sábado, março 05, 2022

SILVIA FEDERICI, ERNST FISCHER, VINCENZO CONSOLO, VICTOR SOSA & MARSHA P. JOHNSON

 

 

TRÍPTICO DQP – No reino da caquistocracia... – Imagem: xilogravuras e isogravuras do artista Fábio Xavier. Ao som do álbum Ar puro (2008), do gaitista Jefferson Gonçalves. - O Fecamepa no reino da caquistocracia: sou e somos todos na lata de lixo com o descartável e a obsolescência, desparafusados sem arruelas, porcas ou roscas. Nada mais. Enquanto Zé Nada – quase mas nem tanto tal aquele John das cenas do They Live (1988), do John Carpenter, feito da história do Eight O'Clock in the Morning (1963), do escritor estadunidense Ray Nelson, do qual recolhi uma frase: Something unusual happened. Como? Ah, sim, algo incomum aconteceu mesmo: encontrei uma luneta tipo óculos exótico para enxergar a face verdadeira dos seres e coisas. Ah, como vi. E ouvi na lata Vincenzo Consolo: Há países onde o progresso só mudou o consumo, não a mentalidade. Ah, sim, falava do meu entre quantos rastejantes e servis, de quase sequer saber de Edgar Morin: Homo sapiens é demens. Vivemos entre duas polaridades que não tem fronteiras nítidas: o delírio, a razão... E vivo no meio duma troça bacamarteira surgida da pesquisa de Sebastião Vila Nova, que trata da própria alma noturna do povo nordestino, com o vozeirão do Francisco das Chagas Batista no sopapo: No bacamarte eu achei /leis que decidem questão / que fazem melhor processo / do que qualquer escrivão. Tudo foi tomado e o que resta é só o meu sangue envenenado de prostituto que se vendeu desde que começou a trabalhar para ter o ganha-pão. Se não valho nada não há outro não, digo sempre sim para a vida. E só.

 


Vivo, só sobrevivo... - Imagem: arte do ativista e artista estadunidense Shepard Fairey. – Aos baques na ventania de tormenta, cabeça fora d’água no meio dia, pegando fôlego no que der e com a sede no fundo do pote vazio, qualquer tábua de salvação na queda livre. Nenhum sinal de terra firme no meio do escorregadio das pedrarias movediças. O alerta me foi dado muito antes pela Silvia Federici: Todo significado é necessariamente de caráter teleológico e historicamente enraizado nas operações concretas dos sujeitos humanos. Só que eu não sabia ou passei batido e foi preciso Victor Sosa me contar: Viu-o depois do canto. Peito-vermelho. Em justa proporção do ar ao fogo. Em invisível ninho viu ao pássaro depois do eco en-canto. Quis tocar, não pôde. Quis polir gorjeio, mas não pôde. Quieto em sua justa proporção de homem, em pulsar de carótida, não pôde. Então mentiu um mito. De ar, de fogo, sem zorzal, um pássaro. Um rouxinol de fé: virtuosa ave em abolido ninho, em proporcional eco de canto, em gorjeio de homem que quis, mas mentiu um não pode pássaro. Agora é tarde. Já me disseram das nuvens devorando outros tantos pombos intrometidos, das sombras demolindo esperanças inermes, do que jamais teria sido se jamais fosse, melhor fechar janelas e persianas, eu não, sou escancaro olhos presos em nada.

 


Outras néstogas... Imagem: arte do cineasta, arquiteto e artista visual chileno Alfredo Jaar. – Aonde cheguei nada adiantou: a cilada de nenhum som, nenhuma cor, nem luz! Antes ouvisse a ativista Marsha P. Johnson (1945-1992): A história não é algo que você olha para trás e diz que era inevitável, acontece porque as pessoas tomam decisões que às vezes são muito impulsivas e momentâneas, mas esses momentos são realidades cumulativas. Errei demais e o que poderia ser feito se Ernst Fischer não fosse tão ignorado: Eu não quero que a vida imite a arte. Eu quero que a vida seja arte. Em uma sociedade decadente, a arte, se for verdadeira, deve também refletir decadência. E a menos que queira quebrar a fé com sua função social, a arte deve mostrar o mundo como mutável. E ajudar a mudá-lo. Deu no que deu: o que subiu desmoronou e tornou a cair e vice-versa; o que nasceu pra ser natimorto e renasceu inútil; o que não teve chegada por não haver sequer partida; o que na estaca zero não tinha mais horizonte; o que não é, nem foi, muito menos será: roubaram todos os sonhos. Tomaram na marra, duros golpes. O que resta de manhãs obtusas, tardes suspensas, noites insones de candeeiro e o pavio seco, enquanto o suor desliza abrigo para insetos aniquiladores da razão. Só o que há: néstogas, via invisível do parágrafo corrido e eu voo. Até mais ver.

 


Ler é atualizar o que foi escrito, mas não todo o conteúdo; quando lemos, nos apropriamos apenas de uma parte do texto; ao conteúdo apreendido, juntamos outros que vagam nos desertos da memória, interpretamos e reinterpretamos o material apreendido e, ao final deste movimento...

Pensamento do professor, editor e doutor em Comunicação Social, José de Mello Júnior. Veja mais Educação aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 



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