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quarta-feira, agosto 28, 2019

TRUMAN CAPOTE, FARADAY, BRÁULIO TAVARES, INGRID SILVA, BARÃOZINHO, GRIMM & FLAUTISTA DE HAMELIN


O MORTO QUE SE PERDEU – Quando o filho caçula do Barão rebentou foi um alívio. Na verdade, uma festa para mais de uma semana do lado de lá. A cidade inteira acompanhou o festeiro do lado de cá do rio. O regabofe teve todo tipo de pipoco: tiros e foguetórios do muito. Um estardalhaço de comemoração. Pudera, a filha dele, Maria Joãozinho, já estava virando mundo, casando e descasando como quem troca de roupa, avalie. Ela já ia pelo vigésimo matrimônio– ou era trigésimo? Sei lá. Ô mulher virada na gota! Destá. Era o cabra se afrouxando do sopapo dela e ela já arrumando outro na lata, fogosa, atirada. Que coisa! Entretanto, ela saía da manchete na família e entrava de férias no desassossego deles; a bola da vez era o bruguelo que berrava para felicidade do mais rico do lugar: Agora sim, um filho macho dignifica a família! E mimou tanto o pixote de quase deixá-lo pior que a filha: mimada e revoltada. Ensinou tudo de macheza pros dois, caprichando, evidentemente, no menino, que já crescia com os maus bofes e não queria errar a mão: Vai que por azar da sorte o presepeiro desse de desmunhecar, hem? Seria um desgosto duplo. Bastavam as doidices dela. Mas não, o pirralho adolesceu de virar um galalau disputado entre as recatadas, esvoaçantes e perdidas. Era o Barãozinho. Para se ter uma mínima ideia do que se sucedia com o sortudo, as casadas suspiravam, os homens queriam por amigo, as crianças faziam festa, os velhos endeusavam, afinal, duas eram as principais razões para tal: era o filho do Barão, meu; a outra, era gente boa, mão aberta, filantropo de nascença, um santo, no dizer de todos. As filhinhas de papai ou mesmo as mais assanhadas, disputavam às tapas e puxavanques, lasquinhas que fosse de pedras de ara, só pra servir de amuleto e prendê-lo às redes do amor. Ele escapulia, sabido; sapecava a bimbada, dava cheiro, presentes e carícias, depois arribava para as capitais, agitar noutras plagas. Enquanto isso, não faltava quem deitasse tapetes suntuosos ou tirassem as próprias vestes para que ele não pisasse em poças ou lamaçais. Ele, sempre grato, sacava dos bolsos cédulas e moedas, agradecendo com paga além do chaleirismo. Tanto é que bebiam o mijo dele – diziam ser curativo -, até achavam a bosta dele cheirosa, pode? Ô cabra perfumado da gota! Bebia suco de graviola, só pode ser. Qualquer um que se arvorasse a sair dos trilhos, como manda o figurino, logo era admoestado: Você não é o Barãozinho, fique quieto, amanse os cornos. Parecia mesmo ser um sujeito exemplar, todos que o digam. Na verdade, caiu nas graças do povo. Fizesse o que fosse, sempre incólume, indelével, imaculado. Chegou a ponto da Câmara de Vereadores de Alagoinhanduba, em uma das esfuziantes sessões, dar-lhe o título de cidadão local – apesar de ter nascido naquelas terras, o Barão fez questão de registrá-lo como se nascido na capital federal -, e logo emplacou proposta de canonizá-lo, o que recebeu a simpatia do padre que providenciou tudo para que o Vaticano assim procedesse. Aplausos, salves e vivas! Malogrou. Poderia até ter dado certo, não fosse um trágico acidente de automóvel naquela mesma noite, numa das curvas da rodovia de acesso à cidade. Não fosse isso, era bem capaz da gente hoje saber do Santo Barãozinho. Não duvido. Quando souberam da fatalidade, a cidade em peso foi pro local. Lá estava ele esmagado entre as ferragens. Trouxeram corpo de bombeiros e começaram o resgate: Oxe! Cadê o homem? Sumiu, era ele que estava aí dentro mesmo? Era, o carro é dele, ora. Estava o canto mais limpo: Ué, essa máquina não podia andar sozinha, né? Cadê o corpo, meu? Vasculharam. Até que alguém teve a iniciativa de abrir o porta-malas. Lá estava ele: nu e de pau duro. Como pode? Eita, parece que ele morreu de priaprisma. E agora? Chama o Barão, ele sabe o que deve ser feito. E lá vinha ele cagando raios. Que é que foi dessa vez, cambada? Quando viu o filho naquele estado, desmanchou-se na maior tremedeira. Segura o homem, gente! Aí caiu o maior pé d’água! Corre-corre, levaram o corpo para um lugar improvisado na casa grande, fizeram o velório e passaram três dias e três noites chorando de joelhos, até que a irmã chegasse embaixo do maior espalhafato. Maior lamúria de carpideiras, o mundo todo aos prantos no atacado e no varejo, até os céus choravam arreando a maior tempestade. Prosseguiam as cerimônias, orações exaltadas de padres e pastores, todos juntos em procissão até o local do sepultamento num terreno que o Barão mandou organizar como cemitério particular e, nessa hora, uma tuia de raios clareou o céu e revirou a terra. E tome coriscos, relâmpagos a granel, trovões retumbantes, mais de horas de aguaceiro. Todos correram e deixaram lá o corpo insepulto. Depois da procela, foram para lá e a urna funerária estava toda espatifada, lascas de madeira para todo lado. E o esquife? Sumiu. Perdeu-se. Nunca foi encontrado. Corre até uma lenda que ele ressuscitou e saiu errante pelo mundo afora. Ainda hoje esperam, todos esperam o seu retorno. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Os dois rapazes pouco tinham em comum, mas não se apercebiam disso, visto que possuíam um certo número de afinidades superficiais. por exemplo, ambos eram requintados e exigentes Depois daquela manhã de lubrificação, passaram cerca de uma hora no toilette da garagem. Dick em roupas interiores era muito diferente do Dick completamente vestido. Assim, parecia um rapazola magro, de altura média, descarnado e talvez com o peito metido para dentro; despido, via-se que não era nada disso, mas sim um atleta treinado em peso e alteres. O focinho de um gato tatuado em azul, com uma expressão de riso, cobria-lhe a mão direita; sobre um dos ombros floria uma rosa. Outros sinais, desenhados e tatuados por ele, ornamentavam-lhe os braços e o tronco: a cabeça de um dragão com uma caveira entre as mandíbulas; mulheres nuas de seios opulentos; um diabrete brandindo uma forquilha; a palavra PAZ acompanhada com uma cruz rodeada de riscos a imitar raios de luz; e duas composições sentimentais – uma delas um ramo de flores dedicado à MÃE e ao PAI, o outro um coração que celebrava o romance de Dick E CAROL, a rapariga com quem se casara aos dezenove anos e da qual se separara seis anos mais tarde, a fim de reparar a sua falta para com outra jovem, mãe do seu filho mais novo. (“Tenho três filhos dos quais tomarei definitivamente conta” - declarara ele ao ser liberto condicionalmente. “A minha mulher casou outra vez. Fui casado duas vezes, mas com a segunda não quero nada”) [...] Uma bátega súbita crepitava no telhado da arrecadação. O ruído, semelhante a um rufar de tambores numa parada, precedeu a chegada de Hickock. Acompanhado por seis guardas e o capelão que rezava em voz baixa, entrou no fúnebre local algemado e envergando um feio dispositivo de correias que lhe mantinha os braços ligados ao tronco. Junto da forca, o diretor da cadeia leu-lhe a ordem oficial da execução, um documento de duas páginas; e durante esse tempo os olhos de Hickock, enfraquecidos por meia década de sombra, percorriam a reduzida assistência, até que, não conseguindo avistar o que procurava, perguntou em voz baixa a um guarda se estava presente algum membro da família Clutter. Ao receber uma resposta negativa, o prisioneiro pareceu desapontado, como se achasse que o protocolo que rodeava este ritual da vingança não estava a ser cumprido à letra. Como é hábito, o diretor, no fim de recitar o documento, perguntou ao condenado se tinha qualquer coisa a declarar. Hickock sacudiu a cabeça:- Só desejo afirmar que não quero mal a ninguém. Vocês mandam-me para um mundo melhor do que este. - Depois, como que para acentuar a afirmação, apertou as mãos dos quatro homens que haviam sido mais diretamente responsáveis pela sua captura e condenação, e que tinham pedido expressamente para assistir à execução da sentença [...].
Trechos extraídos da obra A sangue frio (Nova Fronteira, 1965), do escritor e jornalista estadunidense Truman Capote (1924-1984), relatando o brutal assassinato de uma família estadunidense, dando a ideia inicial do crime até a execução dos assassinos. O livro descreve minuciosamente a reação dos moradores da cidade, a investigação policial e os passos dos criminosos durante a fuga, bem como a história pregressa dos mesmos. Poucos meses depois do crime, Richard Hickock e Perry Smith são presos pela chacina e, condenados à morte, em 14 de abril de 1965, eles são enforcados. Veja mais aqui.

PIED PIPER DE HAMELIN DOS GRIMM
Há muitos e muitos séculos atrás , na cidade de Hamelin, numa bela manhã seus habitantes encontraram a cidade repleta de ratos famintos, devorando todos os grãos armazenados nos celeiros dos ricos comerciantes do local. Apavoradas, muitas pessoas começaram a fugir da cidade, os moradores desesperados reuniram-se e decidiram oferecer uma grande recompensa a quem acabasse com aquela terrível invasão dos ratos. Logo surgiu um flautista a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: “A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin”. O flautista pegou então sua flauta e saiu pelas ruas de Hamelin entoando uma linda melodia que encantava os ratos, e fazia com que todos os ratos o seguissem pelas ruas de Hamelin totalmente hipnotizados pela linda melodia oriunda da flauta. O flautista seguiu então por uma longa estrada, ao fim desta estrada havia um grande rio; os ratos ao tentar atravessar o rio para seguir o flautista, acabaram por morrerem afogados. Assim, os habitantes de Hamelin se viram livres da odiosa praga de ratos que havia lhes tirado o sossego. No dia seguinte, o flautista foi falar com os responsáveis pela cidade, que fizeram a promessa de entregar um grande recompensa em dinheiro a quem desse fim a todos os ratos. Porém o Conselho da cidade por pura avareza decidiu não pagar ao flautista pela exterminação dos ratos. Furioso pela atitude dos avarentos homens do conselho da cidade de Hamelin, o flautista desta vez decide se vingar. Num linda manhã quando todos os habitantes se encontravam na igreja em oração, o flautista começou a tocar a sua flauta e a hipnotizar todas as crianças da cidade, levando-as para uma caverna e aprisionando-as para sempre lá. Nunca mais as crianças apareceram e a cidade de Hamelin ficou triste, silenciosa e por mais que se procure lá nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.
Fábula extraída da obra Contos dos Irmãos Grimm (Rocco, 2005), dos irmãos escritores Jacob e Wilhelm Grimm. Veja mais aqui e aqui.
PS: O escritor e compositor Bráulio Tavares também escreveu a respeito, O flautista misterioso e os ratos de Hamelin (34, 2008), em sextilhas rimadas e bem divertidas, contando, em forma de cordel, a célebre lenda do flautista de Hamelin, acrescida de toques engenhosos e alusões contemporâneas, não faltando tiradas e comentários engraçados sobre uma cidade que, além de ser vítima dos ratos, é vítima também de seus políticos corruptos. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE INGRID SILVA
Eu sempre pensei que a dança poderia ser meu sonho e eu estou tão feliz, de compartilhar sobre minha vida e meu mundo de dança com você, a dança realmente mudou a minha vida.
A arte da bailarina Ingrid Silva, que iniciou sua carreira aos 8 anos de idade, no Projeto Dançando Para Não Dançar e continuou seus estudos na Escola de Dança Maria Olenewa e no Centro de Movimento Debora Colker com bolsa integral. Aos 17 anos, juntou-se ao Grupo Corpo como estagiária. Em 2007, ela ganhou uma bolsa de estudos para o Dance Theatre of Harlem School e, em 2008, no Dance Theatre of Harlem's Dancing Through Barries Ensemble. Atualmente ela é embaixadora cultural para os Estados Unidos ao dar workshops na Jamaica, em Honduras e em Israel. Participou do BrazilFoundation Gala, em 2014, no Lincoln Center, e foi destaque no filme Maré, Nossa História de Amor (Brasil). Recentemente, marcou presença na mídia nas revistas Vogue e Glamour, no Brasil, e tornou-se Embaixadora Global da Activia. Veja mais aqui.

A OBRA DE FARADAY
Nada é maravilhoso demais para ser verdade, se for consistente com as leis da natureza.
A obra do filósofo, físico e químico inglês Michael Faraday (1791-1867) aqui.


sábado, outubro 22, 2016

DARIO FO, SADE, JASPERS, HILTON JAPIASSU, JOÃO DO RIO, SCHLOCHAUER, BRÁULIO TAVARES, ANTHEA ROCKER, GHADA AMER, CZERNY, DIOGO DE MACEDO, HERBERT MATTER, JAZZ & CIA


INEDITORIAL: ESPERA (Imagem: Waiting on the platform, by Anthea Rocker) - A vida levando, sombria esperança. Os dias tato tontos servindo estranheza. A utopia de ser existente. O fácil vazio que só arrefece em praça tolhida, e ser condução: esperando Pinheiros no Largo da Paz. Eu não sei agonia se espero amanhã. O fato existe em não ser amanhã. Sem tempo presente, imediato, um átimo sensível de não se expressar. Eu não sei ironia se já anoitece. Se bem que meu peito nem amanhecia. A pedra está por todos os lugares. E a solidão de um banco de praça é fruto do ermo em sensação e reveste meu corpo em chuva fininha que aglutina e já é temporal, sequer o ônibus Pinheiros, sequer, apontou no Eldorado. Minha praça vazia, meu coração. Todos os outros pegaram seu rumo e esqueceram a poeira no cansaço marcado. Já não posso molhar meu corpo na chuva, nele só cabe o mormaço da vida, esperando Pinheiros no Largo da Paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. (In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.). Vamos agora aprumar a conversa nas novidades: na edição de hoje destaque para a condição humana de Karl Jaspers, o pensamento epistemológico de Hilton Japiassu, a literatura de João do Rio, os contos proibidos de Marquês de Sade, o teatro de Dario Fo, a música de Regina Schlochauer, a escultura de Diogo de Macedo, o Colóquio de Estudos Feminista e de Gênero, a entrevista de Bráulio Tavares, a fotografia de Herbert Matter, a pintura de Aaron Czerny, Anthea Rocker & Ghada Amer, a dança do Jazz & Cia Grupo de Dança, o Dicionário Tataritaritatá & a croniqueta O que sou de praça na graça que é dela. Para ver mais clique aqui.

Veja mais sobre:
Da História do Brasil pro Fecapema, William Shakespeare, Timotthy Leary, Franz Liszt, Leconte de Lisle, Nelson Pereira dos Santos, Leila Diniz, Robert Capa, Vincent Stiepevich, Coronelismo e cangaço aqui.

E mais:
A música de Dhara – Maria Alzira Barros aqui.
Sobre o Suicídio, Padre Bidião, A primavera de Ginsberg & muito mais aqui.
A educação no pensamento Marxista aqui.
As trelas do Doro: olha a cheufra! Aqui.
Fecamepa: quando embola bosta, o empenado não tem como ter jeito!!!! Aqui.

DESTAQUE: A CONDIÇÃO HUMANA
Imagem: Perception and the human condition, art by Aaron Czerny.
-nos da nossa situação humana. Estamos sempre em determinadas situações. Estas modificam-se, surgem novas oportunidades; se as desperdiçarmos, não tornam a oferecer-se. Por mim, posso agir para alterar a situação. Há, porém, situações que se mantêm essencialmente idênticas, mesmo quando a sua aparência momentânea se modifica e se oculta a sua força avassaladora: tenho de morrer, tenho de sofrer, tenho de lutar, estou sujeito ao acaso e incorro inelutavelmente em culpa. A estas situações fundamentais da nossa existência damos o nome de «situações-limite». Quer isto dizer que são situações que não podemos transpor nem alterar. A tomada de consciência destas situações-limite é, após o espanto e a dúvida, a origem mais profunda da filosofia. Na existência comum esquivamo-nos a elas muitas vezes, fechando os olhos e vivendo como se não existissem. Esquecemos que temos de morrer, esquecemos a nossa culpabilidade e a nossa sujeição ao acaso. Defrontamo-nos, assim, apenas com situações concretas, que resolvemos em nosso benefício e às quais reagimos por planos e atos instigados pelos interesses da nossa existência no mundo. Às situações-limite, porém, a nossa reação é diferente: ou as ignoramos ou, se realmente as apreendemos, desesperamos e readquirimo-nos a nós próprios por uma metamorfose da nossa consciência do ser. [...] O Homem apodera-se da natureza para se assegurar do seu serviço; a natureza deverá ser domesticada pelo conhecimento e pela técnica. Todavia, o próprio domínio da natureza é aleatório. Constantemente ameaçado, por vezes malogra-se totalmente. [...] Contudo, na insegurança geral do mundo, serve-nos de indicação, impede a completa satisfação mundana, aponta-nos algo diferente. As situações-limite – morte, acaso, culpa e insegurança – mostram o fracasso. [...] Por outras palavras: o Homem busca a redenção. A redenção é-lhe oferecida pelas grandes religiões universais. O seu sinal é uma garantia objetiva da verdade e realidade da redenção. Seguir esta via conduz ao ato da conversão do indivíduo. Isto não pode a filosofia oferecer-lhe. Todavia, o filosofar é um triunfo sobre o mundo, o análogo da redenção.
Trecho extraído da obra Iniciação filosófica (Guimarães, 1960), do filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883-1969). Veja mais aqui.

O QUE SOU DE PRAÇA NA GRAÇA QUE É DELA – O que resta de mim é sempre muito pouco. Sou sempre grato, mesmo assim. Posso ter rastejado terrenos estéreis, me espremido por corredores e fatalidades, ou desesperado nos cantos escuros das ruas, vez em quando. Do pouco que tive, sempre valeu muito mais que tudo que perdi, quedei ou me flagelei. Esse pouco, apesar de tudo, é sempre muito e demais: apaga todos os naufrágios, sara cicatrizes, amaina as dores. Sempre remedia todas as minhas enfermidades das luas desfeitas e águas estagnadas. Sempre revigora meus momentos depressivos de catarses e estertores. Sempre ilumina a minha escuridão no breu de tudo. Ah, é a maior graça quando Freyaravi surge do nada para fazer meu coração festa de domingo, aos pulos e risos escancarados. Meu coração torna-se praça pro seu desfile sensual e ela a brincar comigo de todo tipo de faz de conta, até ser-me real, carne viva, transformando-se na mãe dos deuses egípcios: ela Neith para que toda graça possa plenamente me contemplar entre fogos de artifícios e celebrações estelares. É ela Tehenut nua com todos os festejos do ano e todas as comemorações da vida. É dela que tudo em mim se refaz, desde as memoráveis lembranças da infância, ao mínimo triz do que possa ser felicidade imensa no mais infinito dos prazeres. Por isso do que sou é dela, nada mais, sou praça em festa na graça do universo que é todo só dela. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo os álbuns (vols. 1 e 2) Um Cravo Bem Variado (The Well Varied Harpsichord, 1996) da pianista, professora e cravista Regina Schlochauer.

PENSAMENTO DO DIA - [...] Cada um de nós pode se tornar um pensador, alguém que se baseia na lógica da argumentação e da refutação, jamais confundindo as coisas da lógica com a lógica das coisas, e dizer “Não” a tudo o que degrada o homem. [...] Porque toda sociedade que nega a importância fundamental da racionalidade crítica para resolver seus problemas está mais facilmente exposta a ser vítima de tiranos e charlatães. [...]. Trechos recolhidos da obra A crise das ciências humanas (Cortez, 2011), do epistemólogo e professor doutor em Filosofia pela Université des Sciences Sociales de Grenoble (França) e pós-doutorado pela Universitsé des Sciences Humaines de Strasbourg (França), Hilton Japiassu

Imagens: a arte da pintora e artista contemporânea egípcia Ghada Amer.

MEMÓRIAS DE UM RATO DE HOTEL - [...] Não sei dizer. Posso afirmar que uma vontade superior me impelia como em estado de hipnose. É um outro ser que toma conta de mim. [...] Não sei. ia começar a minha epopéia. Tomei um carro de cocheira, enveredei por um alfaiate de primeira ordem e entrei na grande vida. [...] Estas memórias são uma confissão e não um romance. [...] Que diferença entre um grande artista, um grande político e um grande gatuno? Mas, no ponto de vista da finura para a realização de uma obra precisa, nenhuma. [...]. Trechos extraídos do texto O representativo do roubo inteligente (A Notícia, 1911), do contista, cronista e romancista João do Rio (Paulo Barreto, 1882-1921), no romance Memórias de um rato de hotel, a vida do Dr. Antônio contada por ele mesmo (Dantes, 2000), contando as memórias de um criminoso real que no momento encerrava sua vida de crimes preso na Casa de Detenção, uma máscara que o autor utilizou para cronicizar sobre o submundo do Rio de Janeiro e carnavalizar a sociedade.

 Imagens: a arte do escultor, museólogo e escritor português Diogo de Macedo.

A MANIPULAÇÃO DA CRISE PARA A ARTE - Há uns anos atrás, o poder, no máximo da sua intolerância, escorraçou os artistas dos seus países. Hoje em dia, os atores e as companhias sofrem com a dificuldade de encontrar espaços, teatros e público; tudo por conta da crise. Os governantes já não se preocupam em controlar quem os cita com ironia e sarcasmo, uma vez que os atores não têm espaços nem publico que os veja. Contrariamente ao que acontece hoje, no período da Renascença em Itália, os governantes tiveram enormes dificuldades em controlar os atores e comediantes que conseguiam mobilizar a sociedade para assistirem aos seus espetáculos. [...] Logo, a única solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas que estão contra nós, e sobretudo contra os jovens que querem aprender a arte do Teatro: só assim nascerá uma nova geração de comediantes que aproveitará desta nossa experiência e dela tirará benefícios inimagináveis na procura de novas formas de representação. Trechos extraídos das palavras do escritor, dramaturgo, comediante italiano e Nobel de Literatura de 1997, Dario Fo (1926-2016). Veja mais aqui e aqui.


OS CONTOS PROIBIDOS DE MARQUÊS DE SADE – O drama Quills (Contos proibidos de Marquês de Sade, 2000), dirigido por Philip Kaufman, conta a história do escritor Marquês de Sade que vive em um asilo por loucura ao término de sua vida, chegando ao ponto de ser proibido de escrever, o que o leva a utilizar o próprio sangue e excrementos para deixar seus manuscritos nas roupas e paredes. O destaque fica por conta da belíssima atriz inglesa Kate Winslet. Veja mais aqui.


Imagem: pôster do espetáculo C'Est La Vie – a constante busca pela realizaçãodos sonhos -, do Jazz & Cia Grupo de Dança, com direção artística e coreografias do bailarino Robert Vaúna, participação do coreógrafo Túlio Sanches e figurino de Isabel Campos.

AGENDA: COLÓQUIO DE ESTUDOS FEMINISTA E DE GÊNERO – Acontecerá no dia 8 de novembro, a partir das 8hs, no campus universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília, o III Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero - Mulheres e Violências: Interseccionalidade, promovido pelo Fórum Notificação dos Casos de Violência contra a Mulher, como parte do projeto Notique. Informações: saudementalegenero@gmail.com Sítio: https://saudementalegenero.wordpress.com/eventos-2/ Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - DF, 70910-900- FINATEC. Veja mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: BRAULIO TAVARES – Entrevista realizada por ocasião do lançamento do livro Os martelos de Trupizupe, do escritor, poeta, compositor, teatrólogo, roteirista, estudioso da cultura popular, o paraibano radicado no Rio de Janeiro desde 1982, Bráulio Tavares. Confira a entrevista aqui e aqui.

REGISTRO: DICIONÁRIO TATARITARITATÁ - O PAI DOS FABOS BURROS
Gentamiga, como a moçada simpática que prestigia minhas páginas tem perguntado em que raio de país ou planeta eu estou, respondo: vivo no Brasil desde que nasci. Todavia, parece que a turma pensa que eu falo uma droga de grego qualquer ou esperanto, volapuque, interlíngua ou que desgraça de traste de fala é essa que eles não sacam patavina. Bem, explico: é um pernambuquês condimentado com nordestês, brasileirês e outros processos semânticos e linguísticos da boba da peste do regionalismo heterodoxo nacional, mais juridiquês, analfabetês com acréscimos doutras expressões apropriadas de tantas outras línguas! Tradução: ininteligível mesmo, só para iniciados safados da mesma laia. Por isso, pra ficar por dentro da lorota toda confira o dicionário aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte do fotógrafo e designer gráfico suíço Herbert Matter (1907-1984).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


sexta-feira, julho 17, 2015

LÉVINAS, CRAIG, BRÁULIO TAVARES, WOJCIECH, DELAROCHE, BÉCAT, FERNANDA GUIMARÃES, MEIMEI CORRÊA & O CULTO DA ROSA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O CULTO DA ROSA (canção à flor, mulher amada) – Era uma vez e o tempo presente nos prazeres tardios, ah minha alma da vida inventando horizontes, rainha das flores de Safo se desmanchando em doçura nua com seu buquê de açucena na pele quente que semeia a beleza e acode a minha alegria. Era uma vez, duas vezes com todo encantamento da sua nudez que enche a maré de suspiros apertados e eu sentinela viro o inseto que leva o grão de pólen como o pombo com as águas de céu e inferno para ser o adepto mais fiel do seu coração beija-flor. Era uma vez, duas, três vezes e ela nua bole e eu mexo o flagrante anímico de Deus, tiro o doce e deixo o leite na herbácea perene, deusa dos meus sonhos, perfume mais fino que possa existir no teor mais metafísico dessa imanência. Ah e dela sinto o mais leve olor ao alcançar o gineceu de beleza incomparável, de variedade trepadora na instalação do etéreo emanar na manhã e divina de jardim perfumado de desejo. É ela que me leva pelo aroma da de Sharom, a santificada por Salomão no Cântico dos Cânticos. É ela que possui a realeza da de Hélios e a das sessenta pétalas dos jardins de Midas que figuraram nas armas dos heróis da guerra de Tróia. É ela que vem de sobra e fartura no meu verso aprumado com as que desapareceram dos jardins suspensos da Babilônia, como a das águas que Vênus embalsamou o corpo de Aquiles, como a que coroou o soldado romano depois da queda de Cartago. É ela nua que vaza e faz paga como quem deve com toda a essência da que é Príncipe Negro, o negro que é vermelho bem escuro. É ela destinatária de tudo que vem se aninhar em mim com o cheiro da santa de Viterbo, como a que fora proibida pelo pai de dar esmolas aos pobres. É ela nua radiante que me retém com o incenso da Chá, Sinensis, a mais antiga oriunda da China, como a Azimutal Sideral que auxiliou a navegar o Índico sob as estrelas de distâncias polares no rumo do horizonte. É ela que me detém com jeito atrevida e nua como a seiva da dos gregos, nos rumos da Torre dos Ventos, chamada Rhodon, ou como a Rústica de Giulio Cesare Cortese; ou como a que o lapidário inspirado homenageia a Holanda ou Antuérpia pra encher os olhos do polidor de diamantes. Ela que vem nua e linda como a Mística, como a santificada de Isabel, como a Santa-Maria, como a da chuva do Vaticano, como a das meninas recém-nascidas. Ela que vem nua e linda com todas as honras de rainha para que eu, Tagore inflamado, saiba: "passando de folhas para flores porque começaram a amar..." É ela nua e linda que vem se aninhar em mim com o orvalho da do Ouro do Papa Gregório II; como a da Rainha Josefina, como a das pedras no quintal, como a que o rodólogo, exímio amante, multiplica com sua dedicação. É ela que nua e linda vara as noites no nosso proscênio de gestos fartos, com toda a sedução da Azul utópica, como a de Hildesheim, de mil anos, como a da guerra de York e Lancaster, como de Joaquim Fontes que está comigo. É ela que vem no olho do furacão acontecendo nos meus dias como a Gallica, de propriedades medicinais; como a de Malherbe, como a dos tesouros da moura encantada que não desmente o que promete nem retoma o que dá. É ela que me oferece toda safra de algodão dos seus mimos com a graciosidade da Malvácea Aurora em sua metamorfose durante todo o dia até sabê-la Amor-de-Homem. É ela inquieta e nua que não cessa nem sacia a enchente do meu gozo com toda a maravilha da Brinco-de-Rainha, como a Malva, como a Super-Star, como a do monte dos Alpes, como a Altéia que me cura com seu amor e ainda me farta a fome, a Geléia Rosela, a Caruru Azedo. É ela que acontece na peleja e me detém no truque de toda formosura da de Lima, a primeira santa nativa do continente americano, simples deidade peruana. É ela com toda teimosia de carnaval na manhã clara que me enfeitiça como a de Bokor e a jovem princesa apaixonada pelo oficial japonês no extinto cinema cambojano. É ela que me embriaga como a da cachaça com erva doce, canela em pau, cravo e calda grossa de açúcar: a do Sol. É ela que me seduz como a dos ventos do lirismo erótico da poetisa uruguaia Juana Hernandez de Ibarbourou, a Juana de América. É ela que me deixa ao deus-dará como a de Yeats, o homem que sonhava com o país das fadas e escrevia versos para quando ficar velho. É ela que se enrosca roçando a minha pele como a acetinada de Engandi, nos versos que viraram estudo psicozoológicos do guatemalteco Arévalo Martinez. É ela a de Cem Folhas do poeta galego Ramon Cabanillas, a da Cruz do poeta russo Blok, a de Luxemburg com o sonho abatido à bala. É ela a do Povo de Drummond, a de Raoom, a rosa rosa, todas numa só que é uma só: a rosa é ela. (O Trâmite da Solidão – Nascente, 1993). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem: Jeune fille dans une vasque, do pintor francês Paul Delaroche (1797-1856)

Curtindo September Symphony / Lament for choir a cappella (2003), do compositor polonês Wojciech Kilar (1932-2013), com a Warsaw Philharmonic Choir/Henryk Wojnarowski & Warsaw Philharmonic Symphony Orchestra/Antoni Wit.

TOTALIDADE E INFINITO – A obra Totalidade e infinito (Edições 70, 2008), do filósofo francês Emmanuel Lévinas (1906-1995), apresenta a sua tese de crítica do Mesmo e valorização da alteridade como formadora do sujeito e fundamentadora da ética, na condução de um novo humanismo a partir da noção de rosto numa alteridade absoluta – o Humanismo do Outro Homem, com a proposta de que a ética é a condução primeira e a dimensão fundadora do humano sob a perspectiva do método fenomenológico, bem como a responsabilidade como o grande vestígio do humano no mundo e a estética da proximidade-vulnerabilidade enquanto sensibilidade na sustentação e no despertar da espiritualidade. Ao valorizar a ética e a dimensão do outro como pressupostos básicos da filosofia, denuncia o autor a incapacidade da racionalidade além do egoísmo e do interesse de preservação de si no vício da mesmidade. Ele discute a questão de que o infinito se opondo à totalidade, negando a síntese da consciência universal e propondo o entendimento pela individualização humana a partir da ética, como sendo a filosofia primeira, na relação entre o homem e outro, o rosto ético. Veja mais aqui e aqui.

MUNDO FANTASMO – O Mundo fantasmo primeiramente surgiu em livro publicado em Portugal, em 1994, pela Editorial Caminho, sendo, depois, publicado com o título Mundo fantasmo: a espinha dorsal da memória, em 1996, pela Editora Rocco, e, por fim, transformado em blog que reúne artigos publicados diariamente no Jornal da Paraíba, de Campina Grande – PB, pelo escritor, compositor e pesquisador paraibano Bráulio Tavares. Além de ter o privilégio de acompanhar suas publicações no blog em referência (e que recomendo o acesso bastando clicar aqui), dele tive a oportunidade ler, entre outros livros, Os martelos de Trupizupe (Engenho e Arte, 2004), ocasião em que fui agraciado pela generosidade de sua irmã Clotildes Tavares, com a oportunidade de entrevista-lo para o meu Guia de Poesia. Para conferir sobre a entrevista, o livro e tudo o mais clique aqui, aqui, aqui, aqui e veja mais aqui.

CHAMAM-ME MULHER NO MOMENTO ÍNTIMO - O destaque poético de hoje é da poetamiga cearense Fernanda Guimarães que é graduada em Serviço Social e atua na área de Turismo, e que há anos acompanho na rede suas publicações nas mais diversas antologias, portais, revistas e sites da internet, inclusive reunindo seu trabalho literário no Recanto das Letras. Dela destaco primeiramente o seu poema Chamam-me mulher: Chamam-me mulher! Essa que atrevida, pluraliza-me, / Quando me penso solidão. Essa que me acolhe e instiga, / Saltando dos abismos e espelhos / Declarando-me aos meus silêncios. / Chamam-me mulher! Essa que tantas almas tem, / Mas que incontida pelo sentir / Revira-me e sabe-me em afetos. Essa que é dona de mim / Sem certidões ou posses. / Chamam-me mulher! Essa que impulsiva me seduz / Com os sons femininos da poesia / E acesa, oferece-me ao verso. Essa que atravessa desertos / E faz-se oásis para o universo. / Chamam-me mulher! Essa que chega antes do tempo, / Remexendo o relógio dos conceitos. / Essa que deixa dores ao vento / E seca lágrimas no colo do sol / Ofertando-me as mãos do recomeçar. / Chamam-me mulher / Essa que permite o mundo / Em seus braços repousar / E em cada sussurro do alvorecer / Fecunda-se sempre de vida / No útero do amor eterno. Também meritório de destaque o seu Momento íntimo: Não me peças a palavra exata / Vivo para além de todas as letras / Pudesses adivinhar os gestos / Quando entre um verso e outro / Suspira o olhar em eterna busca / Não me falarias em certezas / Perscruta-me sempre o indizível / Precipício sorrateiro e invisível / Onde as mãos lançam-se vazias / Ávidas por mim mesma / Mãos alheias, vezes suaves / Estendidas a recolher / As preces que eu não disse / Mãos que me aprisionam / Em muros farpados / Arranhando-me a pele dos sentidos / Mãos que me afagam / E acolhem sem perguntas / Os lamentos que não senti / É apenas meu este silêncio / Esse confessar íntimo de palavras / Quando desgarradas de mim / As mãos sussurram meus gritos inaudíveis / E entrelaçam meus dedos e voz / Conjugando os meus sons / Ecos desafinados do meu desconhecer / Esses que como cordas tensas / Perambulam notas graves / Buscando o tom que mais revele / Esta dissonante incompreensão / Impalpabilidade de mim por mim mesma / Neste momento em que sou apenas só / E minhas mãos são pedras / Da minha própria vidraça / Estilhaçando as lágrimas / Que meus olhos não puderam chorar. Veja mais aqui.

A ARTE DO TEATRO – O livro A arte do teatro (1905 - Estética Teatral, 1980), do ator, encenador, cenógrafo e um dos pilares do Simbolismo Teatral, Edward Gordon Craig (1872-1966), expressa a ideia de que “A arte é a antítese do caos, que não passa de uma avalanche de acidentes”. Na obra destaco os trechos de O ator e a surmarionnette: [...] O diretor de teatro moderno procura uma suntuosa encenação. Não recua perante qualquer esforço para dar ao publico a impressão da realidade transportada para a cena. Não para de nos repetir que os cenários e a encenação são de uma importância capital. E isso por várias razões, entre as quais a principal é que pressente um grave perigo na interpretação harmoniosa e bela; vê formar-se um grupo de pessoas que não é partidário dessas faustosas encenações; não ignora que na Europa se esboçou um movimento neste sentido; que se pretende que as peças clássicas podiam ser representadas diante de um simples telão de fundo. Movimento importante que se estende de Cracóvia a Moscou, de Paris a Roma, de Londres a Berlim e a Viena. Os diretores de teatro veem chegar esse perigo; dizem a si próprios que no dia em que o publico se aperceber, no dia em que os espectadores tiverem experimentado o prazer de uma peça sem cenários irão mais longe e reclamarão uma peça sem atores; e, finalmente, irão tão longe, que serão eles, espectadores, e não os diretores os reformadores da Arte do Teatro. [...] Com esse objetivo, é necessário aplicarmo-nos a reconstruir essas imagens, e não contentes com um boneco, precisamos de criar uma Surmarionnette. Esta não rivalizará com a vida, mas irá além dela; não figurará o corpo de carne e osso, mas o corpo em estado de êxtase, e enquanto emanar dela um espírito vivo, revestir-se-á de uma beleza de morte. Essa palavra morte vem naturalmente ao bico de pena por aproximação com a palavra vida que os realistas reclamam constantemente. Alguns verão nisso uma afetação da minha parte, aquelas sobretudo que não sentem o poder e a alegria misteriosa das obras de arte serenas. Se um Rubens, um Rafael nada deixaram senão de apaixonado e ardente, muitos outros artistas, pelo contrário, vindo antes ou depois deles, tiveram por ideal a medida e, apesar disso, mais do que todos os outros, estes artistas testemunharam um vigor viril na sua arte. Veja mais aqui.

EROTIC SYMPHONY – O drama romanesco Erotic Symphony (Sinfonia Erótica, 1979), do cineasta, roteirista e produtor de cinema espanhol Jess Franco (Jesús Franco Manera, 1930-2013), reconhecido iconoclasta dos filmes horróticos e cultuado como cineasta do trash e do underground, produziu mais de duzentos filmes, entre os quais, esta sinfonia erótica baseada na obra de Marquês de Sade e que situações inusitadas transcorrem numa suntuosa residência em clima de sonho entre uma esposa rica, seu marido, o empregado e uma freira – Armand, Martine, Norma e Fiore – que se veem envolvidos num clima de erotismo, suspense e conspiração, tudo girando na ambição do marido para se apropriar da riqueza da esposa. O destaque da película - na verdade, o que mais me chamou atenção no filme foi conhecer a ousadia do diretor, o clima dado ao que li de Marquês de Sade e a atriz -, a atriz alemã nascida portuguesa Susan Hemingway (registrada como Maria Rosália Coutinho). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Gravuras do pintor, gravador e ilustrador francês Paul-Émile Bécat (1885-1960),

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Ísis Nefelibata - arte de Meimei Corrêa
Aprume aqui, aquiaqui.


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A esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos, Admirável mundo novo de Aldous Huxley, Os saberes da educação de Edgar Morin, a música de Vivaldi & Michala Petri, a fotografia de Andreas Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave Stevens aqui.

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Ah, se em todo lugar houvesse amor, Indivíduo reprimido de Herbert Marcuse, Ordem ao exército da arte de Vladimir Maiakovski, Testamento do teatro de Jerzy Grotowski, o cinema de Ken Loach & Eva Birthistle, Os saltimbancos de Chico Buarque, a pintura de Edgar Degas, O lobisomem Zonzo & Brincarte do Nitolino aqui.
A nuvem de calças de Maiakovski aqui.
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A liberdade de expressão, A natureza de Parmênides de Eléia, A filha de Agamenon de Ismail Kadaré, O poema sujo de Ferreira Gullar, O teatro essencial de Denise Stoklos, o cinema de o Ingmar Bergman & Liv Ullmann, a música de Badi Assad, a escultura de Emilio Fiaschi, a pintura de Gustav Klint & Vera Donskaya-Khilko, o Programa Tataritaritatá & muito mais aqui.
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Maria Esperantina, orgasmo de uma noite & nunca mais, O sexo na história de Reay Tannahill, a poesia de Ascenso Ferreira, a literatura engajada de Ulrike Marie Meinhof, a música de Alceu Valença, a pintura de Xenia Hausner & a arte de Guazzelli aqui.
À procura da paternidade, Lenda, Mito & Magia, A trombeta do anjo vingador de Dalton Trevisan, Vivendo com as estrelas de Duília de Mello, a música de Cristina Braga & a pintura de Ernest Descals aqui.
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