SER LIVRE É COM
FREQUENCIA ESTAR SOZINHO - O poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden (1907-1973) era um
adepto do socialismo e da psicanálise freudiana, dedicando-se aos estudos do
cristianismo e da teologia protestante. Publicou seu primeiro livro Poemas em 1930, logo alcançando o
panteão da nova geração de poetas, admirado pela habilidade e técnica versáteis
de escrever em qualquer forma, recontando jornadas, aventuras e viagens. A sua
arte influenciou várias gerações, tornando-se, inclusive, o maior poeta inglês
do séc. XX. Dele destaco a sua memorável frase: “Quando o processo histórico
se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao
tédio, a hora é boa para se abrir um bar”. E também Blues fúnebres, um de seus mais belos poemas: Parem
todos os relógios, calem o telefone, / Impeçam o latido do cão com um osso para
a fome, / Silenciem os pianos e com tambores chamem / A vinda do caixão, deixem
que os desconsolados clamem. / Que aviões circulem no alto, um voo torto, /
Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto. / Que se coloque nos brancos
pescoços de pombas coleiras pretas, / E os guardas de trânsito usem luvas de
algodão negras. / Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, / Minha semana
de trabalho, um domingo campestre, / Meu meio-dia, meia-noite, minha fala,
minha canção; / Eu pensava que o amor duraria para sempre: eu não tinha razão.
/ Não me importam mais as estrelas; tirem-as da minha frente, / Empacotem a
lua, desmantelem o sol quente, / Despejem o oceano, tirem as florestas de
perto: / Pois agora nada mais pode vir a dar certo. Veja mais aqui.
Imagem do filósofo, arquiteto, músico, poeta, pintor e escultor italiano Alberti Leon Battista (1404-1472)
Ouvindo Salutaris, do compositor, maestro e professor Francisco Manuel da Silva - autor da música do hino brasileiro, com a Orquestra Ribeiro Bastos e maestro Rodrigo Sampaio.
NOTÍCIA DE
JORNAL – No livro Tia Zulmira e
eu (Civilização Brasileira, 1979), do escritor, jornalista e compositor
brasileiro Sérgio Porto, ou melhor, Stanislaw
Ponte Preta (1923-1968), encontrei Notícia
de Jornal, mais uma das maravilhosas narrativas deste memorável escritor.
Confira: Quem descobriu, perdida no
noticiário policial de um matutino, a intensa poesia contida no bilhete do
suicida? Creio que foi Manuel Bandeira. Sim, se a memória não falha (e, meu
Deus, ela está começando a falhar), foi o poeta Bandeira. Ele é que tem o dom da poesia mais forte.
Claro, todos nós somos poetas em potencial, amando a poesia no voo de um
pássaro, na comovente curva de um joelho feminino, no pôr do sol, na chuva que
cai no mar. Mas nós somos os pequenos poetas, os que sentimos a poesia, sua
mensagem de encantamento, sem capacidade bastante para transmitir ao amigo, à
amada, ao companheiro aquilo que nos encantou. Então Deus fez o poeta maior,
aquele que tem o dom de transmitir por meio de palavras toda e qualquer poesia,
seja ela plástica, audível, rítmica; sentimento ou dor. “A poesia é espontânea”
– disse um dia Pedro Cavalinho, o tímido esteta, enquanto descíamos de
madrugada uma rua molhada de orvalho e um galo branco cantou num muro próximo.
Um morro que o limo pintara de verde. E é mesmo. Tão espontânea, que estava no
bilhete do suicida. Um minuto antes de botar formicida no copo de cerveja e
beber, ele rabiscou com a sua letra incerta, num pedaço de papel: “Morri do mal
de amor. Avisem minha mãe. Ela mora na Ladeira da Alegria, sem número”. Manuel
Bandeira, poeta maior, nem precisou transformar num poema as palavras do morto.
Leu a notícia em meio ás notas policiais do matutino e notou logo o que podem
as palavras. O homem humilde, que fora a vida inteira um espectador da poesia
das coisas, no último instante, sem a menor intenção, se fez poeta também. E
deixou sobre a mesa suja de um botequim, entre um copo de formicida e uma
garrafa de cerveja, a sua derradeira mensagem, a sua primeira mensagem poética.
Num matutino de ontem, num desses matutinos que se empenham na publicidade do
crime, havia a seguinte noticia: “João José Gualberto, vulgo Sorriso, foi preso
na madrugada de ontem, no beco da Felicidade, por ter assaltado a Casa Garson,
de onde roubara um lote de discos”. Pobre redator, o autor da nota. Perdida no
meio de telegramas, barulho de máquinas, campanhia de telefones, nem sequer
notou a poesia que passou pela sua desarrumada mesa de trabalho, e que estava
contida no simples noticiário de polícia. Bem me disse Pedro Cavalinho, o
tímido esteta, naquela madrugada: “A maior inimiga da poesia é a vulgaridade”.
Distraído na rotina de um trabalho ingrato, esse repórter de polícia soube que
um homem que atende pelo vulgo de Sorriso roubara discos numa loja e fora preso
naquele beco sujo que fica entre a Presidente Vargas e a Praça da República e
que se chama da Felicidade. Fosse o repórter menos vulgar e teria escritor: “O
Sorriso roubou a música e acabou preso no Beco da Felicidade”. Veja mais
aqui.
A ALMA E O
ENLACE ETÉREO – A pisciana poetamiga e decoradora paulista Luli Coutinho se apresenta como “Sem tabus nem
racionalizações, confesso o imenso prazer em ser mulher, mãe, avó e incorporar
meus versos no que chamo de "Poesia do Cotidiano". Simples ao ponto
de ser compreendida por qualquer pessoa tocada à beleza e ao encantamento.
Embora tendo incursões aos poemas de amor, gosto de escrever também sobre
outros temas. Com características e jeito especial para escrever, hoje na
maturidade é que me realizei no mundo dos sonhos e fantasias. Costumo dizer que
tenho uma imaginação fértil e assim desnudo minh'alma conjugada à minha
criatividade”. No seu poema Minha
Alma ela traz: Que minha alma possa ser leve / E as tristezas sejam breves / Que meu
coração se rubra de amor / Não um cristal fosco embaçado de dor / Que eu possa
sentir a nobreza das flores / Inebriar-me em seus olores / Que a natureza densa
em beleza / Entrelace-me entre altezas / Que minha alma se desprenda / E eu
possa atingir estrelas nuas / Observar na lua a poesia pura / Entre céus azuis
desenhados véus de luz / Que eu perceba na alquimia da vida / As lágrimas
rolarem de emoção / Nos belos e cristalinos dias / Que nem sempre de tristeza
são. Também destaco o seu poema Enlace Etéreo, no qual ela assim se expressa: A noite
se fez lua cheia / Todas as emoções se afloraram / Pensamentos, sabores
alheios... / Até as deusas do amor chegaram / Entre um mar de espumas revolto /
O amor se fez presente.../ Almas se encontram em ares afoitos /E se entregam ao
licor do outro / A paz dos anjos revelou um ritual / De unicidade a este amor
maior / Amor de alma e carne, espiritual! / À reflexão a um destino
incondicional / Por um enlace etéreo / Que nos transcende ao ar / Faz-se viver
o amor eterno e áureo / E na paz absoluta ficar! / Olhares se perdem no
infinito... / Voamos longe! Veja mais aqui.
FOGO NO DIÁRIO – O livro Fogo de um diário amoroso – O diário
completo de Anaïs Nin (1934-1937), da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), foi o último
livro escrito das suas obras e pela qual ela se tornou famosa por tratar de um
diário pessoal. Esse diário só teve permissão para ser publicado após a morte
do seu marido Hugh Guiler. Seus romances e narrativas impregnadas de conteúdo
erótico tornaram-se sucesso de crítica e de público. Além desta obra, ela é
autora de outros tantos livros, como A
casa do incesto, do festejado e adaptado para o cinema Delta de Vênus, o Em busca de
um homem sensível, o também filmado Henry
& June, e mais Incesto, Passarinho, Pequenos Pássaros e Uma espiã
na casa do amor. Nesse seu diário ela se manifesta assim: Encontrei o homem com quem posso agir, agir de verdade, agir como
mulher, agir de todos os jeitos que penso ou que sinto com o ritmo do sangue.
Não a liberação de ideias em que o instinto se insurge contra a realização. Ele
diz: “Tenho uma ideia”. E inventa, cria, com mágica e fantasia – vida. Cada
detalhe da vida. Não estou sozinha, bordando. Ele salta, comanda, age. É mais
capaz de agir, mais jeitoso com os detalhes; é capaz de ser o criminoso e o
detetive, Huckleberry Finn e Tom Sawyer, Dom Quixote, June, Louise ou o dr.
Rank, analisando de seu modo peculiar, gerando seu próprio eu, nascido em meio
ao nosso amor. Veja
mais aqui.
DELTA
DE VÊNUS – O livro Delta
de Vênus, da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), é uma coleção de contos escritos durante a
década de 1940, abordando os mais diversos temas sexuais com estilo próprio e
ótica feminina, trazendo a questão de que forma a mulher pode manter o seu
equilíbrio entre a vida e o trabalho. No Pós-escrito
do seu livro Delta de Vênus ela
arremata: Naquele tempo em que estávamos todos escrevendo sobre erotismo a um
dólar a página, dei-me conta de que por séculos tínhamos tido um único modelo
para esse gênero literário, ou seja: trabalhos escritos por homens. Eu já era
então consciente da diferença entre o tratamento masculino e o feminino para
com a experiência sexual. Sabia que havia grande disparidade entre a clareza de
Henry Miller e as minhas ambiguidades; entre sua visão do sexo, rabelaisiana e
bem-humorada, e as minhas descrições poéticas de relações sexuais como
apareciam nas partes não publicadas do diário. Conforme escrevi no volume três
do Diário, eu tinha a impressão de que a caixa de Pandora continha os mistérios
da sensualidade feminina, tão diferente da do homem e para a qual a linguagem
masculina era inadequada. As mulheres, pensava eu, eram mais aptas a fundir
sexo com emoção ou amor, assim como a se dedicar a um único homem em vez de se
tornarem promíscuas. Isso se tornou evidente para mim à época em que eu
escrevia os romances e o Diário, e ficou ainda mais claro quando comecei a
lecionar. Embora a atitude das mulheres para com o sexo fosse bem diferente da
dos homens, não tínhamos ainda aprendido a escrever sobre isso. Nestas
histórias eróticas eu escrevia para distrair o leitor, sob a pressão de um
cliente que queria que eu "cortasse a poesia”. Achei que meu estilo se
derivava da leitura de trabalhos escritos por homens, e por esse motivo sempre
julguei que houvesse comprometido meu eu feminino. Pus o erotismo de lado.
Relendo as histórias muitos anos depois, vi que minha própria voz não tinha
sido silenciada de todo. Em numerosas passagens eu usara intuitivamente uma
linguagem de mulher, vendo a experiência sexual de um ponto de vista feminino.
E, finalmente, decidi liberar os textos para publicação porque eles mostram os
primeiros esforços de uma mulher em um mundo que sempre fora dominado pelos
homens. Se o Diário algum dia vier a ser publicado sem cortes, o ponto de vista
feminino será estabelecido com mais clareza, demonstrando que as mulheres (e
eu, no Diário) nunca separaram o sexo do sentimento, ou do amor do homem
integral. Esta obra foi adaptada para o cinema em 1995,
com direção de Zalman King e música de George S. Clinton. Veja mais aqui.
HENRY & JUNE – Outra obra da escritora
francesa Anaïs Nin (1903-1977), é o livro Henry & June,
no qual a autora reúne um diário de memórias que conta o início da relação dela
com o escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980) que foi convidado pelo
marido da autora para viver na França. Dá-se, então, que ela se apaixona pelo
escritor que se encontra apaixonado por June, nascendo daí, um triângulo
amoroso. A obra foi transformada para o cinema em 1990, dirigido por Philip
Kaufman e com trilha sonora de Mark Adler, com a participação da admirável
atriz, cantora e cineasta portuguesa Maria de Medeiros - a sempre musa Tataritaritatá já destacada & homenageada aqui. Veja mais aqui.
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Educação Infantil, Nauro Machado, Sergei
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pesca das mulheres & J. Lanzelotti aqui.
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Entre as pinoias duns dias de antanho & John La Farge aqui.
As trelas do Doro: o desmantelo da
paixonite arrebentadora aqui.
A menina morta, o pai assassino, Dalton Trevisan, Caetano Veloso, Ute
Lemper, Jemima Kirke, Jeff Koons, Dani Acioli & Cada um sabe a dor e a
delícia de ser o que é aqui.
A avareza perde valia quando a vida vai
pro saco, Saúde no
Brasil, Vik Muniz, Júnior Almeida & Nada satisfaz e a querer sempre mais e
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Entre o científico-racional e o
estético-emocional, Gert Eilenberger, Wesley Duke Lee, Chico Mário,
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Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.