segunda-feira, fevereiro 16, 2015

HOPE MIRRLEES, CHARLOTTE WOOD, NANCY CUNARD & EVELYN HALL

 


NANCY, A INCANSÁVEL MUSA – Herdeira da fortuna de uma família londrina, ela passou a infância de Nevill Holt entre um e outro colégio interno. Com a separação dos pais foi para Londres acompanhando sua mãe. Outras passagens por vários internatos. Cresceu e casou-se como uma dama pisciana – a namoradeira elegante mantinha outros romances secretos. Toda sofisticada intensidade humanitária superava todos os rumores e veio o divórcio com mudança para Paris na festa dada e surrealista. O primeiro golpe foi não ter conseguido superar por inteiro um amante morto em combate e os poemas de Outlaws. Outro golpe: a histerectomia quase fatal, recupera-se na Normandia e os poemas de Sublunary. Reabilitada fulgurante com suas joias afro pela devoção provocativa e controversa de malaquitas e purpuritas, as pulseiras dos pulsos ao cotovelo, os colares de cubos de madeira, as extravagâncias estilísticas cubistas, a excentricidade de uma boêmia com seu visual bárbaro vanguardista. E os poemas de Parallax. Assumiu riscos financeiros e outros envolvimentos amorosos, era a publicação da revolucionária Hours Press. A rebelde jornalista de guerra rejeitava os lugares glamourosos. Ousava com o polêmico panfleto Black Man and White Ladyship (1931) atacando racistas. Olhos abertos na glória de trocar dinheiro pelo ativismo incansável na luta antifascista com a Negro Anthology, relatando o caso dos Scottsboro Boys. Recebeu ameaças anônimas e correspondências de ódio, enquanto identificava-se como anarquista! Veio então o panfleto compilado Authors Take Sides e os poetas del mundo defienden al pueblo español. Diante da segunda grande guerra sofria com os refugiados, arrastando-se na batalha com seus panfletos poéticos na resistência francesa. Apelou por ajuda e entrega de mantimentos, o seu esforço de socorro.  Foi à exaustão e as condições de campo levaram-na ao esgotamento e uma saúde precária: ...é impossível não tomar partido... Voluntária guerrilheira pela restauração da democracia e com Releve into Marquis e Poems for France, a decepção com H.G. Wells, Pound e Eliot, Orwell, Woolf, Russel e Joyce. Desistiu de Réanville e viajou extensivamente. Depois alugou uma pequena casa numa vila do Vale do Dordogne. Veio, então, a pobreza enfrentando a injustiça com a própria pele da brancura de lua, a saúde frágil com episódios de mania autodestrutivas e o alcoolismo. Era a tragédia da musa louca enfrentando a polícia para ser internada pela psiquiatria. Na libertação vagava pelas ruas magérrima, solitária sem nome, até ser vista desacordada numa rua parisiense, suas cinzas para a Inglaterra, os restos mortais no Père-Lachaise, a La Jeune Fille Sophistiquée de Brâncusi. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Acredito na missão sagrada da arte de mudar a história... Pensamento da escritora e ativista política britânica Nancy Clara Cunard (1896–1965), autora dos poemas: I - Ousando olhar para trás e olhar novamente \ À frente para todos os dias que vêm lentamente, \ Não veja nada além dos Carnavais da Paz, \ Esqueça os sonhos de morte e outros caminhos \ Os homens imaginaram para sua própria diminuição... \ Eu escreveria uma canção para conquistar todas as nossas lágrimas \ Durando para sempre através dos anos dobrados. II - Todos estavam lá, \ Os alarmistas desta vida, semeando suas colheitas futuras, \ Ervas daninhas abundantes de conflito--- todos, menos um \ Que eu nunca nomeio, Ciúme.

 

ALGUÉM FALOU: Sempre há mais bondade no mundo do que parece, porque a bondade é, por natureza, modesta e reservada... Detesto o que você escreve, mas daria minha vida para tornar possível que você continue escrevendo... Pensamento da escritora britânica Evelyn Beatrice Hall (1868-1956), que por conta da obra Voltaire in His Letters: Being a Selection from His Correspondence (Franklin Classics, 2015), confere uma frase dela atribuida a Voltaire. Confira aqui.

 

O CAMINHO NATURAL DAS COISAS - [...] O que as pessoas em suas vidas antigas diriam sobre essas garotas? Elas seriam chamadas de desaparecidas? Algum programa de documentário na ABC que ninguém assistia, ou um daqueles jornais finos que ninguém lê, de alguma forma conectaria seus casos, encontraria o fio para transformá-los em uma história? As Garotas Perdidas, elas poderiam ser chamadas. Seria dito que elas "desapareceram", "estavam perdidas"? Seria dito que elas foram abandonadas ou levadas, do jeito que as pessoas dizem que uma garota foi atacada, uma mulher foi estuprada, essa feminilidade sempre no centro, como se a feminilidade em si fosse a causa dessas coisas? Como se as garotas de alguma forma, pelo caminho natural das coisas, fizessem isso a si mesmas. Elas atraíram o sequestro e o abandono para si mesmas, elas se reuniram nesta prisão onde tinham feito suas camas, e agora, mais uma vez, estavam deitadas nelas. [...]. Trechos da obra The Natural Way of Things (Europa, 2015), da escritora Australiana Charlotte Wood, que na obra Animal People (Allen & Unwin, 2012), expressou que: […] Era perigosamente fácil ceder: as defesas humanas se dissolviam ao toque de outra pessoa [...] O ponto de um animal não era que ele te amasse; era que você pudesse amá-lo. Em toda a sua alteridade, seu não pertencimento à sua espécie, ele ainda poderia receber - sem limites - seu amor. [...].

 

PARIS, UM POEMA - Quero uma holofrase \ NORD-SUD \ ZIG-ZAG\ LION NOIR\ CACAO BLOOKER\ Vasos de negras figuras em túmulos etruscos\ RUE DU BAC (DUBONNET)\ SOLFERINO (DUBONNET)\ CHAMBRE DES DEPUTES\ Brekekekek coaxa coaxa1 vamos, passando sob o Sena\ DUBONNET\ A Mulher Escarlate gritando BYRRH e ensurdecendo S. João em Patmos\ Vous descendez Madame?\ QUI SOUVENT SE PESE BIEN SE CONNAIT\ QUI BIEN SE CONNAIT BIEN SE PORTE\ CONCORDE\ Não posso\ Tenho que ir devagar\ As Tulherias entram em um transe\ porque os pintores ficaram\ encarando-as por tanto tanto tempo\ Menininhos em macacões pretos cujas mãos, grudentas de brincar, parecem\ as folhas novas ainda enroladas das castanheiras riem,2 rodam e rodam nos\ cavalinhos-de-pau até ficarem de cabeça tonta.\ Pombos se empoleiram em estátuas\ E viram pedra.\ Le départ pour Cythère.\ Essas ninfas são inofensivas, \ Medo não tenhais de suas bocas macias—\ Um Pasteur qualquer tornou os Gauleses imunes\ À mordida de Ninfas... olhe \ Gambetta \ Uma roseta vermelha3 na lapela do casaco\ O tutoiement4 conjugal obsceno\ Mais c´est logique\ O Esprit Français se curva sobre ele,\ Sussurrando\ Segredos \ requintados significativos\ fados plásticos\ Da 13a Duquesa de Alba\ Longa longa6 como a Torre Eiffel\ Sob tantas braças de haxixe\ Com longo convincente dedo\ Mostrando Magos invisíveis\ A um Maltesinho branco:\ O fundo cinza e verde-oliva\ Como o Midi, o Louvre, o Sena... \ De espátulas de marfim, um leão esculpido no punho, Lisístrata tinha\ uma, mas a artesania dessas é Império... \ Vejo o Arco do Triunfo \ Sóbrio e sombrio como os sonhos de Júlio César:\ Desdenhe as leis da geometria sólida,\ Audaz penetre a parede da Salle Caillebotte\ E adiante e adiante... \ Odeio a Etoile\ O Bois me aborrece: \ Cágados com a carapaça crivada de gemas\ Um menino romano tirando um espinho do pé\ Uma revoada de Madames Récamiers descalçadas \ Lamentando, onde, onde, o Chateaubriand de nos jours \ E no entanto... ali bem perto \ Vagueia a vetusta rue Saint-Honoré \ Maltrapilha e indiferente, como um Grand Seigneur da Bretanha \ Um Auvergnat, todas as montanhas de Auvergne em cada castanha que ele vende... \ Paris é um imenso camponês saudoso de casa, \ A carregar mil vilarejos no coração. \ Pátios ocultos \ Com faunos em baixíssimo-relevo siflando entre lótus\ E trepadeiras que galgam treliças\ São vales secretos onde vão nascendo pequenos deuses.\ Toda hora quase se ouve um galo\ Dó dó miii\ 80 Ele não pode cantar as cidades—\ O fantasma do velho Hesíodo com sobra de tempo pra sentir melancólico - \ Na ociosidade eterna do Aqueronte\ Doido por 'Trabalhos e Dias' ouça! \ O singelo Espírito do Ano\ Está duro e desolado\ Estendido por acres de terra roxa,\ As retas linhas nítidas de sua rouparia arcaica,\ Perfeitamente cinzelada pelo arado...\ E tem coisas bonitas— \ Crianças com amuletos no pescoço\ Brincando de Pigeon vole,\ Telhados vermelhos,\ Batas azuis,\ E santos gaiatos...\ AU \ BON MARCHE\ ACTUELLEMENT\ TOILETTES\ PRINTANIERES\ A jeunesse dorée dos plátanos. \ Nas Igrejas, durante a Quaresma, Cristo e os Santos vestem véus\ cor-de-malva.\ Lá longe, nos jardins,\ Crocus, \ Chionodoxas, a Princesa num conto-de-fadas sérvio,\ Depois \ A chef d´oeuvre do ourives—lírio-do-vale, \ Logo\ Rosas-caninas vão encarar ciganos, carroças, peregrinações\ O tempo todo\ Inodoras rosas de Lyons\ Gélidas, \ Plásticas,\ Batizadas em homenagem às mulheres de Prefeitos... \ Ingres pintou um retrato de Madame Jacquemart \ André? \ No Louvre\ A Pietà de Avignon,\ L’Olympe,\ Giles,\ Os Sete Pecados Capitais de Mantegna\ Os Chardins;\ Se alçam, serenos and vívidos, um atrás do outro dos seus cinco longos anos \ de sono subterrâneo. \ Como Duncan, dormiram bem.\ O PresidenteWilson sorri feito um cão e corre cidade afora, fucinhando com\ um prazer inocente a urina diluviana de Gargântua.\ Os botões nos álamos são crisálidas douradas;\ O Balé de verdes Borboletas\ Está prestes a começar.\ Durante o cíclico Grand Guignol do Catolicismo\ Guinchos,\ Lacerações,\ Suor sangrado—\ Le petit Jésus fait pipi.\ Lilás\ A PRIMAVERA É A IRMÃZINHA DE SALOMÃO ; ELA NÃO TEM SEIOS.\ LAIT SUPERIEUR\ DE LA\ FERME DE RAMBOUILLET\ ICI ON CONSULTE\ LE BOTTIN.\ CHARCUTERIE\ COMESTIBLES DE IRE CHOIX\ APERITIFS\ ALIMENTS DIABETIQUES\ DEUIL EN 24 HEURES\ Messieursetdames\ Pequenos templos de Mercúrio;\ A circunferência do seu templum\ Um belo senso de escala,\ Uma gota dourada do sangue de Harpagão,\ Preserve-a de ímpia ampliação.\ Grandes buquês de lilases entre sifões, vermute, Bocks, tabaco.\ Messieursetdames\ NE FERMEZ PAS LA PORTE\ S.V. P\ LE PRIMUS S´EN CHARGERA\ Em mesas de mármore, ouvriers vestidos de linho azul sentam-se discutindo:\ La journée de huit heures,\ Se Landru era um sádico,\ A foca amestrada no Nouveau Cirque;\Cottin... \ Ecos de Bossuet louvando rainhas mortas.\ méticuleux\ bélligerants\ hebdomadaire\ immonde\ As Legiões Romanas\ Aladas\ Invisíveis\ Batalham em sua última batalha na Gália.\ O fantasma de Père Lachaise\ Vai andando pelas ruas,\ Vai envolto numa cortina negra bordada com a letra H, \ Nele dependuradas, coroas fúnebres de papel,\ É belo e horrível e amigo próximo de Rousseau, o funcionário da Alfândega.\ As unidades jazem destroçadas, \ O palco entulhado de cadáveres... \ Espertos, gentis gaillards\ Seus eidola em molduras hediondas, de bronze, gravado, o motto\ MORT AU CHAMP D'HONNEUR;\ E viuvinhas se lamentando\ Le pauvre grand!\ Le pauvre grand!\ E petites bourgeoises de lábios cerrados e vozes estridentes vão contando o troco e dizendo Messieursetdames e seus corações são a província arruinada\ de Picardie... \ Eles não são como nós, que, feito vampiros17, enterramos nossos amigos vinte vezes antes mesmo que morram mas—\ Nunca nunca mais vai o Marne\ Fluir por margens felizes.\ É bom sentar nos Grand Boulevards—\ Têm cheiro de\ Cloacas \ borracha d'Índia quente\ Poudre de riz \ Tabaco argelino\ Monsieur Jourdain no rubro-azul dos Zuavos\ É o premier danseur no Ballet Turque\ ´Ya bon!\ Mamamouchi\ YANKEES--“e diga ainda que em Aleppo un dia...”\ Muitos Mardi Gras e Carême Prenant do Carnaval\ da Paz ;\ Véus de crepe,\ Bocas em biquinhos pro protetor labial como se tivessem acabado de dizer: \ Cho-co-lat... \ “Elles se balancent sur les hanches.”\ Olhos de lagarto,\ Barbas assírias,\ Botas com topo de pano—\ L’Olympe,\ Giles,\ Os Sete Pecados Capitais de Mantegna\ Os Chardins;\ Se alçam, serenos and vívidos, um atrás do outro dos seus cinco longos anos \ de sono subterrâneo.\ Como Duncan, dormiram bem. \ O Presidente Wilson sorri feito um cão e corre cidade afora, fucinhando com\ um prazer inocente a urina diluviana de Gargântua.\ Os botões nos álamos são crisálidas douradas;\ O Balé de verdes Borboletas\ Está prestes a começar. \ Durante o cíclico Grand Guignol do Catolicismo\ Guinchos,\ Lacerações,\ Suor sangrado—\ Le petit Jésus fait pipi.\ Lilás\ A PRIMAVERA É A IRMÃZINHA DE SALOMÃO ; ELA NÃO TEM SEIOS.\ LAIT SUPERIEUR\ DE LA\ FERME DE RAMBOUILLET \ ICI ON CONSULTE \ LE BOTTIN.\ CHARCUTERIE\ COMESTIBLES DE IRE CHOIX\ APERITIFS\ ALIMENTS DIABETIQUES\ DEUIL EN 24 HEURES\ Messieursetdames\ Pequenos templos de Mercúrio;\ A circunferência do seu templum\ Um belo senso de escala,\ Uma gota dourada do sangue de Harpagão,\ Preserve-a de ímpia ampliação.\ Grandes buquês de lilases entre sifões, vermute, Bocks, tabaco.\ Messieursetdames\ NE FERMEZ PAS LA PORTE\ S.V. P\ LE PRIMUS S´EN CHARGERA\ Em mesas de mármore, ouvriers vestidos de linho azul sentam-se discutindo:\ La journée de huit heures, \ Se Landru era um sádico,\ A foca amestrada16 no Nouveau Cirque;\ Cottin... \ Ecos de Bossuet louvando rainhas mortas.\ méticuleux\ bélligerants\ hebdomadaire\ immonde\ As Legiões Romanas\ Aladas\ Invisíveis\ Batalham em sua última batalha na Gália.\ O fantasma de Père Lachaise\ Vai andando pelas ruas,\ Vai envolto numa cortina negra bordada com a letra H,\ Nele dependuradas, coroas fúnebres de papel,\ É belo e horrível e amigo próximo de Rousseau, o funcionário da Alfândega.\ As unidades jazem destroçadas,\ O palco entulhado de cadáveres\ Espertos, gentis gaillards \ Seus eidola em molduras hediondas, de bronze, gravado, o motto\ MORT AU CHAMP D'HONNEUR;\ E viuvinhas se lamentando\ Le pauvre grand! \ Le pauvre grand!\ E petites bourgeoises de lábios cerrados e vozes estridentes vão contando o troco e dizendo Messieursetdames e seus corações são a província arruinada\ de Picardie... \ Eles não são como nós, que, feito vampiros, enterramos nossos amigos vinte vezes antes mesmo que morram mas— \ Nunca nunca mais vai o Marne\ Fluir por margens felizes.\ É bom sentar nos Grand Boulevards—\ Têm cheiro de\ Cloacas \ borracha d'Índia quente\ Poudre de riz\ Tabaco argelino\ Monsieur Jourdain no rubro-azul dos Zuavos\ É o premier danseur no Ballet Turque\ ´Ya bon!\ Mamamouchi\ YANKEES--“e diga ainda que em Aleppo un dia...”\ Muitos Mardi Gras e Carême Prenant do Carnaval\ da Paz ;\ Véus de crepe,\ Bocas em biquinhos pro protetor labial como se tivessem acabado de dizer:\ Cho-co-lat...\ “Elles se balancent sur les hanches.” \ Olhos de lagarto,\ Barbas assírias,\ Botas com topo de pano—\ A raça, tão pequena quão audaz, cujo cérebro, disseram os Árabes, era um dos três cimos \ do Espírito de Deus. \ Ouiouioui, c´est passionnant— on en a pour son argent.\ Le fromage n´est pas un plat logique\ A a a a a oui c´est un délicieux garçon\ Il me semble que toute femme sincère doit se retrouver en Anna\ Karénine.\ Nunca a catalepsia do Teutônico\ Que tempo\ Sub-aquoso\ Célula sobre célula\ Experiência\ Muito lentamente\ Tomando a forma\ De algo belo—terrível—gigante\ O se dar conta... \ Fala rouca aos trancos—a maldição do que é vasto.\ O Primeiro de Maio\ N\ ã\ o\ h\ á\ l \ í\ r\ i\ o\ d\ o\ v\ a\ l\ e\ Houve uma luta ritualística pelo seu doce corpo \ Entre duas virgens—Maria e a lua\ A malévola lua de abril\ O silêncio de la greve\ Chuva\ O Louvre se desnovela na névoa\ Logo vai ficar transparente \ E trespassando-o vão cintilar as misteriosas ajardinadas ilhas da Place du Carrousel. \ O Sena, velho egotista, serpenteia imperturbavelmente em direção ao mar,\ Ruminando sobre ervas daninhas e chuva...\ Se pelo seu sono lerdo e líquido surgem sonhos\ São os fantasmas azuis de martins-pescadores,\ A Torre Eiffel é bi dimensional,\ Gravada em papel grosso, branco.\ Poilus num azul cerâmico com feixes Terre de Sienne estão acampando ao redor da cinza esfinge das Tulherias. Parecem assim um esboço em giz que um \ artista-de-guerra faria, pra ser ‘editado’ na Rue des Pyramides a 10 francos\ a folha.\ Désoeuvrement, \ Apprehension;\ Vronsky e Anna\ Sobressaltando-se em camas separadas num suor frio\ Lendo calamidade no mesmo sonho\ De um mujique gigantesco e sinistro... \ O que quer que aconteça, um dia vai parecer bonita:\ Clio é uma grande pintora francesa,\ Caminha sobre as águas e elas permanecem paradas.\ Sidrac, Misac e Abdênago, de pé, imóveis e plásticos, em meio às chamas.\ Massacres des Jours de Juin, de Manet,\ Prise de la Bastille, de David,\ Fronde, de Poussin,\ Pendurados numa sala calma.\ Esse tempo todo, aVirgem não está parada ;\ As vitrines das Galéries Lafayette, do Bon Marché, da Samaritaine,\ Piscam iscas santas,\ Pandoras de cera em véus brancos e laços que ela mesmo decorou;\ Catéchisme de Persévérance,\ Os decretos dos Sete Concílios Ecumênicos reduzidos ao formato da Bibliothè que Rose,\ Première Communion,\ (Prometeu engoliu a isca)\ Petits Lycéens,\ Por-no-gra-phie,\ Encantadoras noivinhas pigmeias,\ São Huguinho vingado—\ AS CRIANÇAS COMEM O JUDEU.\ FOTO ANÃO\ Eu vou!\ Caminho imersa até os joelhos em sonhos—\ Progresso duro doce\ Assim, se atravessando um campo de trigo maduro em Périgord.\ O Louvre, o Ritz, o Palais-Royale, o Hôtel deVille\ Leves e frágeis\ Pavilhões de prazer, de palha\ Palco disposto pra dez dias de folias\ De cidadãos com suas máscaras e dominós\ A l´occasion du marriage de Monseigneur le Dauphin.\ Do último andar de um velho Hôtel,\ Em transe, \ Lá em baixo vejo, estreita, a rue de Beaune.\ Vendedores ambulantes liturgicamente solfejam seus bagulhos: \ Mulheres sem chapéu sob xales negros\ Vão com longos pães—Triptólemo envolto em fraldas:\ Operários de pálido azul:\ Carros de mão de verduras: \ Cães ocupados :\ Vêm e vão.\ São pequenininhos.\ Estórias... \ A romança perdida \ Composta por algum Ovídio, um relutante escravo\ No País das Fadas,\ Ninguém sabe seu nome ;\ Era o segredo-chave dos pintores italianos.\ Passaram a vida inteira ilustrando-a... \ A aldeia chinesa na mente de um gênio... \ Pequenas cômicas coisinhas acontecendo sem parar. \ Na Ile Saint-Louis, na rue Saint Antoine, na Place des\ Vosges\ O século XVII jaz morrendo, requintadamente.... \ Ss s s h \ Na paróquia de Saint Thomas d´Aquin tem um beco chamado l´impasse\ des Deux Anges.\ Casas com fileiras de janelas impassíveis ;\ São como cachorros cegos\ Tudo que conseguem ver são fantasmas.\ Ouça a pequenina voz e seca,\ Se de uma velha monja cantando Missas \ Pela alma de um irmão morto em Sebastopol... \ MOLIERE\ EST MORT\ DANS CETTE MAISON\ LE 17 FEVRIER 1673\ VOLTAIRE\ EST MORT\ DANS CETTE MAISON\ LE 30 MAI 1778\ CHATEAUBRIAND\ EST MORT\ DANS CETTER MAISON\ LE 4 JUILLET 1848\ Isso não é tudo,\ O paraíso não consegue conter por muito os famosos mortos de Paris... \ Eis os Campos Elísios ! \ Sainte-Beuve, um compacto buquê na mão para MadameVictor-Hugo,\ Passa, na Pont-Neuf, pelo duc de la Rochefoucauld\ Com um andar esplendorosamente despreocupado\ Em direção ao salon d´automne\ De Madame de Layette ;\ Um não pode ver o outro.\ Il fait lourd,\ Os sonhos chegaram à minha cintura.\ Fomos à Benção do Santíssimo em Notre-Dame-des-Champs,\ Zum be zum37... be zum be... zum be zum.\ AVirgem sentada em seu jardim ;\ Veste o hábito azul e o véu de linho alado38 das freiras de SãoVicente de\ Paula.\ O Espírito Santo arrulha no seu pomba\ As Sete Estações da Cruz gravadas em buxo\ Lírios se açulam, azul, verde, e rosa, \ Os bulbos foram ex-votos\ De um japa convertido.\ Um trovador angélico\ Canta para ela canções\ De pecadilhos veniais.\ No muro do pôr-do-céu vespas nunca roem\ Os pêssegos do Paraíso.\ La Libertè! La Presse!\ La Libertè! La Presse!\ O sol naufraga atrás do Petit-Palais.\ No deserto da Argélia eles entoam o Alcorão.\ La Libertè! La Presse!\ O sol é damasco;\ Contra ele passam\ Sobre a Pont Solférino\ Fiacres and miniaturas de gente todas negras,\ Mosquitos mordiscando o damasco celestial—\ Aquele com chapéu de abas largas e peliça deve ser um padre.\ São negros e bidimensionais e parecem silhuetas de cidadãos de Luís\ Filipe.\ Ao longo dos Quais os bouquinistes. fecham suas caixas verdes.\ Vinda doVIIéme arrondissement\ A noite como um vampiro\ Suga toda cor, todo som.\ Os ventos estão dormindo em sua caverna hiperbórea ;\ As ruas estreitas se curvam orgulhosamente para as estrelas ;\ De tempos em tempos um táxi pia feito uma coruja.\ Mas atrás dos taludes do Louvre\ Freud dragou o rio e, sorrindo horrivelmente, acena com seu lixo num lampejo\ de eletricidade\ Táxis,\ Táxis,\ Táxis,\ Eles gemem e gritam e guincham \ Feito mil gatos no cio.\ As prostitutas45 feito leões vão procurando sua carne em Deus:\ Um capelão inglês vai tombando com o Moulin Rouge \ Semínimas e colcheias tem cabeças-de-negro e se contorcem em síncope\ obscena :\ Toutes les cartes marchent avec une allumette!\ Cem lentes refratam a Mascarada dos Sete Pecados Capitais para o astigmatismo americano :\ "Num gòsto das garetas48 da boate—elas gostam de mulheres." \ Toutes les cartes marchent avec une allumette!\ AURORA\ Hora deVerlaine ir pra cama... Alquimia,\ Absynto, \ Tabaco argelino,\ Falar, falar, falar,\ Adubando as brancas violetas da lua.\ O Presidente da República está deitado na cama ao lado de sua esposa, e pode\ ser que nesse exato momento...\ Na Abbaye de Port-Royal nasçam novos nenês, \ Talvez alguém que não consegue dormir esteja lendo le Crime et le Châtiment. \ O sol vai nascendo,\ Logo les Halles vão abrir,\ O céu é de açafrão entre as duas torres de Nôtre-Dame\ JEVOUS SALUE PARIS PLEIN DE GRACE. Poema experimental da escritora e tradutora britância Hope Mirrlees (1887–1978).

 

SACADOUTRAS

 

A TRAGÉDIA HUMANA – A peça teatral A tragédia do homem (Salamandra, UERJ, 1980), do poeta e dramaturgo húngaro Imre Madách (1823-1864), escrita em 1860 e que aborda as mais altas questões do espírito humano e que se constitui numa espécie de Bíblia magiar, tornando-se obra clássica, ultrapassando fronteiras. Ganhei o livro das mãos do poetamigo Juarez Correya, no início dos anos 1980, quando estava me preparando para trabalhar a peça teatral João Sem Terra, de Hermilo Borba Filho. Logo me impressionei com a leitura do texto: um drama de mistério medieval, que traz a representação de Lúcifer, o espírito da negação, em luta com Deus pela alma de Adão. Depois de tê-lo instigado a comer do fruto proibido, o diabo mostra-lhe num sonho os episódios mais significativos da história humana. Na cena IV da peça, num diálogo com Adão, Lúcifer diz: “- Dói, mas ela não sabe onde é a dor. Todos os homens sonham com o poder, e esse sonho – não a fraternidade – é que os leva a empunhar os estandartes da liberdade, não por convicção profunda, mas vagamente empunhando-o, sempre em busca de alguma coisa nova negando qualquer coisa já existente. E esperam sempre ver concretizados os sonhos de ventura que acalentam. O povo é um mar muito fundo: nenhum raio de sol penetra as águas dele, sempre às escuras. Só a espuma brilha na crista da onde – que podes ser tu!”. Veja mais aquiaqui.

Imagem sem título do escultor austríaco Franz West. Veja mais aqui.

Ouvindo os Violin Concerts nºs 7, 10 and 13, do compositor e violinista francês Pierre Rode (1774-1830), en si mineur Friedemann Eichhorn, Violin South West German Radio Orchestra, Kaiserlautern, Nicolas Pasquet.


A RESILIÊNCIA DA SEREIA DAS TELAS - A atriz, bailarina e dançarina da Broadway e Hollywwod, Vera Ellen (1921-1981), mais conhecida como a Sereia da Tela na época de ouro do cinema norte-americano, participou de catorze filmes e com uma queda que lhe acarretou uma fratura do quadril e o diagnóstico de artrite, manteve sua resiliência em dia, ensinando: “Você não pode esperar fazer coisas árduas com o corpo, como eu fiz, ano após ano, sem ter qualquer desgaste ou [derramar] lágrimas. Até uma máquina se acaba”. E sobre a dança ela se expressou que: “A dança traz para fora o melhor numa pessoa porque ajuda a desenvolver um corpo sadio". Veja mais aqui.

TABU MUDO – Tive a oportunidade de assistir ao filme Tabu, a Story of the South Seas (1931), produzido pelo documentarista estadunidense Robert Joseph Flaherty (1884-1951), com música de Hugo Riesenfeld, Milar Roder e W. Franke Haarling, e dirigido pelo cineasta expressionista alemão e do movimento Kammerspiel Friedrich Wilhelm Murnau (1888-1931), ganhador do Oscar de melhor cinematografia. O filme é apresentado em dois capítulos, o primeiro no Paraíso e, no segundo, O Paraíso Perdido, contando a história de dois jovens apaixonados e nativos de Bora-Bora, Matahi e Reri, esta última que, com o falecimento da virgem sagrada dos deuses passa a ser a escolhida como substituta Tabu pelo chefe Fanuma. Destaque para as imagens belíssimas e a beleza da atriz Anne Chevalier (1912-1977) que atua como a Tabu do filme. Veja mais aqui.


MULHERES & DOCES PROBLEMAS – A comédia Women in Trouble (Doces problemas, 2009), dirigido por Sebastian Gutierrez, reúne oito mulheres das mais diversas profissões: psiquiatra, comissária de bordo, atriz pornô, massagista, bartender, telemarketig, entre outras, que formam a maior confusão. O filme é delicioso: não é todo dia que beldades se reúnem assim às tuias pra nosso deleite. Destaque para a atriz norte-americana aniversariante do dia Sarah Clarke nos premiando com seus atributos na tela. Veja mais aqui.



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