O UMBIGO NO CULTO DA AVAREZA – Imagem: Dança ao redor do bezerro de ouro, do pintor expressionista alemão Emil Nolde (1867-1956) - Muito demais, sempre! Essa a lei na fivela
do umbigo. Quem tem um, não tem nada; dois, muito menos. O certo é pra mais de
quatro e disso pra mais nos teres e haveres, sem precisão, premência, penúria. É
preciso olvidar de Fedro e ser guarda e senhor; de Publílio Siro: excitar e
jamais saciar; e caçoar da abundância de Montaigne. O pouco não satisfaz, só o
desmedido, o excedente, as sobras: só baldear o que esborra pelo ladrão e até
onde a vista der no que é de seu. A posse é a alma, nada de invisível: a gente
só tem o que pega. Viu, tá feito. E administrar levando no muque, resolvendo no
pulso: um olho na missa, outro no padre. O que é meu, é meu. Na terra de
tartufos arroto imodéstia. Dou de troco a ganância, afinal, o que vale é
Bezerro de Ouro, conforto e privilégio. Não vacilo, dou de bênção a 10% e por
que não? Valei-me, minha santa usura, meu fio condutor pras etiquetas, pras
impressões de chegada, pros barrunfos e carteiradas. Sou o que sou de mim pra
mim. Cada um que cuide de si, dos seus saltos altos, suas vidraças trincadas. Já
vi bispos e frades agiotas! Só me vali de oração e promessa quando não tinha precisão.
Hoje sou reza e oração de mim mesmo. Peguei a oportunidade pelos cornos. Ninguém
é besta de cochilar das benesses - louvado seja e que venha a nós o que seja
vosso! Ao que tem, mais se lhe dará: Mateus 13,13. Carece de precaução: comigo
ninguém pode. O verbo sou eu e nenhum pronome a mais além de meu. Só assim me
basto! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui e aqui,
Imagem: Mar sonoro, da artista plástica estadunidense Lauri Blank.
Ouvindo Sinfonia nº 2 Uirapuru (1945) do maestro e compositor brasileiro Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993) pela Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, diretta da Benito Juarez.
A MULHER DE ABEL – A poeta e tradutora inglesa Denise Levertov (1923-1997),
desenvolveu uma poesia de equilíbrio interior onde o conteúdo determinava a
forma. Ela foi ligada à Geração Beat e se mostrava preocupada com a situação da
mulher, embora não tenha sido propriamente uma militante, porem com um
despertar político tornou-a contudo menos reticente. Dela destacamos o poema A mulher de Abel: A mulher teme pelo homem, ele vai / sozinho ao trabalho. Nenhum espelho
/ se aninha no seu bolso. Seu rosto / se abre e fecha na esperança. / seu sexo
aflora, descoberto, / ou acorda antes dele, / cego e ansioso. / Ela se suga /
com sorte. Mas triste, ao sair, / ela olha-se no espelho, lembra-se / de si.
Pedras, carvão, / o chiado da água nos ramos / queimados – e seu ser / é uma
caverna, já ossos no lar. Veja mais aqui, aqui e aqui.
HOMO LUDENS – O professor e historiador neerlandês Johan Huizinga (1872-1945), realizou
diversos estudos que resultaram em trabalhos sobre a Idade Média, a Reforma e o
Renascimento, concentrando-se, posteriormente, no papel do jogo no contexto
educacional. A sua tese é de ao invés do homo sapiens, deveria ser homo ludens,
conforme explicita nos seus estudos: Em
época mais otimista que a atual, nossa espécie recebeu a designação de Homo
sapiens. Com o passar do tempo, acabamos por compreender que afinal de contas
não somos tão racionais quanto a ingenuidade e o culto da razão do século XVIII
nos fizeram supor, e passou a ser de moda designar nossa espécie como Homo
faber. Embora faber não seja uma definição do ser humano tão inadequada como
sapiens, ela é, contudo, ainda menos apropriada do que esta, visto poder servir
para designar grande número de animais. Mas existe uma terceira função, que se
verifica tanto na vida humana como na animal, e é tão importante como o
raciocínio e o fabrico de objetos: o jogo. Creio que, depois de Homo faber e
talvez ao mesmo nível de Homo sapiens, a expressão Homo ludens merece um lugar
em nossa nomenclatura. [...] Sempre
que nos sentirmos presos de vertigem, perante a secular interrogação sobre a
diferença entre o que é sério e o que é jogo, mais uma vez encontraremos no
domínio da ética o ponto de apoio que a lógica é incapaz de oferecer-nos.
Conforme dissemos desde o início, o jogo está fora desse domínio da moral, não
é em si mesmo nem bom nem mau. Mas sempre que tivermos de decidir se qualquer
ação a que somos levados por nossa vontade é um dever que nos é exigido ou é
lícito como jogo, nossa consciência moral prontamente nos dará a resposta.
Sempre que nossa decisão de agir depende da verdade ou da justiça, da compaixão
ou da clemência, o problema deixa de ter sentido. Basta uma gota de piedade
para colocar nossos atos acima das distinções intelectuais. Em toda consciência
moral baseada no reconhecimento da justiça e da graça, o dilema do jogo e da
seriedade, até aqui insolúvel, deixará de poder ser formulado. Veja mais aqui e aqui.
A SOCIEDADE MODERNA E AS RELAÇÕES HUMANAS – Em
sua obra Historia social da criança e da
família, o historiador Philippe Ariés
(1914-1984), procede a uma abordagem acerca da sociedade moderna e das relações
humanas, observando o desenvolvimento da criança e da família nesse contexto: [...]
A família moderna
retirou da vida com um não apenas as crianças, mas uma grande parte do tempo e
da preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma necessidade de intimidade e
também de identidade: os membros da familia se unem pelo sentimento, o costume e
o gênero de vida. As promiscuidades impostas pela antiga sociabilidade lhes
repugnam. Compreende-se que essa ascendência moral da famllia tenha sido
originariamente um fenômeno burguês: a alta nobreza e o povo, situados nas duas
extremidades a escala social, conservaram por mais tempo as boas maneiras
tradicionais, e permaneceram indiferentes à pressão exterior. As classes
populares mantiveram até quase nossos dias esse gosto pela multidão. Existe portanto
uma relação entre o sentimento da familia e o sentimento de classe. Em várias
ocasiões, ao longo deste estudo, vimos que eles se cruzavam. Durante séculos,
os mesmos jogos foram comuns às diferentes condições sociais; a partir do
início dos tempos modernos, porém, operou-se uma seleção entre eles: alguns
foram reservados aos bem nascidos, enquanto outros foram abandonados ao mesmo
tempo às crianças e ao povo. As escolas de caridade do século XVII, fundadas
para os pobres, atraiam também as crianças ricas. Mas a partir do século XVIII,
as familias burguesas não aceitaram mais essa mistura, e retiraram suas
crianças daquilo que se tornaria um sistema de ensino primário popular, para
colocá-las nas pensões ou nas classes elementares dos colégios, cujo monopólio
conquistaram. Os jogos e as escolas, inicialmente comuns ao conjunto da
sociedade, ingressaram então num sistema de classes. Foi como se um corpo
social polimorfo erigido se desfizesse e fosse substituido por uma infinidade
de pequenas sociedades - as familias, e por alguns grupos maciços - as classes.
As familias e as classes reuniam indivíduos que se aproximavam por sua
semelhança moral e pela identidade de seu gênero de vida. O antigo corpo social
único, ao contrário, englobava a maior variedade possivel de idade e condições.
Pois ai as condições eram tanto mais claramente distinguidas e hierarquizadas
quanto mais se aproximavam no espaço. As distâncias morais supriam as
distâncias fisicas. O rigor dos sinais exteriores de respeito e das diferenças de
vestuário corrigia a familiaridade da vida comum. O criado nunca deixava seu
senhor, de quem se tornava amigo e cúmplice passadas as camaradagens da
adolescência; a altura do senhor correspondia à insolência do servidor, e
restabelecia, para o bem ou para o mal, uma hierarquia que uma excessiva e
constante familiaridade estava sempre colocando em questão. As pessoas viviam
num estado de contraste; o nascimento nobre ou a fortuna andavam lado a lado
com a miséria, o vicio com a virtude, o escandalo com a devoção. Apesar de seus
contrastes estridentes, essa miscelanea não surpreendia ninguém: ela pertencia
à diversidade do mundo, que devia ser aceita como um dado natural. Um homem ou
uma mulher bem nascidos não viam nenhum problema em visitar vestidos com seus
trajes suntuosos os miseráveis das prisões, dos hospitais ou das ruas, quase
nus debaixo de seus farrapos. A justaposição desses extremos, assim como não
tolhia os ricos, não humilhava os pobres. Hoje ainda resta alguma coisa desse
clima moral na Itália meridional. Mas chegou um momento em que a burguesia não
suportou mais a pressão da multidão, nem o contato com o povo. Ela cindiu:
retirou-se da vasta sociedade polimorfa para se organizar à parte, num meio
homogêneo, entre suas familias fechadas, em habitações previstas para a
intimidade, em bairros novos, protegidos contra toda contaminação popular. A
justaposição das desigualdades, outrora natural, tornou-se-lhe intolerável: a
repugnancia do rico precedeu a vergonha do pobre. A procura da intimidade e as
novas necessidades de conforto que ela suscitava (pois existe uma relação
estreita entre o conforto e a intimidade) acentuavam ainda mais o contraste
entre os tipos de vida material do povo e da burguesia. A antiga sociedade
concentrava um número máximo de gêneros de vida num mínimo de espaço, e
aceitava - quando não procurava - a aproximação barroca das condições sociais
mais distantes. A nova sociedade, ao contrário, assegurava a cada gênero de
vida um espaço reservado, cujas caracteristicas dominantes deviam ser
respeitadas: cada pessoa devia parecer com um modelo convencional, com um tipo
ideal, nunca se afastando dele, sob pena de excomunhão. O sentimento da
família, o sentimento de classe e talvez, em outra área, o sentimento de raça
surgem portanto como as manifestacões da mesma intolerância diante da
diversidade; de uma mesma preocupação de uniformidade. Veja mais aqui, aqui e aqui.
EM NOME DE DEUS – Em
1988, a atriz inglesa Kim Thomson
estrelou ao lado de Derek de Lint, o papel de Heloísa no filme Stealing Heaven (Em
Nome de Deus), um drama baseado em fatos reais do romance medieval
francês do século XII vivido pelo filósofo e teólogo Pedro Abelardo e a jovem Heloísa,
numa produção do Reino Unido/Yugoslávia, dirigido por Clive Donner. Por sua
participação no filme, nossos aplausos na certidão de meritória inclusão na
campanha todo dia é dia da mulher. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
João Guimarães Rosa, Maria Helena Kühner,
Affonso Romano de Sant´Anna, Marilda Vilela Yamamoto, Dmitri Dmitriyevich
Shostakovich & Mstislav Rostropovich, Albert Marquet, Pra Frente Brasil
& Gloria Swanson aqui.
E mais:
Nise da Silveira, Marilena Chauí, O
Serviço Social & Marilda Iamamoto, Guimar Namo de Mello & Arriete
Vilela aqui.
Onde não tem mata-burro a gente manda ver
no trupé, Maíra
Dvorek & Pedro Nonato da Cunha aqui.
Rainer Maria Rilke, Gaston Bachelard, Darcy Ribeiro, Raquel de Queiroz, Mozart, Montaigne,
Maria de Medeiros, Kees van Dongen & A Seca do Nordeste aqui.
Poemas de José Marti aqui.
A corrupção no Brasil, Tchekhov, Radamés
Gnatalli, Germaine Greer, Linda Buck, Leo Gandelman, Clóvis Graciano &
Emmanuelle Seigner aqui.
Lacan, Locke, Liebniz, Distanásia,
Coaching & Mentoring, Comportamento do Consumidor, Vendas & Lara
Vichiatto aqui.
Mahatma Gandhi, Educação, Michelangelo
Antonioni & Vanessa Redgrave, Gênesis & Phil Collins, Carlos Zéfiro,
Jennifer R. Hale & Maria Luísa Mendonça aqui.
Hora de Chegada, Zygmunt Bauman, Tunga, Kenzaburo Oe,
Schubert & Maria João Pires, Ken Wilber, Tereza Costa Rego & Kate
Beckinsale aqui.
Todo dia o primeiro passo, Gilberto Mendonça Teles, José Orlando Alves, Lia Rodrigues
Companhia de Danças, Belle Chere, David Ngo & Maria Núbia Vítor de Souza aqui.
Pelos caminhos da vida,
A lenda Tembé do incêndio universal e o dilúvio, Benedicto Lacerda, Alessandro
Biffignandi, Ferdinand Hodler, Clodomiro Amazonas, Diane
Arbus & Ligia Scholze Borges Tomarchio aqui.
O que esperar do amanhã,
José Joaquim da Silva, Montserrat Figueras, Araki Nobuyoshi, Gerda Wegener,
Rajkumar Sthabathy & Angel Popovitz aqui.
Na calçada da tarde, Yara Bernette, António Botto, William-Adolphe
Bouguereau, Maria Lynch, Rosa Bonheu & Patricia
de Cassia Porto aqui.
O mergulho das manhãs e noites nas águas profundas
do amor, Luchino Visconti, Constança Capdeville,
Spencer Tunick, Aubrey Beardsley, Luciah Lopez & Escola Estadual Joaquim
Fernando Paes de Barros Neto aqui.
O amor é lindo, O Circo, Marcos Frota & Leonid Afremov aqui.
As misérias do processo penal de
Francesco Carnelutti aqui.
A cidade das torres & a radiosa
cidade corbusiana, Antônio Cândido: o discurso e a cidade aqui.
Proclamação da República aqui.
A Era Vargas e a República aqui.
A monarquia brasileira aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.