INEDITORIAL: DE
PERTO NINGUÉM É MESMO NORMAL! - Salve,
salve, gentamiga! De perto ninguém é normal meeeeeesmo! De noite ainda dá pra
tapiar: toda gata é parda e qualquer trubufu vira miss da hora – feito as fotos
que o povo posta nos perfis das redes sociais, maior lindura! Quem, qual
Ulisses, nunca já foi enfeitiçado pelo canto mavioso de sereias descoladas
pelos descaminhos prazerosos tarde da noite, hem? Quando vai ver, tête-à-tête,
vixe! Basta a primeira fresta da claridade pra se ver agarrado com Urutau que
deixa ecoando no quengo o seu sinistro canto: foi, foi, foi, foi. A certidão da
lasqueira: merda feita, culpa peita. Lascou, feito visita de mais de três dias:
chatura braba. Por educação não dá nem pro pé na bunda e correr da raia; fica e
vai descobrindo outras particularidades nada simpáticas. Aí finda genuflexo
pelamordedeus abrir um buraco no chão e se socar dentro. Adianta nada! Primeiro,
não existe mulher feia, no máximo descuidada ou mal ajambrada – qualquer banho
de loja e fica nos trinques, evidentemente, porque se Deus criou algo para
rivalizar consigo mesmo, com o Sol, as estrelas, o infinito e todas as
maravilhas do mundo, esse ser é a mulher. Anote e aprenda. E, segundo, não
adianta apelar pra pena de morte porque aí vira suicídio e não tem a menor
graça. Está lembrado daquela cena do Foucault? O condenado, um cavalo amarrado
em cada membro, assim: um em cada braço, outros em cada perna e um apertado no
gogó, cada um para direções opostas, um pipoco e eles partem cada qual pro seu
lado, deixando o desgraçado só os trapos arrastado pelo chão, devidamente
esquartejado. Viu? Talqualmente. Mas como hoje é dia da Saúde Mental, preze
pela sua e leve a sério. Afinal, endoidecer faz parte, desendoidecer vez em
quando, melhor ainda! E vamos aprumar pras novidades do dia: na edição de hoje
destaque pra arte do pintor e escultor Jean-Paul Riopelle, O coração do homem
de Erich Fromm, a civilização dos Astecas, A carta roubada de Edgar Allan Poe, o
cinema de Peter Greenaway homenageando Federico Fellini, a entrevista de
Geraldo Carneiro, a Gaia Ciência de Nietzsche, a música de Maya Beiser, a
coreógrafa Martha Grahan, a escultura de Auguste Clésinger, Os sertões de Euclides
e de José Celso Martinez Corrêa, a fotografia de Luiz Garrido, Congresso de
Psicologia do Vale do São Francisco, a pintura de Paul-Albert Besnard & a croniqueta
As mil faces do disfarce. Vamos aprumar a conversa & veja mais aqui
e aqui.
Veja mais sobre:
A poesia nossa de cada dia, Mario de Andrade, Gerardo Mello Mourão, Jacques Tati, Camille
Saint-Saëns, Empédocles de Agrigento, Jeremy Lipking, Ismael Nery & Maria
Claudia Maciel aqui.
E mais:
Tolinho & Bestinha, Giuseppe Verdi, Nora Roberts,
Harold Pinter, Franco Zeffirelli, Maria Teresa Horta, Charles Knight, Ed Wood,
Richard Senoner, Dolores Fuller, Neuropsicologia & aprendizagem aqui.
Big Shit BÔbras: quando deram
um jorge e depois uma júlia num encontro de quarto grau com um ET - a
reaparição do padre Bidão! (será?!) aqui.
O contrato social de Rousseau aqui.
Tolinha
& Bestinha: Quando Bestinha se vê enrolado num namorico de virar idílio
estopolongado aqui.
As trelas do Doro: escambau aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a adversidade
aperta, o biltre bota o rabinho entre as pernas aqui.
DESTAQUE:
Arte do pintor e escultor canadense Jean-Paul Riopelle (1923-2002). Veja
mais aqui.
AS MIL FACES DO
DISFARCE (Imagem: da artista plástica Beatriz Milhazes)– A face em prantos, mil disfarces ruindo nas
lágrimas. Novas poses, máscaras de nunca antes. Tantas revelações emergem noutras
muitas mentiras, um passo além do tempo: erros, avanços, recuos, giro de pião. Refaz-se,
está na hora de encarar a vida, sai enchendo o mundo de pernas. Pros outros,
ah, só simpatia de campeão, firmeza de tronco inarredável, retidão inexorável,
amigo de todas as horas. Assim o dia: caras e bocas. Ao entardecer, o suplício.
De noite, o retorno à míngua particular. Sozinho, no escuro se espreme. Resolve
definitivamente encarar o espelho - fica de cabelo em pé e contata: pior que
Dorian Gray. Não sustenta o olhar à sua própria efígie. Dá um passo atrás e
ousa levantar os olhos, buscando forças pro inevitável: dar de cara consigo
mesmo. Impossível esquivar-se. E repele, nega-se a si mesmo, jamais ver-se a si
próprio. Cabisbaixo ouve Os homens ocos
de Eliot e deplora. O Poema em linha reta
de Pessoa, o seu libelo. Não, nega tudo, nega-se. E se debate, reprimindo-se,
imolando-se até a autocomiseração. Reduzido a nada, cinzas de si, chega, junta
os cacos dentro da alma e tenta se reerguer. É hora de reagir e vai pra rua
espantar seus demônios, expulsá-los aos ventos. Sua dor ficou na porta aberta
esquecida e a esmo descarrila até se assustar com um jovem que dá uma tapa
carburando as ideias na beira da praia enluarada. Revolve seu ódio, reprime,
prende e humilha, até deixá-lo recluso e incomunicável. Estufa o peito de
moralista que demoniza a maconha, a putaria, a roubalheira, as folganças
irresponsáveis, a incredulidade sarcástica e a propensão inata à maldade. Por desassombro
põe a mão sobre a Bíblia, faz o sinal da cruz e segue pra primeira igreja,
ajoelhado devoto por exaltadas orações, pedindo perdões pra livrar-se dos
castigos e segue de alma lavada pra impor sua justiça a todo mundo, enretando
tudo o que, a seu devido ver e achar, está desenretado. Aparentemente apaziguado
segue adiante. Perambula na madrugada e o dia amanhece no trabalho. Quando se
dá conta está às voltas com o que sempre foi: inventa pinóias, propaga boatos,
arma cruzetas, aplica embuste, incrimina o alheio e surrupia o tomado fácil. Punhos
fechados no tórax, a vida nos bolsos: um Alexander DeLarge reincidente que
auto-absolvido de todas as culpas, circula impune ao som da nona de Beethoven a
se glorificar lavando a alma. Ao espelho, nunca mais. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
UMA MÚSICA:
Curtindo o álbum Almost Human (eOne Music, 2006), da violoncelista, cantora &
produtora israelense Maya Beiser.
O CORAÇÃO DO
HOMEM & SAÚDE MENTAL - [...] a
ciência criou um novo objeto para o narcisismo - a técnica. O orgulho narcisista
do homem em ser o criador de um mundo de coisas dantes não-sonhado, o
descobridor do rádio, televisão, força atômica, viagem espacial, e até em ser o
destruidor potencial do globo inteiro, deu-lhe um novo objeto para o auto
engrandecimento narcisista. [...] A saúde mental
se caracteriza pela capacidade de amar e criar, pela libertação dos vínculos
incestuosos com o clã e o solo, por uma sensação de identidade baseada no
sentimento de si mesmo como o sujeito e o agente das capacidades próprias, pela
captação da realidade interior e exterior, isto é, pelo desenvolvimento da
objetividade e da razão.Trecho extraído da obra O coração do homem: seu
gênio para o bem e para o mal (Guanabara, 1981), do filósofo, sociólogo e
psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980). Veja mais aqui, aqui, aqui,
aqui e aqui.
Imagens: a arte da
dançarina e coreógrafa estadunidense Martha Graham (1894-1991). Veja
mais aqui.
PERNSAMENTO DO
DIA: Apesar
das maravilhas que lhes ocasionava Topilzin, os Toltecas se recusavam a adora
Quetzalcoatl, pelo menos como deus único. Temiam as terríveis represálias do
sanguinário Tezcatlipoca, seu deus tradicional, sedento de sangue humano dos
sacrifícios que Ce Acatl Topilzin Querzalcoatl lhe recusava havia tanto tempo.
A preocupação se apoderou deles de tal maneira, que começaram a conspirar
contra seu encantador príncipe-deus. Durante esse tempo, Tezcatlipoca se aliava
a dois outros deuses do mal e multiplicava, os sortilégios para forçar Topilzin
a deixar Tula. Chega mesmo a entrar na câmara obscura do templo onde o jovem
príncipe-deus estava em oração. Ele estendeu um espelho mágico que inventara.
Olhando-se nele, Topilzin Quetzalcoatl viu um abominável velho enrugado e teve
medo: - Se os meus me vêem assim, fugirão. Para acalmá-lo apareceu a divindade
maléfica Coyotlinahual (feiticeiro-coiote): - Vou te ajudar a parecer diferente
– diz-lhe ele. E o disfarça com uma máscara, de tintura vermelha e penas.
Durante esse tempo, o terceiro deus mau Ilhuimecal preparou, em sua caldeirinha
infernal, um grande pirão de tomates, pimentão, cebolas, chile, milho e feijão.
Misturou tudo num vaso de barro, acrescentando mel selvagem com pulque, álcool
terrivelmente embriagador. Convidado a jantar pelos três deuses, Quetzalcoatl,
por delicadeza, provou o pirão, decidido, no entanto, a não beber. Apenas o
prato estava de tal maneira picante, que não pôde comer. Molhando o dedo na
bebida, passou-o sobre os lábios irritados. Depois, com os quatro dedos,
repetiu a operação. A seguir usando a mão em concha, bebeu avidamente...
Levantou-se, dançou e eufórico pediu: - Vão procurar minha irmã, a adorável
Quetzalpetlatl (Trança de Penas), para que bebamos juntos... quando despertou,
muito mais tarde, sua irmã repousava despida a seu lado, cabelos
despenteados... Quetzalcoatl, horrorizado, compreendeu que, durante a
embriaguez, perdera sua castidade e com ela sua dignidade sacerdotal. Trecho extraído da obra A civilização dos astecas (Otto
Pierres, 1975), do jornalista e escritor francês Jean Marcilly. Veja mais aqui.
Imagens: a arte do escultor e pintor francês Auguste Clésinger (1814-1883).
A CARTA ROUBADA
- [...] O mundo
material – prosseguiu Dupin – contem muitas analogias estritas com o imaterial
e, desse modo, um certo matiz de verdade foi dado ao dogma retório, a fim de
que a metáfora, ou símile, pudesse dar vigor a um argumento, bem como embelezar
uma descrição. [...] Há um jogo de enigmas – replicou ele – que se faz
sobre um mapa. [...] lançara mão do compreensível e sagaz expediente de
não tentar escondê-la de modo algum. [...] uma carta solitária [...]
numa letra diminuta, feminina, ao próprio ministro. [...] apanhei o
documento, meti-o no bolso e o substituí por um fac-símile (quanto ao que se
referia ao aspecto exterior) preparado cuidadosamente em minha casa, imitando
facilmente a inicial “D” por meio de um selo feito de miolo de pão. [...] O
pretenso lunático era um homem que estava a meu serviço. [...] rumo à
sua própria ruína política. Sua queda será tão precipitada quanto desastrada. [...]
Fácil é a descida para o inferno... um projeto tão funesto, se não é digno
de Atrée, é digno de Thyest. [...]. Trechos do conto A carta roubada,
extraído da obra Histórias extraordinárias (Abril, 1978), do escritor norte-americano Edgar
Allan Poe (1809-1840). Veja mais aqui e aqui.
OS SERTÕES - Um dos mais controversos espetáculos teatrais das últimas
décadas, foi o premiadíssimo Os Sertões,
baseado na clássica obra do escritor Euclides da Cunha (1866-1909), do não menos ousado e aclamado ator,
dramaturgo e diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. O espetáculo possui duração de 30 horas,
dividido nas peças A Terra, O Homem 1, O Homem 2, A Luta 1 e A Luta 2, e foi realizado em comemoração
aos 50 anos de criação do legendário Teatro Oficina. O projeto foi amadurecido
pelo dramaturgo durante mais de duas décadas, sendo concluído em 2001, para
realizar uma temporada nos mais diversos palcos brasileiros. As cinco peças
teatrais de Os Sertões foram
ganhadoras do Prêmio Shell (2002), Prêmio Bravo Prime de Cultura (2005) e
Prêmio Shell (2005), nas mais diversas categorias. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
8½ WOMEN – O
filme 8½ Women (1999), do
cineasta do cineasta e artista multimídia britânico Peter Greenaway, é uma homenagem direta às mulheres dos filmes
do cineasta e artista plástico italiano Federico Fellini (1920-1993),
apresentando uma cena em que pai e filho discutem as fêmeas enquanto assistem
ao filme. Esse ótimo filme conta a história de um pai e filho que são
bilionários, donos de cassinos luxuosos no Japão, que contratam oito mulheres
para servirem de acompanhantes ou supostas esposas. Durante o enredo, num mundo
de requintada estranheza, eles passam a descobrir como melhor se
relacionarem com elas em suas diferentes e bizarras características. Um ótimo
filme como toda obra do cineasta que merece aplausos de pé. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
Imagens: a arte do premiado fotógrafo Luiz Garrido.
AGENDA: I
CONGRESO DE PSICOLOGIA DO VALE DO SÃO FRANCISCO – Acontecerá no dia 31 de outubro e 2 de novembro, no Complexo
Multieventos da Univasf, campus Juazeiro-BA, com apoio da Univasf e do Conselho
Federal de Psicologia (CFP), o I
Congresso de Psicologia do Vale do São Francisco, sobre a temática A prática da psicologia no Vale do São
Francisco: aspectos teóricos, éticos e políticos, com o objetivo de
integrar os conhecimentos das abordagens teórico-metodologicas da Psicologia e
das suas diversas áreas de atuação. No evento será discutido a respeito dos
atuais desafios da formação, da pesquisa e da atuação do psicólogo na região,
possibilitando a participação de estudantes, profissionais e de áreas afins,
com relação aos saberes construídos e as possíveis transformações do cenário
regional. Informações pelo fone (87)2101-6868 ou pelo mail congrepsidovale2016@gmail.com.
Veja mais aqui e aqui.
ENTREVISTA:
GERALDO CARNEIRO – Alguns anos
atrás, quando eu estava na condição de editor do Guia de Poesia do Projeto SobreSites – O diferencial humano (RJ),
tive a oportunidade de entrevistar o poeta, letrista e roteirista mineiro
radicado no Rio de Janeiro, Geraldo
Carneiro, parceiro musical de grandes nomes da música, tais como Egberto
Gismonti, Astor Piazzola, Wagner Tiso, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Francis
Hime, entre outros. Confira a entrevista aqui.
A GAIA CIÊNCIA
[...] Um novo ideal corre à nossa frente, um ideal estranho, tentador, rico de perigos, ao qual não gostaríamos de persuadir ninguém, porque a ninguém concederíamos tão facilmente o direito a ele: o ideal de um espírito que joga ingenuamente, isto é, sem querer e por transbordante plenitude e potencialidade, com tudo o que até agora se chamou sagrado, bom, intocável, divino; para o qual o mais alto, em que o povo encontra legitimamente sua medida de valor, já significaria perigo, declínio, rebaixamento ou, no mínimo, descaso, cegueira, esquecimento temporário de si; o ideal de um bem-estar e bem-querer humano-sobre-humano, que muitas vezes parecerá inumano, quando, por exemplo, se põe ao lado de toda seriedade terrestre até agora, ao lado de toda espécie de solenidade em gesto, palavra, tom, olhar, moral e tarefa, como sua mais corporal, sua involuntária paródia - e com o qual somente, a despeito de tudo isso, começa talvez a grande seriedade, com o qual é posto o verdadeiro ponto de interrogação, o destino da alma muda de rumo, a tragédia começa...
Trecho extraído do Livro V – “O andarilho” fala - , da obra A gaia ciência (Companhia das Letras,
2012), do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Nu, do pintor e gravurista francês Paul-Albert Besnard (1849-1934).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.