O PAPA-FIGO DE ALAGOINHANDUBA - De primeira apareceu numa certa manhã
ensolarada, no meio de um matagal denso nos arredores da cidade, duas crianças
mortas. E com um detalhe: parecia que haviam chupado o sangue e arrancado o
fígado delas. Quem seria capaz de tal malvadeza? Quem os pais? Ninguém sabia. Que
coisa! Será de gente daqui mesmo ou doutro canto? O doutor Teje-Preso logo
anunciou em cima da bucha da sua ruindade: Quem quer que seja, vai feder nas
barras da justiça. E ao anoitecer, lá estava ele com uma cambada de jagunço até
de um olho so, tudo armado até os dentes para caçar o responsável daquele
crime. Uma semana de vigilância e nenhum rastro do criminoso. Um mês depois, já
quase esquecido o incidente, novamente duas crianças foram encontradas nas
mesmas condições, só que agora no meio de um canavial. E só pega de duas é?
Esse negócio está cheirando mal. Passou a ter vigilância por tempo
indeterminado até se pegar o salafrário. Um mês certinho depois, a cidade
amanhecia com uma nova bomba: desta vez, três crianças encontradas nas
pedrarias do rio, memo modus operandi.
Isso vai feder! Ah, se vai! Todo mundo já sabia que a fúria de Teje-Preso
estava nas alturas, cagando raio a torto e a direito. Formou batalhão diário
para caçar seja por onde fosse, brenhas, chãs, vielas, rodagens, veredas, em
todo o território municipal. Agora a gente pega esse tarzinho. O primeiro
suspeito foi um padre estrangeiro que era peludo da cabeça aos pés: tinha pelos
no pau da venta, pela testa, uma tufa enorme na caixa dos peitos, até pelas
mãos e pés. É ele. Esse padre havia se oferecido como voluntário para a Igreja
Bidiônica e lá prestava os seus serviços. Um dia lá, andando de madrugada pelas
ruas, foi atocaiado e preso em flagrante. Enquadraram o homem embaixo da maior
pisa, dele ficar molinho na cela por dias. Não tivesse ficado sob a máxima
vigilância cada segundo dos dias e das noites, estaria lascado. Ainda estava
desacordado da sova, quando receberam a notícia de quatro crianças encontradas
mortas numa moita atrás dum morro distante. E da mesma forma dos anteriores. Foi
ele não, o bicho ainda está solto. Tiraram o vitimado às pressas pra
emergência, trataram dele com tudo do bom e do melhor e arregaçaram as mangas e
as catracas do juízo. A investigação cresceu, corria solta a boataria de
tráfico de crianças e aquelas deveria ser o refugo. É não, meu! Ora se não é! E
saíram caçando pedófilos, padrinhos e achegados. Na tuia, todo mundo era
suspeito. Depois de muita discussão, tiraram a primeira conclusão: o celerado
só atuava em noite de lua cheia. Mas num é mesmo? Rapaz, será lobisomem? Vampiro?
Esse bicho vai pagar caro. Deve ser um papa-figo! A gente tem que pegar esse
fidapeste! E se danaram a ficar de prontidão toda noite de lua cheia. Lá longe
um uivado de arrepiar a coragem, frio na barriga e os cabelos em pé. É ele. Quem
vai? Cadê coragem! Mesmo assim, saíram cavoucando tudo. Só de manhãzinha lá
estava: duas criancinhas. Desse jeito o bicho vai comer os anjinhos todos da
cidade. Entrava mês, saía semestre e o monstro escapulindo. Foi bem dois anos ou
mais de caça, contam. Mas malassombro também vacila e cercaram um que estava
cheirando cinza no mato. Pegamos o desgraçado! É hoje ou nunca! Quando atalharam
que seguraram o monstro, arriaram a lenha, dele impar quase mortinho da silva. Foi
aí o engano: ouviu-se uma barulhada dentro do mato de passar por eles na maior
carreira. Quem tem boa pontaria? Oxe, só se ouviu o pipoco. A coisa caiu, mas
levantou-se ligeiro. Dois, três, muitos disparos, a criatura já era. Arrodearam
no escuro e meteram bala na besta. Arrastaram-no mato afora até chegar numa
rodagem quase iluminada. Num dá pra ver direito! Bota luz! Era mesmo um
papa-figo crivado de balas. Vamos levar pra delegacia pro juiz ver que pegamos
esse desgraçado. Foram avisá-lo do feito. Em casa, nem sinal dele. Lá pras
tantas, viram aquilo se mexendo, se modificando. Lá estava ele peludo, inchado,
unhas enormes, orelhas e dentes de vampiro. Era ele. Quando deram fé, ninguém
acreditou: era o juiz Teje-Preso. Como é? Isso mesmo. Não acredito! Verdade. Num
brinca! Só vendo. E foi. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS
[...] Da agenda privada todos falam. A forma das
intervenções varia, mas os temas que dizem respeito à vida privada de cada um
são tratados em circuitos de relações mais ou menos abrangentes. Por isso a
questão a que nos referimos diz respeito a temas da agenda pública. Essa
limitação temática torna os meios de comunicação fator decisivo na construção e
imposição da opinião dominante. Se, como vimos, são os meios que oferecem o menu
temático comum, são também os que têm a prerrogativa de indicar qual o enfoque
a ser dado a cada um desses temas. No entanto, mesmo na discussão de assuntos
políticos, por exemplo, outros fatores, além da opinião da mídia, influenciam uma
eventual manifestação pública. A competência específica para abordar o tem é um
deles. [...] Para o senso comum e
alguns comunicólogos mediáticos, a mídia socializa o conhecimento. O fato de a
recepção, sobretudo televisiva, se dar de forma intensa em todos os niveis
sociais serve de argumento para que se acredite na tese homogeneizadora da
veiculação informativa. No entanto, as pesquisas realizadas sobre os efeitos da
recepção informativa mostram o contrário. Os grupos de maior capital cultural,
que ocupam os niveis mais altos na escala socioeconomica, apresentam uma
absorção da informação sempre superior aos grupos de nivel de instrução
inferior. A distância de conhecimento entre esses grupos, em vez de diminuir,
aumenta. Os meios de comunicação servem como instrumento de reprodução das
desigualdades culturais. [...]. Trecho de Competência específica, extraída da obra Ética na comunicação: da informação ao receptor (Moderna, 1995), do
professor e jornalista Clóvis de Barros Filho, com a colaboração de Pedro
Lozano Bartolozzi. Veja mais aqui.
POEMA OBSCENO DE FERREIRA GULLAR
façam festa / cantem dancem / que eu faço o poema
duro / o poema-murro / sujo / como a miséria brasileira / Não se detenham: /
façam a festa / Bethânia Martinho / Clementina / Estação Primeira de Mangueira
/ Salgueiro / gente de Vila Isabel e Madureira / todos / façam / a nossa festa
/ enquanto eu soco este pilão / este surdo / poema / que não toca no rádio /
que o povo não cantará / (mas que nasce dele) / Não se prestará a análises
estruturalistas / não entrará nas antologias oficiais / Obsceno / como o
salário de um trabalhador aposentado / o poema / terá o destino dos que habitam
o lado escuro do país / - e espreitam.
Poema obsceno, extraído de Toda
poesia - 1950-1980 (Civilização Brasileira, 1981), do premiado
e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira
Gullar (1930 – 2016). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE RUA DE CLAIRE STREETART
A arte de rua da artista francesa Claire Streetart. Veja mais aqui.
PINDORAMA DE AVANI AZEVEDO
Os ventos vão e voltam provocando ondas, / no mar
de poesias dos canaviais / onde a essência dos poetas, ali, adormecida, / que
para tantas gerações 'inda desconhecida / relembrando páginas que não voltarão:
JAMAIS! / Palmares - é UNA e PIRANGY / PALMARES - é TROMBETAS na sua hisrtória
/ PALMARES -é CONCEIÇÃO DOS MONTES / PALMARES - é Arte e Cultura a todo
instante / PALMARES - é PINDORAMA de viva memória! Do Campanário de tua bela
Catedral / Os sinos dobravam anunciandop as Missas / teus filhos viveram para
te defender / o Brasil ainda vai te conhecer / esta terra dos Poetas e dos
Artistas! / A passarada canta a letra de teu hino / este teu povo é feliz igual
criança / porque tua arte tem a grande realeza / porque és terra de cultura e
de grandeza / porque és terra que promove a Esperança! / PALMARES - és UNA e
PIRANGY escrevendo mais um verso, / és TROMBETA onde a poesia de declama / na
proteção do Manto Azul de Nossa Senhora dos Montes / onde os ventos balançam as
palmeiras e suas fontes / onde os pássaros gorjeiam por ti, oh, PINDORAMA!
Poema extraído da obra
Pindorama (2018), do poeta, professor graduado em Letras e pós-graduado em
Literatura pela Famasul, Avani Azevedo.
O autor teve artigos publicados na Revista A
Região, entre os anos 1985/86; participou da antologia Poetas da Famasu (2006)
e autor do estudo Contribuição
Sociológica de Ascenso Ferreira (2015), em parceria com a escritora Socorro
Duran. O livro reune o histórico da cidade dos Palmares (PE), da Academia
Palmarense de Letras (APLE), do Colégio Diocesano dos Palmares - 25 anos de
Fundação, traz o Hino da EREM Palmares, datas importantes, cronológico, jornalistas,
jornais que contaram a história da imprensa local, autores palmarenses,
ilustres palmarenses não nascidos no Município, poetas que declamam sua terra e
referências bibliotecárias. Veja mais aqui e aqui.
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