sexta-feira, janeiro 18, 2019

FERREIRA GULLAR, CLAIRE STREETART, CLÓVIS DE BARROS FILHO, AVANI AZEVEDO & O PAPA-FIGO DE ALAGOINHANDUBA


O PAPA-FIGO DE ALAGOINHANDUBA - De primeira apareceu numa certa manhã ensolarada, no meio de um matagal denso nos arredores da cidade, duas crianças mortas. E com um detalhe: parecia que haviam chupado o sangue e arrancado o fígado delas. Quem seria capaz de tal malvadeza? Quem os pais? Ninguém sabia. Que coisa! Será de gente daqui mesmo ou doutro canto? O doutor Teje-Preso logo anunciou em cima da bucha da sua ruindade: Quem quer que seja, vai feder nas barras da justiça. E ao anoitecer, lá estava ele com uma cambada de jagunço até de um olho so, tudo armado até os dentes para caçar o responsável daquele crime. Uma semana de vigilância e nenhum rastro do criminoso. Um mês depois, já quase esquecido o incidente, novamente duas crianças foram encontradas nas mesmas condições, só que agora no meio de um canavial. E só pega de duas é? Esse negócio está cheirando mal. Passou a ter vigilância por tempo indeterminado até se pegar o salafrário. Um mês certinho depois, a cidade amanhecia com uma nova bomba: desta vez, três crianças encontradas nas pedrarias do rio, memo modus operandi. Isso vai feder! Ah, se vai! Todo mundo já sabia que a fúria de Teje-Preso estava nas alturas, cagando raio a torto e a direito. Formou batalhão diário para caçar seja por onde fosse, brenhas, chãs, vielas, rodagens, veredas, em todo o território municipal. Agora a gente pega esse tarzinho. O primeiro suspeito foi um padre estrangeiro que era peludo da cabeça aos pés: tinha pelos no pau da venta, pela testa, uma tufa enorme na caixa dos peitos, até pelas mãos e pés. É ele. Esse padre havia se oferecido como voluntário para a Igreja Bidiônica e lá prestava os seus serviços. Um dia lá, andando de madrugada pelas ruas, foi atocaiado e preso em flagrante. Enquadraram o homem embaixo da maior pisa, dele ficar molinho na cela por dias. Não tivesse ficado sob a máxima vigilância cada segundo dos dias e das noites, estaria lascado. Ainda estava desacordado da sova, quando receberam a notícia de quatro crianças encontradas mortas numa moita atrás dum morro distante. E da mesma forma dos anteriores. Foi ele não, o bicho ainda está solto. Tiraram o vitimado às pressas pra emergência, trataram dele com tudo do bom e do melhor e arregaçaram as mangas e as catracas do juízo. A investigação cresceu, corria solta a boataria de tráfico de crianças e aquelas deveria ser o refugo. É não, meu! Ora se não é! E saíram caçando pedófilos, padrinhos e achegados. Na tuia, todo mundo era suspeito. Depois de muita discussão, tiraram a primeira conclusão: o celerado só atuava em noite de lua cheia. Mas num é mesmo? Rapaz, será lobisomem? Vampiro? Esse bicho vai pagar caro. Deve ser um papa-figo! A gente tem que pegar esse fidapeste! E se danaram a ficar de prontidão toda noite de lua cheia. Lá longe um uivado de arrepiar a coragem, frio na barriga e os cabelos em pé. É ele. Quem vai? Cadê coragem! Mesmo assim, saíram cavoucando tudo. Só de manhãzinha lá estava: duas criancinhas. Desse jeito o bicho vai comer os anjinhos todos da cidade. Entrava mês, saía semestre e o monstro escapulindo. Foi bem dois anos ou mais de caça, contam. Mas malassombro também vacila e cercaram um que estava cheirando cinza no mato. Pegamos o desgraçado! É hoje ou nunca! Quando atalharam que seguraram o monstro, arriaram a lenha, dele impar quase mortinho da silva. Foi aí o engano: ouviu-se uma barulhada dentro do mato de passar por eles na maior carreira. Quem tem boa pontaria? Oxe, só se ouviu o pipoco. A coisa caiu, mas levantou-se ligeiro. Dois, três, muitos disparos, a criatura já era. Arrodearam no escuro e meteram bala na besta. Arrastaram-no mato afora até chegar numa rodagem quase iluminada. Num dá pra ver direito! Bota luz! Era mesmo um papa-figo crivado de balas. Vamos levar pra delegacia pro juiz ver que pegamos esse desgraçado. Foram avisá-lo do feito. Em casa, nem sinal dele. Lá pras tantas, viram aquilo se mexendo, se modificando. Lá estava ele peludo, inchado, unhas enormes, orelhas e dentes de vampiro. Era ele. Quando deram fé, ninguém acreditou: era o juiz Teje-Preso. Como é? Isso mesmo. Não acredito! Verdade. Num brinca! Só vendo. E foi. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] Da agenda privada todos falam. A forma das intervenções varia, mas os temas que dizem respeito à vida privada de cada um são tratados em circuitos de relações mais ou menos abrangentes. Por isso a questão a que nos referimos diz respeito a temas da agenda pública. Essa limitação temática torna os meios de comunicação fator decisivo na construção e imposição da opinião dominante. Se, como vimos, são os meios que oferecem o menu temático comum, são também os que têm a prerrogativa de indicar qual o enfoque a ser dado a cada um desses temas. No entanto, mesmo na discussão de assuntos políticos, por exemplo, outros fatores, além da opinião da mídia, influenciam uma eventual manifestação pública. A competência específica para abordar o tem é um deles. [...] Para o senso comum e alguns comunicólogos mediáticos, a mídia socializa o conhecimento. O fato de a recepção, sobretudo televisiva, se dar de forma intensa em todos os niveis sociais serve de argumento para que se acredite na tese homogeneizadora da veiculação informativa. No entanto, as pesquisas realizadas sobre os efeitos da recepção informativa mostram o contrário. Os grupos de maior capital cultural, que ocupam os niveis mais altos na escala socioeconomica, apresentam uma absorção da informação sempre superior aos grupos de nivel de instrução inferior. A distância de conhecimento entre esses grupos, em vez de diminuir, aumenta. Os meios de comunicação servem como instrumento de reprodução das desigualdades culturais. [...]. Trecho de Competência específica, extraída da obra Ética na comunicação: da informação ao receptor (Moderna, 1995), do professor e jornalista Clóvis de Barros Filho, com a colaboração de Pedro Lozano Bartolozzi. Veja mais aqui.

POEMA OBSCENO DE FERREIRA GULLAR
façam festa / cantem dancem / que eu faço o poema duro / o poema-murro / sujo / como a miséria brasileira / Não se detenham: / façam a festa / Bethânia Martinho / Clementina / Estação Primeira de Mangueira / Salgueiro / gente de Vila Isabel e Madureira / todos / façam / a nossa festa / enquanto eu soco este pilão / este surdo / poema / que não toca no rádio / que o povo não cantará / (mas que nasce dele) / Não se prestará a análises estruturalistas / não entrará nas antologias oficiais / Obsceno / como o salário de um trabalhador aposentado / o poema / terá o destino dos que habitam o lado escuro do país / - e espreitam.
Poema obsceno, extraído de Toda poesia - 1950-1980 (Civilização Brasileira, 1981), do premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar (1930 – 2016). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE RUA DE CLAIRE STREETART
A arte de rua da artista francesa Claire Streetart. Veja mais aqui.

PINDORAMA DE AVANI AZEVEDO
Os ventos vão e voltam provocando ondas, / no mar de poesias dos canaviais / onde a essência dos poetas, ali, adormecida, / que para tantas gerações 'inda desconhecida / relembrando páginas que não voltarão: JAMAIS! / Palmares - é UNA e PIRANGY / PALMARES - é TROMBETAS na sua hisrtória / PALMARES -é CONCEIÇÃO DOS MONTES / PALMARES - é Arte e Cultura a todo instante / PALMARES - é PINDORAMA de viva memória! Do Campanário de tua bela Catedral / Os sinos dobravam anunciandop as Missas / teus filhos viveram para te defender / o Brasil ainda vai te conhecer / esta terra dos Poetas e dos Artistas! / A passarada canta a letra de teu hino / este teu povo é feliz igual criança / porque tua arte tem a grande realeza / porque és terra de cultura e de grandeza / porque és terra que promove a Esperança! / PALMARES - és UNA e PIRANGY escrevendo mais um verso, / és TROMBETA onde a poesia de declama / na proteção do Manto Azul de Nossa Senhora dos Montes / onde os ventos balançam as palmeiras e suas fontes / onde os pássaros gorjeiam por ti, oh, PINDORAMA!
Poema extraído da obra Pindorama (2018), do poeta, professor graduado em Letras e pós-graduado em Literatura pela Famasul, Avani Azevedo. O autor teve artigos publicados na Revista A Região, entre os anos 1985/86; participou da antologia Poetas da Famasu (2006) e autor do estudo Contribuição Sociológica de Ascenso Ferreira (2015), em parceria com a escritora Socorro Duran. O livro reune o histórico da cidade dos Palmares (PE), da Academia Palmarense de Letras (APLE), do Colégio Diocesano dos Palmares - 25 anos de Fundação, traz o Hino da EREM Palmares, datas importantes, cronológico, jornalistas, jornais que contaram a história da imprensa local, autores palmarenses, ilustres palmarenses não nascidos no Município, poetas que declamam sua terra e referências bibliotecárias. Veja mais aqui e aqui.
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