha da Grande Ilusão, entre outras narrativas. A NEUROSE DO PARAÍSO PERDIDO – O livro A neurose do paraíso perdido: proposta para uma nova visão da existência, de Pierre Weil, trata da busca pelo homem do paraíso perdido, a fantasia da separatividade, a reação holística, a visão holística, holopraxis, a existência como holossistema, entre outros importantes temas. O CORPO FALA – O livro O corpo fala, de Pierre Weil e Roland Tompakov, trata da decodificação estrutural dos gestos, a unidade do ser, a psicoterapia corporal, a técnica de Alexander, a modificação terapêutica das atitudes corporais e mentais, métodos de modificação psicossomática do homem, a linguagem do corpo, entre outros assuntos. NOVA LINGUAGEM HOLÍSTICA – A obra Nova linguagem holística: pontes sobre as fronteiras das ciências físicas, biológicas, humanas e as tradições espirituais – um guia alfabético, de Pierre Weil, traz a abordagem solonômica do universo e do cérebro, a Carta Magna da Universidade Holística Internacional, Declaração de Veneza, Vocabulário Holístico, entre outras abordagens. A ARTE DE VIVER EM PAZ – O livro A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação, de Pierre Weil, traduzido por Helena Roriz Taveira e Helio Macedo da Silva, trata de uma nova concepção de vida, a visão fragmentária da paz, a paz como fenômeno externo ao homem, a paz no espírito do homem, a visão holística da paz, a educação fragmentária, a visão holística da educação, a educação holística para a paz, a transmissão da arte de viver em paz, o paraíso perdido, o desenvolvimento da paz interior, a paz do corpo e do coração, os métodos de transformação energética e de estimulo direto da paz, as três manifestações sociais da entrega, metodologia pedagógica, por uma pedagogia ecológica, entre outros importantes assuntos. Veja mais aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
WEIL, Piere. O novo paradigma holístico: ondas à procura do mar. In: BRADÃO, Dênis; CREMA, Roberto. O novo paradigma holístico: ciência, filosofia, arte e mística. São Paulo: Summus, 1991.
______. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação. São Paulo: Gente, 1993.
______. Nova linguagem holística: pontes sobre as fronteiras das ciências físicas, biológicas. humanas e as tradições espirituais – um guia alfabético. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1987.
_____. Ondas à procura do mar. São Paulo: Agir, 1987.
_____. A neurose do paraíso perdido: proposta para uma nova visão da existência. São Paulo: Espaço e Tempo, 1987.
_____; TOMPAKOV, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis: Vozes, 2003.



DORO: EU VOTO NA DILMA E PONTO FINAL – Ouvi um boato medonho de que o Doro tinha virado a casaca. Virou mesmo? Sei lá. De repente lá vem ele caindo os dentes sem ter onde cair morto, sem um voto pra remédio no resultado das eleições, batendo biela e esclarecendo logo: - Eu num virei casaca de merda nenhuma! Num sou doido é di votá nesse tár de Aercio, nunca, nunquinha! Tô com as catraca do quengo em dia e alembro bem de acuma que foi os ano lá do Fegacê: uma incaristia desgracenta, um liseu da porra! Eu só fartava indoidá ou infartá! Pruisso, mô fio, eu já saio de casa bem cedinho assim: bom dirma, bom dirma! Pt, saurdaçãos! Veja mais aqui e aqui.

APRENDENDO COM CONFÚCIO – Essa é do filósofo chinês, Confúcio (551 a.C. - 479 a.C): “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la, por pensarem ansiosamente no futuro, perdem o presente, de tal forma que acabam por nem viver o presente, nem o futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O SORRISO E A LIBERDADE – O psicanalista Alexander Lowen (1910-2008), ao desenvolver sua psicoterapia mente-corporal, chegou na seguinte conclusão: “Rir é arriscar parecer tolo. Chorar é arriscar parecer sentimental. Tentar alcançar alguém é arriscar envolvimento. Expor sentimentos é arriscar rejeição. Expor seus sonhos perante a multidão é arriscar parecer ridículo. Amar é arriscar não ser amado de volta. Seguir adiante face a possibilidades irresistíveis é arriscar ao fracasso. Apenas uma pessoa que corre riscos é livre”. Veja mais aqui.


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