sábado, fevereiro 21, 2015

EDITH SITWELL, CAN XUE, PARK WAN-SUH, AUDEN, ANAÏS, STANISLAW & COSMOVISÃO DO AMOR

 

COSMOVISÃO DO AMOR - A Terra dança e gira girou a girar com o que nasce e renasce a todo instante pelos estágios cíclicos de crescer e se formar, a se desenvolver e a se harmonizar, pelos amanheceres com sua brisa suave ecoando as vozes ancestrais. Ouço o canto da Mãe-Terra a dançar ao Sol e, com ela, os ventos cantam nas folhas das árvores, as águas cantam nas corredeiras e o fogo dança no coração grande para que o sangue prossiga o movimento das correntezas e marés. Peço permissão aos ventos que dançam e nos levam para todas as direções a nos fazer vivos pulsantes subindo montanhas para a contemplação de tudo à nossa ascensão humana e espiritual. Peço permissão à semente que desabrocha à luz do Sol, esse fogo animador. E compartilho com suas raízes nos profundos rios subterrâneos, como meus dedos que buscam nos galhos a fruta que reluz à fome e à sede. Peço permissão aos ventos que sopram nas folhas com a chuva que cai irrigando o chão de nossa existência para outros desaguadouros. Peço permissão ao Grande Espírito porque é o Amor a semente que nasce, o rio que corre, o fogo que alumia e transforma, a Terra que frutifica e nos dá guarida. E é a Natureza que nos dá vida e o caminho que leva às descobertas e sabedoria. É a essência que permeia todas as coisas, desde as vibrações moleculares, os processos celulares, o que surge de nossas entranhas e dá vitalidade a todos os nossos órgãos interdependentes do chão e do céu. É a mão que age por si para tudo e todos. É ubíquo a propagar a Luz na manifestação da Vida. É o que emerge do mais profundo íntimo para a sagração da nossa mais ampla Unidade. E no Amor somos filhos da Terra e do Universo. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Coisas que não foram vivenciadas não podem ser escritas... Para sobreviver, tive que suportar cada indignidade e ato de brutalidade que você pode imaginar. O que me manteve viva em meio a toda a dor foi meu desejo de documentar a vida. Houve momentos em que tive que rastejar como um verme; um profundo sentimento de arrependimento que se transformou em um desejo de vingança manteve meu último bastião de autoestima. Eu queria documentar as injustiças da guerra. Foi naquele momento que percebi o valor da literatura... Todo romancista sonha em escrever uma história de amor eterna... Um dos meus amados filhos desapareceu de repente quando estava no auge. Tudo o que me impediu de enlouquecer foi a esperança de que eu o seguiria em breve, onde quer que ele estivesse... Pensamento da escritora sul-coreana Park Wan-suh (1931-2011). Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Enquanto bebia meu café, escutei atentamente, mas não ouvi nada. Pensei, talvez seja porque há muito barulho no meu mundo... Pnsamento da escritora chinesa Can Xue (Deng Xiaohua), que no seu livro Vertical Motion (Open Letter, 2011), expressou que: […] Depois de inspecionar cuidadosamente seu domicílio, eu, um gato de certa raça, escolhi o tapete embaixo da mesa de chá como meu quarto. [...]. Também no seu livro Blue Light in the Sky & Other Stories (New Directions, 2006), ela expressou que: […] Seu rosto enrugado mostrava as mudanças que ele havia visto. [...] Quando escrevo, apago intencionalmente qualquer conhecimento da minha mente. [...]. Já no seu livro The Embroidered Shoes: Stories (Henry Holt and Co, 2015), ela expressou que: [...] Toda a existência seguia feliz sob a vontade do céu. Com o movimento acelerado da não-existência, detalhes embaraçosos e instáveis gradualmente se deslocavam. [...]. Por fim, na sua obra Frontier (Open Letter, 2008), ela expressou que: [...] Ele vive em suas memórias [...].

 

DOIS POEMASI – O dia todo você senta e costura, \ Costure a vida com medo de que ela cresça, \ Costure a vida com medo de que adivinhemos \ Na feiura oculta. \ Voz empoeirada que pulsa com calor, \ Esperando com sua batida fina como aço \ Colocar pontos em minha mente, \ Torne-a arrumada, faça-a gentil, \ Você não deve: eu a manterei livre \ Embora você transforme a terra, o céu e o mar \ Em uma colcha de retalhos para manter \ Sua mente aconchegante e aquecida no sono! II  - Eu mantive minhas respostas pequenas e as mantive por perto; \ Grandes perguntas machucaram minha mente, mas ainda assim eu deixei \ Pequenas respostas serem um baluarte para meu medo. \ As enormes abstrações que eu mantive longe da luz; \ Pequenas coisas que eu manuseei, acariciei e amei. \ Eu deixei as estrelas assumirem a noite inteira. \ Mas as grandes respostas clamavam para serem movidas \ Para minha vida. \ Sua grande audácia \ Gritava para ser reconhecida e acreditada. \ Mesmo quando todas as pequenas respostas se acumulam para \ Proteção do meu espírito, ainda ouço \ Grandes respostas lutando para sua derrubada. \ E todas as grandes conclusões se aproximando. Poema da escritora britânica Edith Sitwell (1887-1964), que ainda expressa: Muitas vezes desejei ter tempo para cultivar a modéstia... Mas estou muito ocupada pensando em mim mesmo. Sou paciente com a estupidez, mas não com aqueles que se orgulham dela. Não sou excêntrica. É que sou mais vivo do que a maioria das pessoas. Sou uma enguia elétrica impopular em um lago de bagres. O inverno é a época do conforto, da boa comida e do calor, do toque de uma mão amiga e de uma conversa ao lado do fogo: é a época de voltar para casa. Meus hobbies pessoais são ler, ouvir música e silêncio. A poesia é a deificação da realidade.

 

SER LIVRE É COM FREQUENCIA ESTAR SOZINHO - O poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden (1907-1973) era um adepto do socialismo e da psicanálise freudiana, dedicando-se aos estudos do cristianismo e da teologia protestante. Publicou seu primeiro livro Poemas em 1930, logo alcançando o panteão da nova geração de poetas, admirado pela habilidade e técnica versáteis de escrever em qualquer forma, recontando jornadas, aventuras e viagens. A sua arte influenciou várias gerações, tornando-se, inclusive, o maior poeta inglês do séc. XX. Dele destaco a sua memorável frase: “Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar”. E também Blues fúnebres, um de seus mais belos poemas: Parem todos os relógios, calem o telefone, / Impeçam o latido do cão com um osso para a fome, / Silenciem os pianos e com tambores chamem / A vinda do caixão, deixem que os desconsolados clamem. / Que aviões circulem no alto, um voo torto, / Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto. / Que se coloque nos brancos pescoços de pombas coleiras pretas, / E os guardas de trânsito usem luvas de algodão negras. / Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, / Minha semana de trabalho, um domingo campestre, / Meu meio-dia, meia-noite, minha fala, minha canção; / Eu pensava que o amor duraria para sempre: eu não tinha razão. / Não me importam mais as estrelas; tirem-as da minha frente, / Empacotem a lua, desmantelem o sol quente, / Despejem o oceano, tirem as florestas de perto: / Pois agora nada mais pode vir a dar certo. Veja mais aqui, aquiaqui.

Imagem do filósofo, arquiteto, músico, poeta, pintor e escultor italiano Alberti Leon Battista (1404-1472)

Ouvindo Salutaris, do compositor, maestro e professor Francisco Manuel da Silva - autor da música do hino brasileiro, com a Orquestra Ribeiro Bastos e maestro Rodrigo Sampaio.

NOTÍCIA DE JORNAL – No livro Tia Zulmira e eu (Civilização Brasileira, 1979), do escritor, jornalista e compositor brasileiro Sérgio Porto, ou melhor, Stanislaw Ponte Preta (1923-1968), encontrei Notícia de Jornal, mais uma das maravilhosas narrativas deste memorável escritor. Confira: Quem descobriu, perdida no noticiário policial de um matutino, a intensa poesia contida no bilhete do suicida? Creio que foi Manuel Bandeira. Sim, se a memória não falha (e, meu Deus, ela está começando a falhar), foi o poeta Bandeira.  Ele é que tem o dom da poesia mais forte. Claro, todos nós somos poetas em potencial, amando a poesia no voo de um pássaro, na comovente curva de um joelho feminino, no pôr do sol, na chuva que cai no mar. Mas nós somos os pequenos poetas, os que sentimos a poesia, sua mensagem de encantamento, sem capacidade bastante para transmitir ao amigo, à amada, ao companheiro aquilo que nos encantou. Então Deus fez o poeta maior, aquele que tem o dom de transmitir por meio de palavras toda e qualquer poesia, seja ela plástica, audível, rítmica; sentimento ou dor. “A poesia é espontânea” – disse um dia Pedro Cavalinho, o tímido esteta, enquanto descíamos de madrugada uma rua molhada de orvalho e um galo branco cantou num muro próximo. Um morro que o limo pintara de verde. E é mesmo. Tão espontânea, que estava no bilhete do suicida. Um minuto antes de botar formicida no copo de cerveja e beber, ele rabiscou com a sua letra incerta, num pedaço de papel: “Morri do mal de amor. Avisem minha mãe. Ela mora na Ladeira da Alegria, sem número”. Manuel Bandeira, poeta maior, nem precisou transformar num poema as palavras do morto. Leu a notícia em meio ás notas policiais do matutino e notou logo o que podem as palavras. O homem humilde, que fora a vida inteira um espectador da poesia das coisas, no último instante, sem a menor intenção, se fez poeta também. E deixou sobre a mesa suja de um botequim, entre um copo de formicida e uma garrafa de cerveja, a sua derradeira mensagem, a sua primeira mensagem poética. Num matutino de ontem, num desses matutinos que se empenham na publicidade do crime, havia a seguinte noticia: “João José Gualberto, vulgo Sorriso, foi preso na madrugada de ontem, no beco da Felicidade, por ter assaltado a Casa Garson, de onde roubara um lote de discos”. Pobre redator, o autor da nota. Perdida no meio de telegramas, barulho de máquinas, campanhia de telefones, nem sequer notou a poesia que passou pela sua desarrumada mesa de trabalho, e que estava contida no simples noticiário de polícia. Bem me disse Pedro Cavalinho, o tímido esteta, naquela madrugada: “A maior inimiga da poesia é a vulgaridade”. Distraído na rotina de um trabalho ingrato, esse repórter de polícia soube que um homem que atende pelo vulgo de Sorriso roubara discos numa loja e fora preso naquele beco sujo que fica entre a Presidente Vargas e a Praça da República e que se chama da Felicidade. Fosse o repórter menos vulgar e teria escritor: “O Sorriso roubou a música e acabou preso no Beco da Felicidade”. Veja mais aquiaqui.

A ALMA E O ENLACE ETÉREO – A pisciana poetamiga e decoradora paulista Luli Coutinho se apresenta como Sem tabus nem racionalizações, confesso o imenso prazer em ser mulher, mãe, avó e incorporar meus versos no que chamo de "Poesia do Cotidiano". Simples ao ponto de ser compreendida por qualquer pessoa tocada à beleza e ao encantamento. Embora tendo incursões aos poemas de amor, gosto de escrever também sobre outros temas. Com características e jeito especial para escrever, hoje na maturidade é que me realizei no mundo dos sonhos e fantasias. Costumo dizer que tenho uma imaginação fértil e assim desnudo minh'alma conjugada à minha criatividade”. No seu poema Minha Alma ela traz: Que minha alma possa ser leve / E as tristezas sejam breves / Que meu coração se rubra de amor / Não um cristal fosco embaçado de dor / Que eu possa sentir a nobreza das flores / Inebriar-me em seus olores / Que a natureza densa em beleza / Entrelace-me entre altezas / Que minha alma se desprenda / E eu possa atingir estrelas nuas / Observar na lua a poesia pura / Entre céus azuis desenhados véus de luz / Que eu perceba na alquimia da vida / As lágrimas rolarem de emoção / Nos belos e cristalinos dias / Que nem sempre de tristeza são. Também destaco o seu poema Enlace Etéreo, no qual ela assim se expressa: A noite se fez lua cheia / Todas as emoções se afloraram / Pensamentos, sabores alheios... / Até as deusas do amor chegaram / Entre um mar de espumas revolto / O amor se fez presente.../ Almas se encontram em ares afoitos /E se entregam ao licor do outro / A paz dos anjos revelou um ritual / De unicidade a este amor maior / Amor de alma e carne, espiritual! / À reflexão a um destino incondicional / Por um enlace etéreo / Que nos transcende ao ar / Faz-se viver o amor eterno e áureo / E na paz absoluta ficar! / Olhares se perdem no infinito... / Voamos longe! Veja mais aqui.

FOGO NO DIÁRIO – O livro Fogo de um diário amoroso – O diário completo de Anaïs Nin (1934-1937), da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), foi o último livro escrito das suas obras e pela qual ela se tornou famosa por tratar de um diário pessoal. Esse diário só teve permissão para ser publicado após a morte do seu marido Hugh Guiler. Seus romances e narrativas impregnadas de conteúdo erótico tornaram-se sucesso de crítica e de público. Além desta obra, ela é autora de outros tantos livros, como A casa do incesto, do festejado e adaptado para o cinema Delta de Vênus, o Em busca de um homem sensível, o também filmado Henry & June, e mais Incesto, Passarinho, Pequenos Pássaros e Uma espiã na casa do amor. Nesse seu diário ela se manifesta assim: Encontrei o homem com quem posso agir, agir de verdade, agir como mulher, agir de todos os jeitos que penso ou que sinto com o ritmo do sangue. Não a liberação de ideias em que o instinto se insurge contra a realização. Ele diz: “Tenho uma ideia”. E inventa, cria, com mágica e fantasia – vida. Cada detalhe da vida. Não estou sozinha, bordando. Ele salta, comanda, age. É mais capaz de agir, mais jeitoso com os detalhes; é capaz de ser o criminoso e o detetive, Huckleberry Finn e Tom Sawyer, Dom Quixote, June, Louise ou o dr. Rank, analisando de seu modo peculiar, gerando seu próprio eu, nascido em meio ao nosso amor. Veja mais aqui e aqui.

DELTA DE VÊNUS – O livro Delta de Vênus, da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), é uma coleção de contos escritos durante a década de 1940, abordando os mais diversos temas sexuais com estilo próprio e ótica feminina, trazendo a questão de que forma a mulher pode manter o seu equilíbrio entre a vida e o trabalho. No Pós-escrito do seu livro Delta de Vênus ela arremata: Naquele tempo em que estávamos todos escrevendo sobre erotismo a um dólar a página, dei-me conta de que por séculos tínhamos tido um único modelo para esse gênero literário, ou seja: trabalhos escritos por homens. Eu já era então consciente da diferença entre o tratamento masculino e o feminino para com a experiência sexual. Sabia que havia grande disparidade entre a clareza de Henry Miller e as minhas ambiguidades; entre sua visão do sexo, rabelaisiana e bem-humorada, e as minhas descrições poéticas de relações sexuais como apareciam nas partes não publicadas do diário. Conforme escrevi no volume três do Diário, eu tinha a impressão de que a caixa de Pandora continha os mistérios da sensualidade feminina, tão diferente da do homem e para a qual a linguagem masculina era inadequada. As mulheres, pensava eu, eram mais aptas a fundir sexo com emoção ou amor, assim como a se dedicar a um único homem em vez de se tornarem promíscuas. Isso se tornou evidente para mim à época em que eu escrevia os romances e o Diário, e ficou ainda mais claro quando comecei a lecionar. Embora a atitude das mulheres para com o sexo fosse bem diferente da dos homens, não tínhamos ainda aprendido a escrever sobre isso. Nestas histórias eróticas eu escrevia para distrair o leitor, sob a pressão de um cliente que queria que eu "cortasse a poesia”. Achei que meu estilo se derivava da leitura de trabalhos escritos por homens, e por esse motivo sempre julguei que houvesse comprometido meu eu feminino. Pus o erotismo de lado. Relendo as histórias muitos anos depois, vi que minha própria voz não tinha sido silenciada de todo. Em numerosas passagens eu usara intuitivamente uma linguagem de mulher, vendo a experiência sexual de um ponto de vista feminino. E, finalmente, decidi liberar os textos para publicação porque eles mostram os primeiros esforços de uma mulher em um mundo que sempre fora dominado pelos homens. Se o Diário algum dia vier a ser publicado sem cortes, o ponto de vista feminino será estabelecido com mais clareza, demonstrando que as mulheres (e eu, no Diário) nunca separaram o sexo do sentimento, ou do amor do homem integral. Esta obra foi adaptada para o cinema em 1995, com direção de Zalman King e música de George S. Clinton. Veja mais aqui.


HENRY & JUNE – Outra obra da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), é o livro Henry & June, no qual a autora reúne um diário de memórias que conta o início da relação dela com o escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980) que foi convidado pelo marido da autora para viver na França. Dá-se, então, que ela se apaixona pelo escritor que se encontra apaixonado por June, nascendo daí, um triângulo amoroso. A obra foi transformada para o cinema em 1990, dirigido por Philip Kaufman e com trilha sonora de Mark Adler, com a participação da admirável atriz, cantora e cineasta portuguesa Maria de Medeiros - a sempre musa Tataritaritatá já destacada & homenageada aqui. Veja mais aqui

 


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