A SOLIDÃO DE
DENISE... - Sua família emigrou pro Reino Unido e a infância de Ilford era
reflexo da prisão domiciliar dos pais: estrangeiros inimigos que traziam para Essex
os problemas étnicos. Era a primeira guerra e as suas células se desenvolviam à
sombra da sabedoria paterna. Educada em casa já guardava o desejo desde os 5
anos de idade: ser escritora. Estudou balé, piano, francês e arte. Nenhuma identidade
a fazia sentir excluída: não era judia, nem alemã, nem galesa nem inglesa – era
especial e já sabia: Antes dos dez anos que eu era uma pessoa-artista e
tinha um destino... O pai protestava contra Mussolini pela invasão da Abssínia;
a mãe fazendo campanha para a Liga das Nações; a irmã no palanque contra a falta
de apoio à Espanha; todos empenhados em favor dos refugiados alemães e
austríacos, essa a sua condução pela política humanitária desde menina, quando vendia
o Dayly Worker de casa em casa nas ruas de Ilford Lane. Aos 12 anos
escreveu seu primeiro poema e depois enviou alguns deles para Eliot e recebeu uma
carta incentivadora. Foi então servir como enfermeira civil em Londres durante
o Blitz. Aos 17 anos publicou seu primeiro poema e, logo depois, o livro: The
Double Image. Casou-se e foi pros Estados Unidos onde naturalizou-se depois
para publicar Here and Now – a influência de Black Moyntain &
William Carlos Williams. Vieram então Overland
to the Islands e With Eyes at the
Back of Our Heads.Tornou-se editora do The Nation, abrindo
espaço para feministas e ativistas de esquerda, publicando The Jacob's
Ladder e O Taste and See: New Poems. É a hora da Guerra do Vietnã, a
morte de sua irmã e The Sorrow Dance, com o engajamento à War
Resisters League e o Writers and Editors War Tax Protest. Recusou-se a
pagar impostos em protesto contra a guerra, inspirada na desobediência de Thoreau.
Passou a integrar o coletivo anti-guerra RESIST, conclamando os indivíduos
a se tornarem defensores da mudança, ao vincular a experiência pessoal à
justiça e reforma social. E vieram Relearning the Alphabet, To Stay
Alive – poemas com uma coleção de cartas anti-Guerra do Vietnã,
noticiários, entradas de diário e conversas. Depois Footprints, The Freeing of the Dust, Life in the
Forest e a Collected Earlier Poems 1940–1960. Sozinha dedicou-se
à educação morando em Massachussets, Boston, Palo Alto, Stanford e a descoberta
dos cadernos da mãe e pai para resolver conflitos pessoais e religiosos. Foi aí que apareceram Pig Dreams: Scenes from the
Life of Sylvia, Candles in Babylon, Oblique Prayers: New Poems,
Breathing the Water e A Door in the Hive. Mudou-se para
Seattle para admirar apaixonadamente o Monte Rainier. Aposentou-se para
realizar leituras dos seus poemas pelos USA e Grã-Bretanha, protestando contra
os ataques ao Iraque. Surgem Evening Train
e A Door in the Hive / Evening Train. Um diagnóstico com linfoma e o sofrimento
com pneumonia e laringite aguda. Mesmo assim prosseguia com palestras e
conferências, ressaltando a beleza da linguagem e a feiura dos horrores da
guerra: a violência é uma válvula de escape... Por fim publica Sands
of the Well e, logo em seguida, a morte leva-a para sempre. Veja mais
abaixo & mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Um poeta que articule os medos e horrores do nosso tempo é necessário
para que os leitores entendam o que está acontecendo, realmente entendam, não
apenas saibam, mas sintam: e deve ser acompanhado por uma disposição por parte
daqueles que escrevem de tomar medidas adicionais para acabar com as grandes
misérias que registram... Todos os dias, todos os dias, ouço o suficiente para
preencher um ano de noites com dúvidas... Nada do que fazemos tem a rapidez, a
segurança, a inteligência profunda que viver em paz teria... Mas nós apenas
começamos a amar a terra. Nós apenas começamos a imaginar a plenitude da vida.
Como poderíamos nos cansar da esperança? - há tanta coisa em broto... Pensamento
da poeta britânica Denise Levertov (1923–1997), autora do famoso poema Como
eles eram?: O povo do Vietnã \ usava lanternas de pedra?\ Eles
realizavam cerimônias\ para reverenciar a abertura dos brotos?\ Eles eram
inclinados ao riso silencioso?\ Eles usavam osso e marfim,\ jade e prata, como
ornamento?\ Eles tinham um poema épico?\ Eles distinguiam entre fala e canto?\ Senhor,
seus corações leves se transformaram em pedra.\ Não se lembra se em jardins\ jardins
de pedra iluminavam caminhos agradáveis.\ Talvez eles se reunissem uma vez para
se deliciar com a flor,\ mas depois que seus filhos foram mortos\ não havia
mais brotos.\ Senhor, o riso é amargo para a boca queimada.\ Um sonho atrás,
talvez. O ornamento é para alegria.\ Todos os ossos foram carbonizados.\ não é
lembrado. Lembre-se,\ a maioria era camponesa; sua vida\ era em arroz e bambu.\
Quando nuvens pacíficas se refletiam nos arrozais\ e os búfalos de água pisavam
com segurança ao longo dos terraços,\ talvez os pais contassem histórias
antigas aos filhos.\ Quando as bombas quebravam aqueles espelhos,\ havia tempo
apenas para gritar.\ Ainda há um eco\ de sua fala que era como uma canção.\ Foi
relatado que seu canto lembrava\ o voo de mariposas ao luar.\ Quem pode dizer?
Está silencioso agora. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: A alegria
é como um dia agitado; mas a paz divina é como uma noite tranquila... Veja como
o tempo faz toda a tristeza desaparecer. Os sonhos se tornam sagrados quando
colocados em ação; o trabalho se torna belo através do sonho estrelado, mas
onde cada um flui sem se misturar, ambos são infrutíferos e em vão...
Pensamento da poeta britânica Adelaide Anne Procter (1825-1864). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM MAIS FALOU:
Quem se entrega à tristeza renuncia à plenitude da
vida. Para sobreviver, planeje a esperança... Em tempos de incerteza e
desesperança, é essencial desenvolver projetos coletivos a partir dos quais
planear a esperança juntamente com outros... Pensamento do psiquiatra e psicanalista suiço Enrique Pichon
Rivière (1907-1977). Veja mais aqui.
O PEDANTE NOS ENSAIOS – O jurista, filósofo, escritor e
humanista francês Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) inventou os ensaios pessoais ao conceber suas obras sob a
denominação Ensaios (Abril Cultural,
1987) analisando as opiniões, instituições e costumes, bem como sobre os dogmas
da sua época e observando a generalidade da humanidade como objeto de estudo. Dele
destaco Pedantismo, no capítulo XXXV,
do Livro I dos seus Ensaios: [...] Dionísio
caçoava dos astrólogos que cuidavam de saber das desgraças de Ulisses mas
ignoravam as próprias; dos músicos que afinam suas flautas mas não os seus
costumes; dos oradores que estudam para discutir a justiça mas não a praticam.
Se a sua alma não se aperfeiçoa, se seus juízos não se tornam mais lúcidos,
melhor fora que o estudante gastasse o tempo a jogar péla, pois ao menos o
corpo ele o teria mais ágil. Observai-o de volta após quinze ou dezesseis anos:
nada se fará dele; o que trouxe a mais é o grego e o latim, que o fizeram mais
tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o
espírito cheio e voltou balofo; incharam-no e continuou vazio. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Imagem: Erótico, do desenhista, ilustrador, quadrinista, caricaturista, animador e editor do blog Rabisqueira, Luhan Dias.
Curtindo a comédiaLisztomania(1975), roteiro e direção de Ken Russel com músicas de Franz Liszt, Richard Wagner, Rick Wakeman & Roger Daltrey.
O MORTO E ALUA – Uma lenda recolha do gênese africano, recolhida duma seleção de Fernando Correia da Silva, (Maravilhas do conto africano - Cultrix, 1962), narra a relação de um morto com a lua: Um ancião vê um morto banhado pela claridade da lua. Reúne grande número de animais e diz-lhes: - Qual de vós bravos, quer encarregar-se de passar o morto ou a lua para a outra margem do rio? Apresentam-se duas tartarugas: a primeira que tem as patas compridas carrega a lua e chega sã e salva com ela à margem oposta; a outra que tem as patas curtas, carrega o morto e se afoga. Por isso a lua morte reaparece todos os dias e o homem que morre não volta nunca. Veja mais aqui.
MEU POVO, MEU POEMA – Uma das maiores personalidades vivas
da poesia brasileiro é, sem dúvida, o premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico
de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar que foi um dos
fundadores do Neoconcretismo e ocupante da cadeira 37 na Academia Brasileira de
Letras. No seu livro Dentro da noite veloz (José Olympio, 1975), destaco Meu
povo, meu poema: Meu povo e meu poema
crescem juntos / como cresce no fruto / a árvore nova / No povo meu poema vai
nascendo / como no canavial / nasce verde o açúcar / No povo meu poema está
maduro / como o sol / na garganta do futuro / Meu povo em meu poema / se reflete
/ como a espiga se funde em terra fértil / Ao povo seu poema aqui devolvo /
menos como quem canta / do que planta. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A IMPORTÂNCIA DE SER
PRUDENTE – A comédia A importância de ser prudente (1895 - Aguilar,
1975), é a obra prima do escritor e dramaturgo britânico de origem irlandesa, Oscar Wilde (1854-1900), apresentando uma
sátira da sociedade vitoriana nos seus estertores. Foi adaptada diversas vezes
para o cinema, sendo a mais recente transformada em uma comédia romântica de
2002, dirigida por Oliver Parker, com título em português de Armadilhas do
Coração. Do texto destaco os seguintes fragmentos em diálogos: [...] L. BRA. É satisfatório. Entre os deveres que
esperam a gente no transcurso da vida e os deres que exigem da gente depois da
morre, a terra deixou de ser, em todo caso, um benefício ou um prazer. Ela nos
dá posição e nos impede de mantê-la. É tudo quanto se pode dizer a respeito de
terras. JOÃO. Tenho uma casa de campo com algumas terras a ela anexas, é claro,
cerca de mil e quinhentos acres, creio eu. Mas minha verdadeira renda não porém
disto. De fato, pelo que tenho podido comprovar, os caçadores furtivos são as
únicas pessoas que tiram alguma coisa dela. [...] ALGERNON. É um
trabalho terrivelmente duro não fazer nada. Mas não me importo de trabalhar
duramente, contanto que não haja objetivo definido. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
BATE PAPO VESPERTINO – Desde que nos conhecemos no Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e
Neurociência Cognitiva que todas as tardes privo da oportunidade de
estreitar tanto amizade como conhecimentos com o graduando de Psicologia e
pesquisador, Maurício da Silva Gomes.
Todas as tarde conversamos e, intermitentemente, contamos com a presença dos
amigos João do curso de Direito e de amigos do curso de Psicologia, a exemplo do
Darnley Tenório que também participa do nosso grupo de pesquisa, entre outros. Ontem
o Maurício me chegou com duas laudas digitadas para ler. Continha o título Um olhar sobre o homem. Li, gostei e destaco um trecho aqui: Outrora pensava outro sábio. — Viver é uma obra de
arte, eu sou uma obra de arte, nós somos obras de arte! E não se equivoque,
pois esta arte não possui criador além da potência, da sua vontade de potência,
da nossa vontade de potência. E quando dizeis: encontrei a dor, porém, viver na
dor é mais vantajoso do que viver no nada. Assim eu te pego niilista, pois
mundo é perfeito! Mas saiba que ele pode te maltratar. E o que o homem deve
fazer? O homem, como tal e qual, deve se superar. Não mais querer o não querer,
querer apenas se superar. Veja o texto completo aqui e mais aqui.
PERDAS E DANOS – Um inesquecível filme, principalmente
pela sempre maravilhosíssima atuação da atriz francesa Juliette Binoche, é o drama britânico-francês Perdas & Danos (Damage,
1992), dirigido pelo cineasta Louis
Malle (1932-1995), com roteiro de David Hare e baseado no romance de Josephine
Hart. A dupla Binoche e Jeremy Irons
vive um envolvimento entre nora e sogro, bem ao gosto do diretor de sempre
trazer temas polêmicos e críticos dos valores burgueses, expressando as
angustias sociais humanas com temática como suicídio, liberação feminina,
pedofilia, incesto, entre outros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
HOMENAGEM ESPECIAL
VIRGINIA LANE
Como todo dia é dia da mulher, hoje é dia
de homenagear a atriz, cantora e vedete brasileira Virginia Lane (1920-2014). Veja mais aqui.
Marquês de Sade, Karen Horney, Chico
Buarque, Maria Clara Machado, Günter Grass, Larry Vincent Garrison, Angela
Winkler, Luiz Edmundo Alves, Monica & Monique Justino aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a língua dá
no dente do alcaguete, sai de riba que lá vem o enterro voltando aqui.
Pode até ser, mas se não for, nunca será, Lina Cavalieri, Chris Maher & Eloir
Amaro Júnior aqui.
A desmedida correria para perder o bom da
vida, Heitor Villa
Lobos, Francis Bacon & Fúlvio Pennnacchi aqui.
O maravilhoso mistério da vida, Ana Torroja, Rebecca West, Alan
Bridges, Marie-Louise Garnavault & Julie Christie aqui.
Quem quer diferente tem que fazer
diferente, Cândido
Portinari, Xiomara Fortuna, Marcus Garvey & Emmanuel Villanis aqui.
O prazer de amar e de ser amado, Joyce, Bigas Luna, Aitana Sánchez-Gijón
& Luciah Lopez aqui.
Todo dia um novo ano, Egberto Gismonti, John
Poppleton, Sy Miller & Jill Jackson aqui.
Betinho, Augusto de Campos, SpokFrevo
Orquestra, Alan Parker, Graça Carpes, Rinaldo Lima, Bader Burihan Sawaya &
Tempo de Morrer aqui.
Galileu Galilei & Bertolt Brecht,
Nise da Silveira, Egberto Gismonti, Michelangelo Antonioni, Irena Sendler,
Glória Pires, Anna Paquin & Charles André van Loo aqui.
Imre Madách & A
tragédia humana, Pierre
Rode, Robert Joseph Flaherty, Franz West, Vera Ellen, Anne Chevalie & Sarah
Clarke aqui.
Adolfo Bécquer, Paulo Moura, Pedro
Onofre, Antônio Miranda & Gárgula – Revista de Literatura, Marcos Rey &
Marta Moyano, Mihaly von Zick, Associação de Blogs Literários do Nordeste
(ABLNE), Virna Teixeira & Programa Tataritaritatá aqui.
Marlos Nobre, André Breton, Nikos
Kazantzákis, Toni Morrison, Milos Forman & Natalie Portman, Adolf Ulrik
Wertmüller & Tanussi Cardoso aqui.
Nicolau Copérnico, Carson McCullers, Alberto Dines & Observatório da
Imprensa, Rogério Tutti, Capinam, István Szabó,
Krystyna Janda & Max Klingeraqui.
A SOLIDÃO DE
NACHO, EL ROJO… - O menino de Valladolid cresceu
adolescendo no noviciado em Orduña aos 17 anos. Tornou-se viajante e foi pra
Villagarcía e, de lá, prAmérica Central. Estudava muito em Quito, fez filosofia
em Bogotá, bacharelou-se e seguiu prum Externato de El Salvador. Depois foi
professor na Centroamericana, viajou pra Frankfurt, bacharelou-se de novo na
Bélgica, retornou à San Salvador para lecionar psicologia na Academia de Santa
Ana. Contribuiu para a revista dos Estudios Centroamericanos, fez mestrado em
Chicago, onde, depois, também fez seu doutoramento em Psicologia Social. Acompanhava
de perto os conflitos de El Salvador, com a fundação do Iudop, escrevendo para
a revista costarriquenha Polómica. Foi professor na Venezuela, em Porto Rico,
em Bogotá, em Madrid e publicou seus livros e artigos científicos e culturais,
contemplando as sociedades alternativas da América Latina. Mas era tempo de opressão,
repressão e da anormalidade normal das injustiças sociais com suas anomalias na
violência estrutural. Vivia no meio da guerra civil financiada pelos USA, que
mantinham o governo militar repressor e os esquadrões da morte. Era 16 de
novembro daquele ano de 1989: ele foi executado no massacre da UCA, a chacina
promovida pelo exército salvadorenho. Um tiro na nuca e o mártir da teologia da
libertação sucumbiu juntamente com outros 5 professores jesuítas, mais a
caseira e sua filha de 16 anos. Os soldados do Atlacatl destruíram livros,
documentos e computadores e deixaram no local um cartaz político na tentativa
de imputar o crime à FMLN contra os “traidores da causa”. Não foi e a voz nunca
se calou. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS -
É claro que ninguém vai devolver ao dissidente
preso a sua juventude; à jovem que foi violada a sua inocência; à pessoa que
foi torturada a sua integridade. desaparecidos para as suas famílias. O que
pode e deve ser publicamente restituído são os nomes das vítimas e a sua
dignidade, através do reconhecimento formal da injustiça do ocorrido e, sempre
que possível, da reparação material... Aqueles que clamam por isso. a reparação
social não pede vingança nem acrescenta cegamente dificuldades a um processo
histórico que já não é nada fácil. Pelo contrário, promove a viabilidade
pessoal e social de uma nova sociedade, verdadeiramente democrática...
Pensamento do filósofo e psicólogo social espanhol Ignacio Martín-Baró(1942-1989), uma das vítimas da chacina de El Salvador,
em 1989, que no seu estudo La violencia en centroamerica: una vision psicossocial
(Revista de Psicologia de ElSalvador, 1990), expressa que: [...] A verdade do povo latino-americano não está no seu
presente de opressão, mas na sua manhã de liberdade […].
Se toda forma de violência exige uma justificação, é porque não a tem em si.
O que leva à consequência de que a violência não pode ser considerada em
abstrato como boa ou má, o que contradiz uma das suposições implícitas da
maioria das abordagens psicológicas; a bondade ou maldade da formalidade
violenta advém do ato que a substantiva, isto é, daquilo que um ato tão
violento socialmente significa e historicamente produz. E é aqui que o caráter
ideológico da violência aparece claramente [...]. Já no seu livro Acción
y ideologia: Psicología Social desde Centroamérica (UCA, 1985), ele expressa
que: [...] Uma sociologia do conhecimento psicológico sobre violência e
agressão mostra que, com honrosas exceções, geralmente a “matéria violenta” que
é tomada como objeto de análise é o ato contrário o prejudicial ao regime
estabelecido, a agressão física individual, a violência delinquencial ou a
violência das massas, assumindo em todos esses casos que seu caráter negativo
deriva do dano causado à convivência sob a ordem social imperante. [...] A
exploração dos trabalhadores, sobretudo o campesino e indígena, a contínua
repressão a seus esforços organizativos, o bloqueio a satisfação de suas
necessidades básicas e às exigências para o desenvolvimento humano, e tudo isso
como parte de um funcionamento “normal” das estruturas sociais, constitui uma
situação em que a violência contra as pessoas está incorporada à natureza da
ordem social, bem chamado de “desordem organizada” ou “desordem estabelecida”.
[...] A violência aberta como uma possibilidade ao ser humano assumida e
desenvolvida através do processo de socialização encontra sua formalização
última em sua justificação. [...] todo ato de violência requer uma
justificação social e, quando carece dela [...] a gera por si mesma.
[...]. Já no seu estudo O papel do psicólogo (Estudos de Psicologia, 1996),
ele expressa que: [...] A consciência não é simplesmente o âmbito privado do
saber e sentir subjetivo dos indivíduos, mas, sobretudo, aquele âmbito onde
cada pessoa encontra o impacto refletido de seu ser e de seu fazer na
sociedade, onde assume e elabora um saber sobre si mesmo e sobre a realidade
que lhe permite ser alguém, ter uma identidade pessoal e social. A consciência
é o saber, ou o não saber sobre si mesmo, sobre o próprio mundo e sobre os demais
[...] Ao assumir a conscientização como horizonte do quefazer psicológico,
reconhece-se a necessária centralização da psicologia no âmbito do pessoal, mas
não como terreno oposto ou alheio ao social, mas como seu correlato dialético
e, portanto, incompreensível sem a sua referência constitutiva. Não há pessoa
sem família, aprendizagem sem cultura, loucura sem ordem social; portanto, não
pode tampouco haver um eu sem um nós, um saber sem um sistema simbólico, uma
desordem que não se remeta a normas morais e a uma normalidade social [...]
Uma simples consciência sobre a realidade não supõe, por si só, a mudança
dessa realidade, mas dificilmente se avançará com as mudanças necessárias
enquanto um véu de justificativas, racionalizações e mitos encobrir os
determinismos últimos da situação dos povos centro-americanos. A
conscientização não só possibilita, mas facilita o desencadeamento de mudanças,
o rompimento com os esquemas fatalistas que sustentam ideologicamente a
alienação das maiorias populares [...] os problemas específicos dos
nossos povos sem as proteções dos marcos teóricos apriorísticos, que filtram,
de forma enviesada, a realidade e limitam, não isentos de interesses, nossa
capacidade de compreensão [...]. No seu artigo acadêmico Para uma
psicología da Libertação (Alínea, 2011), ele chama atenção para a
necessidade de: [...] fazer algo que contribua significativamente para dar
resposta aos problemas cruciais de nossos povos"? [...]. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: A vida...
nunca é como a gente imagina. Ela te surpreende, te espanta, e te faz rir ou
chorar quando você não espera. Eu amo o redondo, as curvas, a ondulação, o mundo
é redondo, o mundo é um seio. A música é a almofada mais macia do mundo. A pintura acalmou o caos que abalava minha alma. Pensamento da pintora, escultora e cineasta francesa Niki de Saint
Phalle (1930-2002), que no seu livro Mon Secret (Différence, 1994),
ela expressa que: [...] Meu pai, secretamente, teve
que sufocar em sua vida, mas faltou-lhe a coragem de uma verdadeira revolta. A garotinha
que eu era será a única vítima de sua lamentável rebelião. [...]. Veja mais aqui e aqui.
LAMENTO DO GUARDIÃO DA FRONTEIRA – O poeta predestinado ou
imortal chinês Li Tai Po (701-762)
possui uma obra composta de mais de mil poemas reunidos em vinte e quatro
livros e divididos em doze cadernos, nos quais manifesta sua imaginação
extravagante ao comunicar sua personalidade e espírito livre que exorta a vida
faustosa, suas interações com a natureza, o amor pelo vinho, a amizade e o
olhar aguçado sobre a vida, tendo sido condenado à morte por mais de uma vez,
suicidando-se embriago ao se atirar no rio Yang-tsé Kiang. Dele destaco o poema
Lamento do Guardião da Fronteira,
inserido no ABC da Literatura, de Ezra Pound, traduzido por Augusto de Campos: Pelo Portão do Norte sopra o vento carregado
de areia, / solitário desde a origem do tempo até agora! / Árvores caem, no
outro a relva amarelece. / Galgo torres e torres / para vigiar a terra bárbara:
/ desolado castelo, o céu, o amplo deserto. / Nenhum muro de pé sobre esta
aldeia. / Ossos alvos com milhares de geadas, / altas pilhas, cobertas de
arvores e grama; / quem fez com que isto acontecesse? / Quem trouxe a cólera
imperial flamante? / Quem trouxe o exército com tambores e timbales? / Bárbaros
reis. / De uma primavera suave a um outono de sangue e sangue, / trezentos e
sessenta mil, / e tristeza, tristeza como chuva. / Tristeza para ir, tristeza
no regresso. / Desolados, desolados campos, / e nenhuma criança de campanha
sobre eles, / não mais os homens para a ofensa e a defesa. / Ah! Como sabereis
de toda esta tristeza no Portão do Norte, / com o nome de Rihaku esquecido / e
nós, guardiões, pasto de tigres? Veja mais aqui, aquieaqui.
Imagem:Infanta nude(2011), do premiadíssimo fotógrafo estadunidenseRalph Gibson.
Curtindo o dvdAlma Lírica Brasileira ao vivo(2011), da cantoraMônica Salmaso.
INTERPRETAÇÃO E IDEOLOGIAS – A obra Interpretação e ideologias (F.
Alves, 1990), do filósofo francês Paul
Ricoeur (1913-2005) aborda temas como a tarefa da hermenêutica numa
trajetória que vai da epistemologia à ontologia, a função hermenêutica do
distanciamento, a efetuação da linguagem como discurso, o discurso como obra, a
relação entre a fala e a escrita, o mundo do texto, compreender-se diante da
obra, a ciência e a ideologias, os critérios do fenômeno ideologia, as ciências
sociais e ideologia, a dialética da ciência e da ideologia, a alternativa de
uma hermenêutica crítica, os neoconflitos das sociedades industriais avançadas,
ausência de projeto coletivo, o mito do simples e esgotamento da democracia
representativa, a ideologia da conciliação e do conflito a todo preço, a nova
estratégia do conflito, entre outros assuntos. Na obra destaco o seguinte
trecho: A marginalização constitui, sem dúvida,
o maior perigo, que correm atualmente os grupos de contestação. Essa
marginalização é a contrapartida do reforço de todos os poderes estabelecidos,
num sentido cada vez mais repressivo e policialesco. A polarização —que se
pretende nos impor a todo preço — está em vias de produzir no mundo todo seus
frutos amargos: o ciclo contestação repressão está esboçado, mas funciona cada
vez mais em proveito do poder e em detrimento das liberdades públicas. Quanto à
ação, ou antes, à pseudo-ação, já se encontra contaminada pela busca do
espetacular, pela teatralização. Ê interessante
notar como a ação, ao tornar-se ineficaz, tende a converter-se em espetáculo.
Certamente' compreendo a intenção: quando a palavra ordinária perdeu sua
eficácia, pode parecer hábil aplicar uma terapêutica de choque nas massas
cloroformadas. Mas o efeito é tão desastroso sobre aqueles que aplicam o
remédio quanto sobre os que o recebem. É o que chamo de a teatralização. Por
teatralização, entendo a substituição da política real por uma espécie de política-ficção,
incapaz de separar a fantasia do real, e reduzida a uma encenação. Bem que eu
gostaria que a "guerilla-theater",
tal como a vi funcionar nas universidades americanas, fosse um meio novo
e eficaz para abrir as massas à política, mas parece que ela indica apenas que
a própria ação se tornou teatral. Sem dúvida, a ação simbólica tem sua força,
como a tinham os gestos simbólicos dos antigos profetas de Israel. Mas o que há
de mais perigoso que uma ação reduzida a uma fantasia e sub-repticiamente
subtraída às condições reais da ação eficaz? A ação possui suas leis, sua
racionalidade própria. Um dos sinais da contracultura consiste em negar essas
leis e essa racionalidade. Mas há um preço a pagar: a impotência de influir
sobre a sociedade. O mais grave de tudo é o progresso da não-comunicação na sociedade. A
patologia do conflito em nossa sociedade chega ao cúmulo quando o adversário
nem mesmo é reconhecido. Já se falou da sociedade em migalhas, em todos os
planos: profissional, cultural, religioso. O aspecto mais grave da sociedade em
migalhas consiste na ruptura do vínculo social no nível do casamento, dos estilos
de vida, e no surgimento de uma sociedade paralela ou, como dizem os
americanos, da altemative society. Mas
que alternativa, senão a dissidência que deixa tudo no mesmo lugar, que inquieta
e ameaça, mas sem lançar as sementes de mudança? Veja mais aqui, aqui e aqui.
FLÁVIA, CABEÇA, TRONCO E MEMBROS – O texto teatral – ou como assinala o próprio autor: tragédia ou comédia
em dois atos -, Flávia, cabeça, tronco e
membros (L&PM, 1977), do saudoso escritor, dramaturgo, tradutor,
desenhista, humorista e jornalista Milton Viola Fernandes, ou simplesmente Millôr Fernandes, é um dos primeiros
projetos de uma mulher liberada em 1963, que usa seu fascínio e liberdade ao
absurdo das caricaturas ao abordar sobre poder, força e a permanente capacidade
de mistificação inerente ao ser humano. Destaco a cena do segundo ato, em que o
Juiz Paulo Moral pega um papel na mesa e fala: Mao Tsé me mandou um telegrama, aplaudindo minha sentença. Esse me
compreende, sabe o que estou dizendo. Que nosso irmão querido é uma ameaça no
espaço. Constante. Nos roça mais de que devia. Nos aperta mais do que podia. É
isso. Já nos aperta. Já somos gente demais. Assim, se não temo coragem de fazer
uma eliminação sumária é preciso ao menos estimular os que têm e eliminam. (Bem
coloquial). Inda ontem mesmo estava eu as seis horas da tarde na Avenida
Copacabana e o fantasma da superpopulação esbarrou no meu braço. Quase me
estrangulou. E além de tanta gente chafurdando nas ruas, milhões no aconchego
de alcovas, camas de randevus e até leitos burgueses preparando mais gente.
Mais gente e mais, mais gente, muito mais, muito mais gente. Até minha velha
senhora espera um neto! Alguém pode evitar que se procrie? (Quase gritando). Eu
absolvo todos! São todos livres para o novo exemplo. Vocês sabem, vocês sentem,
se já não sentiam, se já não sabiam: o homem abdicou da alma. O avião da asa.
Vem aí o omelete sem ovo! (Assina, rápido, um papel com uma grande pena de ave,
colorida. Em tom geral). Ide, missa est. [...] (Em tom terrível) Posso. Pelas chagas de um Cristo fracassado, posso.
Posso pelos princípios da força e da fraqueza. Posso por uma visão essencial da
Queda. Pela felicidade que poucos merecem e menos compreendem também posso.
Posso pois voltei ao Sinai e trouxe tabuas de matéria plástica. Novas
revelações, novas palavras, novos vícios, erros novos. Quem será condenado se
de repente explodir um astronauta e podre e em fragmentos ficar em torno de nos
girando o seu fedor por toda Eternidade? Quem será condenado? Belle époque, lei
seca, padrão-ouro, melindrosas, não morrestes em vão! O fogo é fresco, a água
seca; o infinito uma limitação. Pela última dor do ser humano, posso. Posso por
Hiroshima, amor de mis amores. Posso. Eu, Paulo Belmonte Joaquim Moral, juiz,
posso. Pelo direito infernal, pela Santa Moral, por algo que me dói aqui no
peito, pelos dez mandamentos idiotas, pela jura de Hipócrates hipócrita, por
todos os códigos mais feitos, pelo feroz direito da impotência, posso,
Meritíssimo, posso. Posso até fazer nascer um dia novo! (Sem transição, apenas
mudando de tom). E além disso estou armado. (Puxa violentamente uma Lugger da
toga. Arma-a com ruído violento. Avança lenta e firmemente para a frente. O
promotor vai recuando rapidamente, some. Moral continua avançando, com o olhar
firme no público. Quando atinge a linha do proscênio o pano cai). Fim. Veja
mais aqui, aqui, aqui e aqui.
LARA, DUPLA IDENTIDADE – Neste sábado, dia 28
de fevereiro, acontecerá o lançamento de mais um romance da série "Lara - Dupla Identidade", do poeta
e escritor tricordiano Ronaldo Urgel
Nogueira. Serviço: Dia 28/02, das 17 às 21 horas, na Savel no Santa Tereza,
em Três Corações, sul de Minas (Info: Meimei Corrêa). Veja mais aqui.
SALOMÉ DE AÍDA GOMEZ –O encantador filme Salomé (2002), do cineasta e roteirista espanhol Carlos Saura, começa como se fosse um
documentário sobre os bastidores de preparação para o espetáculo Salomé, com o
diretor passando as instruções para os bailarinos. Na cena os iluminadores e
cenografistas estão trabalhando simultaneamente. Entre os ensaios, os
bailarinos apresentam a encenação da peça. Eis que surge a magistral bailarina
e coreógrafa Aída Gomez e encanta
toda cena. Imperdível. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Veja mais sobre:
Cybele, Molière, Marguerite Duras, Contos
de Panchatantra, Freud & Ida Bauer, Maurice de Vlaminck & Muddy Waters aqui.
E mais:
Segura o jipe, A prima de Vera Indignada & Pedro
Cabral aqui.
Fecamepa: enquanto os caras bufam por
aumento no governo, aqui embaixo a gente só paga mico, né aqui.
O recomeço a cada dia, Ibn el-Arabi & Indries Shah,
Petrina Sharp & Faisal Iskandar aqui.
DITOS &
DESDITOS - Para mim, meu espírito criativo é quase outra pessoa que vive
dentro de mim, a criança dentro de mim que nunca cresceu. Continue brincalhão,
divirta-se e não se importe com o que as pessoas pensam. Acho que, como um ser
criativo, isso é algo que nunca perdi. Só você pode ver sua visão. É importante
encontrar esse relacionamento consigo mesmo e fortalecê-lo. Pensamento da
dançarina, coreógrafa e atriz neozelandesa Parris Goebel, também
conhecida profissionalmente como Parri$.
ALGUÉM FALOU: Esperar que a vida lhe trate bem é tolice como esperar
que um touro não lhe bata porque você é vegetariano. A coisa mais absurda que
estou dizendo é: Não tenha filhos. Não se case e tenha filhos. Tenha uma vida
maior do que isso. Eu me considero um bom juiz de pessoas... É por isso que não
gosto de nenhuma delas. Pensamento da atriz,
escritora e comediante estadunidense Roseanne Barr, que no seu livro Roseannearchy: Dispatches from the Nut Farm (Gallery Books, 2012), ela expressa que: [...] Às vezes, para mim, não fazer birra é o que correr uma
maratona ou atravessar o Canal da Mancha a nado deve ser para outras pessoas de
natureza emocional menos desafiadora. [...]. Veja
mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS - SANGUE
FEMININO - Sangue feminino…\ O sangue que cria \ mundos de ternura,\ tristeza e
glória,\ pensamentos sobre a noite,\ a dor de tudo,\ do ciúme à morte,\ amor
pagão.\ Pagão acreditar\ e se esconder de maneiras pagãs\ de todos,\ que você
está apaixonado…\ E a tua sombra\ vem e me pergunta\ se eu carrego essa “dor” \
nos meus olhos.\ Mas não foi você\ que me crucificou nela primeiro!\ Sangue
feminino sagrado e pecaminoso. NÃO CHEGUE PERTO DE MIM! - Não chegue perto de
mim!\ Seja uma efígie\ Na parede de pedra da antiga catedral,\ Alto e
inacessível,\ Para permanecer como um desejo eterno\ Em meu coração vazio
deixado por você\ Silencioso e em alerta.\ Não chegue perto de mim… Poema
da escritora, tradutora e ativista Dora Gabe (1886-1983).
PRIMEIRO
COMO TRAGÉDIA, DEPOIS COMO FARSA – Por uma indicação dos amigos Luiz Dorvilé e
Fábio, tive acesso à obra Primeiro como
tragédia, depois como farsa (Boitempo, 2011), do filósofo, teórico crítico
e cientista social esloveno Slavoj Zizek,
ele aborda sobre ideologia, socialismo capitalista, a hipótese comunista, a
estrutura da propaganda inimiga, a crise como terapia de choque, fetichismos,
entre outros assuntos. Na parte do livro denominada Humano, demasiado humano, encontrei: [...] A era contemporânea volta e meia se proclama pós-ideológica, mas essa
negação da ideologia só representa a prova suprema de que, mais do que nunca,
estamos imbuídos na ideologia. A ideologia é sempre um campo de luta - entre
outras, de luta pela apropriação de tradições passadas. Um dos indicadores mais
claros de nossa triste situação é a apropriação liberal de Martin Luther King,
em si uma operação ideológica exemplar. Recentemente, Henry Louis Taylor
observou: "Todos, até as criancinhas, conhecem Martin Luther King e podem
dizer que seu grande momento foi aquele discurso do 'Eu tenho um sonho'.
Ninguém consegue ir além dessa frase. Tudo que sabemos é que esse camarada teve
um sonho. Não sabemos que sonho foi. King fez um longo caminho desde que foi
saudado pelas multidões em Washington, em março de 1963, quando foi apresentado
como o "líder moral de nosso país". Por insistir em questões que iam
além da simples segregação, perdeu muito apoio público e foi visto cada vez
mais como um pária. Como explicou Harvard Sitlcoff, "ele assumiu a questão
da pobreza e do militarismo porque as considerava vitais 'para tornar a
igualdade algo real, não apenas uma irmandade racial, mas igualdade de
fato"'. Nos termos de Badiou, King seguiu o "axioma da
igualdade", muito além da questão isolada' da segregação racial: estava em
campanha contra a pobreza e a guerra na época em que morreu. Falou contra a
Guerra do Vietnã e, quando foi morto, em Memprus, em abril de 1968, estava lá
para apoiar a greve dos trabalhadores da limpeza pública. Como disse Melissa Harris-Lacewell,
"seguir King significava seguir a estrada impopular, não a popular". Além
disso, tudo que hoje identificamos com liberdade e democracia liberal (sindicatos,
voto universal, educação gratuita universal, liberdade de imprensa etc.)foi
conquistado com a luta difícil e prolongada das classes inferiores nos séculos XIX
e XX; em outras palavras, foi tudo, menos consequência "natural" das
relações capitalistas. Recordemos a lista de exigências que conclui o Manifesto Comunista: com exceção da
abolição da propriedade privada dos meios de produção, a maioria é amplamente
aceita hoje nas democracias "burguesas", mas somente como resultado de
lutas populares. Vale destacar outro fato com frequência ignorado: hoje, a
igualdade entre brancos e negros é comemorada como parte do sonho americano e
tratada como axioma ético-político evidente por si só; mas nas décadas de 1920 e 1930 os comunistas norte-americanos
eram a única força política a
defender a igualdade racial completa. Os que defendem a existência de um
vínculo natural entre capitalismo e democracia distorcem os fatos, assim como a
Igreja Católica distorce os fatos quando se apresenta como defensora
"natural" da democracia e dos direitos humanos contra à ameaça de totalitarismo
– como se a Igreja não tivesse aceitado a democracia apenas no fim do século
XIX como uma concessão desesperada, e mesmo assim rangendo os dentes, deixando
claro que preferia a monarquia e que era com relutância que cedia aos novos tempos.
Por conta de sua total difusão, a ideologia surge como seu oposto, como não ideologia, como âmago de nossa
identidade humana para além de qualquer rótulo ideológico. [...]. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Sketch La République, do pintor e escultor francês Honoré Daumier (1808-1879). Veja mais aqui.
Curtindo o dvd da ópera popularAlabê de Jerusalém(2006), do cantor e compositorAltay Veloso. Veja mais aqui.
HÁ
UM OUVIDO NO IGNOTO – No capítulo VII da obra Os
trabalhadores do mar, do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), Há um ouvido no ignoto, encontrei o
seguinte relato: Correram algumas horas.
O sol levanta-se deslumbrante. O seu primeiro raio iluminou na plataforma da
grande Douvre uma forma imóvel. Era Gilliatt. Continuava estendido em cima do
rochedo. Já não estremecia aquela nudez gelada e endurecida. Estavam lívidas as
pálpebras fechadas. Era difícil dizer que não era um cadáver. O sol parecia
contemplá-lo. Se aquele homem nu não estava morto, devia estar tão perto disso
que bastaria o menor vento frio para acaba-lo. Começou a soprar o vento, tépido
e vivificante; era o hálito vernal de maio. Entretanto, o sol subia no profundo
céu azul; o seu raio menos horizontal ia-se purpureando. A luz fez-se calor.
Cingiu Gulliatt. Gilliatt não se mexia. Se respirava, era uma respiração quase
extinta que mal poderia embaciar um espelho, o sol continuava a sua ascensão
cada vez menos obliqua sobre Gilliatt. O vento, que era tépido ao princípio,
tornou-se cálido. Aquele corpo rígido nu continuava sem movimento; entretanto a
pele parecia menos lívida. O sol, acercando-se do zênite, caia a primo sobre a
plataforma do Douvre. Vertia do alto do céu uma prodigalidade de luz;
juntava=se a ela a vasta reverberação do mar tranquilo, o rochedo começava a
ficar tépido e aquecia o homem. O perito de Gilliattt levantou-se com um
suspiro. Vivia. O sol continuava as suas carícias, quase ardentes. O vento, que
já era o vento do meio-dia, e o vento de verão, aproximava-se de Gilliatt como
uma boca, soprando molemente. Gilliatt fez um movimento. Era inexprimível a
tranquilidade do mar, tinha um murmúrio de ama ao pé do filho. As vagas
pareciam embalar o escolho. As aves marinhas que conheciam Gilliatt voavam
inquietas por sobre ele. Já não era o medo selvagem do princípio. Era um quê de
terno e fraternal. Soltavam pequenos guinchos. Pareciam chama-lo; uma gaivota
que o amava, sem dúvida, teve a familiaridade de descer para junto dele.
Começou a falar-lhe. Ele não parecia ouvi-la. Ela saltou-lhe sobre o ombro e
começou a brincar docemente com o bico nos seus lábios. Gilliatt abriu os
olhos. Os pássaros, alegres e ariscos, voaram. Gilliantt levantou-se e
espreguiçou-se como o leão acordando, correu a bordo da plataforma e olhou para
o intervalo do Douvre. A pança estava intata. O batoque resistira. Provavelmente
o mar maltratara-o pouco. Tudo estava salvo. Gilliatt já não estava cansado.
Refizeram-se-lhe as forças. O desmaio foi um sono. Esvaziou a pança, pôs a
avaria fora da flutuação, vestiu-se, bebeu, comeu, tornou-se alegre. O buraco,
examinado de dia, demandava mais trabalho do que Gilliatt pensou. Era uma
grande avaria. Gilliatt gastou o dia inteiro em repará-lo. No dia seguinte, de
madrugada, depois de desfazer a tapagem e abrir a saída do estreito, vestido
com os andrajos que tinham vencido a avaria, tendo consigo o cinto de Clubin e
os 75 000 francos, em pé na pança consertada, ao lado da máquina salva, com um
vento de feição e mar admirável. Gilliatt saiu do escolho Douvres. Aproou sobre
Guernesey. No momento em que se afastava do escolho, alguém que lá estivesse
tê-lo-ia ouvido entoar a meia voz a canção Bonny Dundee. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CAPSI – Realizou-se nesta
última quarta-feira, 22 de fevereiro, mais uma assembleia do Centro Acadêmico Martin Baró, do curso
de Psicologia do Cesmac, ocasião em que foram debatidos diversos assuntos,
entre eles o do desenvolvimento do Movimento dos Estudantes de Psicologia de
Alagoas, congregando alunos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cesmac e
Unit, com evento previsto para realização no próximo dia 10 de março, na Ufal.
Também foram abordados assuntos sobre a realização de palestras, ficando marcada
a primeira delas para o dia 05 de março, como Me. Luiz Geraldo Rodrigues de
Gusmão abordará sobre o tema da Psicologia Organizacional e a hegemonia dos
testes psicológicos. Também foram debatidos os assuntos sobre o CineClube e a
criação de Grupos de Pesquisa articulados com professores e as disciplinas do
curso. Veja mais aqui.
DIA
DO COMEDIANTE:-
Tive a oportunidade na vida de assistir a um espetáculo ao vivo, de ouvir um
disco e de ver também na televisão (este último não demonstrando o seu grandioso
talento como ao vivo e no disco), apresentações do ator e humorista brasileiro
Agildo da Gama Barata Ribeiro Filho, mais conhecido como Agildo Barata que hoje se encontra no auge dos seus 83 anos de
idade. Confesso para vocês que foi uma experiência inenarrável e de extremo
prazer, não conseguindo nem mesmo me controlar diante das piadas e sacadas no
palco, me levando mesmo a extremos momentos de descontrole com as
interpretações e imitações do Agildo de Nelson Rodrigues, de Dercy Gonçalves,
de Clodovil e de tantos personagens que ganharam homenagem na expressão desse
grande artista. E como hoje é o Dia do Comediante, nada mais justo que
homenagear aqui um dos maiores atores e humoristas do Brasil. Veja mais aqui.
TEOREMA – O destaque
cinematográfico de hoje é o aclamado drama da escola do Cinema Italiano, Teorema (1968), do cineasta e escritor
italiano Pier Paulo Pasolini, com
música maravilhosa de Ennio Morricone e destaque pro trabalho da atriz Silvana Mangano. Trata-se de um filme
que retrata as instituições italianas contando a história de um personagem e
sua influência em uma família burguesa. O filme critica a futilidade, o
comodismo e a alienação da burguesia. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
HOMENAGEM
ESPECIAL
Como todo dia é dia da mulher, a
homenagem de hoje vai pra cantora Maria
Creuza que ficou mais conhecida como a mulher de dois homens, por suas
participações em shows como de Toquinho & Vinicius e, também, da dupla
Antonio Carlos & Jocafi.
Veja mais sobre:
De heróis, mitos & o escambau, Alphonse Eugène
Felix Lecadre & Aldemir Martins aqui.
E mais:
Literatura Infantil, Tiquê, Leviatã &
Thomas Hobbes, Constantin Stanislavski, Hermann Hesse, Lee Ritenour, Krzysztof
Kieslowski, Jean-Honoré Fragonard, Juliette Binoche, Bette Davis & Alexey
Tarasovich Markov aqui.
Simone Weil, Simone de Beauvoir, Emma Goldman, Clara Lemlich, Alexandra Kollontai,
Clara Zetkin & Tereza Costa Rego aqui.
Pablo Picasso, Fernanda Seno, Karl
Jaspers, Händel, Tom Wesselmann, Eva Green, Demi Moore & Soninha Porto aqui.
Cecília Meireles, Jean-Luc Godard,
Psicologia & Consciência & Pedrinho Guareschi, Pablo Milanés, Bertha
Lutz & Sufrágio Feminino, Juliette Binoche e Myriem Roussel, Johan
Christian Dahl, Costinha & Programa Tataritaritatá aqui.
Murilo Mendes, Renoir, George Harrison,
António Damásio, Benedetto Croce, Bigas Luna, Mathilda May & Joyce
Cavalccante aqui.
Caríssimos ouvintes, a voz ao coração, Bernhard Hoetger, Aleksandr Rodchenko
& Fremont Solstice Parade aqui.
Carpe diem, mutatis mutandis!, Endecha, Nikolai Roerich, Antonella Fabiani & Leon Zernitsky aqui.
Cada qual seus pecados ocultos, Nênia de Abril, Lisbeth Hummel, Sérgio Campos & Antes
que os nossos filhos denunciem o luto secular de seus abris aqui.
Sinfonias de bar, Vincent van Gogh, Ingmar Bergman, Annie Veitch, Kerri Blackman & Apesar dos pesares, a vida
prossegue... aqui.
E se o amor fosse a vida na tarde
ensolarada do quintal,
Varvara Stepanova &
Luciah Lopez aqui.
Errâncias de quem ama, promessas da
paixão,
Richard Strauss
& Leonie Rysanek, A lenda Bororo de origem das estrelas, Sonia Ebling de
Kermoal & Dorothy Lafriner Bucket aqui.
A ponte entre quem ama e a plenitude do
amor, Murilo Rubião, Anneke van Giersbergen,
Wäinö Aaltonen, Eduardo Kobra, Ramón Casas, Manuel Colombo & Fátima Jambo aqui.
Legalidade sob suspeita, Anna Moffo, Viola Spolin, Reisha Perlmutter, Floriano de
Araújo Teixeira & Moína Lima aqui.
Os seus versos, danças & cantos do
cacrequin,
Jasmine Guy, Renata
Domagalska, Lívia Perez, Luciah Lopez & Vera Lúcia Regina aqui.