A SOLIDÃO DE
KAFKA - Desdinfância em Klosterneuburg
a solidão pelo conflito paterno e das línguas judaicas asquenazes: a cidade é a sina
com a sua brutalidade, como a escola do Masný trh/Fleischmarkt. Os dois irmãos que sucumbiram meninos, as três irmãs quase
estranhas e o futuro incerto: a vida levada por governantas e serventes, a
solidão inaugural no quarto frio. O Bar Mitzvah e a antipatia pela sinagoga - apesar
de apenas visita-la apenas nos quatro feriados, um ateísmo disfarçado. Nenhuma vocação
para varejista nem identificado com a gralha, menos mal ter sido aceito na Deutsche
Karl-Ferdinands-Universität, o estudo de Química trocado pela consciência do
direito e o Lese-und
Redehalle der Deutschen Studenten. O
grande amigo pro resto da vida e os verdadeiros irmãos eram Dostoiévsky,
Flaubert, Grillparzez e Kleist. O trabalho na Assicurazioni Generali e os contos
das considerações, a insatisfação
e, posteriormente, a demissão. Novo emprego com a desatenção de todos, o
capacete de segurança civil quando só servia para pagar as contas. A promoção e
a insistente reclamação do pai em ajudá-lo na loja. Ainda bem que apareceu o Der
enge Prager Kreis senão morreria de tédio. A fábrica de asbestos com o dote
em sociedade com um amigo e os negócios logo levou aos ressentimentos, o teatro
iídiche era o entretenimento e o vegetarianismo com o anarquismo do Klub
Mladých e Amérika para vestir um cravo rosa: Não esqueça
Kropotkin! E a ascensão do socialismo sobre a trapalhada burocrática
decadente. Com a primeira grande guerra a reunião da família e o choro das irmãs
quase viúvas com seus problemas de saúde. O afastamento do trabalho e os sanatórios, o sonho
pelos bordéis e desejo pela pornografia com a ida pra Palestina a perder-se nas Brife an
Felice no meio de dois noivados desfeitos para, enfim, desaparecer de si mesmo.
Salvou-se apenas o veredicto. A contemplação e a descrição de uma luta, o julgamento
e o noivado com Julie Wohryzek que nunca casou por suas crenças sionistas. A Carta
ao Pai e a pouca autoestima no trato com mulheres e sexo, a timidez
exorbitante sonhando com Grete Bloch e um filho que nunca soube. A tuberculose e
a vila boêmia de Zürau, oportunos diários e escritos íntimos: as cartas de
Ottla. E as cartas para Milena
Jesenská. No Mar Báltico, a professora Dora Diamant e o interesse pelo Talmude e
muitos rascunhos queimando na fogueira da revolta. Termia ser repulsivo pros
outros, a predileção por filmes e aviões, o barulho ao redor, a necessidade de
silêncio para a oração: escrever. Precisava era transcender a metamorfose, sobrepujar
o processo, desassombrar o castelo e toda alienação diante dos labirintos
aterrorizantes: Mal tenho
algo em comum comigo mesmo, e deveria estar quieto em um corredor, contente por
respirar... As transformações
místicas flagraram seu fracasso. O pouco tempo para o chamado da escrita,
adiado por conta do sempre horrível ganha pão. A solidão do apartamento e a reiterada
necessidade de ir pra Palestina, não fosse a recusa de um amigo em abrigar por
conta da sombra da doença: Preso
entre quatro paredes de mim mesmo, descubro-me um emigrante preso em um país
estrangeiro... vejo minha família como alienígenas cujos costumes, ritos e
linguagem estrangeiros desafiaram minha compreensão... apesar de eu não
querê-los, eles forçaram-me a participar de seus rituais bizarros... não pude
resistir... Morrer de fome, o desejo
dos manuscritos destruídos e o que é? A solidão atormentava e era um castigo,
um acontecimento acontecido: Não é necessário sair de casa. \ Permaneça em
sua mesa e ouça.\ Não apenas ouça, mas espere.\ Não apenas espere, mas fique
sozinho em silêncio.\ Então o mundo se apresentará desmascarado.\ Em êxtase, se
dobrará sobre os seus pés... E ser a ventania kafkiana: Tudo que eu
deixo para trás... na forma de diários, manuscritos, cartas (minhas e de outras
pessoas), esboços, e assim por diante, deve ser queimado sem ser lido... A vida
é bizarra e sombria, poderia ser diferente. Veja mais abaixo e mais aqui e
aqui.
DITOS &
DESDITOS - A arte mudou minha vida. Quer dizer, eu diria que a arte me
salvou. Acredito que ela me fez melhor em lidar com minha vida. A primeira
coisa que um regime fascista faz é queimar livros. Não tê-los por perto
significaria garantir que eles não fossem escritos em primeiro lugar. Eu não
comecei para ser um ativista político. Eu sou apenas um ser humano que é movido
por certas coisas, e se certas coisas partem meu coração, eu começo a
consertá-las. Se nos educarmos, então o desejo e a necessidade de ter arte como
parte de nossas vidas acontecerão organicamente. Eu convidaria qualquer um a
olhar para culturas onde a arte é esmagada. Sou um artista de carreira ao longo
da vida, o que por si só é um milagre. É realmente desafiador ser um artista de
carreira. Eu diria que o argumento para financiamento de subsídios não é apenas
que meu filme fez algum bem social - espero que tenha aberto os olhos das
pessoas - mas você criou um artista profissional. Pensamento da cineasta,
roteirista e produtora estadunidense Kimberly
Peirce. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Você não é nem antinatural, nem abominável, nem louco; você é parte do que
as pessoas chamam de natureza tanto quanto qualquer outra pessoa; só que você ainda
não foi explicado - você não tem seu nicho na criação. Pensamento da escritora inglesa Marguerite Radclyffe Hall
(1880–1943), que na sua obra The Well of Loneliness (Wordsworth, 2014),
expressou que: […] Se nosso amor é um
pecado, então o céu deve estar cheio de pecados tão ternos e altruístas quanto
os nossos. [...] Que coisa
terrível poderia ser a liberdade. As árvores eram livres quando eram arrancadas
pelo vento; os navios eram livres quando eram arrancados de suas amarras; os
homens eram livres quando eram expulsos de suas casas — livres para morrer de
fome, livres para perecer de frio e fome. [...] Pelo
bem de todos os outros que são como você, mas menos fortes e menos talentosos
talvez, muitos deles, cabe a você ter a coragem de fazer o bem. [...]. Veja
mais aqui e aqui.
O HORROR DA SOLIDÃO - Antes de adormecer. Parece tão horrível ser
solteiro, envelhecer lutando por manter a dignidade enquanto se pede um convite
sempre que se deseja passar o serão em companhia, tendo de levar a refeição
para casa, incapaz de esperar alguém com um sentimento de lassidão e de calma
confiança, apenas capaz de, com dificuldade e vexame, dar um presente a alguém,
tendo de dizer boa noite à porta de casa, nunca podendo subir as escadas a
correr ao lado da mulher, não tendo outra consolação quando estiver doente que
a vista da janela, se se puder sentar na cama, tendo somente portas ao lado que
dão para salas de estar de outras pessoas, sentindo-se afastado da própria
família, com quem só pelo casamento se pode manter laços de intimidade,
primeiro pelo casamento dos pais, depois, passado o efeito deste casamento,
pelo próprio, tendo de admirar os filhos dos outros e não lhe sendo sequer
permitido continuar a dizer: “Eu não tenho nenhum”, nunca se sentindo
envelhecer uma vez que não há gente da família a crescer à volta, formando-se
na aparência e no comportamento segundo os modelos de uma ou duas pessoas
solteiras que conheceu na juventude. Tudo isto é verdade, mas é fácil cometer o
erro de desdobrar de tal maneira os sofrimentos futuros à nossa frente que os
nossos olhos têm de passar por eles e nunca mais voltar, quando, na realidade,
tanto hoje como amanhã, a pessoa permanece com um corpo verdadeiro e uma cabeça
verdadeira, e uma testa verdadeira, para bater com a mão. Extraído dos Diário (1911), do escritor
tcheco Franz Kafka (1883-1924), que no conto Josefine, a cantora ou O povo dos ratos, extraído da obra Um artista da fome
(L&PM, 2009), expressa que: [...] Eu
ainda não tinha visto um sorriso tão atrevido, tão orgulhoso como o que ela
abriu; ela, que aparenta ser a delicadeza em pessoa, delicada mesmo para o
nosso povo tão rico em figuras femininas, pa-receu naquele instante francamente
má; Josefine, aliás, deve ter sentido o mesmo graças à sua profunda
sensibilidade e, assim, recompôs-se. Ademais, ela negava qualquer relação entre
sua arte e o assobio. Em relação aos que discordassem dessa opinião, nutria
apenas desprezo e provavelmente um ódio inconfessado. Não é uma vaidade comum,
pois a oposição, na qual em parte incluo-me, não a admira menos do que a
multidão, porém Josefine não deseja apenas ser admirada, mas ser admirada
exatamente a seu modo, pois não tem interesse na admiração pura e simples. E
quem se senta diante dela compreende; a oposição só se faz à distância; quem se
senta diante dela sabe: o que ela assobia não são meros assobios. [...] a entrega incondicional é quase
desconhecida de nosso povo; esse povo, que acima de tudo ama a astúcia
inofensiva, os cochichos pueris, as fofocas inocentes, que põem apenas os
lábios em movimento, um povo assim não tem condições de entregar-se
incondicionalmente, Josefine sem dúvida também percebe, é isso o que ela
combate com todas as forças de sua débil garganta. [...] Ela se esconde
e não canta, mas o povo, tranquilo, sem nenhuma decepção visível, altaneiro,
uma massa serena que, a bem dizer, mesmo que as aparências surgiram o
contrário, só é capaz de dar, jamais de receber presentes, tampouco de
Josefine, esse povo segue em seu caminho. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
TRÊS POEMAS - COM ESTE LAÇO VERMELHO - Eu saio para a rua e corro \ pela rua levantando redemoinhos \ de poeira para que eles não me
vejam \ Eu abro portas com chaves \ Deixo as chaves abertas \ as portas eu abro as mandíbulas \ levantando redemoinhos de
poeira \ Não é assim que eles me veem agachado \ pelas suas costas afundando os
dedos \ para onde ligar fiquei sem fichas \ não há mais fichas, não há
mais números
\ para onde ligar. ONDE ESVAZIAR O CHORO - Eu sonho em montar em você,
estimulando você
\ seus flancos de lobo \ desfigurado quem sabe \ quem sou eu \ Formigas sobem pelos seus dedos \ dos pés \ subir como um murmúrio \ insistente \ eles querem sair pelas mandíbulas \ como rugido \ mas não há fichas ou cabines telefônicas \ Eles gastaram seus dedos e números fazendo \ musaranhos no ar de marcar tanto o ar \ onde esvaziar o choro \ escondido em seu punho lambendo suas gemas. O QUE FAZER COM ELES - A escuridão e o pavor caem agora \ sinta o estalar dos dedos \ hesitando
no ar O que fazer com eles\ na folhagem escura\ com este laço vermelho \ hesitando no ar. Poemas da
escritora Soledad Fariña
Vicuña.
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