sábado, fevereiro 28, 2015

DENISE LEVERTOV, PICHON RIVIÈRE, ADELAIDE PROCTER & LISZTOMANIA

 


A SOLIDÃO DE DENISE... - Sua família emigrou pro Reino Unido e a infância de Ilford era reflexo da prisão domiciliar dos pais: estrangeiros inimigos que traziam para Essex os problemas étnicos. Era a primeira guerra e as suas células se desenvolviam à sombra da sabedoria paterna. Educada em casa já guardava o desejo desde os 5 anos de idade: ser escritora. Estudou balé, piano, francês e arte. Nenhuma identidade a fazia sentir excluída: não era judia, nem alemã, nem galesa nem inglesa – era especial e já sabia: Antes dos dez anos que eu era uma pessoa-artista e tinha um destino... O pai protestava contra Mussolini pela invasão da Abssínia; a mãe fazendo campanha para a Liga das Nações; a irmã no palanque contra a falta de apoio à Espanha; todos empenhados em favor dos refugiados alemães e austríacos, essa a sua condução pela política humanitária desde menina, quando vendia o Dayly Worker de casa em casa nas ruas de Ilford Lane. Aos 12 anos escreveu seu primeiro poema e depois enviou alguns deles para Eliot e recebeu uma carta incentivadora. Foi então servir como enfermeira civil em Londres durante o Blitz. Aos 17 anos publicou seu primeiro poema e, logo depois, o livro: The Double Image. Casou-se e foi pros Estados Unidos onde naturalizou-se depois para publicar Here and Now – a influência de Black Moyntain & William Carlos Williams. Vieram então Overland to the Islands  e With Eyes at the Back of Our Heads. Tornou-se editora do The Nation, abrindo espaço para feministas e ativistas de esquerda, publicando The Jacob's Ladder e O Taste and See: New Poems. É a hora da Guerra do Vietnã, a morte de sua irmã e The Sorrow Dance, com o engajamento à War Resisters League e o Writers and Editors War Tax Protest. Recusou-se a pagar impostos em protesto contra a guerra, inspirada na desobediência de Thoreau. Passou a integrar o coletivo anti-guerra RESIST, conclamando os indivíduos a se tornarem defensores da mudança, ao vincular a experiência pessoal à justiça e reforma social. E vieram Relearning the Alphabet, To Stay Alive – poemas com uma coleção de cartas anti-Guerra do Vietnã, noticiários, entradas de diário e conversas. Depois Footprints, The Freeing of the Dust, Life in the Forest e a Collected Earlier Poems 1940–1960. Sozinha dedicou-se à educação morando em Massachussets, Boston, Palo Alto, Stanford e a descoberta dos cadernos da mãe e pai para resolver conflitos pessoais e religiosos. Foi aí que apareceram Pig Dreams: Scenes from the Life of Sylvia, Candles in Babylon, Oblique Prayers: New Poems, Breathing the Water e A Door in the Hive. Mudou-se para Seattle para admirar apaixonadamente o Monte Rainier. Aposentou-se para realizar leituras dos seus poemas pelos USA e Grã-Bretanha, protestando contra os ataques ao Iraque. Surgem Evening Train e A Door in the Hive / Evening Train. Um diagnóstico com linfoma e o sofrimento com pneumonia e laringite aguda. Mesmo assim prosseguia com palestras e conferências, ressaltando a beleza da linguagem e a feiura dos horrores da guerra: a violência é uma válvula de escape... Por fim publica Sands of the Well e, logo em seguida, a morte leva-a para sempre. Veja mais abaixo & mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Um poeta que articule os medos e horrores do nosso tempo é necessário para que os leitores entendam o que está acontecendo, realmente entendam, não apenas saibam, mas sintam: e deve ser acompanhado por uma disposição por parte daqueles que escrevem de tomar medidas adicionais para acabar com as grandes misérias que registram... Todos os dias, todos os dias, ouço o suficiente para preencher um ano de noites com dúvidas... Nada do que fazemos tem a rapidez, a segurança, a inteligência profunda que viver em paz teria... Mas nós apenas começamos a amar a terra. Nós apenas começamos a imaginar a plenitude da vida. Como poderíamos nos cansar da esperança? - há tanta coisa em broto... Pensamento da poeta britânica Denise Levertov (1923–1997), autora do famoso poema Como eles eram?: O povo do Vietnã \ usava lanternas de pedra?\ Eles realizavam cerimônias\ para reverenciar a abertura dos brotos?\ Eles eram inclinados ao riso silencioso?\ Eles usavam osso e marfim,\ jade e prata, como ornamento?\ Eles tinham um poema épico?\ Eles distinguiam entre fala e canto?\ Senhor, seus corações leves se transformaram em pedra.\ Não se lembra se em jardins\ jardins de pedra iluminavam caminhos agradáveis.\ Talvez eles se reunissem uma vez para se deliciar com a flor,\ mas depois que seus filhos foram mortos\ não havia mais brotos.\ Senhor, o riso é amargo para a boca queimada.\ Um sonho atrás, talvez. O ornamento é para alegria.\ Todos os ossos foram carbonizados.\ não é lembrado. Lembre-se,\ a maioria era camponesa; sua vida\ era em arroz e bambu.\ Quando nuvens pacíficas se refletiam nos arrozais\ e os búfalos de água pisavam com segurança ao longo dos terraços,\ talvez os pais contassem histórias antigas aos filhos.\ Quando as bombas quebravam aqueles espelhos,\ havia tempo apenas para gritar.\ Ainda há um eco\ de sua fala que era como uma canção.\ Foi relatado que seu canto lembrava\ o voo de mariposas ao luar.\ Quem pode dizer? Está silencioso agora. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A alegria é como um dia agitado; mas a paz divina é como uma noite tranquila... Veja como o tempo faz toda a tristeza desaparecer. Os sonhos se tornam sagrados quando colocados em ação; o trabalho se torna belo através do sonho estrelado, mas onde cada um flui sem se misturar, ambos são infrutíferos e em vão... Pensamento da poeta britânica Adelaide Anne Procter (1825-1864). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM MAIS FALOU: Quem se entrega à tristeza renuncia à plenitude da vida. Para sobreviver, planeje a esperança... Em tempos de incerteza e desesperança, é essencial desenvolver projetos coletivos a partir dos quais planear a esperança juntamente com outros... Pensamento do psiquiatra e psicanalista suiço Enrique Pichon Rivière (1907-1977). Veja mais aqui.

 

O PEDANTE NOS ENSAIOS – O jurista, filósofo, escritor e humanista francês Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) inventou os ensaios pessoais ao conceber suas obras sob a denominação Ensaios (Abril Cultural, 1987) analisando as opiniões, instituições e costumes, bem como sobre os dogmas da sua época e observando a generalidade da humanidade como objeto de estudo. Dele destaco Pedantismo, no capítulo XXXV, do Livro I dos seus Ensaios: [...] Dionísio caçoava dos astrólogos que cuidavam de saber das desgraças de Ulisses mas ignoravam as próprias; dos músicos que afinam suas flautas mas não os seus costumes; dos oradores que estudam para discutir a justiça mas não a praticam. Se a sua alma não se aperfeiçoa, se seus juízos não se tornam mais lúcidos, melhor fora que o estudante gastasse o tempo a jogar péla, pois ao menos o corpo ele o teria mais ágil. Observai-o de volta após quinze ou dezesseis anos: nada se fará dele; o que trouxe a mais é o grego e o latim, que o fizeram mais tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o espírito cheio e voltou balofo; incharam-no e continuou vazio. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

Imagem: Erótico, do desenhista, ilustrador, quadrinista, caricaturista, animador e editor do blog RabisqueiraLuhan Dias.

Curtindo a comédia Lisztomania (1975), roteiro e direção de Ken Russel com músicas de Franz Liszt, Richard Wagner, Rick Wakeman & Roger Daltrey.



O MORTO E ALUA – Uma lenda recolha do gênese africano, recolhida duma seleção de Fernando Correia da Silva, (Maravilhas do conto africano - Cultrix, 1962), narra a relação de um morto com a lua: Um ancião vê um morto banhado pela claridade da lua. Reúne grande número de animais e diz-lhes: - Qual de vós bravos, quer encarregar-se de passar o morto ou a lua para a outra margem do rio? Apresentam-se duas tartarugas: a primeira que tem as patas compridas carrega a lua e chega sã e salva com ela à margem oposta; a outra que tem as patas curtas, carrega o morto e se afoga. Por isso a lua morte reaparece todos os dias e o homem que morre não volta nunca. Veja mais aqui.

MEU POVO, MEU POEMA – Uma das maiores personalidades vivas da poesia brasileiro é, sem dúvida, o premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar que foi um dos fundadores do Neoconcretismo e ocupante da cadeira 37 na Academia Brasileira de Letras. No seu livro Dentro da noite veloz (José Olympio, 1975), destaco Meu povo, meu poema: Meu povo e meu poema crescem juntos / como cresce no fruto / a árvore nova / No povo meu poema vai nascendo / como no canavial / nasce verde o açúcar / No povo meu poema está maduro / como o sol / na garganta do futuro / Meu povo em meu poema / se reflete / como a espiga se funde em terra fértil / Ao povo seu poema aqui devolvo / menos como quem canta / do que planta. Veja mais aqui, aquiaqui.

A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE – A comédia A importância de ser prudente (1895 - Aguilar, 1975), é a obra prima do escritor e dramaturgo britânico de origem irlandesa, Oscar Wilde (1854-1900), apresentando uma sátira da sociedade vitoriana nos seus estertores. Foi adaptada diversas vezes para o cinema, sendo a mais recente transformada em uma comédia romântica de 2002, dirigida por Oliver Parker, com título em português de Armadilhas do Coração. Do texto destaco os seguintes fragmentos em diálogos: [...] L. BRA. É satisfatório. Entre os deveres que esperam a gente no transcurso da vida e os deres que exigem da gente depois da morre, a terra deixou de ser, em todo caso, um benefício ou um prazer. Ela nos dá posição e nos impede de mantê-la. É tudo quanto se pode dizer a respeito de terras. JOÃO. Tenho uma casa de campo com algumas terras a ela anexas, é claro, cerca de mil e quinhentos acres, creio eu. Mas minha verdadeira renda não porém disto. De fato, pelo que tenho podido comprovar, os caçadores furtivos são as únicas pessoas que tiram alguma coisa dela. [...] ALGERNON. É um trabalho terrivelmente duro não fazer nada. Mas não me importo de trabalhar duramente, contanto que não haja objetivo definido. Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.

BATE PAPO VESPERTINO – Desde que nos conhecemos no Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva que todas as tardes privo da oportunidade de estreitar tanto amizade como conhecimentos com o graduando de Psicologia e pesquisador, Maurício da Silva Gomes. Todas as tarde conversamos e, intermitentemente, contamos com a presença dos amigos João do curso de Direito e de amigos do curso de Psicologia, a exemplo do Darnley Tenório que também participa do nosso grupo de pesquisa, entre outros. Ontem o Maurício me chegou com duas laudas digitadas para ler.  Continha o título Um olhar sobre o homem. Li, gostei e destaco um trecho aqui: Outrora pensava outro sábio. — Viver é uma obra de arte, eu sou uma obra de arte, nós somos obras de arte! E não se equivoque, pois esta arte não possui criador além da potência, da sua vontade de potência, da nossa vontade de potência. E quando dizeis: encontrei a dor, porém, viver na dor é mais vantajoso do que viver no nada. Assim eu te pego niilista, pois mundo é perfeito! Mas saiba que ele pode te maltratar. E o que o homem deve fazer? O homem, como tal e qual, deve se superar. Não mais querer o não querer, querer apenas se superar. Veja o texto completo aqui e mais aqui.

PERDAS E DANOS – Um inesquecível filme, principalmente pela sempre maravilhosíssima atuação da atriz francesa Juliette Binoche, é o drama britânico-francês Perdas & Danos (Damage, 1992), dirigido pelo cineasta Louis Malle (1932-1995), com roteiro de David Hare e baseado no romance de Josephine Hart.  A dupla Binoche e Jeremy Irons vive um envolvimento entre nora e sogro, bem ao gosto do diretor de sempre trazer temas polêmicos e críticos dos valores burgueses, expressando as angustias sociais humanas com temática como suicídio, liberação feminina, pedofilia, incesto, entre outros. Veja mais aqui, aquiaquiaqui.

 

HOMENAGEM ESPECIAL
VIRGINIA LANE
Como todo dia é dia da mulher, hoje é dia de homenagear a atriz, cantora e vedete brasileira Virginia Lane (1920-2014). Veja mais aqui.


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A vida é uma canção de amor & Milo Manara aqui.

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A saga do Padre Bidião aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a língua dá no dente do alcaguete, sai de riba que lá vem o enterro voltando aqui.
Pode até ser, mas se não for, nunca será, Lina Cavalieri, Chris Maher & Eloir Amaro Júnior aqui.
A desmedida correria para perder o bom da vida, Heitor Villa Lobos, Francis Bacon & Fúlvio Pennnacchi aqui.
O maravilhoso mistério da vida, Ana Torroja, Rebecca West, Alan Bridges, Marie-Louise Garnavault & Julie Christie aqui.
Quem quer diferente tem que fazer diferente, Cândido Portinari, Xiomara Fortuna, Marcus Garvey & Emmanuel Villanis aqui.
O prazer de amar e de ser amado, Joyce, Bigas Luna, Aitana Sánchez-Gijón & Luciah Lopez aqui.
Todo dia um novo ano, Egberto Gismonti, John Poppleton, Sy Miller & Jill Jackson aqui.
Betinho, Augusto de Campos, SpokFrevo Orquestra, Alan Parker, Graça Carpes, Rinaldo Lima, Bader Burihan Sawaya & Tempo de Morrer aqui.
Galileu Galilei & Bertolt Brecht, Nise da Silveira, Egberto Gismonti, Michelangelo Antonioni, Irena Sendler, Glória Pires, Anna Paquin & Charles André van Loo aqui.
Imre Madách & A tragédia humana, Pierre Rode, Robert Joseph Flaherty, Franz West, Vera Ellen, Anne Chevalie & Sarah Clarke aqui.
Adolfo Bécquer, Paulo Moura, Pedro Onofre, Antônio Miranda & Gárgula – Revista de Literatura, Marcos Rey & Marta Moyano, Mihaly von Zick, Associação de Blogs Literários do Nordeste (ABLNE), Virna Teixeira & Programa Tataritaritatá aqui.
Marlos Nobre, André Breton, Nikos Kazantzákis, Toni Morrison, Milos Forman & Natalie Portman, Adolf Ulrik Wertmüller & Tanussi Cardoso aqui.
Nicolau Copérnico, Carson McCullers, Alberto Dines & Observatório da Imprensa, Rogério Tutti, Capinam, István Szabó, Krystyna Janda & Max Klinger aqui.
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História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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