sábado, fevereiro 14, 2015

ULRIKE DRAESNER, JODI PICOULT, HILDA DOOLITTLE & DEBBY BOONE

 

AS MUITAS HILDAS IMAGISTE... - Ela nasceu na comunidade moraviana de Bethlehem, filha de um notável astrônomo e de uma pintora de forte espiritualidade – sempre se sentiu rejeitada pela mãe e se decepcionara com o pai por abandonar tudo pela poesia. Ainda jovem o Hilda's Book de Pound e os estudos no Bryn Mawr College, escola que abandonou por conta da saúde precária e as baixas notas. Assumia-se Edith Gray para publicar historietas infantis no The Comrade. Tornou-se H.D. Imagiste no meio dos seus muitos pseudônimos. Casou-se, teve uma filha no meio de tragédias: seu irmão foi abatido no front da guerra, o que levou seu pai a ter um derrame fatal. Era a única mulher entre irmãos exemplares, desajeitada, desconfortável com seu corpo e altura, em conflito contra as normas da sociedade: a prova de falência como mulher. Dedica-se à escrita com Sea Garden e The God. Com um relacionamento aberto, engravida de um compositor. Contrai a gripe espanhola depois de uma gestação de alto risco e quase morre. O casamento degringola com as ameaças de interná-la em um sanatório. Foi salva pela herdeira milionária que custeou seu tratamento, salvou-lhe a vida e o bebê, rejeitando o lugar feminino no universo doméstico: nascia a escritora - Notes on Thought and Vision. Foi morar no Greenwich Village e de lá foi pra Europa. Era o início da imagista original em Londres – a máscara andrógina da sua sexualidade experimental, uma artista expatriada com engajamento na vanguarda. O horror da primeira guerra perseguia e fez o imagismo perder sentido: era a hora de novos questionamentos: relembrava o irmão morto na guerra, o infarto do pai com a notícia. Escreve ficções autobiográficas e aprisionada em sua reputação: As pessoas acham que sabem mais do que eu sobre o que sou ou o que devo ser... E eu digo: quem é H.D.?... Logo perdera também a sua mãe e, quase ao mesmo tempo, engravidara. Era a vez de fundar a revista Close-up e a produtora The Pool Group, na qual atua, mais os escritos de Translations, Hymen, seguindo-se de Heliodora and Other Poems e Hippolytus Temporizes. Viagens pelo Egito, Grécia e os Estados Unidos. Foi se estabelecer na Suíça, quando nasceram os manuscritos de Paint it Today, Asphodel e Palimpsest, inspirada pela poesia japonesa, as leituras Safo e da literatura grega, estilo de escrita com vernaculidade austera. Enfrentou a neurose que bloqueava artistas e encontrou na psicanálise a cura para os males da era moderna. Vivia no meio de casamentos de fachada, triangulações amorosas, escritos em prosa e os conflitos entre desejos hetero e homossexuais: o filme Bordeline, depois Red Roses for Bronze. Vai para Viena fazer terapia: ela estava paranoica com a ascensão do nazismo. Ela queria: virar toda a maré do pensamento humano... e vieram Kora and Ka, Nights e The Hedgehog. Sentimentos despedaçados e a segunda guerra: Minhas descobertas não são essencialmente uma panaceia. Minhas descobertas são a base para uma relevante filosofia... Aparecem os manuscritos de The Walls Do Not Fall e Tribute to the Angels. Um colapso nervoso e a internação numa clínica, com Trilogy, Flowering of the Rod e By Avon River. Os colapsos, as alucinações e o furor de sua bissexualidade. Vivia personificações de Perseu inconformada com o estereótipo feminino e no diário: Jamais me senti completamente satisfeita com nenhum de meus livros, publicados ou não... A vida pessoal sucumbindo a colapsados acontecimentos. Escreveu um odiento poema de repúdio contra o mestre velho e não o publicou enquanto ele estivesse vivo: Eu trocaria os meus anos de vida pelos dele; não seria um número tão generoso quanto eu desejava, mas faria alguma diferença... O inconsciente é uma maneira inusual de pensar... Mais no diário: Advento e Escrito na parede – memórias de antes do tudo. E foi a vez do Tribute to Freud. Retorna à terapia e o manuscrito de End to Torment: A Memoir of Ezra Pound, New Directions. Voltou aos Estados Unidos: foi a primeira a receber a medalha de honra da Academia Estadunidense de Letras e Artes, quando estava estéril criativamente no consultório psicanalítico. Era a hora do Bid Me to Live e o retorno para a Suíça - Helen in Egypt, New Directions. Ali sofreu um ataque cardíaco, com seu epitáfio nos versos de seu poema Let Zeus Record: Então, você pode dizer, \ Flor grega, êxtase grego \ Reivindica para sempre\ Alguém que morreu\ Após a medida perdida\ De uma canção intricada... Veja mais abaixo & mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Dance até a terra dançar... Não precisamos saber, apenas ser: deixar de lado a confusão de palavras gastas, razão e vaidade... Se você nem mesmo entende o que as palavras dizem, como pode esperar julgar o que as palavras escondem?... As palavras eram sua praga e suas palavras eram sua redenção... Escrever. Amar é escrever. Pensamento da poeta estadunidense Hilda Doolittle (1886-1961). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Todos nós temos maneiras comuns de nos identificarmos uns com os outros, e acho que quando você aborda a música dessa forma orgânica, é quase indescritível como ela conecta humanos e corações. Pensamento da cantora, atrz e escritora estadunidense Debby Boone. Veja mais aqui.

 

DEZENOVE MINUTOS - […] Se você desse seu coração a alguém e essa pessoa morresse, ela o levaria com ela? Você passaria o resto da eternidade com um buraco dentro de você que não poderia ser preenchido? [...] Você não precisa de água para sentir que está se afogando, precisa? [...] Uma fórmula matemática para a felicidade: Realidade dividida pelas Expectativas. Havia duas maneiras de ser feliz: melhorar sua realidade ou diminuir suas expectativas. [...] Se você passasse a vida se concentrando no que todos os outros pensavam de você, você esqueceria quem você realmente é? E se o rosto que você mostrasse ao mundo fosse uma máscara... sem nada por baixo? [...]. Trechos extraídos da obra Nineteen Minutes (Washington Square Press, 2008), da escritora estadunidense Jodi Picoult, que na obra Keeping Faith (William Morrow Paperbacks, 2006), expressou que: […] A verdade nem sempre liberta; as pessoas preferem acreditar em mentiras mais bonitas e bem embrulhadas [...]. No livro Second Glance (Washington Square Press, 2008), ela expressa que: […] O amor não é um porque, é um não importa o quê. [...]. No livro Change of Heart (Atria, 2008) assinala: [...] No espaço entre sim e não, há uma vida inteira. É a diferença entre o caminho que você trilha e o que você deixa para trás; é a lacuna entre quem você pensou que poderia ser e quem você realmente é; é o espaço para as mentiras que você contará a si mesmo no futuro. [...]. No livro Vanishing Acts (Washington Square Press, 2005) escreve: [...] São necessárias duas pessoas para que uma mentira funcione: a pessoa que a conta e a que acredita nela. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS - POEMA INACABADO, VERSÃO FINAL - você sabe como é quando você \ começa a girar (as folhas caindo) ele pergunta \ com uma calma gentil e polida: wulkan. \ a disposição das bordas a porcelana \ todas as coisas na casa ele disse \os colocam em mente suas próprias necessidades: fotos \ de batizados, iniciais em linho \ os edredons volumosos o \ sonho azul de uma cômoda com \ pavão saltitante o vinho do ano do casamento – o \ deles, isto é, ainda quente seus lábios alemães \ nas taças perto da pia. tínhamos vergonha \ não de pegar, mas de olhar \ foi assim que chegamos.\ wulkan. figura antiga para a vida. \ o humano empilhando-se em camadas \ atadas completamente cinza prolífico \ e quente, endurecido – sentado em malas prontas \ em novas casas por 30 anos: fugindo \ para o que outros fugiram. eles serraram \ a cama os outros para combustível o único \ saco recuperado a perna de pau \ de um irmão morto, eu posso ver \ suas mãos, avó, avô, pai, \ suas unhas, eles não perderam \ tudo mantiveram quase todas \ as partes de seus corpos mantiveram algo \ da alma – talvez \ alguns de nós deitem e façam amor \ na grama europeia, uma torre se ergue \ é apenas de ferro e reconstruída \ o que é normal, um bonde \ passa e o coração, wulkan \ bate seus cascos suavemente contra as paredes \ em um antigo \ estábulo polonês. ESCONDIDO - como um cavalo altivo (e língua estrangeira) balançando \ e rígido lamentavelmente não no táxi, mas na minha casa \ agora entrou eram outras mulheres que meu marido \ despiu. o quarto incrustado \ com paredes fibrosas então \ você não podia andar você tinha que voar os outros \ (em voo) o tinham fundido ao telefone quando \ eu na escuridão dessa confusão total me tornei \ o príncipe que não suportava olhar nenhum, enfeitado com um \ casaco de pônei manchado. eu vou te mostrar, meu marido disse, a \ variedade de suas próprias armadilhas internas hiper-real você é \ a parede a poltrona a cobra e muito verdadeiro \ o jeito que sua pequena alma empalidece mais uma vez, \ segue seus próprios olhos grandes e inchados através do flokati \ você está realmente tentando forçar isso? pensei no \ velho jogo da toupeira, um de nós descendo as colinas escuras \ o outro controlando o DVD do computador. era sobre \ uma coisa cega forçada de volta para seu buraco que praticamente \ sufoca, mas ainda remando ternamente tenta rastejar \ ao redor da terra. Poemas da escritora alémã Ulrike Draesner, autora de obras tais como: Gedächtnisschleifen (1995), Esfinge Bläuliche (2002) e Spiele (2005), entre outras.

 

SACADOUTRAS

 

Imagem: da exposição Pictórico Frevo do artista plástico pernambucano Rinaldo Lima.

Ouvindo Ninho de Vespa (Independente, 2013), da SpokFrevo Orquestra.



MOMENTO DE REFLEXÃO: “O brasileiro tem fome de ética e passa fome por falta de ética!” – do sociólogo e ativista dos direitos humanos, Herbert de Souza – Betinho (1935-1997), que dedicou sua ação ao projeto de Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Veja mais aquiaqui.

O REI MENOS O REINO – O poeta, tradutor e ensaísta brasileiro Augusto de Campos, foi um dos criadores da poesia concreta brasileira, ao lado do seu irmão, o poeta e tradutor Haroldo de Campos (1929-2003) e do poeta, ator, ensaísta, professor e tradutor Décio Pignatari (1927-2012). Esse movimento tem como marco estético o ano de 1956, com uma pesquisa de formas e de linguagens nunca empreendida antes. Augusto publicou seu primeiro livro O rei menos o reino (1951), seguindo-se Poetamenos (1953), Cidade/City/Cité (1964), Equivocábulos (1970), Colidouespaço (1971), Viva Vaia (1971), Poesia, Antipoesia, Antropofagia (1978), Despoesia (1994), Não (2004), além de traduzir Mallarmé, James Joyce, Ezra Pound, Maiakóvsky, Cummins e Arnaut Daniel, entre outros. Sendo um dos fundadores da revista Noigandres, definiu o movimento: “Com recursos drásticos como a abolição ou a redução da sintaxe discursiva e a ênfase na comunicação visual, criamos uma poesia Elemental e Elemental, simultaneamente sofisticada e primitiva, para virar a mesa da poesia. Ao mesmo tempo, adotamos uma língua geral, ou melhor, um código geral, que obrigava à leitura do texto no original, mas facilitava o acesso ao idioma com um vocabulário reduzido. Em suma, fizemos com a nossa língua uma espécie de esperanto poético, que nos permitia intervir literariamente em dimensão internacional e inverter a situação, passando de influenciados a influenciadores. O fato é que, depois da Exposição de 1956, em São Paulo, japoneses e ingleses, tchecos e iugoslavos (europeus e americanos) começaram a expor poemas concretos e a publicar antologias dessa poesia, em que figuravam como paradigmas os nossos poemas, tornados facilmente acessíveis com pequenos glossários de português básico”. Veja mais aquiaqui

TEMPO DE MORRER – No livro Novas veredas da psicologia social (Educ/Brasiliense, 1995), organizado pela psicóloga e professora Silvia Lane (1933-2006) e pela socióloga e psicóloga Bader Burihan Sawaya, reúne onze ensaios penetrantes que analisam a complexidade das relações entre o homem e a sociedade, colocados numa nova dimensão pela globalização e pela busca de uma vida digna, apresentando os avanços da teoria laneana, proporcionados pelos resultados de pesquisas e pela influência da teoria de Vygotsky, de Agness Heller e de Wallon. Entre os ensaios, encontra-se Dimensão ético-afetiva do adoecer da classe trabalhadora, resultado de uma pesquisa participante de Sawaia numa favela de São Paulo, envolvendo um grupo de mulheres que, segundo a autora, “[...] sofrem a falta de amparo externo (falta de controle absoluto sobre o que ocorre) e a falta de amparo subjetivo (falta de recursos emocionais para agir)”, refletindo sobre o processo saúde-doença, a partir do referencial da Psicologia Social Comunitária sobre o sofrimento psicossocial e o tempo de morrer que, segundo a autora, “[...] é caracterizado pela falta de recursos emocionais, de força para agir e pensar e pelo desânimo em relação à própria competência. É um autoabandono aos próprios recursos internos, e a consciência de que nada se pode fazer para melhorar seu estado. É a cristalização da angustia. O comportamento emocional que caracteriza o tempo de morrer pode ser definido como um estado letárgico de apatia, que vai ocupando o lugar das emoções até anulá-las totalmente, um estado de tristeza passiva que transforma o mundo numa realidade efetivamente neutra, reduzindo o indivíduo ao zero afetivo. No tempo de morrer, o sofrimento é a vivência depressiva que condensa os sentimentos de indignidade, inutilidade e desqualificação. Ele é dominado pelo cansaço que se origina dos esforços musculares e da paralisação da imaginação e do adormecimento intelectual necessário à realização de um trabalho sem sentido e que não cumpre sua função de evitar a fome. Para a maioria delas, o inicio da vida não coincide com o momento do nascimento, mas com o inicio do tempo de viver que é a superação do tempo de morrer, ao qual estão aprisionadas desde o nascimento. Tempo de viver é o tempo de agir com mais coragem e audácia, é tempo em que se despertam as emoções, quer sejam elas positivas ou negativas. O tempo de viver não se confunde com o bem, ele é um tempo de convite à vida, mesmo sendo uma vida sofrida. E o momento da transformação das relações objetivas que aprisionam as emoções, a aprendizagem, a humanidade e a sensação de impotência se transforma em energia e força para lutar. Tempo de viver não é o tempo do desaparecimento da angustia, aliás nunca se chega a isto. Trata-se de tornar possível a luta contra ela, para resolvê-la e ir em direção a outra angustia [...] A frase mais reveladora do sofrimento psicossocial ouvida durante a pesquisa na favela foi a da vice presidente da Associação de Moradores: Bader, a gente tinha ideia, sabia que faltava água, luz, comida... mas não tinha força para lutar. As mulheres faveladas demonstraram que só a revelação da pobreza e de seus nexos não altera uma situação real. O pensamento não é autônomo, descolado do empírico. É no seu encadeamento com as condições materiais de existência que se vislumbram possibilidades de saltos qualitativos, em direção à consciência crítica”. Veja mais aqui.


THE WALL - O escritor, ator, produtor e diretor de cinema inglês, Sir Alan William Parker produziu o filme Pink Floyd The Wall (1982), baseado no álbum da banda. O roteiro foi escrito pelo vocalista e baixista da banda Roger Waters, com animação do cartunista político Gerald Scarfe e protagonizado pelo músico e ator Bob Geldof da banda punk The Boomtown Rats, que vive a personagem de um roqueiro que se encontra com comportamento depressivo. Trata da construção de um muro imaginário que reflete a superação da vida a qualquer obstáculo. O destaque de todo o filme são as cenas que ilustram as canções, notadamente o grande sucesso da banda Another brick in the wall. Veja mais aqui.


AOS VIVOS & PULSAR POÉTICO – Tenho acompanhado há bastante tempo o extraordinário trabalho da poeta, atriz, clown e produtora Graça Carpes, e tenho cada vez mais admirado seu talento. Ela edita o blog PulsarPoético do qual destaco o seu Aos Vivos: as pessoas vão embora assim / no sopro suave dos ventos / dobram a esquina do tempo / carregadas depois em / carreatas de / anjos dourados / os vejo / no céu em forma de nuvens / acenando e sorrindo / nem aí para as lágrimas que descem ao chão / egoísmo puro egoísmo / essa coisa de morrer / um brinde aos que nascem / e a tudo o que está vivo / inclusive / à memória dos que já tenham ido / e aos convívios / do agora / eu brindo. E como todo dia é dia mulher, hoje é dia de Graça Carpes. Veja mais aqui.



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