COSMOVISÃO DO
AMOR - A Terra dança e gira girou a girar com o que nasce e renasce a todo
instante pelos estágios cíclicos de crescer e se formar, a se desenvolver e a
se harmonizar, pelos amanheceres com sua brisa suave ecoando as vozes
ancestrais. Ouço o canto da Mãe-Terra a dançar ao Sol e, com ela, os ventos
cantam nas folhas das árvores, as águas cantam nas corredeiras e o fogo dança
no coração grande para que o sangue prossiga o movimento das correntezas e marés.
Peço permissão aos ventos que dançam e nos levam para todas as direções a nos
fazer vivos pulsantes subindo montanhas para a contemplação de tudo à nossa
ascensão humana e espiritual. Peço permissão à semente que desabrocha à luz do
Sol, esse fogo animador. E compartilho com suas raízes nos profundos rios
subterrâneos, como meus dedos que buscam nos galhos a fruta que reluz à fome e
à sede. Peço permissão aos ventos que sopram nas folhas com a chuva que cai irrigando
o chão de nossa existência para outros desaguadouros. Peço permissão ao Grande
Espírito porque é o Amor a semente que nasce, o rio que corre, o fogo que alumia
e transforma, a Terra que frutifica e nos dá guarida. E é a Natureza que nos dá
vida e o caminho que leva às descobertas e sabedoria. É a essência que permeia
todas as coisas, desde as vibrações moleculares, os processos celulares, o que
surge de nossas entranhas e dá vitalidade a todos os nossos órgãos
interdependentes do chão e do céu. É a mão que age por si para tudo e todos. É
ubíquo a propagar a Luz na manifestação da Vida. É o que emerge do mais
profundo íntimo para a sagração da nossa mais ampla Unidade. E no Amor somos
filhos da Terra e do Universo. Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Coisas que não
foram vivenciadas não podem ser escritas... Para sobreviver, tive que suportar
cada indignidade e ato de brutalidade que você pode imaginar. O que me manteve
viva em meio a toda a dor foi meu desejo de documentar a vida. Houve momentos
em que tive que rastejar como um verme; um profundo sentimento de
arrependimento que se transformou em um desejo de vingança manteve meu último
bastião de autoestima. Eu queria documentar as injustiças da guerra. Foi
naquele momento que percebi o valor da literatura... Todo romancista sonha em
escrever uma história de amor eterna... Um dos meus amados filhos desapareceu
de repente quando estava no auge. Tudo o que me impediu de enlouquecer foi a
esperança de que eu o seguiria em breve, onde quer que ele estivesse... Pensamento da escritora
sul-coreana Park Wan-suh (1931-2011). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Enquanto bebia meu café, escutei atentamente, mas não ouvi nada. Pensei, talvez seja porque há muito
barulho no meu mundo... Pnsamento da
escritora chinesa Can
Xue (Deng Xiaohua), que no
seu livro Vertical
Motion
(Open Letter, 2011), expressou que: […]
Depois de inspecionar cuidadosamente seu domicílio, eu,
um gato de certa raça, escolhi o tapete embaixo da mesa de chá como meu quarto. [...]. Também no seu livro Blue
Light in the Sky & Other Stories (New Directions, 2006), ela expressou
que: […] Seu rosto enrugado mostrava as mudanças
que ele havia visto. [...] Quando
escrevo, apago intencionalmente qualquer conhecimento da minha mente. [...]. Já no seu livro The Embroidered Shoes:
Stories (Henry Holt and Co, 2015), ela expressou que: [...] Toda a existência seguia feliz sob a vontade do céu. Com o movimento acelerado da
não-existência, detalhes embaraçosos e instáveis gradualmente se deslocavam. [...].
Por fim, na sua obra Frontier (Open Letter, 2008), ela expressou
que: [...] Ele vive em suas memórias [...].
DOIS POEMAS - I – O dia todo
você senta e costura, \ Costure a vida com medo de que ela cresça, \ Costure a
vida com medo de que adivinhemos \ Na feiura oculta. \ Voz empoeirada que pulsa
com calor, \ Esperando com sua batida fina como aço \ Colocar pontos em minha
mente, \ Torne-a arrumada, faça-a gentil, \ Você não deve: eu a manterei livre \
Embora você transforme a terra, o céu e o mar \ Em uma colcha de retalhos para
manter \ Sua mente aconchegante e aquecida no sono! II - Eu mantive minhas respostas pequenas e as
mantive por perto; \ Grandes perguntas machucaram minha mente, mas ainda assim
eu deixei \ Pequenas respostas serem um baluarte para meu medo. \ As enormes
abstrações que eu mantive longe da luz; \ Pequenas coisas que eu manuseei,
acariciei e amei. \ Eu deixei as estrelas assumirem a noite inteira. \ Mas as
grandes respostas clamavam para serem movidas \ Para minha vida. \ Sua grande audácia \ Gritava para ser
reconhecida e acreditada. \ Mesmo quando todas as pequenas respostas se
acumulam para \ Proteção do meu espírito, ainda ouço \ Grandes respostas
lutando para sua derrubada. \ E todas as grandes conclusões se aproximando. Poema da escritora britânica Edith Sitwell
(1887-1964), que ainda expressa: Muitas vezes desejei
ter tempo para cultivar a modéstia... Mas estou muito ocupada pensando em mim
mesmo. Sou paciente com a estupidez, mas não com aqueles que se orgulham dela. Não
sou excêntrica. É
que sou mais vivo do que a maioria das pessoas. Sou
uma enguia elétrica impopular em um lago de bagres. O inverno é a época do
conforto, da boa comida e do calor, do toque de uma mão amiga e de uma conversa
ao lado do fogo: é a época de voltar para casa. Meus hobbies pessoais são ler,
ouvir música e silêncio. A poesia é a deificação da realidade.
SER LIVRE É COM
FREQUENCIA ESTAR SOZINHO - O poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden (1907-1973) era um
adepto do socialismo e da psicanálise freudiana, dedicando-se aos estudos do
cristianismo e da teologia protestante. Publicou seu primeiro livro Poemas em 1930, logo alcançando o
panteão da nova geração de poetas, admirado pela habilidade e técnica versáteis
de escrever em qualquer forma, recontando jornadas, aventuras e viagens. A sua
arte influenciou várias gerações, tornando-se, inclusive, o maior poeta inglês
do séc. XX. Dele destaco a sua memorável frase: “Quando o processo histórico
se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao
tédio, a hora é boa para se abrir um bar”. E também Blues fúnebres, um de seus mais belos poemas: Parem
todos os relógios, calem o telefone, / Impeçam o latido do cão com um osso para
a fome, / Silenciem os pianos e com tambores chamem / A vinda do caixão, deixem
que os desconsolados clamem. / Que aviões circulem no alto, um voo torto, /
Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto. / Que se coloque nos brancos
pescoços de pombas coleiras pretas, / E os guardas de trânsito usem luvas de
algodão negras. / Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, / Minha semana
de trabalho, um domingo campestre, / Meu meio-dia, meia-noite, minha fala,
minha canção; / Eu pensava que o amor duraria para sempre: eu não tinha razão.
/ Não me importam mais as estrelas; tirem-as da minha frente, / Empacotem a
lua, desmantelem o sol quente, / Despejem o oceano, tirem as florestas de
perto: / Pois agora nada mais pode vir a dar certo. Veja mais aqui, aqui e aqui.
NOTÍCIA DE
JORNAL – No livro Tia Zulmira e
eu (Civilização Brasileira, 1979), do escritor, jornalista e compositor
brasileiro Sérgio Porto, ou melhor, Stanislaw
Ponte Preta (1923-1968), encontrei Notícia
de Jornal, mais uma das maravilhosas narrativas deste memorável escritor.
Confira: Quem descobriu, perdida no
noticiário policial de um matutino, a intensa poesia contida no bilhete do
suicida? Creio que foi Manuel Bandeira. Sim, se a memória não falha (e, meu
Deus, ela está começando a falhar), foi o poeta Bandeira. Ele é que tem o dom da poesia mais forte.
Claro, todos nós somos poetas em potencial, amando a poesia no voo de um
pássaro, na comovente curva de um joelho feminino, no pôr do sol, na chuva que
cai no mar. Mas nós somos os pequenos poetas, os que sentimos a poesia, sua
mensagem de encantamento, sem capacidade bastante para transmitir ao amigo, à
amada, ao companheiro aquilo que nos encantou. Então Deus fez o poeta maior,
aquele que tem o dom de transmitir por meio de palavras toda e qualquer poesia,
seja ela plástica, audível, rítmica; sentimento ou dor. “A poesia é espontânea”
– disse um dia Pedro Cavalinho, o tímido esteta, enquanto descíamos de
madrugada uma rua molhada de orvalho e um galo branco cantou num muro próximo.
Um morro que o limo pintara de verde. E é mesmo. Tão espontânea, que estava no
bilhete do suicida. Um minuto antes de botar formicida no copo de cerveja e
beber, ele rabiscou com a sua letra incerta, num pedaço de papel: “Morri do mal
de amor. Avisem minha mãe. Ela mora na Ladeira da Alegria, sem número”. Manuel
Bandeira, poeta maior, nem precisou transformar num poema as palavras do morto.
Leu a notícia em meio ás notas policiais do matutino e notou logo o que podem
as palavras. O homem humilde, que fora a vida inteira um espectador da poesia
das coisas, no último instante, sem a menor intenção, se fez poeta também. E
deixou sobre a mesa suja de um botequim, entre um copo de formicida e uma
garrafa de cerveja, a sua derradeira mensagem, a sua primeira mensagem poética.
Num matutino de ontem, num desses matutinos que se empenham na publicidade do
crime, havia a seguinte noticia: “João José Gualberto, vulgo Sorriso, foi preso
na madrugada de ontem, no beco da Felicidade, por ter assaltado a Casa Garson,
de onde roubara um lote de discos”. Pobre redator, o autor da nota. Perdida no
meio de telegramas, barulho de máquinas, campanhia de telefones, nem sequer
notou a poesia que passou pela sua desarrumada mesa de trabalho, e que estava
contida no simples noticiário de polícia. Bem me disse Pedro Cavalinho, o
tímido esteta, naquela madrugada: “A maior inimiga da poesia é a vulgaridade”.
Distraído na rotina de um trabalho ingrato, esse repórter de polícia soube que
um homem que atende pelo vulgo de Sorriso roubara discos numa loja e fora preso
naquele beco sujo que fica entre a Presidente Vargas e a Praça da República e
que se chama da Felicidade. Fosse o repórter menos vulgar e teria escritor: “O
Sorriso roubou a música e acabou preso no Beco da Felicidade”. Veja mais aqui e aqui.
A ALMA E O
ENLACE ETÉREO – A pisciana poetamiga e decoradora paulista Luli Coutinho se apresenta como “Sem tabus nem
racionalizações, confesso o imenso prazer em ser mulher, mãe, avó e incorporar
meus versos no que chamo de "Poesia do Cotidiano". Simples ao ponto
de ser compreendida por qualquer pessoa tocada à beleza e ao encantamento.
Embora tendo incursões aos poemas de amor, gosto de escrever também sobre
outros temas. Com características e jeito especial para escrever, hoje na
maturidade é que me realizei no mundo dos sonhos e fantasias. Costumo dizer que
tenho uma imaginação fértil e assim desnudo minh'alma conjugada à minha
criatividade”. No seu poema Minha
Alma ela traz: Que minha alma possa ser leve / E as tristezas sejam breves / Que meu
coração se rubra de amor / Não um cristal fosco embaçado de dor / Que eu possa
sentir a nobreza das flores / Inebriar-me em seus olores / Que a natureza densa
em beleza / Entrelace-me entre altezas / Que minha alma se desprenda / E eu
possa atingir estrelas nuas / Observar na lua a poesia pura / Entre céus azuis
desenhados véus de luz / Que eu perceba na alquimia da vida / As lágrimas
rolarem de emoção / Nos belos e cristalinos dias / Que nem sempre de tristeza
são. Também destaco o seu poema Enlace Etéreo, no qual ela assim se expressa: A noite
se fez lua cheia / Todas as emoções se afloraram / Pensamentos, sabores
alheios... / Até as deusas do amor chegaram / Entre um mar de espumas revolto /
O amor se fez presente.../ Almas se encontram em ares afoitos /E se entregam ao
licor do outro / A paz dos anjos revelou um ritual / De unicidade a este amor
maior / Amor de alma e carne, espiritual! / À reflexão a um destino
incondicional / Por um enlace etéreo / Que nos transcende ao ar / Faz-se viver
o amor eterno e áureo / E na paz absoluta ficar! / Olhares se perdem no
infinito... / Voamos longe! Veja mais aqui. 













