TRÍPTICO DQP:
Uma & outra ou nenhuma das duas entroutras... – Ao som dos álbuns Piano Music - The Piano Music of Heitor Villa-Lobos (Naxos,
2007 – 8 vols), da pianista Sonia
Rubinsky. - Minhalma & muitas coisas refletem repletas donde não sei, sobrevivo
à excentricidade: coloquei a vida na ponta do lápis e ouvi o eco de Martin Amis: Escrever é um ato de liberdade. Transbordam fronteiras monumentais: overtures faiscantes da terra do
nunca, violinos gritam sobre o gelo antártico, flautas e obóes escusos pelo superlativo e exacerbado das
tempestuosas paixões e soam incólumes ao dobrar o Cabo da Boa Esperança,
decibéis de loucuras por descobrir ou inventar na banda atlântica do planeta,
além de sonhar decisivamente vital por toda imensidão cósmica. Era para saber
de Jodorowsky: Entre o que eu penso, o que quero dizer, o
que digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que
entendeu, há um abismo. A pessoa se torna sábia apenas na medida, enquanto
atravessa sua própria loucura. Umoutra e
tantoutras enfileiradas, quase irreconhecíveis de esquecidas entroutras, o
violão e a voz para cantar, revanche da vida.
Elas, Opuntia
& peyotl... Imagem: a
arte de Corbiniano Lins (1924-2018) –
Quatro mulheres muito belas me ofereciam água nas xicales. Era tudo muito
onírico, senão surreal. Mesmo assim tomei, agradeci. E me mostraram um magnifico
cacto que mergulhava suas raízes na água e sobre a sua folha mais alta se
fechava a garra de aço da águia majestosa - alter ego do Deus-Sol - com uma
imperial serpente ao bico. Uma delas achegou-se e disse apontando para a cena:
Opuntia. Sim, a mesma da Oda
al cactos de la costa de La Sebastiana da Valparaiso de Neruda: Pequeña masa pura de espinas estreladas. Era ali Tenochtitlan,
disseram-me: o Umbigo da Lua. Presa no bico da águia, Quetzalcoatl – A Serpente
de Penas – cantava: Não te apavores, meu
coração, / Lá adiante, sobre o campo de batalha / quero morrer, anseio por
morrer / sob a faca obsidiana. / O que querem nossos corações / é a morte na
guerra. / Ó vós, que estais em combate! / Eu quero a morte sob a faca
obsidiana. / O que querem nossos corações é a morte na guerra. Assisti a
tudo e elas me levaram para a deusa huaxteque Tlazolteolt que apareceu acompanhada
de uma mulher de largas nádegas dos Nonoalcas e me disse: Toma é tua! Todas,
então, desnudas, dançaram ao meu redor. A escolhida colocou-me na cacunda e seguiu
para a feiticeira Malinalxochitl que me entregou a bela Chalchiuhnenetzin,
filha de Montezuma: É tua, toma! As duas me encheram de regalos e contaram
muitas histórias por noites e dias infindos de coisas nunca vista nem dita. Fomos
interrompidos com a chegada de Mixcoati, o chefe dos Toltecas, vestido com a
pele sangrenta da filha e a se empanturrar com carne das cobras-cascavéis.
Olhou-me firme e me apontou para a grande beleza de Chimalma, justo na hora que
Atecpanecatl o matou assaltando o poder para tornar-se o soberano. Chimalma que
havia engolido descuidada um pedaço de jade azulesverdeado estava grávida e
louca de dor fugiu para a casa dos seus pais para dar à luz o seu Topilzin. Surpreso
com aquilo, mais me assustei: arrancaram o coração de Chalchiuhnenetzin e lançaram
aos cães – restou-me dela os seus seios fartos e aduncos, os lábios molhados de
margens de rio e os quadris da montanha mágica. Ela chorosa aproximou-se e me
contou que havia já quatro fins do mundo e o naul ollin predizia grande movimento e tremores: nosso Sol terminará seu curso no
poente, num despedaçamento de toda a Terra. Soube delas que estrangeiros ali chegaram, os invasores eram galegos
famintos que comiam a Carne de Deus e declaravam festivos ali se apossarem da
América. Opuntia, alguém disse, e mais comiam. Opuntia! Não, não era, era
teonanacatl, era peyotl - que também é mescal pros nativos, num trecho de
um poema do dramaturgo compositor estadunidense Michael McClure (1932-2020), sim, o mesmo que era Pat McLear do Big Sur de Kerouac e da Mercedes-Benz
de Janis Joplin: ... Eu ouço / a música de mim mesmo e escrevo / para
ninguém ler. Transmito fantasias enquanto / cantam para mim com Vozes de Circe.
Eu visito / entre os povos de mim mesmo e sei tudo o / que preciso saber... Depois
dele os versos xamânicos da memória-coração do poeta francês Serge Pey, no Festival de Tambores,
fazendo nós com ervas na rocha da montanha: ... Ensina-me / aqueles que golpeiam a terra / e a balança que sustenta / meu
pé descalço / Eu sou o norte do cérebro / eu sou o sul da perna / sou o centro /
da mão e da língua / sou o leste-oeste / da árvore iminente / que brota na / morta
/ sou a direção / quinta da voz / Vamos ao país / do nosso bisavô / nas
montanhas / onde moram... Lá onde o peiote é / uma rosa / no topo do Leunar / chupando
a formiga vertical... Foi então que
a dos belos glúteos enxotou a todos, acendeu o poquietl e a espessa fumaça de virtudes tomou conta do lugar. A dos seios
aduncos deu-me octli e nos
deitamos sobre a Pedra dos Ciclos. E me trouxeram outras belas para viverem no
meu sonho Corbiniano.
Néstogas
outras... – Imagens: da artista
ucraniana Natali Zablotskaya. – Havia
um sorriso no fundo do vulcão. E a milágrima era larva e lavava o dia que vi de
ontem mais que amanhã. Fez-se estrela e não dizia nada, brilhava no horizonte
dos meus olhos, como versos do Man'yōshū – letras soltas
que caiam feito flores de um raio na tarde anoitecida e rompeu a saia ao vento
da moça bonita que saltou das telas para me falar daquele maio dos meus vinte e
seis anos. E dela surgiam OVNIS no plantão do céu no
Brasil, porque já era oito da noite no oitavo dia do maio oficial das aparições
e pairavam extáticos e cintilantes pelas bordas de suas curvas. Se eu soubesse
já tinha buscado a botija no pé do arco-íris e que ela guardava no ventre nu
para me dar. Não seria viagem perdida, era ilusão corporificada na mulher que
eu vi passar soltando versos aos requebros para dizer de Néstogas e o que foi
feito e nunca existiu. Graças! Até mais ver.
O conhecimento serve para encantar as pessoas, não para humilhá-las.
Pensamento
do filósofo e escritor Mario Sérgio Cortella. Veja mais aqui e aqui.