Ao som do álbum Levantine Rhapsody (Analekta, 2020) e do concerto Continuum – Création pour kanum et
quintette (27eth Bienalle Cinars, 2022), da compositora turca Didem Başar.
A SURPRESA DAS ESQUINAS... – Onde moro sou
andejo e nem sempre é dia claro: depois das esquinas há sempre caminhos
esturricados de lá e depois, cheio de antes, pouco ou muito às vezes e tão
longe, poças e lembranças. As surpresas no apurado, tudo passa. O que me disse
alguem antes de ontem quase esqueci, nem olvidei de todo. Posso dizer: quando
menos se espera a vida acaba e cadê mais pra onde. Coisas de Jennifer Egan:
Todos que perdemos, encontraremos. Ou eles vão nos
encontrar... Ah, sim: festas de chegadas ou partidas, ali e acolá. Mais
fui e digo: pé atrás pisada firme o chão e a ideia antes fosse. Nenhum temor às
horas minguantes, parece, por enquanto. É melhor Grace Metalious: Pessoas
mortas não podem te machucar. É com aqueles que estão
vivos que você tem que tomar cuidado... Assuntar vale, nada vem de graça.
Golpes não são bem vindos, pesa traição e covardia no peito aberto – a rua está
cheia disso. Os olhos nem sempre dizem o que expressam, quantas vezes não foi Hilda Doolittle: O amor é uma roupa rasgada pela luz que
sobe do Parnaso mostrando que a noite acabou... Renasço no amanhecer
todo dia, vou em frente. Ainda bem curvas pra lá e pra cá, aclives pras coisas
escondidas, declives pro frio na barriga. Melhor ainda ter ido, não só apenas pra
garantir a vida ao vento, sequer daria conta das cataratas de sangue do Taylor,
dos meteoros aurigídeas ou mesmo do que vem depois, nem pesar o que foi feito
ou deixou de fazer: os dias passam e eu voo. Até mais ver.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
I - Aprendo da nudez para envolver-te, \ aprendo
da nudez para descobrir-te, \ para nos movermos no tempo minúsculo \ e
reconhecer o vértice do durável, \ com passos que não se apagarão \ na areia
que vem. \ Não sou eu quem te ama, \ é minha filha primogênita \ a que gerei
depois das despedidas. \ necessárias. \ Mas dela e minha é o mel \ depositado
em teu umbigo, \ no vão do teu peito \ e o da tua axila. \ O que nos iguala em
idade é o sorriso \ que não conhece calendários \ nem contabilidade, \ mas
conhece o resplendor. \ Se cabem céu e cordilheira neste abraço, \ declaro-me
guardiã \ de seus doces recantos sob as pedras, \ de suas duras encostas em
cujos cumes \ a luz nos fala, nos inundando. \ É a missão que imponho ao corpo:
\ Abraçar o que É!
II - Chego a ti
para não me ter, \ para permitir que me tenhas. \ Assomando em mim, \ ajudas-me
a ver \ o que voltará a mim \ quando eu me voltar a ter. \ Quando me tens,
vejo-me \ a partir de ti, a outra. \ Uma parte do teu corpo.
Poemas da
premiada poeta, tradutora e gestora cultural colombiana Ángela García.
VINTE ANOS
- [...] No
incessante fluxo e refluxo da justiça e da opressão, todos devemos cavar canais
da melhor maneira possível, para que, no momento propício, parte da maré
crescente possa ser conduzida para os lugares áridos da vida. [...] Talvez nada seja tão significativo como a mão humana, esta ferramenta mais
antiga com a qual o homem escavou o seu caminho para sair da selvageria e com a
qual está constantemente a avançar às apalpadelas. [...] Cada homem deve lutar à sua maneira, para que a lei moral não se torne uma
abstração distante e totalmente separada de sua vida ativa [...] É fácil ser enganado por um propósito adiado, pela
promessa que o futuro nunca poderá cumprir, e eu caí no pior tipo de autoengano
ao me fazer acreditar que tudo isso era uma preparação para grandes coisas que
estavam por vir. [...]. Trechos extraídos da obra Twenty
Years at Hull House (CreateSpace, 2011),
da escritora e ativista estadunidense Jane Addams (1860-1935). Veja mais
aqui, aqui e aqui.
A JORNADA DO
INSIGHT CEREBRAL - [...] Minha definição favorita de medo é
“falsas expectativas que parecem reais”, e quando me permito lembrar que todos
os meus pensamentos são apenas fisiologia passageira, sinto-me menos comovido
quando meu contador de histórias fica descontrolado e meu circuito é acionado. Ao mesmo tempo, quando
me lembro que estou em harmonia com o universo, o conceito de medo perde o seu
poder. Para ajudar a me proteger de uma resposta de raiva ou medo desencadeada,
assumo a responsabilidade pelos circuitos que exercito e estimulo
propositalmente. Na tentativa de diminuir o poder da
minha resposta ao medo/raiva, escolho intencionalmente não assistir a filmes de
terror ou sair com pessoas cujos circuitos de raiva sejam facilmente acionados. Eu conscientemente faço
escolhas que impactam diretamente meus circuitos. Como gosto de ser
alegre, saio com pessoas que valorizam minha alegria [...] Através dos
centros de linguagem do hemisfério esquerdo, a nossa mente fala connosco
constantemente, um fenómeno a que me refiro como “tagarelice cerebral”. É aquela voz que lembra
você de pegar bananas no caminho para casa e aquela inteligência calculista que
sabe quando você precisa lavar a roupa. Existe uma grande
variação individual na velocidade com que nossas mentes funcionam. Para alguns, nosso
diálogo de conversa cerebral é tão rápido que mal conseguimos acompanhar o que
estamos pensando. Outros de nós pensam na linguagem
tão lentamente que leva muito tempo para compreendermos. Outros ainda têm
problemas em manter o foco e a concentração por tempo suficiente para agir de
acordo com nossos pensamentos. Essas variações no
processamento normal remontam às nossas células cerebrais e à forma como cada
cérebro está intrinsecamente conectado. [...] Acredito que quanto mais
tempo passarmos a escolher gerir o circuito de paz interior profunda dos nossos
hemisférios direitos, mais paz projetaremos no mundo e mais pacífico será o
nosso planeta. [...] Felizmente, como escolhemos ser hoje não é
predeterminado por como éramos ontem... Você e somente você escolhe momento a
momento quem e como você quer ser no mundo. Eu encorajo você a
prestar atenção ao que está acontecendo em seu cérebro. Assuma seu poder e
apareça em sua vida. [...] Posso não estar no controle total do que
acontece na minha vida, mas certamente estou no comando de como escolho
perceber minha experiência. [...]. Trechos extraídos da obra My Stroke of Insight: A Brain
Scientist's Personal Journey (Penguin, 2009), da neurocientista estadunidense Jill Bolte Taylor. Veja mais aqui e aqui.
CORBINIANO
Todas as mulheres
estão ali, são várias mulheres em cada uma, não há um modelo...
Trecho extraído
da obra Corbiniano Lins: um olhar sobre arte (Funcultura, 2006), de Weydson
Barros, reunindo a arte do escultor José Corbiniano Lins (1924-2018).
Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.