domingo, fevereiro 22, 2015

SCHOPENHAUER, BUÑUEL, BRECHERET, FORKEL, JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO E IREMAR MARINHO!


CONTRIBUIÇÕES À DOUTRINA DO SOFRIMENTO DO MUNDO – Na obra Parerga e Paraliponema, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), especificamente no seu capítulo XII, dedicado ao tema das Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo, traz as seguintes ideias:  [...] Se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contrassenso do mundo. Pois constitui um absurdo supor que a dor infinita, originária da necessidade essencial à vida, de que o mundo está pleno, é sem sentido e puramente acidental. Nossa receptividade para a dor é quase infinita, aquela para o prazer possui limites estreitos. Embora toda infelicidade individual apareça como exceção, a infelicidade em geral constitui a regra. [...] Quem deseja comprovar em poucos termos a afirmação de que no mundo o prazer ultrapassa a dor, ou ao menos que se mantém em equilíbrio, que compare a sensação do animal que devora um outro, com a deste outro [...] O consolo mais eficaz em toda infelicidade, em todo sofrimento, é observar os outros, que são ainda mais infelizes do que nós: e isto é possível a cada um. [...] A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas, entreatos, uma vez aqui e ali. E de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua, porém não somente metafórica, com a necessidade ou o tédio; mas também realmente com outros. Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante luta, e morre de armas em punho. Também contribui para o tormento da nossa existência, e não pouco, o impelir do tempo, impedindo-nos de tomar folego, perseguindo todos qual algoz de açoute. Somente não o faz com aquele que se entregou ao tédio [...] Trabalho, aflição, esforço, e necessidade constituem durante toda a vida a sorte da maioria das pessoas. Porém se todos os desejos, apenas originados, já estivessem resolvidos, o que preencheria então a vida humana, com que se gastaria o tempo? Que se transfira o homem a um país utópico, em que tudo crescesse sem ser plantado, as pombas revoassem já assadas, e cada um encontrasse logo e sem dificuldade sua bem-amada. Ali em parte os homens morrerão de tédio ou se enforcarão, em parte promoverão guerras, massacres e assassinatos, para assim se proporcionar mais sofrimento do que o posto pela natureza. Portanto para uma tal espécie, como a humana, nenhum outro palco se presta, nenhuma outra existência. Veja mais aqui e aqui.

Imagem Figura Feminina – escultura em bronze, do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955)

Ouvindo variações de God Save the King, do musicólogo, musicista e teórico alemão Johann Nikolaus Forkel (1749-1818), em recital da pianista Rebecca Cypes no Sara Levys Wold Music, Mason Gross School of the Arts in New Brunswixk, 2014.

SEGURA A ONÇA QUE EU SOU CAÇADOR DE PREÁ – No livro Os mágicos municipais (José Olympio, 1984), o escritor, advogado e jornalista José Cândido de Carvalho (1914-1989), traz a narrativa Segura a onça que eu sou caçador de preá, no qual podemos acompanhar o que segue: Não passava de um modesto caçador de preá. Era Bentinho Alves, dos Alves de Arió do Pará. Em dia de semana gastava os olhos no pilulador da Farmácia Brito. Em tempo de feriado consumia as vistas no rasto das preás. Até que resolveu caçar bicho de maior escama: - Comigo agora é na onça! Ou mais que onça! Na tal da pantera negra. Foi quando deu em Arió do Pará um doutor de erva aparelhado para fazer os maiores serviços de mato adentro. Mediante uns trocados, o curandeiro botava macaco para desgosta de banana e tamanduá correr com perna de coelho. Bentinho, exagerado, mandou que o especial em erva preparasse simpatia capaz de fazer morrer na pólvora de sua espingarda as caças mais grossas, coisa assim no montante de uma capivara de banhado ou uma onça das mais pintadas. E no ardume do entusiasmo: - Ou mais! É aparecer e morrer. O curandeiro tirou uma baforada do covil dos peitos e mandou que Bentinho largasse no rodapé do arvoredo mais galhoso uma figa de guiné de sociedade com fumo de rolo e pó de unha de tatu. Bentinho não fez outra coisa. E montado nessa simpatia, uma quinzena adiante, o aprendiz de botica entrava no mato. E bem não tinha dado meia dúzia de passos já o trabalho do curandeiro fazia efeito na forma de uma onçona de três metros de barriga por quatro de raiva. Bentinho, diante daquela montanha de carne e pelo, largou a espingarda para subir de lagartixa pelo primeiro pé de pau que encontrou na alça de mira. E enquanto subia Bentinho falava para Bentinho: - Curandeiro exagerado! Isso não é onça para aprendiz de farmácia. Isso é onça para doutor formado. Ou mais! E voltou para sua caça miúda de preá.  Veja mais aqui.


BESTIÁRIO ALAGOANO – Uma das pessoas que mais admiro na terra alagoana é a da pessoa do jornalista, advogado e publicitário Iremar Marinho. Figura ativa, expoente do melhor das Alagoas, ele edita o extraordinário blog Bestiário Alagoano do qual sou constante apreciador. Além disso é conveniente mencionar que se trata de um excelente poeta. E dele destaco o seu Poema Improvável, entre tantos que muito aprecio de sua lavra, principalmente o II: Viver é sempre desdenhar a morte, / a que vence todos os torneios, / aquela adversária desonesta, / detentora de segredos, / aquela que faz jorrar / o sangue dos contendores, / aquela que abate toda / ansiedade do poema, / que destrói covardemente / toda teima de viver. /Oh! Morte! Basta! Veja mais aqui.


O FANTASMA DA LIBERDADE – Outros dos filmes da minha predileção é O Fantasma da Liberdade (Le Fantôme de la liberte, 1974), do cineasta espanhol Luís Buñuel (1900-1983). Trata-se de uma comédia dramática, com história dividida em 14 capítulos e que são unidos por uma personagem diferente, estrelado por Adriana Asti, Julien Bertheau e Jean-Claude Brialy. Tudo começa em Toledo com uma guerra, depois uma série de quadros vão mudando as cenas em situações surreais e sem narrativa em especial, com muitas situações marcantes, como a da senhora de meia idade que não quer ser vista nua, mas que o jovem lhe puxa os lençóis para revelação de um corpo de adolescente, bem como aquela dos convidados de um jantar sentados em vasos sanitários, definindo a genialidade e o espírito libertário do cineasta. Veja mais aqui.



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