Se você
ler, se diverte. Isso tem sido a base dos meus mangás. A vida não é apenas
diversão, e isso serve pras crianças também. Mas garantir a diversão pelo menos
durante o tempo de leitura, é o que eu chamo de mangá...
Pensamento
da premiada mangaká japonesa Rumiko Takahashi.
A SOLIDÃO DE
ADELAIDE – O Sol da manhã de Bloomsbury e os versos à
flor da pele britânica adolescente impressos no Household Words e All the Year
Round. Olhos vivos invejáveis nas paisagens de Bedford Square, herdados da
poesia paterna e dos afagos da mãe. Aprendeu com as visitas de Elizabeth
Haskell, a amizade familiar com Dickens, Leigh Hunt e Charles Lamb, as leituras
de Wordsworth e William Hazlitt. No ventre a dor das mulheres desempregadas e
sem-teto, dividida com a Bessie e a admiração de Fanny Kemble: "Papai é
um poeta. Eu só escrevo versos". Ávida leitora desde então levaram-na
ao Queen’s College para que conhecesse John Pyke Hullah, Charles Kingsley e
Henry Morley. Seus manuscritos no álbum minúsculo, lá constava o Ministering
Angels para o Heath's Book of Beauty. Escondia-se sob o pseudônimo
de Mary Berwick com poemas estampados pelas celebrações mais altissonantes. Era
dela a noite solitária de Londres, repleta de escritos feministas nas páginas das
revistas para comporem o Legends and Lyrics. A vez do altruísmo sem precisão
católica e com a Victoria Regia: uma empresa editorial explicitamente
feminista. Era mais que humana apenas indignada com a pobreza e os
marginalizados. Foi por isso que ganhou a predileção da Rainha Vitória,
tornando-a a mais popular poeta cantada em hinos e canções levadas pelas senhoras
de Langham Place, para fundação do English Woman’s Journal e da Sociedade para
Promoção do Emprego das Mulheres. Quase realizada com A Chaplet of Verses.
O noivo oculto e o espírito animador com seus sentimentos reprimidos, talvez
Matilda Hays saiba, o terror mórbido da incompreensão alheia, pouco importa o que
dizem ou pensam, as suas mãos podem contar com meu coração.
DITOS
& DESDITOS - Nenhuma estrela se perde depois que a vemos. Sempre podemos ser o que
poderíamos ter sido... Pensamento da poeta britânica Adelaide Anne Procter
(1825-1864), autora do poema The Homeless Poor (O Pobre Sem-teto): Nesta
mesma rua, a esta mesma hora, \ no ar amargo e chuva de neve, \ agachada em um
umbral estava uma mãe, \ com seus filhos trêmulos a seus pés. \ Estava em
silêncio — quem poderia ouvir sua súplica? \ Os homens e os animais estavam em
seus abrigos — mas ela deve permanecer \ desabrigada na grande e impiedosa cidade,
\ até a aurora do dia de inverno. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM
FALOU: Eu não preciso de nenhum amigo. Eu prefiro inimigos. Eles são uma companhia melhor e seus sentimentos em
relação a você são sempre genuínos. Pensamento do poeta inglês Dylan Thomas
(1914-1953). Veja mais aqui e aqui.
FRAGMENTO
DE DISCURSO AMOROSO - [...] alguém que fala em si mesmo,
amorosamente, em face do outro (o objeto amado), que não fala [...] nada
tenho a dizer a você, senão que este nada é a você que o digo [...] A
linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu
tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras. Minha
linguagem treme de desejo. A comoção vem de um duplo contato: de um lado, toda
uma atividade de discurso vem realçar discretamente, indiretamente, um significado
único, que é “eu te desejo”, e libera-o, alimenta-o, ramifica-o, fá-lo explodir
[...]. Falar amorosamente, é gastar infinitamente, sem crise; é praticar uma
relação sem orgasmo. [...] A esse deus, ó Fedro, dedico este discurso...
Não podemos dar linguagem (como fazê-la passar de uma mão para outra?), mas
podemos dedicá-la – pois que o outro é um pequeno deus. O objeto dado é
reabsorvido no dizer suntuoso, solene, da consagração, no gesto poético da
dedicatória [...]; é o princípio mesmo do Hino. Não podendo dar nada,
dedico a própria dedicatória, no que se absorve tudo o que tenho a dizer
[...]. O canto é o suplemento precioso de uma mensagem vazia, inteiramente
contida em seu endereçamento, pois o que dou cantando é ao mesmo tempo meu
corpo (através da minha voz) e o mutismo com o qual você o golpeia. (O amor é
mudo, diz Novalis; apenas a poesia o faz falar.) O canto nada quer dizer: é por
isso que você entenderá por fim que o estou dando a você; tão inútil quanto o
fiapo de lã, a pedrinha, oferecidos à mãe pela criança. [...] Entretanto,
salvo o caso do Hino, que confunde o envio e o próprio texto, o que se segue à
dedicatória (a saber, a própria obra) tem pouca relação com essa dedicatória. O
objeto que dou não é mais tautológico [...] é interpretável; tem um
sentido (sentidos) que ultrapassa de muito seu endereçamento; por mais que eu
escreva seu nome em minha obra, é para “eles” que ela foi escrita (os outros,
os leitores). É, pois, por uma fatalidade da própria escrita que não se pode
dizer de um texto que ele é amoroso, mas apenas, a rigor, que foi feito
“amorosamente”, como um bolo ou uma pantufa bordada. E mesmo: menos ainda que
uma pantufa! Pois a pantufa foi feita para seu pé [...]. Mas a escrita,
esta não dispõe desta complacência. [...]. Trechos extraídos da obra Fragmentos
de um Discurso Amoroso (Martins Fontes, 2003), do escritor, sociólogo,
filósofo, semiólogo e crítico literário francês, Roland Barthes
(1915-1980). Veja mais aqui e aqui.
VOZES DOS
DEUSES - [...] A sabedoria e o conhecimento estão em toda parte, mas a estupidez também [...] É melhor conhecer a dor rápida da verdade do que a dor
contínua de uma falsa esperança há muito mantida. [...] Os mortais não precisavam de Deus para ordenar que matassem uns aos outros. Eles eram perfeitamente capazes de
encontrar razões para fazê-lo sozinhos. [...] A injustiça sempre chama a atenção dos jovens, disse ela. Mas à medida que
envelhecemos, descobrimos como é difícil mudar o mundo e aprendemos a desviar
os olhos daquilo que não podemos consertar até não vermos mais injustiça em tudo. [...]. Trechos extraídos da obra Voice of the Gods (Harper Voyager, 2007), da escritora australiana Trudi Canavan.
Veja mais aqui e aqui.
EM UMA
ANDANÇA - Numa gentil cidadezinha entrei. \ Nas ruas, rubro poente,
o poente punha cor. \ De uma janela aberta, eis – \ por entre flores ricamente
em flor - \ quem vêm pairando sons de sino em ouro \ e uma voz que eu diria
rouxinóis em coro \ fazendo as flores fremir, \ fazendo os ares bulir \ e em
rubro mais intenso incendiarem-se as rosas. \ No assombro ali fiquei, cravado
de prazer. \ De como me vi fora e os portais transpus \ já nem eu mesmo, juro,
sei dizer. \ Ao, como o mundo, aqui, é pura luz! \ E como o céu purpúreo ondula
em torvelinho \ e a cidade lá atrás se esfuma em ouro puro; \ o regato entre os
alnos, como murmura e como \ murmura ao fundo o moinho! \ Sinto-me como ébrio,
perdido do caminho - \ Ó musa, me tocaste o coração, bem sei, \ com um bafejo
de amor. Poema do escritor alemão Eduard Friedrich Mörike
(1804-1875).