Ao som dos álbuns Sirens (Zone Records,
1994), Passionate Voice (2004), Rough and Steep (2006), The
Ten Thousand Steps (Biomusique, 2008), Journey (Sony, 2012), Eternal
Om (Hearts of Space, 2016) e Calm and Comfort (Hearts of Space, 2022), da
compositora, multi-instrumentista, vocalista e produtora estadunidense de
origem armênia, Lisbeth Scott. Veja mais
aqui.
PROSCRITO MIGRANTE DO MEU
PRÓPRIO CHÃO: QUANTUM MUTATUS AB ILLO... – A minha vida entre parêntesis topadas
& pontapés, sequioso então pelos inumeráveis devires das ensolaradas noites
dos meus crebros breus infindos. Ainda tive bons motivos para rir tão à toa, empolgado
demais para baldes enormes de água fria, resiliente demais para mais uma queda,
otimista demais para mais um contratempo. Mesmo assim enfrentava o implacável,
como se insistentemente ouvisse Barbara Oakley: A Lei da
Serendipidade: a sorte favorece quem tenta... A persistência costuma ser mais
importante que a inteligência...Tantas expectativas, oh não, quantos
disparates, desempenho para um inconsequente – algumas vezes mergulhado em conflitos
crônicos, ônus da própria natureza. Outras, péssimo humor, pouco animador - tão
desencorajadoras situações aversivas, episódios nada atraentes soavam caus&feito
no plausível, quando o mais era tão falso, pretextos e comiseração. A
contragosto, frustrações e deixa pra lá, mais ouvia Aniela Jaffé: O homem é a
única criatura com o poder de controlar o instinto pela sua própria vontade,
mas também é capaz de suprimi-lo, distorcê-lo e feri-lo - e um animal, para
falar metaforicamente, nunca é tão selvagem e perigoso como quando é ferido... Ah, como urrava pelas constâncias dramáticas, outras
nem lembro - também desapontei muito, confesso. Vulgaridade e a reputação quase
nenhuma, anonimato esparramado, davam vida desinteressante e sem sentido. Era só
o eco de Agnès
Bertholet-Raffard: Somos todos vulneráveis porque todos podemos precisar
de cuidados, mas, ao mesmo tempo, somos todos interdependentes porque todos
beneficiamos dos bons cuidados dos outros e, para que a sociedade funcione, é
importante ter cuidados... Nenhum, olvidava os que tinha, nem os dei. Um
tanto descascado, ainda pueril no meio de tempestades arrebatadoras explodindo minha
cabeça e o envelhecimento precoce: eu e o meu país cambaleante, quão mudado se
fez, até certo ponto mais que desagradável, e sabia - a ingenuidade mata: viver
mais um dia do que resta e seguir em frente. Até mais ver.
A CASA
Imagem: Acervo ArtLAM.
1 - A mãe
diz que dentro de todas as mulheres há quartos trancados; cozinha da luxúria, \
quarto da dor, banheiro da apatia. \ Às vezes os homens vêm com chaves. \ e às
vezes os homens vêm com martelos.
2 - Nin soo
joog laga waayo, soo jiifso aa laga helaa, \ Eu disse Pare , disse Não e ele
não ouviu.
3 - Talvez
ela tenha um plano, talvez ela o leve de volta para a casa dela \ só para ele
acordar horas depois em uma banheira cheia de gelo, \ com a boca seca, olhando
para seu novo e elegante procedimento.
4 - Aponto
para o meu corpo e digo: Ah, essa coisa velha? Não, eu apenas coloquei.
5 - Você vai
comer aquilo? — digo para minha mãe, apontando para meu pai que está deitado na
mesa da sala de jantar, com a boca cheia de uma maçã vermelha.
6 - Quanto
maior é o meu corpo, quanto mais quartos trancados há, mais homens vêm com
chaves. Anwar não foi até o fim, ainda penso no que ele poderia ter aberto
dentro de mim. Basil veio e hesitou na porta por três anos. Johnny de olhos
azuis veio com uma sacola com ferramentas que usara em outras mulheres: um
grampo de cabelo, um frasco de alvejante, um canivete e um pote de vaselina.
Yusuf gritou o nome de Deus pelo buraco da fechadura e ninguém respondeu.
Alguns imploraram, alguns subiram na lateral do meu corpo em busca de uma
janela, alguns disseram que estavam a caminho e não vieram.
7 - Mostre-nos
na boneca onde você foi tocado, disseram. \ Eu disse que não pareço uma boneca,
pareço uma casa. \ Eles disseram: Mostre-nos a casa. \ Assim: dois dedos no
pote de geleia \ Assim: um cotovelo na água do banho \ Assim: uma mão na
gaveta.
8 - Devo
contar a vocês sobre meu primeiro amor, que encontrou um alçapão sob meu peito
esquerdo há nove anos, caiu nele e não foi visto desde então. Todo \ de vez em
quando sinto algo subindo pela minha coxa. Ele deveria se dar a conhecer, eu
provavelmente o deixaria sair. Espero que ele não tenha \ topei com os outros,
os meninos desaparecidos de cidades pequenas, com mães simpáticas, que faziam
coisas ruins e se perdiam no labirinto de \ meu cabelo. Eu os trato muito bem,
uma fatia de pão, se tiverem sorte, um pedaço de fruta. Exceto Johnny de olhos
azuis, que arrombou minhas fechaduras e entrou. Garoto bobo, acorrentado ao
porão dos meus medos, toco uma música para afogá-lo.
9 - TOC Toc.
\ Quem está aí? \ Ninguém.
10 - Nas
festas aponto para o meu corpo e digo: É aqui que o amor morre. Bem-vindo,
entre, sinta-se em casa. Todo mundo ri, acham que estou brincando.
Poema da premiada
escritora, editora e professora Somali, Warsan Shire.
OS VIGILANTES DE SANGOMAR - [...] Ser mãe é viver a serviço de um ser em formação, mesmo
quando você não quer mais existir para si mesmo. Sem
Bouba, Coumba tinha perdido a mulher que tinha sido, deixando apenas a mãe de
Fadikiine para se agarrar. Ser mãe é respirar por uma vida diferente da sua, Coumba
descobriu isso. [...]
é o que um olhar atento pode detectar nos olhos dos homens, quando a curva
dos seus ombros protege as mulheres e as crianças contra a violência do mundo.
[...] Toda criança sabe que sua mãe é o mastro sólido sobre o qual erguer a
esperança, quando o moral está a meio mastro. [...] A liberdade total, a
autonomia absoluta que exigimos, quando acaba de lisonjear o nosso ego, de nos
provar a nossa capacidade de nos responsabilizarmos, revela finalmente um sofrimento
tão pesado como todas as dependências evitadas: a solidão. O que
significa a liberdade, senão o nada, quando já não é relativa aos outros? O
mundo se oferece, mas não abraça ninguém e não se deixa abraçar. [...]. Trechos extraídos da obra Les Veilleurs de Sangomar
(Hachette, 2021), da escritora senegalesa Fatou Diome.
ÉTICA DO CUIDADO – Todas as vidas são iguais e os mais
vulneráveis precisam de atenção... Estamos num
capitalismo patriarcal: a economia e a política, globalmente, estão nas mãos de
uma ordem masculina até manifestações preocupantes como o questionamento do
direito ao aborto nos Estados Unidos. As desigualdades de género fazem,
portanto, parte desta ordem, embora desde o movimento #MeToo as mulheres tenham
exigido justiça de género. A ética do cuidado questiona as razões e a
história destas desigualdades, enfatizando a natureza central de atividades
como o cuidado dos corpos, o trabalho emocional e a resposta às necessidades
vitais. O cuidado tem valor; deve ser pago tanto quanto possível e partilhado
entre homens e mulheres. As mulheres são delegadas às tarefas de cuidado porque
isso lhes foi imposto ao longo da história, a ponto de fabricar a perspectiva
de uma natureza feminina amorosa! Agora, ninguém, por exemplo, é mãe em nome de
um instinto. Criamos papéis, binários que prejudicam a nossa vida, que poderia
ser muito mais livre. Da mesma forma, criamos profissões “femininas” que são
menos remuneradas porque são consideradas fáceis. No entanto, cuidar de pessoas
muito idosas em lares de idosos exige conhecimentos, experiência e
competências, tanto quanto o trabalho de alvenaria. A ética do cuidado reside numa atitude
aberta com a perspectiva de Carol Gilligan de uma “voz diferente”, de escuta do
outro, em grande parte atribuída às mulheres ao longo da história. A atenção à
singularidade de uma situação complexa onde as pessoas se relacionam,
reabilitando o lugar das emoções e da racionalidade dialógica, é muitas vezes
desvalorizada, ao contrário de uma moralidade que exibe princípios. No entanto,
é disso que precisamos hoje... Pensamento da filósofa francesa Fabienne
Brugère, autora da obra L'Éthique
du “care ” (PUF, 2021), considerando o cuidado como uma
ética com rosto humano, contextual e renovada na abordagem da razão e dos
sentimentos, na atenção ao outro, nas formas de responsabilização. A
fundamentação teórica é uma antropologia da vulnerabilidade, a possibilidade de
tornar audível a voz das mulheres e dos vulneráveis. Esta
ética está enraizada em debates da psicologia moral, da filosofia prática, da
sociologia e da política. Hoje, a transição da ética para a política se faz
graças à exigência do cuidado como filosofia social, voltada para enfrentar um
ciclo político de desregulamentação e a crise dos estados de bem-estar social,
razão pela qual as filosofias do cuidado apreendem através das vidas comuns
ligadas ao cuidado, estes exércitos de populações invisibilizadas e
marginalizadas na atual estrutura do mercado. Cuidado, ou como entender a
interdependência e as dependências hoje, nas relações baseadas na solidariedade e na partilha de recursos.
COMPOSIÇÕES PARA VIOLÃO,
DE ANTONIO MADUREIRA.
[...] Há artistas cuja
música reverbera, de forma amplificada, muito mais que o significado isolado
das notas e dos ritmos. Eles não seguem uma tendência, eles criam valores. Elas
carregam no âmago de sua criação toda uma cultura, uma história, um modo de
vida, um anseio expresso por um povo. Eles criam vínculos entre o universal e o
regional, entre o rural e o urbano, entre uma cultura milenar e o hoje
[...].
Trecho da apresentação do
violonista, regente, escritor, comunicador e professor, Fabio Zanon,
para o songbook Composições para violão Antonio Madureira (Autor, 2016),
do músico Antônio Madureira, vinculado ao Movimento Armorial e
integrante do Quinteto Armorial. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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