TATARITARITATÁ: VAMOS APRUMAR A CONVERSA - Literatura, Teatro, Música & Pesquisas de Luiz Alberto Machado (LAM). Show, cantarau, recital, palestras, oficinas, dicas & informações. Doações Chave Pix: luizalbertomachado@gmail.com
quarta-feira, fevereiro 25, 2015
LYOTARD, RIKU ONDA, SARAH HALE & O AMOR
Quem ama
persegue o alcandor
E segue adiante
o alvo da paixão
Vai mais
distante seja pra onde a flor
Desabrocha o
amor no seu coração
Mantem a luta
do que alcançou
A desfrutar
para sempre o seu quinhão
Maior a dívida
do seu penhor
Porque o amor
É mútua
condecoração
É o amor
Quem manda
agora
Todo carisma
Como num prisma
Rolasse a hora
Do amor
O AMOR - Os olhos dela nos meus: uma fisgada de pegar na
beca – preste atenção! -, desarrumando vinco, colarinhos, certezas, tudo em
desalinho, a captura do amor na hora certa. E um beijo seu, primário do nada,
profundo de todo, insensato de loucura prévia, me invade a remover todos os
meus muros e minhas mortes, assaltando as quatro paredes da minha solidão, a me
devolver a vida no que me resta de ser. E me envolve e afeta meu coração a
bater descontrolado por saber da soberania do seu reinado que me toma o céu
para reinar com seu reluzente jeito, descartando lembranças e sarando meus
ferimentos para remissão de todas as perdas. E colhe com carinho as flores
murchas dos meus jardins tristonhos para a semeadura da sua magnifica presença
a me salvar dos perigos com a manhã luminosa do seu beijar que não contém seus
ímpetos e nem perdeu a ocasião de me fazer feliz. E me ronda e espreita para
dar-me a paz com o afago da sua amanhecida carícia e a me enfeitiçar nas horas
dos meus sonhos com o deslumbrante emanar do hálito morno do seu sopro vivente.
E me abraça para me defender do perecível e me socorrer da vida miserável do
meu isolamento, e me encoraja para que eu não fraqueje na ruína da memória a
permitir que floresça em mim um ânimo por demais afortunado. E assim eu sou em
suas mãos ternas já entardecidas nas minhas. E ela as mantém entrelaçadas em
sua alma aconchegante para que eu não seja errante na brisa leve que vem do
leste do seu afago. E me traz a fragrância do seu perfume na dança dos meus
desejos que germinam ao toque de carícia dos seus dedos por minhas faces
perdidas. E sinto o seu sorriso amoroso com meus beijos e escuto o suspiro dos
seus segredos mais escondidos e acendo em sua boca ardente os sussurros do seu
coração. E toda a sua majestade se manifesta para me contemplar a alma com as
riquezas de sua entrega. E posso escolher entre as suas faces para proclamá-la
deusa minha com seu manto transparente de visível beleza estival no triunfo da
formosura, e eu com vivas a me embebedar com o místico aroma do incensório que
emana de seu ser. Tomo-a em meus braços e sinto em meu peito o pulsar do prazer
de seu corpo trêmulo para o meu extravio no seu rosado entardecer e ela inteira
amadurece nas minhas mãos para que eu recolha a colheita de seus prados
enquanto sacode o quadril na travessura dos seus lábios que juram safras
exitosas. E escuta meu coração atenta e envolta ao meu pescoço a se descobrir
presa fácil na troca do meu coração com o seu, se derramando impaciente a
sacudir a cabeça para se erguer altiva e idolatrada nas minhas libações
profundas do meu arado em suas plantações. E se precipita celebrada como quem
cumpre a quem merece com empenho e devoção, como quem esculpe uma obra de arte
no meu corpo e me ensina a voar sobre as águas enquanto passeia o seu
deslumbrante emanar no meu riso. Eu voo e na sua viagem sem pressa lugar algum
será longe no seio de suas numerosas noites, como nenhum prazer jamais será
fugaz no esplendor de sua gloria. Ela ascende máxima e exalta com seus
preciosos aromas deleitosos e completamente destemida na paixão, faz-se roçar
com seu ímpeto lascivo o meu corpo de eleito da sua beleza revelada e a me
ofertar o reservado quinhão que me cabe de sua magnífica presença no centro da
sua noite iluminada. E adivinha com o véu das nuvens de seu abraço a
transbordar apressada com a urgência dos meus mais exaltados sentimentos,
quando o eco dos seus desejos perpassa minha carne no voo dos seus penhascos e
se me revelam o ancoradouro no qual meu nome e o seu está inscrito e apenas o
querer nos separa de tudo que nos falta e me faz atado pelo elo da paixão
desesperada. E assim tenho o prêmio do ardor de todo o seu prazer vivo nas suas
luzes extremadas que me dão a perícia suprema de que seus passos farão as
trilhas do meu caminho lado a lado até enlanguescer na caminhada para repousar
o meu prazer na sua fonte profusa que jorrar o nosso prazer. Veja mais aqui,
aqui & aqui.
DITOS &
DESDITOS - Mesmo que uma pessoa experimente picos invejáveis de felicidade,
uma vida plena, toda felicidade ainda carrega consigo a solidão inerente ao
ser humano... Pensamento da escritora japonesa Riku Onda,
que no seu livro The Aosawa Murders (Bitter Lemon Press, 2005), ela
expressou: [...] Se minha vida fosse um livro, a parte mais grossa, a que tem mais
páginas com orelhas de cachorro, seria a que fala daquele caso. A lombada
estaria torta de tanto ser aberta naquelas páginas. E o livro sempre cairia
aberto naquele lugar. É assim que eu vejo. [...] Foi assim que escolhi
lidar com isso. Senti que não tinha outra escolha. [...]. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: As
democracias foram, e os governos são chamados, livres; mas o espírito de
independência e a consciência de direitos inalienáveis nunca foram
antes transfundidos nas mentes de um povo inteiro... O sentimento de igualdade
que eles orgulhosamente acalentam não procede da ignorância de sua
posição, mas do conhecimento de seus direitos; e é esse
conhecimento que tornará tão extremamente difícil para
qualquer tirano triunfar sobre as liberdades de nosso país... São
necessários apenas alguns fios de esperança para que o coração hábil no segredo
teça uma teia de felicidade... Nesta era de inovação, talvez nenhum experimento
tenha uma influência mais importante no caráter e na felicidade da nossa
sociedade do que conceder às mulheres as vantagens de uma educação sistemática
e completa... Pensamento da ativista poeta estadunidense Sarah Hale
(1788-1879). Veja mais aqui e aqui.
PEREGRINAÇÕES:
LEI, FORMA & EVENTO - [...] O sentimento
sublime não é mero prazer como o gosto é – é uma mistura de prazer e dor...
Confrontada com objetos que são muito grandes de acordo com sua magnitude ou
muito violentos de acordo com seu poder, a mente experimenta suas próprias
limitações. [...]. Trecho extraído da obra Peregrinations: Law, Form, Event
(Wellek Library Lectures (Columbia University Press, 1, 1990), do filósofo
francês Jean-François Lyotard (1924-1998), que no seu livro Driftworks
(MIT Press, 1984), expressou: [...] O desejo
confunde o conhecimento e o poder. [...]. A sua
filosofia pós-moderna defende que: Simplificando ao extremo, defino pós-moderno como
incredulidade em relação às metanarrativas. O conhecimento é e será
produzido para ser vendido, é e será consumido para ser valorizado numa nova
produção: em ambos os casos, o objetivo é a troca. Nosso trabalho não é
fornecer realidade, mas inventar alusões ao concebível que não pode ser
apresentado. Os séculos XIX e XX nos deram tanto terror quanto podemos
suportar. Pagamos um preço alto o suficiente pela nostalgia do todo e do um,
pela reconciliação do conceito e do sensível, da experiência transparente e
comunicável. Sob a demanda geral por afrouxamento e apaziguamento, podemos
ouvir os murmúrios do desejo por um retorno do terror, pela realização da
fantasia para tomar a realidade. A resposta é: vamos travar uma guerra contra a
totalidade; vamos ser testemunhas do inapresentável; vamos ativar as diferenças.
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
O
MISTÉRIO DA CONSCIÊNCIA – No livro O
mistério da consciência (Companhia das Letras, 2000), do médico
neurologista e neurocientista português, António
Damásio,aborda acerca da consciência humana, apresentando a sua revolucionária
teoria do enigma da consciência, como sendo o maior desafio da filosofia e das
ciências da vida ao descrever como a consciência abriu caminho para o
surgimento de realizações humanas como a arte, a ciência, a tecnologia, a
religião, a organização social, por meio de uma pesquisa sobre o cérebro e da
complexidade de todo ser humano, sua adaptação ao ambiente, sua sobrevivência e
os conflitos consigo mesmo que se realiza com um sistema complexo que articula
imaginação, criatividade e planejamento que fazem surgir a consciência. Nessa
obra ele se expressa assim: [...] se a
criatividade for dirigida com sucesso, mesmo modestamente, permitiremos à
consciência, mais uma vez, cumprir seu papel de regulador homeostático da
existência. Conhecer contribuirá para ser. Tenho até alguma esperança de que
compreender a biologia da natureza humana contribuirá com seu quinhão nas
escolhas a serem feitas. Seja como for, melhorar as condições da existência é
precisamente a finalidade da civilização, a principal consequência da
consciência; e, por no mínimo 3 mil anos, com recompensas maiores ou menores,
melhorar é o que a civilização vem buscando. A boa notícia, portanto, é que já
começamos.Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Imagem: Nu barbotant, do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Veja mais aqui e aqui.
OuvindoGeorge Harrison Live in Japan(1992), do músico, compositor e ex-integrante dos Beatles,George Harrison(1943-2001). Veja mais aqui.
A
ESTÉTICA DA PERSONALIDADE EMPÍRICA E POÉTICA - A concepção estética do
filósofo, historiador e escritor italiano Benedetto
Croce (1866-1952), parte do exame da obra de arte como sentimento que se
reelabora na pureza da forme. Ele se baseia na necessidade de distinguir o que
chama de personalidade empírica – biografia, características pessoas do autor
-, estabelecendo a diferença entre esta e a personalidade poética. Assim como a
primeira se acha unida, integrada no corpo e na natureza, o objeto da crítica
literária seria fundamentalmente o de unificar a segunda, já que abriga a
poesia e a não-poesia, a intuição lírica e seus acessórios ideológicos,
históricos e filosóficos. Por outro lado, de acordo com sua concepção da
história, Croce considera a crítica literária como único método capaz de
destacar, na obra de arte, a expressão individual colocada acima de seu período
histórico e dos movimentos ou influencias de orientação estética e literária em
se originou. Outro elemento importante para a crítica de Croce vem a ser sua
identificação do espirito com o universo: a obra poética traz em si o universo
em totalidade, exprimindo a harmonia de seus contrastes. Veja mais aqui e aqui.
PRIMA
JULIETA – No livro A idade do serrote
(Sabiá, 1968), o poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975), encontrei o
delicioso conto Prima Julieta, no
qual ele faz a seguinte narrativa: Prima
Julieta, jovem viúva, aparecia de vez em quando na casa de meus pais ou na de
minhas tias. O marido, que deixara uma fortuna substancial, pertencia ao ramo
rico da família Monteiro de Barros. Nós éramos do ramo pobre. Prima Julieta
possuía uma casa no Rio e outra em Juiz de Fora. Morava em companhia de uma
filha adotiva. E já fora três vezes à Europa. Prima Julieta irradiava um
fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda
garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e
dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz
Virgilio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a
cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía
reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado
borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos; voz de pessoa da alta
sociedade. Uma vez descobri admirado sua nuca, que naquele tempo chamavam de
cangote, nome expressivo: pressupõe jugo e domínio. No caso somos nós, homens,
a sofrer a canga. Descobri por intuição a beleza do cangote e do pescoço
feminino, não querendo com isto dizer que subestimava outras regiões do
universo. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O
CÃO CHUPANDO MANGA – Por ocasião do lançamento do seu livro O cão chupando manga, a escritora Joyce Cavalccante concedeu uma
entrevista exclusiva pro meu Guia de
Poesia. Antes, porém, confira um fragmento desse ótimo livro: Ninguém deixa de chegar ao pra onde se está
indo. Guardando essa crença no coração Zezito desceu do ônibus para esticar as
canelas que, ou curtas ou não, há dezoito anos o levavam aonde cismava de ir O
motorista suado trocava um pneu murcho em silêncio e os passageiros esticavam o
pescoço pra fora das janelas, tentando ver que arrumação era aquela. O sol já
estava indo embora, o que significava que chegariam no escuro e ele ainda teria
de arranjar um lugar pra dormir. Dava até vontade de perguntar a alguém, pedir
um palpite sobre um canto pra passar a noite, porém não ia fazer aquilo não.
Falar, quanto menos melhor. Sorriu. Em boca fechada não entra mosca, era como
dizia sempre o Compadre. Ele sim, sabia das coisas. Sorriu outra vez se
lembrando do Compadre, e voltou para seu lugar. Esperou pensando, pensando,
fazendo seus planos. O motorista entrou e deu a partida enquanto ele continuou
matutando, decidindo o que fazer de si naquela sua primeira noite da vida em
São Paulo. A medida em que a claridade das luzes ia aumentando, ia aumentando
também seu entusiasmo. Curioso, olhava tentando enxergar o que podia. Era muita
gente. Era muito frio. Era muito tudo. - Ô cidade pai d'égua - pensou. O
colorido do teto de acrílico da estação rodoviária era de fascinar. Se viu
quase tonto, achando tudo de uma boniteza só. Se dependesse dele ficaria ali
olhando pra cima a noite inteira, ou então, olhando o vai e vem daquele
povaréu. A cidade era grande. Todo mundo tinha avisado. Mas não imaginava que
fosse tão grande desse jeito. Agarrou sua sacola e foi andando a pé, a procura
de um paradeiro. Preferia pernoitar por ali perto mesmo. Entrou em vários
hotéis perguntando o preço, mas cada qual que fosse mais caro do que o outro.
Povo ladrão, concluiu. Andou, andou, andou e voltou para a rodoviária outra
vez. Atraído, decidiu dormir ali mesmo sentado num dos bancos. Mas quando
escolheu um banco viu um guarda passando. Amedrontou-se. Os homens da lei não
eram seu forte. Não que estivesse devendo alguma coisa, mas é que eles sempre
acham um motivo pra fazer um sujeito pobre como ele se entender com a dona
Justa. Saiu andando outra vez e descobriu um alojamento esquisito. Era mais um
hotel aquilo ali bem ao lado da rodoviária, o qual não tinha notado antes
porque nem placa tinha. Indagou o preço e achou satisfatório, pois era bem mais
barato do que os outros. Não fez muitas perguntas pagando adiantado, cumprindo
uma exigência da casa. Seguiu o moço da portaria. O tal moço, usando uma calça
brilhando de sebo e fedendo a suor azedo, acendeu a lanterna que carregava
pendurada no pescoço, abriu uma porta larga e fez sinal para que ele não
fizesse barulho. Ao olhar para dentro do quarto, Zezito recuou perguntando: -
Que marmota é essa? O moço fez um sinal exagerado para que ele ficasse em
silêncio e deu de sussurrar em seu ouvido com voz de bem-me-quer: - Aqui é o
hotel da corda, nunca ouviu falar? - Inda não - respondeu Zezito, espantado com
o que via. - O negócio aqui, meu bem, é sentar, segurar na corda e se entregar.
Ao sono, claro - explicou o empregado cheio de requebros. Mesmo estando escuro,
Zezito olhou para seu interlocutor com modo atravessado, achando: - Esse daí é
baitola. Morto de cansado, entrou e sentou no lugar indicado pelo facho de luz
da lanterna. Ficou tentando entender onde estava. Quando se acostumou à
escuridão, percebeu que estava num quarto enorme que mais se parecia um galpão.
Ao longo das quatro paredes tinha um banco feito como se fosse uma prateleira,
onde sentadas, dormiam e roncavam criaturas agarradas a uma corda para manter o
equilíbrio. Era o famoso Hotel da Corda, a respeito do qual muita gente nunca
ouviu falar [...]. Veja a entrevista aqui e mais aqui e aqui.
A
TETA E A LUA – Um dos mais impressionantes filmes que já assisti, La teta e la luna (A teta e a lua,
1994), do cineasta e roteirista espanhol Bigas
Luna(1946-2013), com música de Nicola Piovani, roteiro do próprio Bigas e
Cuca Canals, sem dúvida é um dos que mais aprecio rever. Principalmente pela
inesquecível atuação da atriz francesa Mathilda
May em cenas inesquecíveis, meritória de ser homenageada na campanha Todo
dia é dia da mulher. Veja mais aqui, aqui e aqui.
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William Shakespeare, Hans Christian
Andersen, Émile Zola, Giovani Casanova, Emmylou Harris, Harriet Hosmer, Rainha
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criança pode fazer,
Bernard Shaw, Anton Walter Smetak, Costa-Gavras, Burrhus Frederic Skinner, Ivan
Pavlov, Olga Benário, Kazimir Malevich, Irene Pappás, Herbert George Wells,
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Gilles Deleuze & Félix Guattari,
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memória aqui.
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