quarta-feira, fevereiro 25, 2015

LYOTARD, RIKU ONDA, SARAH HALE & O AMOR

 


Quem ama persegue o alcandor

E segue adiante o alvo da paixão

Vai mais distante seja pra onde a flor

Desabrocha o amor no seu coração

 

Mantem a luta do que alcançou

A desfrutar para sempre o seu quinhão

Maior a dívida do seu penhor

Porque o amor

É mútua condecoração

 

É o amor

Quem manda agora

Todo carisma

Como num prisma

Rolasse a hora

Do amor

 

O AMOR - Os olhos dela nos meus: uma fisgada de pegar na beca – preste atenção! -, desarrumando vinco, colarinhos, certezas, tudo em desalinho, a captura do amor na hora certa. E um beijo seu, primário do nada, profundo de todo, insensato de loucura prévia, me invade a remover todos os meus muros e minhas mortes, assaltando as quatro paredes da minha solidão, a me devolver a vida no que me resta de ser. E me envolve e afeta meu coração a bater descontrolado por saber da soberania do seu reinado que me toma o céu para reinar com seu reluzente jeito, descartando lembranças e sarando meus ferimentos para remissão de todas as perdas. E colhe com carinho as flores murchas dos meus jardins tristonhos para a semeadura da sua magnifica presença a me salvar dos perigos com a manhã luminosa do seu beijar que não contém seus ímpetos e nem perdeu a ocasião de me fazer feliz. E me ronda e espreita para dar-me a paz com o afago da sua amanhecida carícia e a me enfeitiçar nas horas dos meus sonhos com o deslumbrante emanar do hálito morno do seu sopro vivente. E me abraça para me defender do perecível e me socorrer da vida miserável do meu isolamento, e me encoraja para que eu não fraqueje na ruína da memória a permitir que floresça em mim um ânimo por demais afortunado. E assim eu sou em suas mãos ternas já entardecidas nas minhas. E ela as mantém entrelaçadas em sua alma aconchegante para que eu não seja errante na brisa leve que vem do leste do seu afago. E me traz a fragrância do seu perfume na dança dos meus desejos que germinam ao toque de carícia dos seus dedos por minhas faces perdidas. E sinto o seu sorriso amoroso com meus beijos e escuto o suspiro dos seus segredos mais escondidos e acendo em sua boca ardente os sussurros do seu coração. E toda a sua majestade se manifesta para me contemplar a alma com as riquezas de sua entrega. E posso escolher entre as suas faces para proclamá-la deusa minha com seu manto transparente de visível beleza estival no triunfo da formosura, e eu com vivas a me embebedar com o místico aroma do incensório que emana de seu ser. Tomo-a em meus braços e sinto em meu peito o pulsar do prazer de seu corpo trêmulo para o meu extravio no seu rosado entardecer e ela inteira amadurece nas minhas mãos para que eu recolha a colheita de seus prados enquanto sacode o quadril na travessura dos seus lábios que juram safras exitosas. E escuta meu coração atenta e envolta ao meu pescoço a se descobrir presa fácil na troca do meu coração com o seu, se derramando impaciente a sacudir a cabeça para se erguer altiva e idolatrada nas minhas libações profundas do meu arado em suas plantações. E se precipita celebrada como quem cumpre a quem merece com empenho e devoção, como quem esculpe uma obra de arte no meu corpo e me ensina a voar sobre as águas enquanto passeia o seu deslumbrante emanar no meu riso. Eu voo e na sua viagem sem pressa lugar algum será longe no seio de suas numerosas noites, como nenhum prazer jamais será fugaz no esplendor de sua gloria. Ela ascende máxima e exalta com seus preciosos aromas deleitosos e completamente destemida na paixão, faz-se roçar com seu ímpeto lascivo o meu corpo de eleito da sua beleza revelada e a me ofertar o reservado quinhão que me cabe de sua magnífica presença no centro da sua noite iluminada. E adivinha com o véu das nuvens de seu abraço a transbordar apressada com a urgência dos meus mais exaltados sentimentos, quando o eco dos seus desejos perpassa minha carne no voo dos seus penhascos e se me revelam o ancoradouro no qual meu nome e o seu está inscrito e apenas o querer nos separa de tudo que nos falta e me faz atado pelo elo da paixão desesperada. E assim tenho o prêmio do ardor de todo o seu prazer vivo nas suas luzes extremadas que me dão a perícia suprema de que seus passos farão as trilhas do meu caminho lado a lado até enlanguescer na caminhada para repousar o meu prazer na sua fonte profusa que jorrar o nosso prazer. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Mesmo que uma pessoa experimente picos invejáveis ​​de felicidade, uma vida plena, toda felicidade ainda carrega consigo a solidão inerente ao ser humano... Pensamento da escritora japonesa Riku Onda, que no seu livro The Aosawa Murders (Bitter Lemon Press, 2005), ela expressou: [...] Se minha vida fosse um livro, a parte mais grossa, a que tem mais páginas com orelhas de cachorro, seria a que fala daquele caso. A lombada estaria torta de tanto ser aberta naquelas páginas. E o livro sempre cairia aberto naquele lugar. É assim que eu vejo. [...] Foi assim que escolhi lidar com isso. Senti que não tinha outra escolha. [...]. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: As democracias foram, e os governos são chamados, livres; mas o espírito de independência e a consciência de direitos inalienáveis ​​nunca foram antes transfundidos nas mentes de um povo inteiro... O sentimento de igualdade que eles orgulhosamente acalentam não procede da ignorância de sua posição, mas do conhecimento de seus direitos; e é esse conhecimento que tornará tão extremamente difícil para qualquer tirano triunfar sobre as liberdades de nosso país... São necessários apenas alguns fios de esperança para que o coração hábil no segredo teça uma teia de felicidade... Nesta era de inovação, talvez nenhum experimento tenha uma influência mais importante no caráter e na felicidade da nossa sociedade do que conceder às mulheres as vantagens de uma educação sistemática e completa... Pensamento da ativista poeta estadunidense Sarah Hale (1788-1879). Veja mais aqui e aqui.

 

PEREGRINAÇÕES: LEI, FORMA & EVENTO - [...] O sentimento sublime não é mero prazer como o gosto é – é uma mistura de prazer e dor... Confrontada com objetos que são muito grandes de acordo com sua magnitude ou muito violentos de acordo com seu poder, a mente experimenta suas próprias limitações. [...]. Trecho extraído da obra Peregrinations: Law, Form, Event (Wellek Library Lectures (Columbia University Press, 1, 1990), do filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), que no seu livro Driftworks (MIT Press, 1984), expressou: [...] O desejo confunde o conhecimento e o poder. [...]. A sua filosofia pós-moderna defende que: Simplificando ao extremo, defino pós-moderno como incredulidade em relação às metanarrativas. O conhecimento é e será produzido para ser vendido, é e será consumido para ser valorizado numa nova produção: em ambos os casos, o objetivo é a troca. Nosso trabalho não é fornecer realidade, mas inventar alusões ao concebível que não pode ser apresentado. Os séculos XIX e XX nos deram tanto terror quanto podemos suportar. Pagamos um preço alto o suficiente pela nostalgia do todo e do um, pela reconciliação do conceito e do sensível, da experiência transparente e comunicável. Sob a demanda geral por afrouxamento e apaziguamento, podemos ouvir os murmúrios do desejo por um retorno do terror, pela realização da fantasia para tomar a realidade. A resposta é: vamos travar uma guerra contra a totalidade; vamos ser testemunhas do inapresentável; vamos ativar as diferenças. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O MISTÉRIO DA CONSCIÊNCIA – No livro O mistério da consciência (Companhia das Letras, 2000), do médico neurologista e neurocientista português, António Damásio,aborda acerca da consciência humana, apresentando a sua revolucionária teoria do enigma da consciência, como sendo o maior desafio da filosofia e das ciências da vida ao descrever como a consciência abriu caminho para o surgimento de realizações humanas como a arte, a ciência, a tecnologia, a religião, a organização social, por meio de uma pesquisa sobre o cérebro e da complexidade de todo ser humano, sua adaptação ao ambiente, sua sobrevivência e os conflitos consigo mesmo que se realiza com um sistema complexo que articula imaginação, criatividade e planejamento que fazem surgir a consciência. Nessa obra ele se expressa assim: [...] se a criatividade for dirigida com sucesso, mesmo modestamente, permitiremos à consciência, mais uma vez, cumprir seu papel de regulador homeostático da existência. Conhecer contribuirá para ser. Tenho até alguma esperança de que compreender a biologia da natureza humana contribuirá com seu quinhão nas escolhas a serem feitas. Seja como for, melhorar as condições da existência é precisamente a finalidade da civilização, a principal consequência da consciência; e, por no mínimo 3 mil anos, com recompensas maiores ou menores, melhorar é o que a civilização vem buscando. A boa notícia, portanto, é que já começamos.Veja mais aquiaqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem: Nu barbotant, do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Veja mais aquiaqui.

Ouvindo George Harrison Live in Japan (1992), do músico, compositor e ex-integrante dos Beatles, George Harrison (1943-2001). Veja mais aqui.

A ESTÉTICA DA PERSONALIDADE EMPÍRICA E POÉTICA - A concepção estética do filósofo, historiador e escritor italiano Benedetto Croce (1866-1952), parte do exame da obra de arte como sentimento que se reelabora na pureza da forme. Ele se baseia na necessidade de distinguir o que chama de personalidade empírica – biografia, características pessoas do autor -, estabelecendo a diferença entre esta e a personalidade poética. Assim como a primeira se acha unida, integrada no corpo e na natureza, o objeto da crítica literária seria fundamentalmente o de unificar a segunda, já que abriga a poesia e a não-poesia, a intuição lírica e seus acessórios ideológicos, históricos e filosóficos. Por outro lado, de acordo com sua concepção da história, Croce considera a crítica literária como único método capaz de destacar, na obra de arte, a expressão individual colocada acima de seu período histórico e dos movimentos ou influencias de orientação estética e literária em se originou. Outro elemento importante para a crítica de Croce vem a ser sua identificação do espirito com o universo: a obra poética traz em si o universo em totalidade, exprimindo a harmonia de seus contrastes. Veja mais aquiaqui.

PRIMA JULIETA – No livro A idade do serrote (Sabiá, 1968), o poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975), encontrei o delicioso conto Prima Julieta, no qual ele faz a seguinte narrativa: Prima Julieta, jovem viúva, aparecia de vez em quando na casa de meus pais ou na de minhas tias. O marido, que deixara uma fortuna substancial, pertencia ao ramo rico da família Monteiro de Barros. Nós éramos do ramo pobre. Prima Julieta possuía uma casa no Rio e outra em Juiz de Fora. Morava em companhia de uma filha adotiva. E já fora três vezes à Europa. Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgilio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos; voz de pessoa da alta sociedade. Uma vez descobri admirado sua nuca, que naquele tempo chamavam de cangote, nome expressivo: pressupõe jugo e domínio. No caso somos nós, homens, a sofrer a canga. Descobri por intuição a beleza do cangote e do pescoço feminino, não querendo com isto dizer que subestimava outras regiões do universo. Veja mais aqui, aquiaqui.


O CÃO CHUPANDO MANGA – Por ocasião do lançamento do seu livro O cão chupando manga, a escritora Joyce Cavalccante concedeu uma entrevista exclusiva pro meu Guia de Poesia. Antes, porém, confira um fragmento desse ótimo livro: Ninguém deixa de chegar ao pra onde se está indo. Guardando essa crença no coração Zezito desceu do ônibus para esticar as canelas que, ou curtas ou não, há dezoito anos o levavam aonde cismava de ir O motorista suado trocava um pneu murcho em silêncio e os passageiros esticavam o pescoço pra fora das janelas, tentando ver que arrumação era aquela. O sol já estava indo embora, o que significava que chegariam no escuro e ele ainda teria de arranjar um lugar pra dormir. Dava até vontade de perguntar a alguém, pedir um palpite sobre um canto pra passar a noite, porém não ia fazer aquilo não. Falar, quanto menos melhor. Sorriu. Em boca fechada não entra mosca, era como dizia sempre o Compadre. Ele sim, sabia das coisas. Sorriu outra vez se lembrando do Compadre, e voltou para seu lugar. Esperou pensando, pensando, fazendo seus planos. O motorista entrou e deu a partida enquanto ele continuou matutando, decidindo o que fazer de si naquela sua primeira noite da vida em São Paulo. A medida em que a claridade das luzes ia aumentando, ia aumentando também seu entusiasmo. Curioso, olhava tentando enxergar o que podia. Era muita gente. Era muito frio. Era muito tudo. - Ô cidade pai d'égua - pensou. O colorido do teto de acrílico da estação rodoviária era de fascinar. Se viu quase tonto, achando tudo de uma boniteza só. Se dependesse dele ficaria ali olhando pra cima a noite inteira, ou então, olhando o vai e vem daquele povaréu. A cidade era grande. Todo mundo tinha avisado. Mas não imaginava que fosse tão grande desse jeito. Agarrou sua sacola e foi andando a pé, a procura de um paradeiro. Preferia pernoitar por ali perto mesmo. Entrou em vários hotéis perguntando o preço, mas cada qual que fosse mais caro do que o outro. Povo ladrão, concluiu. Andou, andou, andou e voltou para a rodoviária outra vez. Atraído, decidiu dormir ali mesmo sentado num dos bancos. Mas quando escolheu um banco viu um guarda passando. Amedrontou-se. Os homens da lei não eram seu forte. Não que estivesse devendo alguma coisa, mas é que eles sempre acham um motivo pra fazer um sujeito pobre como ele se entender com a dona Justa. Saiu andando outra vez e descobriu um alojamento esquisito. Era mais um hotel aquilo ali bem ao lado da rodoviária, o qual não tinha notado antes porque nem placa tinha. Indagou o preço e achou satisfatório, pois era bem mais barato do que os outros. Não fez muitas perguntas pagando adiantado, cumprindo uma exigência da casa. Seguiu o moço da portaria. O tal moço, usando uma calça brilhando de sebo e fedendo a suor azedo, acendeu a lanterna que carregava pendurada no pescoço, abriu uma porta larga e fez sinal para que ele não fizesse barulho. Ao olhar para dentro do quarto, Zezito recuou perguntando: - Que marmota é essa? O moço fez um sinal exagerado para que ele ficasse em silêncio e deu de sussurrar em seu ouvido com voz de bem-me-quer: - Aqui é o hotel da corda, nunca ouviu falar? - Inda não - respondeu Zezito, espantado com o que via. - O negócio aqui, meu bem, é sentar, segurar na corda e se entregar. Ao sono, claro - explicou o empregado cheio de requebros. Mesmo estando escuro, Zezito olhou para seu interlocutor com modo atravessado, achando: - Esse daí é baitola. Morto de cansado, entrou e sentou no lugar indicado pelo facho de luz da lanterna. Ficou tentando entender onde estava. Quando se acostumou à escuridão, percebeu que estava num quarto enorme que mais se parecia um galpão. Ao longo das quatro paredes tinha um banco feito como se fosse uma prateleira, onde sentadas, dormiam e roncavam criaturas agarradas a uma corda para manter o equilíbrio. Era o famoso Hotel da Corda, a respeito do qual muita gente nunca ouviu falar [...]. Veja a entrevista aqui e mais aqui e aqui.


A TETA E A LUA – Um dos mais impressionantes filmes que já assisti, La teta e la luna (A teta e a lua, 1994), do cineasta e roteirista espanhol Bigas Luna(1946-2013), com música de Nicola Piovani, roteiro do próprio Bigas e Cuca Canals, sem dúvida é um dos que mais aprecio rever. Principalmente pela inesquecível atuação da atriz francesa Mathilda May em cenas inesquecíveis, meritória de ser homenageada na campanha Todo dia é dia da mulher. Veja mais aqui, aquiaqui.



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