domingo, fevereiro 15, 2015

MINA LOY, SAMANTHA HARVEY, RUTH STONEHOUSE & LUPE VÉLEZ

 


LUPE, A MORTA COM A CABEÇA NA PRIVADA... – Aquela linda jovem bem-humorada era uma Maria de San Luis Potosi, a que diziam ser filha de uma cantora de ópera e que fora educada num colégio de freiras. Na verdade, perdera o pai em combate durante a Revolução Mexicana – o mesmo que a impedira de usar seu sobrenome no teatro, apenas o da mãe. Era Guadalupe, a dançarina canceriana – a que diziam que passou a juventude em um convento, mas as más línguas diziam que sua mãe a vendia aos homens em programas noturnos. O que se sabia de mesmo era que estreou no Teatro Principal do México e, depois, dividiu o palco como assistente de vendas. Estreou no cinema como estrela no Hal Roach. E tornou-se Lupe - uma linda mexicana com 19 anos de idade, que se tornaria a primeira latina de Hollywood, a personalidade explosiva que protagonizou espetáculos e paródias com talento de atriz e dançarina. Os apaixonados caiam aos seus pais, até Chaplin! Mais os altos e baixos: ela tentou matar a tiros um dos namorados, por sorte errou todos os disparos. E inventou o estereótipo de latina temperamental – vendiam-na por infantil, instável, aos arroubos, enquanto brilhava no vaudeville com os ombros de fora. Tempestuosa, incendiária, possuía uma coleção de expressões faciais para estrelar The Gaucho para a fama e glória. Foi apelidada de muitas coisas, Furacão Mexicano, O Tamale Picante, a Whoopee Lupe. Quantos relacionamentos amorosos, amores desfeitos, vítima de xenofobia, polêmicas e divórcio – um prato cheio pros tabloides sensacionalista! Um turbulento casamento e muitas especulações - quem lá sabe sua verdadeira vida no meio de tantas controvérsias... Durante toda sua vida administrou a mania e depressão – diziam até acometida de transtorno bipolar. Desafiava convenções morais e findou grávida de um homem casado, sozinha e falida. Na última noite floriu todo ambiente da casa, velas acesas no quarto cheio de espelhos, um jantar com a melhor comida mexicana, maquiou-se com esmero no vestido mais bonito e um bilhete de despedida: Que Deus o perdoe e perdoe a mim também, mas prefiro tirar minha vida e de nosso bebê do que trazer vergonha a ele ou matá-lo... Embebedou-se com uma mistura letal: uísque e muitos barbitúricos. Acordou de repente, cambaleou vomitando pelo quarto até enfiar a cabeça no vaso – não era a morte glamourosa que queria... afogada na privada – um estrondo em Beverly Hills e a glória final nas cenas de Andy Warhol. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A primeira vez que você compra uma casa, você vê como a pintura é bonita e a compra. A segunda vez, você olha para ver se o porão tem cupins. É a mesma coisa com os homens. Em uma igreja, eu sou uma santa. Em um lugar público, eu sou uma dama. Em minha própria casa, eu sou um demônio... Minha casa é onde eu posso fazer o que eu quiser, gritar e berrar e dançar e cair no chão se eu quiser. Eu sou eu mesma quando estou em minha casa. Pensamento da atriz e dançarina mexicana Lupe Vélez (María Guadalupe Vélez de Villalobos – 1908-1944).

 

ALGUÉM FALOU: Sim, somos tudo, cada experiência que já tivemos, e em alguns de nós, muito disso se traduz e cria padrões, poemas. Mas, meu Deus, nem começamos a tocar nisso. Há uma quantidade enorme, mas podemos tocar tão pouco... Acho que essa é uma das coisas que nossas mentes fazem; elas classificam, de alguma forma, frequentemente, e criam padrões de coisas significativas para nós. E acho que nossas mentes fazem isso por nós no escuro, e então as oferecem de volta em poemas. Acho que sua mente cria seu poema antes de você recebê-lo. Você sabe, você recebe o poema de sua mente, você sabe que recebe. Ela pega uma multidão de experiências, e toda essa linguagem, e todo esse som, e os reúne nesses padrões que são significativos para você e os devolve a você... Pensamento da atriz, cineasta e roteirista estadunidense Ruth Stonehouse (1892-1941), autora do poema: O campus, uma academia de árvores, \ sob a qual alguma mão, do vento, \ eu acho, espalhou a luz pálida de milhares de belezas primaveris, \ pétalas manchadas com veias rosadas; \ secretas, florescendo por si mesmas. \ Nós nos sentamos entre elas. \ Seus dedos longos, corpo magro, e ossos longos de gênio improvável; \ algum gene disperso como Kafka deve ter tido. \ Sua voz profunda, essa poeira passageira de milagres. \ Aquele simples que era eu, meio consciente, \ como se cada momento fosse uma página onde as palavras apareciam; \ o martelo dobrado do tipo batido contra a fita em movimento. \ O ar leve, as folhas inquietas; a ondulação do tempo distorcida por nossa saudade. \ Ali, como se fôssemos pintados por algum impressionista desconhecido. Já na obra In the Next Galaxy (Copper Canyon Press, 2002), ela expressou: […] Todas as coisas chegam ao fim? Não, elas duram para sempre. [...] e o que não está lá sempre há mais do que está lá. [...] Violar a beleza é a essência do desejo sexual. Procriar é a essência da decadência. [...] Os vídeos mais lindos vêm da leitura de poesia. E eles estão na sua cabeça. [...] visionário cego que trava a lua no lugar; Eu sou a peneira simples que bebe o universo. [...].

 

QUERIDO LADRÃO – [...] É isso que a escrita faz com você, ao que parece: transforma objetos que costumavam ser apenas coisas na sua vida em coisas que devem ser descritas e, ao mesmo tempo, faz com que pareçam cada vez mais indescritíveis. [...] Há liberdade ali; sempre há liberdade no passado. O eu que você deixou para trás vive em infinitas possibilidades. Quanto mais velho você fica, maior e mais selvagem o passado se torna, um lugar que nunca mais pode ser cuidado e que, portanto, é propenso àquela beleza que acontece em terrenos baldios e desertos, onde a grama cresceu sobre sucata e o trigo brotou em rachaduras entre o concreto e não há uma forma regular para a luz incidir diretamente, então ela se abobadou e se multiplicou e você quer ir para lá. Você quer ir para lá como quer ir para um amante. [...] Nada mudou desde aqueles dias, exceto que tudo se degradou e duas décadas de luz fizeram as cores recuarem um pouco. [...] enquanto para se casar é preciso apenas um sim, para se divorciar é preciso dizer não tantas vezes, de tantas maneiras diferentes e com tanto custo, que nem sempre parece valer a pena o esforço. [...] Não cabe a nós tentar mudar o mundo para algo que nos seja mais adequado, mas sim mudar, nos curvar a um peso maior. [...]. Trechos extraídos da obra Dear Thief (Ecco Press, 2014), da escritora inglesa Samantha Harvey.

 

CANÇÕES DE AMOR - Eu a vi um \ Espalhado de fantasias\ Peneirando o avaliativo\ Pig Cupid seu excinho rosado\ Lixo erótico enraizamento\ "E uma vez" \ Puxa uma anedi de tom branco estrela-topped\ Entre aveia selvagem semeada em membrana mucosa\ Eu faria um olho em uma luz de Bengala\ Eternidade em um sky-rocket\ Constelações em um oceano\ Cujos rios não funcionam mais fresco\ Do que um gotejamento de saliva\ Estes são lugares suspeitos\ Eu devo viver na minha lanterna\ Aparar a cintilação subliminal\ Virginal para os berdores\ Da experiência\ Vidro colorido. II - Com a sua misericórdia \ O nosso Universo\ É apenas\ Uma cebola incolor\ Você derrobe\ Bainha por bainha\ Permanecendo\ Um odor desanimador\ Sobre suas mãos nerd. III - A noite \ Pesados com pesadelos de flores fechadas\ Meio-dia \ Curado ao solitário\ O núcleo do\ O sol. IV - A evolução cai em despachar\ Igualdade sexual\ Prettily miscalcul\ Similitude (pesimidão)\ Seleção não natural\ Raça esses filhos e filhas\ Como jibber um no outro\ Criptonyms não interpretáveis\ Sob a lua\ Dê-lhes alguma maneira de sã sutiã\ Para chamadas ascu es cuidadosas\ Ou para hiccoughs homofônicos\ Transponha a risada\ Deixe-os supor que as lágrimas\ São gotas de neve ou melaço\ Ou qualquer coisa\ Do que as insufficias humanas\ A implorar vértebras dorsais \ Deixe a reunião ser a virada\ Para o antípoda\ E Forme um borrão\ Qualquer coisa\ Do que seduzi-los\ Para o um\ Como uma simples satisfação\ Para o outro. V – Shuttle-cock e porta de batalha\ Um pouco de amor rosa\ E as penas estão espalhadas. VI - Deixe a Alegria ir solace-winged\ Para esvoar quem ela pode interessar. VII - Uma vez em um mezanino\ O teto estrelado\ Cofreu uma família inimaginável\ Abortos semelhantes a pássaros\ Com as gargantas humanas\ E os olhos da Sabedoria\ Quem usava vestidos vermelhos de abajures\ E cabelo de lã\ Um deu-se um bebê\ Em um porte-enfant acolchoado\ Amarrada com uma fita sarsenet\ Para as asas de seu ganso\ Mas para as sombras abomináveis\ Eu teria vivido\ Entre seus móveis de medo\ Para ensiná-los a me contar seus segredos\ Antes que eu adivinhou\ -- Varrendo a ninhada limpa. VIII - Meia-noite esvazia a rua\ Para a esquerda um menino\ Uma asa foi lavada na chuva \ O outro nunca mais estará limpo...\ Puxando campainhas para lembrar\ Aqueles que são aconchegados\ Para a direita, um asceético de haloed\ Casas de rosca\ Probes feridas para as almas\ - Os pobres não podem lavar em água quente -\ E eu não sei qual vir a tomar... IX - Nós poderíamos ter acoplado\ No monopólio acamado de um momento\ Ou carne quebrada uns com os outros\ Na mesa de comunhão profana\ Onde o vinho não está derramado em lábios promíscuos\ Nós podemos ter dado à luz uma borboleta\ Com as notícias diárias\ Impresso em sangue em suas asas. X - Em alguns\ Plágio pré-natal\ Buffoons de metal\ Truques de Pego\ Da pantomima arquetípica\ Cordas de emoções\ Looped aloft (emprés-do-lo\ Para os olhos cegos \ Que a natureza nos conhece com\ E a maior parte da natureza é verde. XI - As coisas verdes crescem\ Saladas\ Para o cérebro\ O renascimento do forrager\ E flummery florido\ Sobre as bellies mandadas\ De montanhas\ Rolando no sol. XII - Derramando nossas pruderies mesquinhas\ De cortar os olhos\ Nós nos acalmos\ Para a natureza\ aquele pornografista irado. XIII - O vento enche a escória da rua branca\ Em meus pulmões e nas minhas narinas\ Pássaros emocionantes\ Prolongar o voo para a noite\ Nunca alcança. Poemas da escritora e artista visual inglesa Mina Loy (Mina Gertrude Lowy – 1883-1966).

 

SACADOUTRAS

 

A CIÊNCIA, A INQUISIÇÃO, O TEATRO - O matemático, astrônomo e físico italiano Galileu Galilei (1564-1642) tornou-se personalidade fundamental na revolução científica da modernidade, ao elaborar a lei da queda livre dos corpos, fundamental para todo o desenvolvimento posterior da mecânica racional. Publica em 1612 o seu Discurso sobre as coisas que estão sobre a água, no qual ridiculariza a teoria aristotélica dos quatro elementos, seguindo-se, em 1613, da História e demonstração sobre as manchas solares, apoiando a teoria do astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), mostrando o erro da concepção, segundo a qual, o Sol, como os demais astros, seria um corpo composto de um único elemento, o éter. Por essas obras, foi denunciado pelo dominicano Lorini como herege ao Santo Oficio. O seu julgamento pela Inquisição foi transformado no espetáculo teatral do dramaturgo alemão Bertolt Brecht: Vida de Galileu, em 1839/39 (Civilização Brasileira, 1978). A peça possui quinze quadros, o primeiro o professor de matemática em Pádua, quer demonstrar o novo sistema copernicano do universo; no segundo, Galileu entrega uma nova invenção à República de Veneza; no terceiro, 10 de janeiro de 1610, servindo-se do telescópio, Galileu descobre fenômenos celestes que confirmam o sistema copernicano, quando é advertido por seu amigo das possíveis consequências de sua pesquisa e ele afirma a sua fé na razão humana. Na quarto quadro, Galileu troca Veneza pela corte florentina, cujos sábios não dão credito às suas descobertas feitas pelo telescópio; no quinto, nem a peste intimida-o a prosseguir em suas pesquisas; no sexto, é 1616, Colégio Romano, instituo de pesquisa do Vaticano, confirmando as suas descobertas; no sétimo, a Inquisição põe a doutrina de Copérnico no Índex, em 5 de março de 1616; no oitavo, uma conversa; no nono, após oito anos de silêncio, encorajado pela ascensão de um novo papa, que é cientista, Galileu retoma suas pesquisas no campo proibido das manchas solares; no décimo, no decênio seguinte, o ensinamento de Galileu se difunde entre o povo e em toda parte panfletistas e jograis empunham as novas ideias, e na terça0-feira de carnaval de 1632, em muitas cidades da Itália, o desfile alegóricos das corporações retrata a astronomia; no décimo primeiro, a Inquisição convoca Galileu; no décimo segundo, o papa; no décimo terceiro, Galileu diante da Inquisição, em 22 de junho de 1633, renegando a sua doutrina do movimento da terra; no décimo quarto, Galileu vive numa casa de campo, prisioneiro da Inquisição até a sua morte; e no décimo quinto quadro, o livro Os Discorsi atravessa a fronteira italiana: “Distinto público, a ciência neste final deixa às carreiras o solo nacional. E nós que dela precisamos mais, eu, tu, ele, nós ficamos para trás. Meu vizinho, a ciência agora está contigo, cuida dela, cuida bem, mas como amigo. Que senão ela sobe, cresce, estoura e desce, nos come a todos e depois esquece. E depois esquece”. Em 1975, a peça de Brecht foi transformada em filme homônimo, sob a direção de Joseph Losey. Veja mais aqui.
Imagem: Madame de Pompadour como Venus, pintura a óleo pequena, do pintor francês Charles André van Loo (1701-1765)

Ouvindo Frevo no álbum Nó Caipira (EMI-Odeon, 1978) do músico multi-instrumentista Egberto Gismonti. Veja mais aqui e aqui.


A SENHORA DAS IMAGENS – A médica psiquiatra e psicoterapeuta alagoana, Nise da Silveira (1905-1999), foi aluna de Carl Gustav Jung e desenvolveu um trabalho de reconhecimento internacional no tratamento revolucionário das doenças mentais no Brasil. Autora de diversos livros, ela fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952 e, posteriormente, A Casa da Palmeiras, em 1956, para o desenvolvimento das atividades psiquiátricas e psicoterapêuticas. Entre os anos 1983/86, o cineasta Leon Hirszman (1937-1987), realizou uma trilogia denominada Imagens do Inconsciente, baseado em um roteiro de Nise. Em 2014, com direção de Roberto Berliner e estrelado por Glória Pires, foi lançado o filme Nise da Silveira – A senhora das imagens. Veja mais aquiaqui e aqui.

UM ANJO DO GUETO DE VARSÓVIA – A enfermeira polaca, ativista católica dos direitos humanos e salvadora de milhares de vida no gueto de Varsóvia durante a invasão alemã nazista da Polônia, na II Guerra Mundial, em 1942, Irena Sendler (1910-2008), que adotava o nome código de Jolanta, contribui para salvar mais de duas mil e quinhentas vidas por conseguir que famílias cristãs escondessem judeus em suas residências. Tornando-se conhecida como O anjo do gueto de Varsóvia por usar uma braçadeira com a estrela de David em sinal de solidariedade: A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade”. Em 1943 ela foi presa e brutalmente torturada pela Gestapo, pela qual teve os ossos dos pés e das pernas quebrados, mesmo assim, negou-se a trair os colaboradores das crianças ocultas. Foi condenada à morte e ao ser levada para o interrogatório final, um soldado alemão ordenou-lhe que corresse, fugindo dali. Seu nome estava entre os polacos executados e ela salvou-se pela intervenção de amigos que subornaram os alemães, continuando a trabalhar com identidade falsa. Durante uma revolta de Varsóvia, colocou duas listas com nomes em dois frascos de vidro que foram enterrados num jardim, acaso ela morresse. Quando findou a guerra, ela desenterrou-os para entregar ao primeiro presidente do comitê de salvação dos judeus sobreviventes, Adolfo Berman. Em 1965, ela recebeu a outorga de Justa entre as Nações pela organização Yad Vashem, de Jerusalém, tornando-se cidadã honorária de Israel. Depois, em 2003, recebeu a Ordem da Águia Branca, do presente da República Aleksander Kwásniewski. Em 2009, foi lançado o filme The Courageous Heart of Irena Sendler (O coração corajoso de Irena Sendler), baseado em sua vida, de Anna Miezkowska, roteiro de Larry Spagnola e direção de John  Keth Harrison, estrelado por Anna Paquin. Veja mais aqui, aquiaqui.


BLOW UP – O inesquecível filme ítalo-britânico Blow-Up (Depois daquele beijo, 1966), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), baseado no conto Las barbas del diablo (1959), do escritor argentino Júlio Cortázar (1914-1984) e na vida do famoso fotógrafo britânico da Swinging London, David Bailey, com roteiro do diretor e de Edward Bond e Tonino Guerra, fotografia de Carlo Di Palma e música de Herbie Hancock, conta a história do envolvimento acidental com um crime de morte, com lindas mulheres no elenco, a exemplo de Vanessa Redgrave, Sarah Miles e Jane Birkin, além da supermodelo Verushka interpretando a si própria. O filme arrebatou o Grand Prix do Festival de Cannes. Veja mais aqui, aquiaqui



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