NANCY, A
INCANSÁVEL MUSA – Herdeira da fortuna de uma família londrina, ela passou a infância de
Nevill Holt entre um e outro colégio interno. Com a separação dos pais foi para Londres acompanhando sua
mãe. Outras passagens por vários internatos. Cresceu e casou-se como uma dama
pisciana – a namoradeira elegante mantinha outros romances secretos. Toda sofisticada
intensidade humanitária superava todos os rumores e veio o divórcio com mudança
para Paris na festa dada e surrealista. O primeiro golpe foi não ter conseguido
superar por inteiro um amante
morto em combate e os poemas de Outlaws. Outro golpe: a histerectomia quase fatal,
recupera-se
na Normandia e os poemas de Sublunary. Reabilitada fulgurante com suas joias afro
pela devoção provocativa e controversa de malaquitas e purpuritas, as pulseiras
dos pulsos ao cotovelo, os colares de cubos de madeira, as extravagâncias estilísticas
cubistas, a excentricidade de uma boêmia com seu visual bárbaro vanguardista. E
os
poemas de Parallax. Assumiu riscos financeiros e outros
envolvimentos amorosos, era a publicação da revolucionária Hours Press. A rebelde
jornalista de guerra rejeitava os lugares glamourosos. Ousava com o polêmico panfleto Black Man and White
Ladyship (1931) atacando racistas. Olhos abertos na glória de trocar dinheiro pelo
ativismo incansável na luta antifascista
com a Negro Anthology, relatando o caso dos Scottsboro Boys. Recebeu
ameaças anônimas e correspondências de ódio, enquanto identificava-se como
anarquista! Veio então o panfleto compilado Authors Take Sides e os
poetas del mundo defienden al pueblo español. Diante da segunda grande
guerra sofria com os refugiados, arrastando-se na batalha com seus panfletos
poéticos na resistência francesa. Apelou por ajuda e entrega de mantimentos, o
seu esforço de socorro. Foi à exaustão e
as condições de campo levaram-na ao esgotamento e uma saúde precária: ...é
impossível não tomar partido... Voluntária guerrilheira pela restauração da
democracia e com Releve into Marquis e Poems for France, a decepção
com H.G. Wells, Pound e Eliot, Orwell, Woolf, Russel e Joyce. Desistiu de Réanville
e viajou extensivamente. Depois alugou uma pequena casa numa vila do Vale do
Dordogne. Veio, então, a pobreza enfrentando a injustiça com a própria pele da
brancura de lua, a saúde frágil com episódios de mania autodestrutivas e o
alcoolismo. Era a tragédia da musa louca enfrentando a polícia para ser
internada pela psiquiatria. Na libertação vagava pelas ruas magérrima, solitária
sem nome, até ser vista desacordada numa rua parisiense, suas cinzas para a
Inglaterra, os restos mortais no Père-Lachaise, a La Jeune Fille
Sophistiquée de Brâncusi. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Acredito na missão sagrada da arte de
mudar a história... Pensamento da escritora
e ativista política britânica Nancy
Clara Cunard (1896–1965),
autora dos poemas: I - Ousando olhar para
trás e olhar novamente \ À frente para todos os dias que vêm lentamente, \ Não
veja nada além dos Carnavais da Paz, \ Esqueça os sonhos de morte e outros
caminhos \ Os homens imaginaram para sua própria diminuição... \ Eu escreveria
uma canção para conquistar todas as nossas lágrimas \ Durando para sempre
através dos anos dobrados. II - Todos estavam lá, \ Os alarmistas desta vida,
semeando suas colheitas futuras, \ Ervas daninhas abundantes de conflito---
todos, menos um \ Que eu nunca nomeio, Ciúme.
ALGUÉM FALOU: Sempre há mais bondade no mundo do que parece, porque a bondade é, por
natureza, modesta e reservada... Detesto o que você escreve, mas daria minha
vida para tornar possível que você continue escrevendo... Pensamento da escritora britânica Evelyn Beatrice Hall (1868-1956),
que por conta da obra Voltaire in His Letters:
Being a Selection from His Correspondence (Franklin Classics, 2015), confere uma frase dela
atribuida a Voltaire. Confira aqui.
O CAMINHO
NATURAL DAS COISAS - [...] O que as pessoas em
suas vidas antigas diriam sobre essas garotas? Elas seriam chamadas de desaparecidas? Algum programa de documentário na ABC que
ninguém assistia, ou um daqueles jornais finos que ninguém lê, de alguma forma
conectaria seus casos, encontraria o fio para transformá-los em uma história? As Garotas Perdidas, elas poderiam ser
chamadas. Seria dito que
elas "desapareceram", "estavam perdidas"? Seria dito que elas foram abandonadas ou
levadas, do jeito que as pessoas dizem que uma garota foi atacada, uma mulher
foi estuprada, essa feminilidade sempre no centro, como se a feminilidade em si
fosse a causa dessas coisas? Como se as garotas de alguma forma, pelo caminho natural das coisas,
fizessem isso a si mesmas. Elas atraíram o sequestro e o abandono para si mesmas, elas se reuniram
nesta prisão onde tinham feito suas camas, e agora, mais uma vez, estavam
deitadas nelas. [...]. Trechos da obra The Natural Way of Things (Europa, 2015), da
escritora Australiana Charlotte
Wood, que na obra Animal People (Allen & Unwin, 2012), expressou que: […]
Era perigosamente fácil ceder: as defesas humanas se
dissolviam ao toque de outra pessoa [...] O
ponto de um animal não era que ele te amasse; era que você pudesse amá-lo. Em toda a sua alteridade, seu não
pertencimento à sua espécie, ele ainda poderia receber - sem limites - seu amor. [...].
PARIS, UM POEMA - Quero uma
holofrase \ NORD-SUD \ ZIG-ZAG\ LION NOIR\ CACAO BLOOKER\ Vasos de negras
figuras em túmulos etruscos\ RUE DU BAC (DUBONNET)\ SOLFERINO (DUBONNET)\ CHAMBRE
DES DEPUTES\ Brekekekek coaxa coaxa1 vamos, passando sob o Sena\ DUBONNET\ A
Mulher Escarlate gritando BYRRH e ensurdecendo S. João em Patmos\ Vous
descendez Madame?\ QUI SOUVENT SE PESE BIEN SE CONNAIT\ QUI BIEN SE CONNAIT
BIEN SE PORTE\ CONCORDE\ Não posso\ Tenho que ir devagar\ As Tulherias entram
em um transe\ porque os pintores ficaram\ encarando-as por tanto tanto tempo\ Menininhos
em macacões pretos cujas mãos, grudentas de brincar, parecem\ as folhas novas
ainda enroladas das castanheiras riem,2 rodam e rodam nos\ cavalinhos-de-pau
até ficarem de cabeça tonta.\ Pombos se empoleiram em estátuas\ E viram pedra.\
Le départ pour Cythère.\ Essas ninfas são inofensivas, \ Medo não tenhais de
suas bocas macias—\ Um Pasteur qualquer tornou os Gauleses imunes\ À mordida de
Ninfas... olhe \ Gambetta \ Uma roseta vermelha3 na lapela do casaco\ O tutoiement4
conjugal obsceno\ Mais c´est logique\ O Esprit Français se curva sobre ele,\ Sussurrando\
Segredos \ requintados significativos\ fados plásticos\ Da 13a Duquesa de Alba\
Longa longa6 como a Torre Eiffel\ Sob tantas braças de haxixe\ Com longo
convincente dedo\ Mostrando Magos invisíveis\ A um Maltesinho branco:\ O fundo
cinza e verde-oliva\ Como o Midi, o Louvre, o Sena... \ De espátulas de marfim,
um leão esculpido no punho, Lisístrata tinha\ uma, mas a artesania dessas é
Império... \ Vejo o Arco do Triunfo \ Sóbrio e sombrio como os sonhos de Júlio
César:\ Desdenhe as leis da geometria sólida,\ Audaz penetre a parede da Salle
Caillebotte\ E adiante e adiante... \ Odeio a Etoile\ O Bois me aborrece: \ Cágados
com a carapaça crivada de gemas\ Um menino romano tirando um espinho do pé\ Uma
revoada de Madames Récamiers descalçadas \ Lamentando, onde, onde, o
Chateaubriand de nos jours \ E no entanto... ali bem perto \ Vagueia a vetusta
rue Saint-Honoré \ Maltrapilha e indiferente, como um Grand Seigneur da
Bretanha \ Um Auvergnat, todas as montanhas de Auvergne em cada castanha que
ele vende... \ Paris é um imenso camponês saudoso de casa, \ A carregar mil
vilarejos no coração. \ Pátios ocultos \ Com faunos em baixíssimo-relevo
siflando entre lótus\ E trepadeiras que galgam treliças\ São vales secretos
onde vão nascendo pequenos deuses.\ Toda hora quase se ouve um galo\ Dó dó miii\
80 Ele não pode cantar as cidades—\ O fantasma do velho Hesíodo com sobra de
tempo pra sentir melancólico - \ Na ociosidade eterna do Aqueronte\ Doido por
'Trabalhos e Dias' ouça! \ O singelo Espírito do Ano\ Está duro e desolado\ Estendido
por acres de terra roxa,\ As retas linhas nítidas de sua rouparia arcaica,\ Perfeitamente
cinzelada pelo arado...\ E tem coisas bonitas— \ Crianças com amuletos no
pescoço\ Brincando de Pigeon vole,\ Telhados vermelhos,\ Batas azuis,\ E santos
gaiatos...\ AU \ BON MARCHE\ ACTUELLEMENT\ TOILETTES\ PRINTANIERES\ A jeunesse
dorée dos plátanos. \ Nas Igrejas, durante a Quaresma, Cristo e os Santos
vestem véus\ cor-de-malva.\ Lá longe, nos jardins,\ Crocus, \ Chionodoxas, a
Princesa num conto-de-fadas sérvio,\ Depois \ A chef d´oeuvre do
ourives—lírio-do-vale, \ Logo\ Rosas-caninas vão encarar ciganos, carroças,
peregrinações\ O tempo todo\ Inodoras rosas de Lyons\ Gélidas, \ Plásticas,\ Batizadas
em homenagem às mulheres de Prefeitos... \ Ingres pintou um retrato de Madame
Jacquemart \ André? \ No Louvre\ A Pietà de Avignon,\ L’Olympe,\ Giles,\ Os
Sete Pecados Capitais de Mantegna\ Os Chardins;\ Se alçam, serenos and vívidos,
um atrás do outro dos seus cinco longos anos \ de sono subterrâneo. \ Como
Duncan, dormiram bem.\ O PresidenteWilson sorri feito um cão e corre cidade
afora, fucinhando com\ um prazer inocente a urina diluviana de Gargântua.\ Os
botões nos álamos são crisálidas douradas;\ O Balé de verdes Borboletas\ Está
prestes a começar.\ Durante o cíclico Grand Guignol do Catolicismo\ Guinchos,\ Lacerações,\
Suor sangrado—\ Le petit Jésus fait pipi.\ Lilás\ A PRIMAVERA É A IRMÃZINHA DE
SALOMÃO ; ELA NÃO TEM SEIOS.\ LAIT SUPERIEUR\ DE LA\ FERME DE RAMBOUILLET\ ICI
ON CONSULTE\ LE BOTTIN.\ CHARCUTERIE\ COMESTIBLES DE IRE CHOIX\ APERITIFS\ ALIMENTS
DIABETIQUES\ DEUIL EN 24 HEURES\ Messieursetdames\ Pequenos templos de Mercúrio;\
A circunferência do seu templum\ Um belo senso de escala,\ Uma gota dourada do
sangue de Harpagão,\ Preserve-a de ímpia ampliação.\ Grandes buquês de lilases
entre sifões, vermute, Bocks, tabaco.\ Messieursetdames\ NE FERMEZ PAS LA PORTE\
S.V. P\ LE PRIMUS S´EN CHARGERA\ Em mesas de mármore, ouvriers vestidos de
linho azul sentam-se discutindo:\ La journée de huit heures,\ Se Landru era um
sádico,\ A foca amestrada no Nouveau Cirque;\Cottin... \ Ecos de Bossuet
louvando rainhas mortas.\ méticuleux\ bélligerants\ hebdomadaire\ immonde\ As
Legiões Romanas\ Aladas\ Invisíveis\ Batalham em sua última batalha na Gália.\ O
fantasma de Père Lachaise\ Vai andando pelas ruas,\ Vai envolto numa cortina
negra bordada com a letra H, \ Nele dependuradas, coroas fúnebres de papel,\ É
belo e horrível e amigo próximo de Rousseau, o funcionário da Alfândega.\ As
unidades jazem destroçadas, \ O palco entulhado de cadáveres... \ Espertos,
gentis gaillards\ Seus eidola em molduras hediondas, de bronze, gravado, o
motto\ MORT AU CHAMP D'HONNEUR;\ E viuvinhas se lamentando\ Le pauvre grand!\ Le
pauvre grand!\ E petites bourgeoises de lábios cerrados e vozes estridentes vão
contando o troco e dizendo Messieursetdames e seus corações são a província
arruinada\ de Picardie... \ Eles não são como nós, que, feito vampiros17,
enterramos nossos amigos vinte vezes antes mesmo que morram mas—\ Nunca nunca
mais vai o Marne\ Fluir por margens felizes.\ É bom sentar nos Grand
Boulevards—\ Têm cheiro de\ Cloacas \ borracha d'Índia quente\ Poudre de riz \ Tabaco
argelino\ Monsieur Jourdain no rubro-azul dos Zuavos\ É o premier danseur no
Ballet Turque\ ´Ya bon!\ Mamamouchi\ YANKEES--“e diga ainda que em Aleppo un
dia...”\ Muitos Mardi Gras e Carême Prenant do Carnaval\ da Paz ;\ Véus de crepe,\
Bocas em biquinhos pro protetor labial como se tivessem acabado de dizer: \ Cho-co-lat...
\ “Elles se balancent sur les hanches.”\ Olhos de lagarto,\ Barbas assírias,\ Botas
com topo de pano—\ L’Olympe,\ Giles,\ Os Sete Pecados Capitais de Mantegna\ Os Chardins;\
Se alçam, serenos and vívidos, um atrás do outro dos seus cinco longos anos \ de
sono subterrâneo.\ Como Duncan, dormiram bem. \ O Presidente Wilson sorri feito
um cão e corre cidade afora, fucinhando com\ um prazer inocente a urina
diluviana de Gargântua.\ Os botões nos álamos são crisálidas douradas;\ O Balé
de verdes Borboletas\ Está prestes a começar. \ Durante o cíclico Grand Guignol
do Catolicismo\ Guinchos,\ Lacerações,\ Suor sangrado—\ Le petit Jésus fait
pipi.\ Lilás\ A PRIMAVERA É A IRMÃZINHA DE SALOMÃO ; ELA NÃO TEM SEIOS.\ LAIT
SUPERIEUR\ DE LA\ FERME DE RAMBOUILLET \ ICI ON CONSULTE \ LE BOTTIN.\ CHARCUTERIE\
COMESTIBLES DE IRE CHOIX\ APERITIFS\ ALIMENTS DIABETIQUES\ DEUIL EN 24 HEURES\ Messieursetdames\
Pequenos templos de Mercúrio;\ A circunferência do seu templum\ Um belo senso
de escala,\ Uma gota dourada do sangue de Harpagão,\ Preserve-a de ímpia
ampliação.\ Grandes buquês de lilases entre sifões, vermute, Bocks, tabaco.\ Messieursetdames\
NE FERMEZ PAS LA PORTE\ S.V. P\ LE PRIMUS S´EN CHARGERA\ Em mesas de mármore,
ouvriers vestidos de linho azul sentam-se discutindo:\ La journée de huit
heures, \ Se Landru era um sádico,\ A foca amestrada16 no Nouveau Cirque;\ Cottin...
\ Ecos de Bossuet louvando rainhas mortas.\ méticuleux\ bélligerants\ hebdomadaire\
immonde\ As Legiões Romanas\ Aladas\ Invisíveis\ Batalham em sua última batalha
na Gália.\ O fantasma de Père Lachaise\ Vai andando pelas ruas,\ Vai envolto
numa cortina negra bordada com a letra H,\ Nele dependuradas, coroas fúnebres
de papel,\ É belo e horrível e amigo próximo de Rousseau, o funcionário da Alfândega.\
As unidades jazem destroçadas,\ O palco entulhado de cadáveres\ Espertos,
gentis gaillards \ Seus eidola em molduras hediondas, de bronze, gravado, o
motto\ MORT AU CHAMP D'HONNEUR;\ E viuvinhas se lamentando\ Le pauvre grand! \ Le
pauvre grand!\ E petites bourgeoises de lábios cerrados e vozes estridentes vão
contando o troco e dizendo Messieursetdames e seus corações são a província
arruinada\ de Picardie... \ Eles não são como nós, que, feito vampiros,
enterramos nossos amigos vinte vezes antes mesmo que morram mas— \ Nunca nunca
mais vai o Marne\ Fluir por margens felizes.\ É bom sentar nos Grand
Boulevards—\ Têm cheiro de\ Cloacas \ borracha d'Índia quente\ Poudre de riz\ Tabaco
argelino\ Monsieur Jourdain no rubro-azul dos Zuavos\ É o premier danseur no
Ballet Turque\ ´Ya bon!\ Mamamouchi\ YANKEES--“e diga ainda que em Aleppo un
dia...”\ Muitos Mardi Gras e Carême Prenant do Carnaval\ da Paz ;\ Véus de
crepe,\ Bocas em biquinhos pro protetor labial como se tivessem acabado de
dizer:\ Cho-co-lat...\ “Elles se balancent sur les hanches.” \ Olhos de
lagarto,\ Barbas assírias,\ Botas com topo de pano—\ A raça, tão pequena quão
audaz, cujo cérebro, disseram os Árabes, era um dos três cimos \ do Espírito de
Deus. \ Ouiouioui, c´est
passionnant— on en a pour son argent.\ Le fromage n´est pas un plat logique\ A
a a a a oui c´est un délicieux garçon\ Il me semble que toute femme sincère
doit se retrouver en Anna\ Karénine.\ Nunca a catalepsia do Teutônico\ Que
tempo\ Sub-aquoso\ Célula sobre célula\ Experiência\ Muito lentamente\ Tomando
a forma\ De algo belo—terrível—gigante\ O se dar conta... \ Fala rouca aos
trancos—a maldição do que é vasto.\ O Primeiro de Maio\ N\ ã\ o\ h\ á\ l \ í\ r\
i\ o\ d\ o\ v\ a\ l\ e\ Houve uma luta ritualística pelo seu doce corpo \ Entre
duas virgens—Maria e a lua\ A malévola lua de abril\ O silêncio de la greve\ Chuva\
O Louvre se desnovela na névoa\ Logo vai ficar transparente \ E trespassando-o
vão cintilar as misteriosas ajardinadas ilhas da Place du Carrousel. \ O Sena,
velho egotista, serpenteia imperturbavelmente em direção ao mar,\ Ruminando
sobre ervas daninhas e chuva...\ Se pelo seu sono lerdo e líquido surgem sonhos\
São os fantasmas azuis de martins-pescadores,\ A Torre Eiffel é bi dimensional,\
Gravada em papel grosso, branco.\ Poilus num azul cerâmico com feixes Terre de
Sienne estão acampando ao redor da cinza esfinge das Tulherias. Parecem assim
um esboço em giz que um \ artista-de-guerra faria, pra ser ‘editado’ na Rue des
Pyramides a 10 francos\ a folha.\ Désoeuvrement, \ Apprehension;\ Vronsky e
Anna\ Sobressaltando-se em camas separadas num suor frio\ Lendo calamidade no
mesmo sonho\ De um mujique gigantesco e sinistro... \ O que quer que aconteça,
um dia vai parecer bonita:\ Clio é uma grande pintora francesa,\ Caminha sobre
as águas e elas permanecem paradas.\ Sidrac, Misac e Abdênago, de pé, imóveis e
plásticos, em meio às chamas.\ Massacres des Jours de Juin, de Manet,\ Prise de
la Bastille, de David,\ Fronde, de Poussin,\ Pendurados numa sala calma.\ Esse
tempo todo, aVirgem não está parada ;\ As vitrines das Galéries Lafayette, do
Bon Marché, da Samaritaine,\ Piscam iscas santas,\ Pandoras de cera em véus
brancos e laços que ela mesmo decorou;\ Catéchisme de Persévérance,\ Os
decretos dos Sete Concílios Ecumênicos reduzidos ao formato da Bibliothè que
Rose,\ Première Communion,\ (Prometeu engoliu a isca)\ Petits Lycéens,\ Por-no-gra-phie,\
Encantadoras noivinhas pigmeias,\ São Huguinho vingado—\ AS CRIANÇAS COMEM O
JUDEU.\ FOTO ANÃO\ Eu vou!\ Caminho imersa até os joelhos em sonhos—\ Progresso
duro doce\ Assim, se atravessando um campo de trigo maduro em Périgord.\ O
Louvre, o Ritz, o Palais-Royale, o Hôtel deVille\ Leves e frágeis\ Pavilhões de
prazer, de palha\ Palco disposto pra dez dias de folias\ De cidadãos com suas
máscaras e dominós\ A l´occasion du marriage de Monseigneur le Dauphin.\ Do
último andar de um velho Hôtel,\ Em transe, \ Lá em baixo vejo, estreita, a rue
de Beaune.\ Vendedores ambulantes liturgicamente solfejam seus bagulhos: \ Mulheres
sem chapéu sob xales negros\ Vão com longos pães—Triptólemo envolto em fraldas:\
Operários de pálido azul:\ Carros de mão de verduras: \ Cães ocupados :\ Vêm e
vão.\ São pequenininhos.\ Estórias... \ A romança perdida \ Composta por algum
Ovídio, um relutante escravo\ No País das Fadas,\ Ninguém sabe seu nome ;\ Era
o segredo-chave dos pintores italianos.\ Passaram a vida inteira ilustrando-a...
\ A aldeia chinesa na mente de um gênio... \ Pequenas cômicas coisinhas
acontecendo sem parar. \ Na Ile Saint-Louis, na rue Saint Antoine, na Place des\
Vosges\ O século XVII jaz morrendo, requintadamente.... \ Ss s s h \ Na
paróquia de Saint Thomas d´Aquin tem um beco chamado l´impasse\ des Deux Anges.\
Casas com fileiras de janelas impassíveis ;\ São como cachorros cegos\ Tudo que
conseguem ver são fantasmas.\ Ouça a pequenina voz e seca,\ Se de uma velha
monja cantando Missas \ Pela alma de um irmão morto em Sebastopol... \ MOLIERE\
EST MORT\ DANS CETTE MAISON\ LE 17 FEVRIER 1673\ VOLTAIRE\ EST MORT\ DANS CETTE
MAISON\ LE 30 MAI 1778\ CHATEAUBRIAND\ EST MORT\ DANS CETTER MAISON\ LE 4
JUILLET 1848\ Isso não é tudo,\ O paraíso não consegue conter por muito os
famosos mortos de Paris... \ Eis os Campos Elísios ! \ Sainte-Beuve, um
compacto buquê na mão para MadameVictor-Hugo,\ Passa, na Pont-Neuf, pelo duc de
la Rochefoucauld\ Com um andar esplendorosamente despreocupado\ Em direção ao
salon d´automne\ De Madame de Layette ;\ Um não pode ver o outro.\ Il fait
lourd,\ Os sonhos chegaram à minha cintura.\ Fomos à Benção do Santíssimo em
Notre-Dame-des-Champs,\ Zum be zum37... be zum be... zum be zum.\ AVirgem
sentada em seu jardim ;\ Veste o hábito azul e o véu de linho alado38 das
freiras de SãoVicente de\ Paula.\ O Espírito Santo arrulha no seu pomba\ As Sete
Estações da Cruz gravadas em buxo\ Lírios se açulam, azul, verde, e rosa, \ Os
bulbos foram ex-votos\ De um japa convertido.\ Um trovador angélico\ Canta para
ela canções\ De pecadilhos veniais.\ No muro do pôr-do-céu vespas nunca roem\ Os
pêssegos do Paraíso.\ La Libertè! La Presse!\ La Libertè! La Presse!\ O sol
naufraga atrás do Petit-Palais.\ No deserto da Argélia eles entoam o Alcorão.\ La
Libertè! La Presse!\ O sol é damasco;\ Contra ele passam\ Sobre a Pont
Solférino\ Fiacres and miniaturas de gente todas negras,\ Mosquitos mordiscando
o damasco celestial—\ Aquele com chapéu de abas largas e peliça deve ser um
padre.\ São negros e bidimensionais e parecem silhuetas de cidadãos de Luís\ Filipe.\
Ao longo dos Quais os bouquinistes. fecham suas caixas verdes.\ Vinda doVIIéme
arrondissement\ A noite como um vampiro\ Suga toda cor, todo som.\ Os ventos
estão dormindo em sua caverna hiperbórea ;\ As ruas estreitas se curvam
orgulhosamente para as estrelas ;\ De tempos em tempos um táxi pia feito uma coruja.\
Mas atrás dos taludes do Louvre\ Freud dragou o rio e, sorrindo horrivelmente,
acena com seu lixo num lampejo\ de eletricidade\ Táxis,\ Táxis,\ Táxis,\ Eles
gemem e gritam e guincham \ Feito mil gatos no cio.\ As prostitutas45 feito
leões vão procurando sua carne em Deus:\ Um capelão inglês vai tombando com o
Moulin Rouge \ Semínimas e colcheias tem cabeças-de-negro e se contorcem em
síncope\ obscena :\ Toutes les cartes marchent avec une allumette!\ Cem lentes
refratam a Mascarada dos Sete Pecados Capitais para o astigmatismo americano :\
"Num gòsto das garetas48 da boate—elas gostam de mulheres." \ Toutes
les cartes marchent avec une allumette!\ AURORA\ Hora deVerlaine ir pra cama...
Alquimia,\ Absynto, \ Tabaco argelino,\ Falar, falar, falar,\ Adubando as
brancas violetas da lua.\ O Presidente da República está deitado na cama ao
lado de sua esposa, e pode\ ser que nesse exato momento...\ Na Abbaye de
Port-Royal nasçam novos nenês, \ Talvez alguém que não consegue dormir esteja
lendo le Crime et le Châtiment. \ O sol vai nascendo,\ Logo les Halles vão
abrir,\ O céu é de açafrão entre as duas torres de Nôtre-Dame\ JEVOUS SALUE
PARIS PLEIN DE GRACE. Poema experimental da escritora e tradutora
britância Hope Mirrlees (1887–1978).
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