sábado, fevereiro 28, 2015

DENISE LEVERTOV, PICHON RIVIÈRE, ADELAIDE PROCTER & LISZTOMANIA

 


A SOLIDÃO DE DENISE... - Sua família emigrou pro Reino Unido e a infância de Ilford era reflexo da prisão domiciliar dos pais: estrangeiros inimigos que traziam para Essex os problemas étnicos. Era a primeira guerra e as suas células se desenvolviam à sombra da sabedoria paterna. Educada em casa já guardava o desejo desde os 5 anos de idade: ser escritora. Estudou balé, piano, francês e arte. Nenhuma identidade a fazia sentir excluída: não era judia, nem alemã, nem galesa nem inglesa – era especial e já sabia: Antes dos dez anos que eu era uma pessoa-artista e tinha um destino... O pai protestava contra Mussolini pela invasão da Abssínia; a mãe fazendo campanha para a Liga das Nações; a irmã no palanque contra a falta de apoio à Espanha; todos empenhados em favor dos refugiados alemães e austríacos, essa a sua condução pela política humanitária desde menina, quando vendia o Dayly Worker de casa em casa nas ruas de Ilford Lane. Aos 12 anos escreveu seu primeiro poema e depois enviou alguns deles para Eliot e recebeu uma carta incentivadora. Foi então servir como enfermeira civil em Londres durante o Blitz. Aos 17 anos publicou seu primeiro poema e, logo depois, o livro: The Double Image. Casou-se e foi pros Estados Unidos onde naturalizou-se depois para publicar Here and Now – a influência de Black Moyntain & William Carlos Williams. Vieram então Overland to the Islands  e With Eyes at the Back of Our Heads. Tornou-se editora do The Nation, abrindo espaço para feministas e ativistas de esquerda, publicando The Jacob's Ladder e O Taste and See: New Poems. É a hora da Guerra do Vietnã, a morte de sua irmã e The Sorrow Dance, com o engajamento à War Resisters League e o Writers and Editors War Tax Protest. Recusou-se a pagar impostos em protesto contra a guerra, inspirada na desobediência de Thoreau. Passou a integrar o coletivo anti-guerra RESIST, conclamando os indivíduos a se tornarem defensores da mudança, ao vincular a experiência pessoal à justiça e reforma social. E vieram Relearning the Alphabet, To Stay Alive – poemas com uma coleção de cartas anti-Guerra do Vietnã, noticiários, entradas de diário e conversas. Depois Footprints, The Freeing of the Dust, Life in the Forest e a Collected Earlier Poems 1940–1960. Sozinha dedicou-se à educação morando em Massachussets, Boston, Palo Alto, Stanford e a descoberta dos cadernos da mãe e pai para resolver conflitos pessoais e religiosos. Foi aí que apareceram Pig Dreams: Scenes from the Life of Sylvia, Candles in Babylon, Oblique Prayers: New Poems, Breathing the Water e A Door in the Hive. Mudou-se para Seattle para admirar apaixonadamente o Monte Rainier. Aposentou-se para realizar leituras dos seus poemas pelos USA e Grã-Bretanha, protestando contra os ataques ao Iraque. Surgem Evening Train e A Door in the Hive / Evening Train. Um diagnóstico com linfoma e o sofrimento com pneumonia e laringite aguda. Mesmo assim prosseguia com palestras e conferências, ressaltando a beleza da linguagem e a feiura dos horrores da guerra: a violência é uma válvula de escape... Por fim publica Sands of the Well e, logo em seguida, a morte leva-a para sempre. Veja mais abaixo & mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Um poeta que articule os medos e horrores do nosso tempo é necessário para que os leitores entendam o que está acontecendo, realmente entendam, não apenas saibam, mas sintam: e deve ser acompanhado por uma disposição por parte daqueles que escrevem de tomar medidas adicionais para acabar com as grandes misérias que registram... Todos os dias, todos os dias, ouço o suficiente para preencher um ano de noites com dúvidas... Nada do que fazemos tem a rapidez, a segurança, a inteligência profunda que viver em paz teria... Mas nós apenas começamos a amar a terra. Nós apenas começamos a imaginar a plenitude da vida. Como poderíamos nos cansar da esperança? - há tanta coisa em broto... Pensamento da poeta britânica Denise Levertov (1923–1997), autora do famoso poema Como eles eram?: O povo do Vietnã \ usava lanternas de pedra?\ Eles realizavam cerimônias\ para reverenciar a abertura dos brotos?\ Eles eram inclinados ao riso silencioso?\ Eles usavam osso e marfim,\ jade e prata, como ornamento?\ Eles tinham um poema épico?\ Eles distinguiam entre fala e canto?\ Senhor, seus corações leves se transformaram em pedra.\ Não se lembra se em jardins\ jardins de pedra iluminavam caminhos agradáveis.\ Talvez eles se reunissem uma vez para se deliciar com a flor,\ mas depois que seus filhos foram mortos\ não havia mais brotos.\ Senhor, o riso é amargo para a boca queimada.\ Um sonho atrás, talvez. O ornamento é para alegria.\ Todos os ossos foram carbonizados.\ não é lembrado. Lembre-se,\ a maioria era camponesa; sua vida\ era em arroz e bambu.\ Quando nuvens pacíficas se refletiam nos arrozais\ e os búfalos de água pisavam com segurança ao longo dos terraços,\ talvez os pais contassem histórias antigas aos filhos.\ Quando as bombas quebravam aqueles espelhos,\ havia tempo apenas para gritar.\ Ainda há um eco\ de sua fala que era como uma canção.\ Foi relatado que seu canto lembrava\ o voo de mariposas ao luar.\ Quem pode dizer? Está silencioso agora. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A alegria é como um dia agitado; mas a paz divina é como uma noite tranquila... Veja como o tempo faz toda a tristeza desaparecer. Os sonhos se tornam sagrados quando colocados em ação; o trabalho se torna belo através do sonho estrelado, mas onde cada um flui sem se misturar, ambos são infrutíferos e em vão... Pensamento da poeta britânica Adelaide Anne Procter (1825-1864). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM MAIS FALOU: Quem se entrega à tristeza renuncia à plenitude da vida. Para sobreviver, planeje a esperança... Em tempos de incerteza e desesperança, é essencial desenvolver projetos coletivos a partir dos quais planear a esperança juntamente com outros... Pensamento do psiquiatra e psicanalista suiço Enrique Pichon Rivière (1907-1977). Veja mais aqui.

 

O PEDANTE NOS ENSAIOS – O jurista, filósofo, escritor e humanista francês Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) inventou os ensaios pessoais ao conceber suas obras sob a denominação Ensaios (Abril Cultural, 1987) analisando as opiniões, instituições e costumes, bem como sobre os dogmas da sua época e observando a generalidade da humanidade como objeto de estudo. Dele destaco Pedantismo, no capítulo XXXV, do Livro I dos seus Ensaios: [...] Dionísio caçoava dos astrólogos que cuidavam de saber das desgraças de Ulisses mas ignoravam as próprias; dos músicos que afinam suas flautas mas não os seus costumes; dos oradores que estudam para discutir a justiça mas não a praticam. Se a sua alma não se aperfeiçoa, se seus juízos não se tornam mais lúcidos, melhor fora que o estudante gastasse o tempo a jogar péla, pois ao menos o corpo ele o teria mais ágil. Observai-o de volta após quinze ou dezesseis anos: nada se fará dele; o que trouxe a mais é o grego e o latim, que o fizeram mais tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o espírito cheio e voltou balofo; incharam-no e continuou vazio. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

Imagem: Erótico, do desenhista, ilustrador, quadrinista, caricaturista, animador e editor do blog RabisqueiraLuhan Dias.

Curtindo a comédia Lisztomania (1975), roteiro e direção de Ken Russel com músicas de Franz Liszt, Richard Wagner, Rick Wakeman & Roger Daltrey.



O MORTO E ALUA – Uma lenda recolha do gênese africano, recolhida duma seleção de Fernando Correia da Silva, (Maravilhas do conto africano - Cultrix, 1962), narra a relação de um morto com a lua: Um ancião vê um morto banhado pela claridade da lua. Reúne grande número de animais e diz-lhes: - Qual de vós bravos, quer encarregar-se de passar o morto ou a lua para a outra margem do rio? Apresentam-se duas tartarugas: a primeira que tem as patas compridas carrega a lua e chega sã e salva com ela à margem oposta; a outra que tem as patas curtas, carrega o morto e se afoga. Por isso a lua morte reaparece todos os dias e o homem que morre não volta nunca. Veja mais aqui.

MEU POVO, MEU POEMA – Uma das maiores personalidades vivas da poesia brasileiro é, sem dúvida, o premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar que foi um dos fundadores do Neoconcretismo e ocupante da cadeira 37 na Academia Brasileira de Letras. No seu livro Dentro da noite veloz (José Olympio, 1975), destaco Meu povo, meu poema: Meu povo e meu poema crescem juntos / como cresce no fruto / a árvore nova / No povo meu poema vai nascendo / como no canavial / nasce verde o açúcar / No povo meu poema está maduro / como o sol / na garganta do futuro / Meu povo em meu poema / se reflete / como a espiga se funde em terra fértil / Ao povo seu poema aqui devolvo / menos como quem canta / do que planta. Veja mais aqui, aquiaqui.

A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE – A comédia A importância de ser prudente (1895 - Aguilar, 1975), é a obra prima do escritor e dramaturgo britânico de origem irlandesa, Oscar Wilde (1854-1900), apresentando uma sátira da sociedade vitoriana nos seus estertores. Foi adaptada diversas vezes para o cinema, sendo a mais recente transformada em uma comédia romântica de 2002, dirigida por Oliver Parker, com título em português de Armadilhas do Coração. Do texto destaco os seguintes fragmentos em diálogos: [...] L. BRA. É satisfatório. Entre os deveres que esperam a gente no transcurso da vida e os deres que exigem da gente depois da morre, a terra deixou de ser, em todo caso, um benefício ou um prazer. Ela nos dá posição e nos impede de mantê-la. É tudo quanto se pode dizer a respeito de terras. JOÃO. Tenho uma casa de campo com algumas terras a ela anexas, é claro, cerca de mil e quinhentos acres, creio eu. Mas minha verdadeira renda não porém disto. De fato, pelo que tenho podido comprovar, os caçadores furtivos são as únicas pessoas que tiram alguma coisa dela. [...] ALGERNON. É um trabalho terrivelmente duro não fazer nada. Mas não me importo de trabalhar duramente, contanto que não haja objetivo definido. Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.

BATE PAPO VESPERTINO – Desde que nos conhecemos no Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva que todas as tardes privo da oportunidade de estreitar tanto amizade como conhecimentos com o graduando de Psicologia e pesquisador, Maurício da Silva Gomes. Todas as tarde conversamos e, intermitentemente, contamos com a presença dos amigos João do curso de Direito e de amigos do curso de Psicologia, a exemplo do Darnley Tenório que também participa do nosso grupo de pesquisa, entre outros. Ontem o Maurício me chegou com duas laudas digitadas para ler.  Continha o título Um olhar sobre o homem. Li, gostei e destaco um trecho aqui: Outrora pensava outro sábio. — Viver é uma obra de arte, eu sou uma obra de arte, nós somos obras de arte! E não se equivoque, pois esta arte não possui criador além da potência, da sua vontade de potência, da nossa vontade de potência. E quando dizeis: encontrei a dor, porém, viver na dor é mais vantajoso do que viver no nada. Assim eu te pego niilista, pois mundo é perfeito! Mas saiba que ele pode te maltratar. E o que o homem deve fazer? O homem, como tal e qual, deve se superar. Não mais querer o não querer, querer apenas se superar. Veja o texto completo aqui e mais aqui.

PERDAS E DANOS – Um inesquecível filme, principalmente pela sempre maravilhosíssima atuação da atriz francesa Juliette Binoche, é o drama britânico-francês Perdas & Danos (Damage, 1992), dirigido pelo cineasta Louis Malle (1932-1995), com roteiro de David Hare e baseado no romance de Josephine Hart.  A dupla Binoche e Jeremy Irons vive um envolvimento entre nora e sogro, bem ao gosto do diretor de sempre trazer temas polêmicos e críticos dos valores burgueses, expressando as angustias sociais humanas com temática como suicídio, liberação feminina, pedofilia, incesto, entre outros. Veja mais aqui, aquiaquiaqui.

 

HOMENAGEM ESPECIAL
VIRGINIA LANE
Como todo dia é dia da mulher, hoje é dia de homenagear a atriz, cantora e vedete brasileira Virginia Lane (1920-2014). Veja mais aqui.


Veja mais sobre:
A vida é uma canção de amor & Milo Manara aqui.

E mais:
Marquês de Sade, Karen Horney, Chico Buarque, Maria Clara Machado, Günter Grass, Larry Vincent Garrison, Angela Winkler, Luiz Edmundo Alves, Monica & Monique Justino aqui.
A saga do Padre Bidião aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a língua dá no dente do alcaguete, sai de riba que lá vem o enterro voltando aqui.
Pode até ser, mas se não for, nunca será, Lina Cavalieri, Chris Maher & Eloir Amaro Júnior aqui.
A desmedida correria para perder o bom da vida, Heitor Villa Lobos, Francis Bacon & Fúlvio Pennnacchi aqui.
O maravilhoso mistério da vida, Ana Torroja, Rebecca West, Alan Bridges, Marie-Louise Garnavault & Julie Christie aqui.
Quem quer diferente tem que fazer diferente, Cândido Portinari, Xiomara Fortuna, Marcus Garvey & Emmanuel Villanis aqui.
O prazer de amar e de ser amado, Joyce, Bigas Luna, Aitana Sánchez-Gijón & Luciah Lopez aqui.
Todo dia um novo ano, Egberto Gismonti, John Poppleton, Sy Miller & Jill Jackson aqui.
Betinho, Augusto de Campos, SpokFrevo Orquestra, Alan Parker, Graça Carpes, Rinaldo Lima, Bader Burihan Sawaya & Tempo de Morrer aqui.
Galileu Galilei & Bertolt Brecht, Nise da Silveira, Egberto Gismonti, Michelangelo Antonioni, Irena Sendler, Glória Pires, Anna Paquin & Charles André van Loo aqui.
Imre Madách & A tragédia humana, Pierre Rode, Robert Joseph Flaherty, Franz West, Vera Ellen, Anne Chevalie & Sarah Clarke aqui.
Adolfo Bécquer, Paulo Moura, Pedro Onofre, Antônio Miranda & Gárgula – Revista de Literatura, Marcos Rey & Marta Moyano, Mihaly von Zick, Associação de Blogs Literários do Nordeste (ABLNE), Virna Teixeira & Programa Tataritaritatá aqui.
Marlos Nobre, André Breton, Nikos Kazantzákis, Toni Morrison, Milos Forman & Natalie Portman, Adolf Ulrik Wertmüller & Tanussi Cardoso aqui.
Nicolau Copérnico, Carson McCullers, Alberto Dines & Observatório da Imprensa, Rogério Tutti, Capinam, István Szabó, Krystyna Janda & Max Klinger aqui.
Lasciva da Ginofagia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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sexta-feira, fevereiro 27, 2015

NIKI DE SAINT PHALLE, MARTÍN-BARÓ, LI TAI PO, RICOEUR & SAURA

 


A SOLIDÃO DE NACHO, EL ROJO… -  O menino de Valladolid cresceu adolescendo no noviciado em Orduña aos 17 anos. Tornou-se viajante e foi pra Villagarcía e, de lá, prAmérica Central. Estudava muito em Quito, fez filosofia em Bogotá, bacharelou-se e seguiu prum Externato de El Salvador. Depois foi professor na Centroamericana, viajou pra Frankfurt, bacharelou-se de novo na Bélgica, retornou à San Salvador para lecionar psicologia na Academia de Santa Ana. Contribuiu para a revista dos Estudios Centroamericanos, fez mestrado em Chicago, onde, depois, também fez seu doutoramento em Psicologia Social. Acompanhava de perto os conflitos de El Salvador, com a fundação do Iudop, escrevendo para a revista costarriquenha Polómica. Foi professor na Venezuela, em Porto Rico, em Bogotá, em Madrid e publicou seus livros e artigos científicos e culturais, contemplando as sociedades alternativas da América Latina. Mas era tempo de opressão, repressão e da anormalidade normal das injustiças sociais com suas anomalias na violência estrutural. Vivia no meio da guerra civil financiada pelos USA, que mantinham o governo militar repressor e os esquadrões da morte. Era 16 de novembro daquele ano de 1989: ele foi executado no massacre da UCA, a chacina promovida pelo exército salvadorenho. Um tiro na nuca e o mártir da teologia da libertação sucumbiu juntamente com outros 5 professores jesuítas, mais a caseira e sua filha de 16 anos. Os soldados do Atlacatl destruíram livros, documentos e computadores e deixaram no local um cartaz político na tentativa de imputar o crime à FMLN contra os “traidores da causa”. Não foi e a voz nunca se calou. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - É claro que ninguém vai devolver ao dissidente preso a sua juventude; à jovem que foi violada a sua inocência; à pessoa que foi torturada a sua integridade. desaparecidos para as suas famílias. O que pode e deve ser publicamente restituído são os nomes das vítimas e a sua dignidade, através do reconhecimento formal da injustiça do ocorrido e, sempre que possível, da reparação material... Aqueles que clamam por isso. a reparação social não pede vingança nem acrescenta cegamente dificuldades a um processo histórico que já não é nada fácil. Pelo contrário, promove a viabilidade pessoal e social de uma nova sociedade, verdadeiramente democrática... Pensamento do filósofo e psicólogo social espanhol Ignacio Martín-Baró (1942-1989), uma das vítimas da chacina de El Salvador, em 1989, que no seu estudo La violencia en centroamerica: una vision psicossocial (Revista de Psicologia de ElSalvador, 1990), expressa que: [...] A verdade do povo latino-americano não está no seu presente de opressão, mas na sua manhã de liberdade […]. Se toda forma de violência exige uma justificação, é porque não a tem em si. O que leva à consequência de que a violência não pode ser considerada em abstrato como boa ou má, o que contradiz uma das suposições implícitas da maioria das abordagens psicológicas; a bondade ou maldade da formalidade violenta advém do ato que a substantiva, isto é, daquilo que um ato tão violento socialmente significa e historicamente produz. E é aqui que o caráter ideológico da violência aparece claramente [...]. Já no seu livro Acción y ideologia: Psicología Social desde Centroamérica (UCA, 1985), ele expressa que: [...] Uma sociologia do conhecimento psicológico sobre violência e agressão mostra que, com honrosas exceções, geralmente a “matéria violenta” que é tomada como objeto de análise é o ato contrário o prejudicial ao regime estabelecido, a agressão física individual, a violência delinquencial ou a violência das massas, assumindo em todos esses casos que seu caráter negativo deriva do dano causado à convivência sob a ordem social imperante. [...] A exploração dos trabalhadores, sobretudo o campesino e indígena, a contínua repressão a seus esforços organizativos, o bloqueio a satisfação de suas necessidades básicas e às exigências para o desenvolvimento humano, e tudo isso como parte de um funcionamento “normal” das estruturas sociais, constitui uma situação em que a violência contra as pessoas está incorporada à natureza da ordem social, bem chamado de “desordem organizada” ou “desordem estabelecida”. [...] A violência aberta como uma possibilidade ao ser humano assumida e desenvolvida através do processo de socialização encontra sua formalização última em sua justificação. [...] todo ato de violência requer uma justificação social e, quando carece dela [...] a gera por si mesma. [...]. Já no seu estudo O papel do psicólogo (Estudos de Psicologia, 1996), ele expressa que: [...] A consciência não é simplesmente o âmbito privado do saber e sentir subjetivo dos indivíduos, mas, sobretudo, aquele âmbito onde cada pessoa encontra o impacto refletido de seu ser e de seu fazer na sociedade, onde assume e elabora um saber sobre si mesmo e sobre a realidade que lhe permite ser alguém, ter uma identidade pessoal e social. A consciência é o saber, ou o não saber sobre si mesmo, sobre o próprio mundo e sobre os demais [...] Ao assumir a conscientização como horizonte do quefazer psicológico, reconhece-se a necessária centralização da psicologia no âmbito do pessoal, mas não como terreno oposto ou alheio ao social, mas como seu correlato dialético e, portanto, incompreensível sem a sua referência constitutiva. Não há pessoa sem família, aprendizagem sem cultura, loucura sem ordem social; portanto, não pode tampouco haver um eu sem um nós, um saber sem um sistema simbólico, uma desordem que não se remeta a normas morais e a uma normalidade social [...] Uma simples consciência sobre a realidade não supõe, por si só, a mudança dessa realidade, mas dificilmente se avançará com as mudanças necessárias enquanto um véu de justificativas, racionalizações e mitos encobrir os determinismos últimos da situação dos povos centro-americanos. A conscientização não só possibilita, mas facilita o desencadeamento de mudanças, o rompimento com os esquemas fatalistas que sustentam ideologicamente a alienação das maiorias populares [...] os problemas específicos dos nossos povos sem as proteções dos marcos teóricos apriorísticos, que filtram, de forma enviesada, a realidade e limitam, não isentos de interesses, nossa capacidade de compreensão [...]. No seu artigo acadêmico Para uma psicología da Libertação (Alínea, 2011), ele chama atenção para a necessidade de: [...] fazer algo que contribua significativamente para dar resposta aos problemas cruciais de nossos povos"? [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.


 


ALGUÉM FALOU: A vida... nunca é como a gente imagina. Ela te surpreende, te espanta, e te faz rir ou chorar quando você não espera. Eu amo o redondo, as curvas, a ondulação, o mundo é redondo, o mundo é um seio. A música é a almofada mais macia do mundo. A pintura acalmou o caos que abalava minha alma. Pensamento da pintora, escultora e cineasta francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002), que no seu livro Mon Secret (Différence, 1994), ela expressa que: [...] Meu pai, secretamente, teve que sufocar em sua vida, mas faltou-lhe a coragem de uma verdadeira revolta. A garotinha que eu era será a única vítima de sua lamentável rebelião. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

LAMENTO DO GUARDIÃO DA FRONTEIRA – O poeta predestinado ou imortal chinês Li Tai Po (701-762) possui uma obra composta de mais de mil poemas reunidos em vinte e quatro livros e divididos em doze cadernos, nos quais manifesta sua imaginação extravagante ao comunicar sua personalidade e espírito livre que exorta a vida faustosa, suas interações com a natureza, o amor pelo vinho, a amizade e o olhar aguçado sobre a vida, tendo sido condenado à morte por mais de uma vez, suicidando-se embriago ao se atirar no rio Yang-tsé Kiang. Dele destaco o poema Lamento do Guardião da Fronteira, inserido no ABC da Literatura, de Ezra Pound, traduzido por Augusto de Campos: Pelo Portão do Norte sopra o vento carregado de areia, / solitário desde a origem do tempo até agora! / Árvores caem, no outro a relva amarelece. / Galgo torres e torres / para vigiar a terra bárbara: / desolado castelo, o céu, o amplo deserto. / Nenhum muro de pé sobre esta aldeia. / Ossos alvos com milhares de geadas, / altas pilhas, cobertas de arvores e grama; / quem fez com que isto acontecesse? / Quem trouxe a cólera imperial flamante? / Quem trouxe o exército com tambores e timbales? / Bárbaros reis. / De uma primavera suave a um outono de sangue e sangue, / trezentos e sessenta mil, / e tristeza, tristeza como chuva. / Tristeza para ir, tristeza no regresso. / Desolados, desolados campos, / e nenhuma criança de campanha sobre eles, / não mais os homens para a ofensa e a defesa. / Ah! Como sabereis de toda esta tristeza no Portão do Norte, / com o nome de Rihaku esquecido / e nós, guardiões, pasto de tigres? Veja mais aqui, aqui e aqui.

  Imagem: Infanta nude (2011), do premiadíssimo fotógrafo estadunidense Ralph Gibson.

Curtindo o dvd Alma Lírica Brasileira ao vivo (2011), da cantora Mônica Salmaso.

INTERPRETAÇÃO E IDEOLOGIAS – A obra Interpretação e ideologias (F. Alves, 1990), do filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) aborda temas como a tarefa da hermenêutica numa trajetória que vai da epistemologia à ontologia, a função hermenêutica do distanciamento, a efetuação da linguagem como discurso, o discurso como obra, a relação entre a fala e a escrita, o mundo do texto, compreender-se diante da obra, a ciência e a ideologias, os critérios do fenômeno ideologia, as ciências sociais e ideologia, a dialética da ciência e da ideologia, a alternativa de uma hermenêutica crítica, os neoconflitos das sociedades industriais avançadas, ausência de projeto coletivo, o mito do simples e esgotamento da democracia representativa, a ideologia da conciliação e do conflito a todo preço, a nova estratégia do conflito, entre outros assuntos. Na obra destaco o seguinte trecho: A marginalização constitui, sem dúvida, o maior perigo, que correm atualmente os grupos de contestação. Essa marginalização é a contrapartida do reforço de todos os poderes estabelecidos, num sentido cada vez mais repressivo e policialesco. A polarização —que se pretende nos impor a todo preço — está em vias de produzir no mundo todo seus frutos amargos: o ciclo contestação repressão está esboçado, mas funciona cada vez mais em proveito do poder e em detrimento das liberdades públicas. Quanto à ação, ou antes, à pseudo-ação, já se encontra contaminada pela busca do espetacular, pela teatralização. Ê interessante notar como a ação, ao tornar-se ineficaz, tende a converter-se em espetáculo. Certamente' compreendo a intenção: quando a palavra ordinária perdeu sua eficácia, pode parecer hábil aplicar uma terapêutica de choque nas massas cloroformadas. Mas o efeito é tão desastroso sobre aqueles que aplicam o remédio quanto sobre os que o recebem. É o que chamo de a teatralização. Por teatralização, entendo a substituição da política real por uma espécie de política-ficção, incapaz de separar a fantasia do real, e reduzida a uma encenação. Bem que eu gostaria que a "guerilla-theater", tal como a vi funcionar nas universidades americanas, fosse um meio novo e eficaz para abrir as massas à política, mas parece que ela indica apenas que a própria ação se tornou teatral. Sem dúvida, a ação simbólica tem sua força, como a tinham os gestos simbólicos dos antigos profetas de Israel. Mas o que há de mais perigoso que uma ação reduzida a uma fantasia e sub-repticiamente subtraída às condições reais da ação eficaz? A ação possui suas leis, sua racionalidade própria. Um dos sinais da contracultura consiste em negar essas leis e essa racionalidade. Mas há um preço a pagar: a impotência de influir sobre a sociedade. O mais grave de tudo é o progresso da não-comunicação na sociedade. A patologia do conflito em nossa sociedade chega ao cúmulo quando o adversário nem mesmo é reconhecido. Já se falou da sociedade em migalhas, em todos os planos: profissional, cultural, religioso. O aspecto mais grave da sociedade em migalhas consiste na ruptura do vínculo social no nível do casamento, dos estilos de vida, e no surgimento de uma sociedade paralela ou, como dizem os americanos, da altemative society. Mas que alternativa, senão a dissidência que deixa tudo no mesmo lugar, que inquieta e ameaça, mas sem lançar as sementes de mudança? Veja mais aqui, aquiaqui.

FLÁVIA, CABEÇA, TRONCO E MEMBROS – O texto teatral – ou como assinala o próprio autor: tragédia ou comédia em dois atos -, Flávia, cabeça, tronco e membros (L&PM, 1977), do saudoso escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista, humorista e jornalista Milton Viola Fernandes, ou simplesmente Millôr Fernandes, é um dos primeiros projetos de uma mulher liberada em 1963, que usa seu fascínio e liberdade ao absurdo das caricaturas ao abordar sobre poder, força e a permanente capacidade de mistificação inerente ao ser humano. Destaco a cena do segundo ato, em que o Juiz Paulo Moral pega um papel na mesa e fala: Mao Tsé me mandou um telegrama, aplaudindo minha sentença. Esse me compreende, sabe o que estou dizendo. Que nosso irmão querido é uma ameaça no espaço. Constante. Nos roça mais de que devia. Nos aperta mais do que podia. É isso. Já nos aperta. Já somos gente demais. Assim, se não temo coragem de fazer uma eliminação sumária é preciso ao menos estimular os que têm e eliminam. (Bem coloquial). Inda ontem mesmo estava eu as seis horas da tarde na Avenida Copacabana e o fantasma da superpopulação esbarrou no meu braço. Quase me estrangulou. E além de tanta gente chafurdando nas ruas, milhões no aconchego de alcovas, camas de randevus e até leitos burgueses preparando mais gente. Mais gente e mais, mais gente, muito mais, muito mais gente. Até minha velha senhora espera um neto! Alguém pode evitar que se procrie? (Quase gritando). Eu absolvo todos! São todos livres para o novo exemplo. Vocês sabem, vocês sentem, se já não sentiam, se já não sabiam: o homem abdicou da alma. O avião da asa. Vem aí o omelete sem ovo! (Assina, rápido, um papel com uma grande pena de ave, colorida. Em tom geral). Ide, missa est. [...] (Em tom terrível) Posso. Pelas chagas de um Cristo fracassado, posso. Posso pelos princípios da força e da fraqueza. Posso por uma visão essencial da Queda. Pela felicidade que poucos merecem e menos compreendem também posso. Posso pois voltei ao Sinai e trouxe tabuas de matéria plástica. Novas revelações, novas palavras, novos vícios, erros novos. Quem será condenado se de repente explodir um astronauta e podre e em fragmentos ficar em torno de nos girando o seu fedor por toda Eternidade? Quem será condenado? Belle époque, lei seca, padrão-ouro, melindrosas, não morrestes em vão! O fogo é fresco, a água seca; o infinito uma limitação. Pela última dor do ser humano, posso. Posso por Hiroshima, amor de mis amores. Posso. Eu, Paulo Belmonte Joaquim Moral, juiz, posso. Pelo direito infernal, pela Santa Moral, por algo que me dói aqui no peito, pelos dez mandamentos idiotas, pela jura de Hipócrates hipócrita, por todos os códigos mais feitos, pelo feroz direito da impotência, posso, Meritíssimo, posso. Posso até fazer nascer um dia novo! (Sem transição, apenas mudando de tom). E além disso estou armado. (Puxa violentamente uma Lugger da toga. Arma-a com ruído violento. Avança lenta e firmemente para a frente. O promotor vai recuando rapidamente, some. Moral continua avançando, com o olhar firme no público. Quando atinge a linha do proscênio o pano cai). Fim. Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.


LARA, DUPLA IDENTIDADE – Neste sábado, dia 28 de fevereiro, acontecerá o lançamento de mais um romance da série "Lara - Dupla Identidade", do poeta e escritor tricordiano Ronaldo Urgel Nogueira. Serviço: Dia 28/02, das 17 às 21 horas, na Savel no Santa Tereza, em Três Corações, sul de Minas (Info: Meimei Corrêa). Veja mais aqui.


SALOMÉ DE AÍDA GOMEZ –O encantador filme Salomé (2002), do cineasta e roteirista espanhol Carlos Saura, começa como se fosse um documentário sobre os bastidores de preparação para o espetáculo Salomé, com o diretor passando as instruções para os bailarinos. Na cena os iluminadores e cenografistas estão trabalhando simultaneamente. Entre os ensaios, os bailarinos apresentam a encenação da peça. Eis que surge a magistral bailarina e coreógrafa Aída Gomez e encanta toda cena. Imperdível. Veja mais aquiaquiaqui.



Veja mais sobre:
Cybele, Molière, Marguerite Duras, Contos de Panchatantra, Freud & Ida Bauer, Maurice de Vlaminck & Muddy Waters aqui.

E mais:
Segura o jipe, A prima de Vera Indignada & Pedro Cabral aqui.
Fecamepa: enquanto os caras bufam por aumento no governo, aqui embaixo a gente só paga mico, né aqui.
O recomeço a cada dia, Ibn el-Arabi & Indries Shah, Petrina Sharp & Faisal Iskandar aqui.
Dignidade humana, educação & meio ambiente, Esther Hamburger, Nina Kozoriz & Niura Bellavinha aqui.
Ninquem vem pra vida de graça, Marcel Proust, Josephine Wall & Annibale Carraci aqui.
As pedras se encontram nos mundos distantes, Rafael Piccolotto de Lima, Sing & Luciah Lopez aqui.
Tudo passa pra quem não sabe o desprezado, Maurice Merleau-Ponty, Shane Turner & Martina Shapiro aqui.
Crônica de amor para ela, José Condé, Ruth Kligman, Pablo Milanés & Joaquín Sabina aqui.
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quinta-feira, fevereiro 26, 2015

DORA GABE, ROSEANNE BARR, PARRIS GOEBEL & SERENAR

 


SERENAR

 

Ah, o amor

brotou de mim como se fora a flor de lis.

Fiz e refiz e nem se serenou, logrou a dor em certos sonhos infantis.

 

Ah! O amor,

predestinado a ser eterno aprendiz,

seguiu no triz e nem se revelou

e arrumou o que de breve nem se quis.

 

Chegou de dentro como chama de vulcão,

queimou com força e fez a vez do coração.

E nem sequer sabia onde encontrar você.

 

O amor fez a loucura dominar a solidão,

me diz que não a ilusão não vai mandar

e vai me dar um sim até não ter mais fim.

 

Chegou de dentro como chama de vulcão,

queimou com força e fez a vez do coração.

E nem sequer sabia onde encontrar você

pra me iluminar até que o mar seja comigo agora,

não vejo a hora de poder tocar na sua mão.

Toda emoção pra se valer precisa ter o dom da vida,

vida vivida pelo coração.


 

SERENAR - Ah, o amor, não fosse ela apaziguando minha febre irremediável toda fulgurante como uma Deusa de Sol, a se fazer rubra na escuridão das nossas noites escuras e fechadas, como quem rutila em plena efervescência de larvas vulcânicas, a se fazer clarividente ao meu toque profano nas cascatas da sua sacralizada clausura, não teria eu jamais prazer nem sentido na vida. É que sou ave cega com as raízes dos meus ossos trazidos da terra e a minha alma desenterrada na minha vida de pedras jogadas. Sou as minhas errâncias arrastando os vestígios sem rumo com todas as heranças perdidas, devorado pelas sombras da inquietação solitária na minha paz despedaçada, posto que o desditoso destino ignoto, mesmo assim, me concedeu a cortesia misteriosa de estar vivo. Não tivesse eu tantos danos por reparar com a minha culpa esdrúxula, não ficaria à boquinha da noite à espera da sua chegada toda viçosa remendando a desordem da minha vida desordenada, a serenar o meu coração enamorado. E sou grato pelo bálsamo da sua coroação de rainha a alinhar o curso de todas as minhas luas desnorteadas pra percorrer o mundo com nossos beijos errantes e a me dar sua roseira aberta que se reflora a cada toque que ouso pelo sigilo da noite mais que ádvena até a abóbada celeste de sua boca insana. E me pega pela mão no voo desde a origem do dia e toda verdade revolta na terra viva do seu ser, manejando com perícia as minhas extraviadas e pálidas insanidades, quando morde minha carne e me lambe a pele amainando as feridas cálidas, derramando o sobejo da sua boca na minha alegria. Não fosse eu ter a dádiva da vertiginosa dança do seu bailado venturoso, a me fazer Odur no seu ser de Valquíria Freya, quando já nos tornamos Súcubus e Íncubus no meio de toda tempestade dos desejos. Não tivesse eu a chama ardente de buscar sua silhueta em cada recanto e a todo instante, sem que seja cedo ou tarde para que eu me sinta nas suas pálpebras de ternas emoções, onde um só minuto é toda eternidade, pra não me deixar morrer porque já fui condenado de tudo no campo minado do amor. Não soubesse eu a escolha do que amo, não lhe veria os sinais vibrantes que ondulam em seu ser por todas as estações, porque aprendi a dormir com a noite em que a fragrante flor do seu ditoso e incendiário corpo madurado me é mais estrelado com seus prazeres inesgotáveis. Ah, o amor, não fosse ela atravessando o meu dia repleta de plena satisfação para erigirmos na dúplice taça dos amantes o mel dos felizes, ah, o amor, eu jamais teria sentido na vida, porque o amor é mútua condecoração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Para mim, meu espírito criativo é quase outra pessoa que vive dentro de mim, a criança dentro de mim que nunca cresceu. Continue brincalhão, divirta-se e não se importe com o que as pessoas pensam. Acho que, como um ser criativo, isso é algo que nunca perdi. Só você pode ver sua visão. É importante encontrar esse relacionamento consigo mesmo e fortalecê-lo. Pensamento da dançarina, coreógrafa e atriz neozelandesa Parris Goebel, também conhecida profissionalmente como Parri$.

 

ALGUÉM FALOU: Esperar que a vida lhe trate bem é tolice como esperar que um touro não lhe bata porque você é vegetariano. A coisa mais absurda que estou dizendo é: Não tenha filhos. Não se case e tenha filhos. Tenha uma vida maior do que isso. Eu me considero um bom juiz de pessoas... É por isso que não gosto de nenhuma delas. Pensamento da atriz, escritora e comediante estadunidense Roseanne Barr, que no seu livro Roseannearchy: Dispatches from the Nut Farm (Gallery Books, 2012), ela expressa que: [...] Às vezes, para mim, não fazer birra é o que correr uma maratona ou atravessar o Canal da Mancha a nado deve ser para outras pessoas de natureza emocional menos desafiadora. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS - SANGUE FEMININO - Sangue feminino…\ O sangue que cria \ mundos de ternura,\ tristeza e glória,\ pensamentos sobre a noite,\ a dor de tudo,\ do ciúme à morte,\ amor pagão.\ Pagão acreditar\ e se esconder de maneiras pagãs\ de todos,\ que você está apaixonado…\ E a tua sombra\ vem e me pergunta\ se eu carrego essa “dor” \ nos meus olhos.\ Mas não foi você\ que me crucificou nela primeiro!\ Sangue feminino sagrado e pecaminoso. NÃO CHEGUE PERTO DE MIM! - Não chegue perto de mim!\ Seja uma efígie\ Na parede de pedra da antiga catedral,\ Alto e inacessível,\ Para permanecer como um desejo eterno\ Em meu coração vazio deixado por você\ Silencioso e em alerta.\ Não chegue perto de mim… Poema da escritora, tradutora e ativista Dora Gabe (1886-1983).

 

PRIMEIRO COMO TRAGÉDIA, DEPOIS COMO FARSA – Por uma indicação dos amigos Luiz Dorvilé e Fábio, tive acesso à obra Primeiro como tragédia, depois como farsa (Boitempo, 2011), do filósofo, teórico crítico e cientista social esloveno Slavoj Zizek, ele aborda sobre ideologia, socialismo capitalista, a hipótese comunista, a estrutura da propaganda inimiga, a crise como terapia de choque, fetichismos, entre outros assuntos. Na parte do livro denominada Humano, demasiado humano, encontrei: [...] A era contemporânea volta e meia se proclama pós-ideológica, mas essa negação da ideologia só representa a prova suprema de que, mais do que nunca, estamos imbuídos na ideologia. A ideologia é sempre um campo de luta - entre outras, de luta pela apropriação de tradições passadas. Um dos indicadores mais claros de nossa triste situação é a apropriação liberal de Martin Luther King, em si uma operação ideológica exemplar. Recentemente, Henry Louis Taylor observou: "Todos, até as criancinhas, conhecem Martin Luther King e podem dizer que seu grande momento foi aquele discurso do 'Eu tenho um sonho'. Ninguém consegue ir além dessa frase. Tudo que sabemos é que esse camarada teve um sonho. Não sabemos que sonho foi. King fez um longo caminho desde que foi saudado pelas multidões em Washington, em março de 1963, quando foi apresentado como o "líder moral de nosso país". Por insistir em questões que iam além da simples segregação, perdeu muito apoio público e foi visto cada vez mais como um pária. Como explicou Harvard Sitlcoff, "ele assumiu a questão da pobreza e do militarismo porque as considerava vitais 'para tornar a igualdade algo real, não apenas uma irmandade racial, mas igualdade de fato"'. Nos termos de Badiou, King seguiu o "axioma da igualdade", muito além da questão isolada' da segregação racial: estava em campanha contra a pobreza e a guerra na época em que morreu. Falou contra a Guerra do Vietnã e, quando foi morto, em Memprus, em abril de 1968, estava lá para apoiar a greve dos trabalhadores da limpeza pública. Como disse Melissa Harris-Lacewell, "seguir King significava seguir a estrada impopular, não a popular". Além disso, tudo que hoje identificamos com liberdade e democracia liberal (sindicatos, voto universal, educação gratuita universal, liberdade de imprensa etc.)foi conquistado com a luta difícil e prolongada das classes inferiores nos séculos XIX e XX; em outras palavras, foi tudo, menos consequência "natural" das relações capitalistas. Recordemos a lista de exigências que conclui o Manifesto Comunista: com exceção da abolição da propriedade privada dos meios de produção, a maioria é amplamente aceita hoje nas democracias "burguesas", mas somente como resultado de lutas populares. Vale destacar outro fato com frequência ignorado: hoje, a igualdade entre brancos e negros é comemorada como parte do sonho americano e tratada como axioma ético-político evidente por si só; mas nas décadas de 1920 e 1930 os comunistas norte-americanos eram a única força política a defender a igualdade racial completa. Os que defendem a existência de um vínculo natural entre capitalismo e democracia distorcem os fatos, assim como a Igreja Católica distorce os fatos quando se apresenta como defensora "natural" da democracia e dos direitos humanos contra à ameaça de totalitarismo – como se a Igreja não tivesse aceitado a democracia apenas no fim do século XIX como uma concessão desesperada, e mesmo assim rangendo os dentes, deixando claro que preferia a monarquia e que era com relutância que cedia aos novos tempos. Por conta de sua total difusão, a ideologia surge como seu oposto, como não ideologia, como âmago de nossa identidade humana para além de qualquer rótulo ideológico. [...]. Veja mais aqui, aquiaqui.

Imagem: Sketch La République, do pintor e escultor francês Honoré Daumier (1808-1879). Veja mais aqui.

Curtindo o dvd da ópera popular Alabê de Jerusalém (2006), do cantor e compositor Altay Veloso. Veja mais aqui.

HÁ UM OUVIDO NO IGNOTO – No capítulo VII da obra Os trabalhadores do mar, do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), Há um ouvido no ignoto, encontrei o seguinte relato: Correram algumas horas. O sol levanta-se deslumbrante. O seu primeiro raio iluminou na plataforma da grande Douvre uma forma imóvel. Era Gilliatt. Continuava estendido em cima do rochedo. Já não estremecia aquela nudez gelada e endurecida. Estavam lívidas as pálpebras fechadas. Era difícil dizer que não era um cadáver. O sol parecia contemplá-lo. Se aquele homem nu não estava morto, devia estar tão perto disso que bastaria o menor vento frio para acaba-lo. Começou a soprar o vento, tépido e vivificante; era o hálito vernal de maio. Entretanto, o sol subia no profundo céu azul; o seu raio menos horizontal ia-se purpureando. A luz fez-se calor. Cingiu Gulliatt. Gilliatt não se mexia. Se respirava, era uma respiração quase extinta que mal poderia embaciar um espelho, o sol continuava a sua ascensão cada vez menos obliqua sobre Gilliatt. O vento, que era tépido ao princípio, tornou-se cálido. Aquele corpo rígido nu continuava sem movimento; entretanto a pele parecia menos lívida. O sol, acercando-se do zênite, caia a primo sobre a plataforma do Douvre. Vertia do alto do céu uma prodigalidade de luz; juntava=se a ela a vasta reverberação do mar tranquilo, o rochedo começava a ficar tépido e aquecia o homem. O perito de Gilliattt levantou-se com um suspiro. Vivia. O sol continuava as suas carícias, quase ardentes. O vento, que já era o vento do meio-dia, e o vento de verão, aproximava-se de Gilliatt como uma boca, soprando molemente. Gilliatt fez um movimento. Era inexprimível a tranquilidade do mar, tinha um murmúrio de ama ao pé do filho. As vagas pareciam embalar o escolho. As aves marinhas que conheciam Gilliatt voavam inquietas por sobre ele. Já não era o medo selvagem do princípio. Era um quê de terno e fraternal. Soltavam pequenos guinchos. Pareciam chama-lo; uma gaivota que o amava, sem dúvida, teve a familiaridade de descer para junto dele. Começou a falar-lhe. Ele não parecia ouvi-la. Ela saltou-lhe sobre o ombro e começou a brincar docemente com o bico nos seus lábios. Gilliatt abriu os olhos. Os pássaros, alegres e ariscos, voaram. Gilliantt levantou-se e espreguiçou-se como o leão acordando, correu a bordo da plataforma e olhou para o intervalo do Douvre. A pança estava intata. O batoque resistira. Provavelmente o mar maltratara-o pouco. Tudo estava salvo. Gilliatt já não estava cansado. Refizeram-se-lhe as forças. O desmaio foi um sono. Esvaziou a pança, pôs a avaria fora da flutuação, vestiu-se, bebeu, comeu, tornou-se alegre. O buraco, examinado de dia, demandava mais trabalho do que Gilliatt pensou. Era uma grande avaria. Gilliatt gastou o dia inteiro em repará-lo. No dia seguinte, de madrugada, depois de desfazer a tapagem e abrir a saída do estreito, vestido com os andrajos que tinham vencido a avaria, tendo consigo o cinto de Clubin e os 75 000 francos, em pé na pança consertada, ao lado da máquina salva, com um vento de feição e mar admirável. Gilliatt saiu do escolho Douvres. Aproou sobre Guernesey. No momento em que se afastava do escolho, alguém que lá estivesse tê-lo-ia ouvido entoar a meia voz a canção Bonny Dundee. Veja mais aqui, aquiaqui.

CAPSI – Realizou-se nesta última quarta-feira, 22 de fevereiro, mais uma assembleia do Centro Acadêmico Martin Baró, do curso de Psicologia do Cesmac, ocasião em que foram debatidos diversos assuntos, entre eles o do desenvolvimento do Movimento dos Estudantes de Psicologia de Alagoas, congregando alunos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cesmac e Unit, com evento previsto para realização no próximo dia 10 de março, na Ufal. Também foram abordados assuntos sobre a realização de palestras, ficando marcada a primeira delas para o dia 05 de março, como Me. Luiz Geraldo Rodrigues de Gusmão abordará sobre o tema da Psicologia Organizacional e a hegemonia dos testes psicológicos. Também foram debatidos os assuntos sobre o CineClube e a criação de Grupos de Pesquisa articulados com professores e as disciplinas do curso. Veja mais aqui.

DIA DO COMEDIANTE:- Tive a oportunidade na vida de assistir a um espetáculo ao vivo, de ouvir um disco e de ver também na televisão (este último não demonstrando o seu grandioso talento como ao vivo e no disco), apresentações do ator e humorista brasileiro Agildo da Gama Barata Ribeiro Filho, mais conhecido como Agildo Barata que hoje se encontra no auge dos seus 83 anos de idade. Confesso para vocês que foi uma experiência inenarrável e de extremo prazer, não conseguindo nem mesmo me controlar diante das piadas e sacadas no palco, me levando mesmo a extremos momentos de descontrole com as interpretações e imitações do Agildo de Nelson Rodrigues, de Dercy Gonçalves, de Clodovil e de tantos personagens que ganharam homenagem na expressão desse grande artista. E como hoje é o Dia do Comediante, nada mais justo que homenagear aqui um dos maiores atores e humoristas do Brasil. Veja mais aqui


TEOREMA – O destaque cinematográfico de hoje é o aclamado drama da escola do Cinema Italiano, Teorema (1968), do cineasta e escritor italiano Pier Paulo Pasolini, com música maravilhosa de Ennio Morricone e destaque pro trabalho da atriz Silvana Mangano. Trata-se de um filme que retrata as instituições italianas contando a história de um personagem e sua influência em uma família burguesa. O filme critica a futilidade, o comodismo e a alienação da burguesia. Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.


HOMENAGEM ESPECIAL
Como todo dia é dia da mulher, a homenagem de hoje vai pra cantora Maria Creuza que ficou mais conhecida como a mulher de dois homens, por suas participações em shows como de Toquinho & Vinicius e, também, da dupla Antonio Carlos & Jocafi.


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De heróis, mitos & o escambau, Alphonse Eugène Felix Lecadre & Aldemir Martins aqui.

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Simone Weil, Simone de Beauvoir, Emma Goldman, Clara Lemlich, Alexandra Kollontai, Clara Zetkin & Tereza Costa Rego aqui.
Pablo Picasso, Fernanda Seno, Karl Jaspers, Händel, Tom Wesselmann, Eva Green, Demi Moore & Soninha Porto aqui.
Cecília Meireles, Jean-Luc Godard, Psicologia & Consciência & Pedrinho Guareschi, Pablo Milanés, Bertha Lutz & Sufrágio Feminino, Juliette Binoche e Myriem Roussel, Johan Christian Dahl, Costinha & Programa Tataritaritatá aqui.
Murilo Mendes, Renoir, George Harrison, António Damásio, Benedetto Croce, Bigas Luna, Mathilda May & Joyce Cavalccante aqui.
Caríssimos ouvintes, a voz ao coração, Bernhard Hoetger, Aleksandr Rodchenko & Fremont Solstice Parade aqui.
Carpe diem, mutatis mutandis!, Endecha, Nikolai Roerich, Antonella Fabiani & Leon Zernitsky aqui.
Cada qual seus pecados ocultos, Nênia de Abril, Lisbeth Hummel, Sérgio Campos & Antes que os nossos filhos denunciem o luto secular de seus abris aqui.
Sinfonias de bar, Vincent van Gogh, Ingmar Bergman, Annie Veitch, Kerri Blackman & Apesar dos pesares, a vida prossegue... aqui.
E se o amor fosse a vida na tarde ensolarada do quintal, Varvara Stepanova & Luciah Lopez aqui.
Errâncias de quem ama, promessas da paixão, Richard Strauss & Leonie Rysanek, A lenda Bororo de origem das estrelas, Sonia Ebling de Kermoal & Dorothy Lafriner Bucket aqui.
A ponte entre quem ama e a plenitude do amor, Murilo Rubião, Anneke van Giersbergen, Wäinö Aaltonen, Eduardo Kobra, Ramón Casas, Manuel Colombo & Fátima Jambo aqui.
Legalidade sob suspeita, Anna Moffo, Viola Spolin, Reisha Perlmutter, Floriano de Araújo Teixeira & Moína Lima aqui.
Os seus versos, danças & cantos do cacrequin, Jasmine Guy, Renata Domagalska, Lívia Perez, Luciah Lopez & Vera Lúcia Regina aqui.
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...