sábado, outubro 22, 2016

DARIO FO, SADE, JASPERS, HILTON JAPIASSU, JOÃO DO RIO, SCHLOCHAUER, BRÁULIO TAVARES, ANTHEA ROCKER, GHADA AMER, CZERNY, DIOGO DE MACEDO, HERBERT MATTER, JAZZ & CIA


INEDITORIAL: ESPERA (Imagem: Waiting on the platform, by Anthea Rocker) - A vida levando, sombria esperança. Os dias tato tontos servindo estranheza. A utopia de ser existente. O fácil vazio que só arrefece em praça tolhida, e ser condução: esperando Pinheiros no Largo da Paz. Eu não sei agonia se espero amanhã. O fato existe em não ser amanhã. Sem tempo presente, imediato, um átimo sensível de não se expressar. Eu não sei ironia se já anoitece. Se bem que meu peito nem amanhecia. A pedra está por todos os lugares. E a solidão de um banco de praça é fruto do ermo em sensação e reveste meu corpo em chuva fininha que aglutina e já é temporal, sequer o ônibus Pinheiros, sequer, apontou no Eldorado. Minha praça vazia, meu coração. Todos os outros pegaram seu rumo e esqueceram a poeira no cansaço marcado. Já não posso molhar meu corpo na chuva, nele só cabe o mormaço da vida, esperando Pinheiros no Largo da Paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. (In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.). Vamos agora aprumar a conversa nas novidades: na edição de hoje destaque para a condição humana de Karl Jaspers, o pensamento epistemológico de Hilton Japiassu, a literatura de João do Rio, os contos proibidos de Marquês de Sade, o teatro de Dario Fo, a música de Regina Schlochauer, a escultura de Diogo de Macedo, o Colóquio de Estudos Feminista e de Gênero, a entrevista de Bráulio Tavares, a fotografia de Herbert Matter, a pintura de Aaron Czerny, Anthea Rocker & Ghada Amer, a dança do Jazz & Cia Grupo de Dança, o Dicionário Tataritaritatá & a croniqueta O que sou de praça na graça que é dela. Para ver mais clique aqui.

Veja mais sobre:
Da História do Brasil pro Fecapema, William Shakespeare, Timotthy Leary, Franz Liszt, Leconte de Lisle, Nelson Pereira dos Santos, Leila Diniz, Robert Capa, Vincent Stiepevich, Coronelismo e cangaço aqui.

E mais:
A música de Dhara – Maria Alzira Barros aqui.
Sobre o Suicídio, Padre Bidião, A primavera de Ginsberg & muito mais aqui.
A educação no pensamento Marxista aqui.
As trelas do Doro: olha a cheufra! Aqui.
Fecamepa: quando embola bosta, o empenado não tem como ter jeito!!!! Aqui.

DESTAQUE: A CONDIÇÃO HUMANA
Imagem: Perception and the human condition, art by Aaron Czerny.
-nos da nossa situação humana. Estamos sempre em determinadas situações. Estas modificam-se, surgem novas oportunidades; se as desperdiçarmos, não tornam a oferecer-se. Por mim, posso agir para alterar a situação. Há, porém, situações que se mantêm essencialmente idênticas, mesmo quando a sua aparência momentânea se modifica e se oculta a sua força avassaladora: tenho de morrer, tenho de sofrer, tenho de lutar, estou sujeito ao acaso e incorro inelutavelmente em culpa. A estas situações fundamentais da nossa existência damos o nome de «situações-limite». Quer isto dizer que são situações que não podemos transpor nem alterar. A tomada de consciência destas situações-limite é, após o espanto e a dúvida, a origem mais profunda da filosofia. Na existência comum esquivamo-nos a elas muitas vezes, fechando os olhos e vivendo como se não existissem. Esquecemos que temos de morrer, esquecemos a nossa culpabilidade e a nossa sujeição ao acaso. Defrontamo-nos, assim, apenas com situações concretas, que resolvemos em nosso benefício e às quais reagimos por planos e atos instigados pelos interesses da nossa existência no mundo. Às situações-limite, porém, a nossa reação é diferente: ou as ignoramos ou, se realmente as apreendemos, desesperamos e readquirimo-nos a nós próprios por uma metamorfose da nossa consciência do ser. [...] O Homem apodera-se da natureza para se assegurar do seu serviço; a natureza deverá ser domesticada pelo conhecimento e pela técnica. Todavia, o próprio domínio da natureza é aleatório. Constantemente ameaçado, por vezes malogra-se totalmente. [...] Contudo, na insegurança geral do mundo, serve-nos de indicação, impede a completa satisfação mundana, aponta-nos algo diferente. As situações-limite – morte, acaso, culpa e insegurança – mostram o fracasso. [...] Por outras palavras: o Homem busca a redenção. A redenção é-lhe oferecida pelas grandes religiões universais. O seu sinal é uma garantia objetiva da verdade e realidade da redenção. Seguir esta via conduz ao ato da conversão do indivíduo. Isto não pode a filosofia oferecer-lhe. Todavia, o filosofar é um triunfo sobre o mundo, o análogo da redenção.
Trecho extraído da obra Iniciação filosófica (Guimarães, 1960), do filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883-1969). Veja mais aqui.

O QUE SOU DE PRAÇA NA GRAÇA QUE É DELA – O que resta de mim é sempre muito pouco. Sou sempre grato, mesmo assim. Posso ter rastejado terrenos estéreis, me espremido por corredores e fatalidades, ou desesperado nos cantos escuros das ruas, vez em quando. Do pouco que tive, sempre valeu muito mais que tudo que perdi, quedei ou me flagelei. Esse pouco, apesar de tudo, é sempre muito e demais: apaga todos os naufrágios, sara cicatrizes, amaina as dores. Sempre remedia todas as minhas enfermidades das luas desfeitas e águas estagnadas. Sempre revigora meus momentos depressivos de catarses e estertores. Sempre ilumina a minha escuridão no breu de tudo. Ah, é a maior graça quando Freyaravi surge do nada para fazer meu coração festa de domingo, aos pulos e risos escancarados. Meu coração torna-se praça pro seu desfile sensual e ela a brincar comigo de todo tipo de faz de conta, até ser-me real, carne viva, transformando-se na mãe dos deuses egípcios: ela Neith para que toda graça possa plenamente me contemplar entre fogos de artifícios e celebrações estelares. É ela Tehenut nua com todos os festejos do ano e todas as comemorações da vida. É dela que tudo em mim se refaz, desde as memoráveis lembranças da infância, ao mínimo triz do que possa ser felicidade imensa no mais infinito dos prazeres. Por isso do que sou é dela, nada mais, sou praça em festa na graça do universo que é todo só dela. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo os álbuns (vols. 1 e 2) Um Cravo Bem Variado (The Well Varied Harpsichord, 1996) da pianista, professora e cravista Regina Schlochauer.

PENSAMENTO DO DIA - [...] Cada um de nós pode se tornar um pensador, alguém que se baseia na lógica da argumentação e da refutação, jamais confundindo as coisas da lógica com a lógica das coisas, e dizer “Não” a tudo o que degrada o homem. [...] Porque toda sociedade que nega a importância fundamental da racionalidade crítica para resolver seus problemas está mais facilmente exposta a ser vítima de tiranos e charlatães. [...]. Trechos recolhidos da obra A crise das ciências humanas (Cortez, 2011), do epistemólogo e professor doutor em Filosofia pela Université des Sciences Sociales de Grenoble (França) e pós-doutorado pela Universitsé des Sciences Humaines de Strasbourg (França), Hilton Japiassu

Imagens: a arte da pintora e artista contemporânea egípcia Ghada Amer.

MEMÓRIAS DE UM RATO DE HOTEL - [...] Não sei dizer. Posso afirmar que uma vontade superior me impelia como em estado de hipnose. É um outro ser que toma conta de mim. [...] Não sei. ia começar a minha epopéia. Tomei um carro de cocheira, enveredei por um alfaiate de primeira ordem e entrei na grande vida. [...] Estas memórias são uma confissão e não um romance. [...] Que diferença entre um grande artista, um grande político e um grande gatuno? Mas, no ponto de vista da finura para a realização de uma obra precisa, nenhuma. [...]. Trechos extraídos do texto O representativo do roubo inteligente (A Notícia, 1911), do contista, cronista e romancista João do Rio (Paulo Barreto, 1882-1921), no romance Memórias de um rato de hotel, a vida do Dr. Antônio contada por ele mesmo (Dantes, 2000), contando as memórias de um criminoso real que no momento encerrava sua vida de crimes preso na Casa de Detenção, uma máscara que o autor utilizou para cronicizar sobre o submundo do Rio de Janeiro e carnavalizar a sociedade.

 Imagens: a arte do escultor, museólogo e escritor português Diogo de Macedo.

A MANIPULAÇÃO DA CRISE PARA A ARTE - Há uns anos atrás, o poder, no máximo da sua intolerância, escorraçou os artistas dos seus países. Hoje em dia, os atores e as companhias sofrem com a dificuldade de encontrar espaços, teatros e público; tudo por conta da crise. Os governantes já não se preocupam em controlar quem os cita com ironia e sarcasmo, uma vez que os atores não têm espaços nem publico que os veja. Contrariamente ao que acontece hoje, no período da Renascença em Itália, os governantes tiveram enormes dificuldades em controlar os atores e comediantes que conseguiam mobilizar a sociedade para assistirem aos seus espetáculos. [...] Logo, a única solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas que estão contra nós, e sobretudo contra os jovens que querem aprender a arte do Teatro: só assim nascerá uma nova geração de comediantes que aproveitará desta nossa experiência e dela tirará benefícios inimagináveis na procura de novas formas de representação. Trechos extraídos das palavras do escritor, dramaturgo, comediante italiano e Nobel de Literatura de 1997, Dario Fo (1926-2016). Veja mais aqui e aqui.


OS CONTOS PROIBIDOS DE MARQUÊS DE SADE – O drama Quills (Contos proibidos de Marquês de Sade, 2000), dirigido por Philip Kaufman, conta a história do escritor Marquês de Sade que vive em um asilo por loucura ao término de sua vida, chegando ao ponto de ser proibido de escrever, o que o leva a utilizar o próprio sangue e excrementos para deixar seus manuscritos nas roupas e paredes. O destaque fica por conta da belíssima atriz inglesa Kate Winslet. Veja mais aqui.


Imagem: pôster do espetáculo C'Est La Vie – a constante busca pela realizaçãodos sonhos -, do Jazz & Cia Grupo de Dança, com direção artística e coreografias do bailarino Robert Vaúna, participação do coreógrafo Túlio Sanches e figurino de Isabel Campos.

AGENDA: COLÓQUIO DE ESTUDOS FEMINISTA E DE GÊNERO – Acontecerá no dia 8 de novembro, a partir das 8hs, no campus universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília, o III Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero - Mulheres e Violências: Interseccionalidade, promovido pelo Fórum Notificação dos Casos de Violência contra a Mulher, como parte do projeto Notique. Informações: saudementalegenero@gmail.com Sítio: https://saudementalegenero.wordpress.com/eventos-2/ Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - DF, 70910-900- FINATEC. Veja mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: BRAULIO TAVARES – Entrevista realizada por ocasião do lançamento do livro Os martelos de Trupizupe, do escritor, poeta, compositor, teatrólogo, roteirista, estudioso da cultura popular, o paraibano radicado no Rio de Janeiro desde 1982, Bráulio Tavares. Confira a entrevista aqui e aqui.

REGISTRO: DICIONÁRIO TATARITARITATÁ - O PAI DOS FABOS BURROS
Gentamiga, como a moçada simpática que prestigia minhas páginas tem perguntado em que raio de país ou planeta eu estou, respondo: vivo no Brasil desde que nasci. Todavia, parece que a turma pensa que eu falo uma droga de grego qualquer ou esperanto, volapuque, interlíngua ou que desgraça de traste de fala é essa que eles não sacam patavina. Bem, explico: é um pernambuquês condimentado com nordestês, brasileirês e outros processos semânticos e linguísticos da boba da peste do regionalismo heterodoxo nacional, mais juridiquês, analfabetês com acréscimos doutras expressões apropriadas de tantas outras línguas! Tradução: ininteligível mesmo, só para iniciados safados da mesma laia. Por isso, pra ficar por dentro da lorota toda confira o dicionário aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte do fotógrafo e designer gráfico suíço Herbert Matter (1907-1984).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...