AS MUITAS HILDAS
IMAGISTE... - Ela nasceu na comunidade moraviana de Bethlehem, filha de um
notável astrônomo e de uma pintora de forte espiritualidade – sempre se sentiu rejeitada
pela mãe e se decepcionara com o pai por abandonar tudo pela poesia. Ainda
jovem o Hilda's Book de Pound e os
estudos no Bryn Mawr College, escola que abandonou por conta da saúde
precária e as baixas notas. Assumia-se Edith
Gray para publicar historietas infantis no The Comrade. Tornou-se H.D. Imagiste no meio dos seus muitos
pseudônimos. Casou-se, teve uma filha no meio de tragédias: seu
irmão foi abatido no front da guerra, o que levou seu pai a ter um
derrame fatal. Era a única mulher entre irmãos exemplares, desajeitada,
desconfortável com seu corpo e altura, em conflito contra as normas da
sociedade: a prova de falência como mulher. Dedica-se à escrita com Sea Garden e The God. Com um
relacionamento aberto, engravida de um compositor. Contrai a gripe espanhola
depois de uma gestação de alto risco e quase morre. O casamento degringola com
as ameaças de interná-la em um sanatório. Foi salva pela herdeira milionária
que custeou seu tratamento, salvou-lhe a vida e o bebê, rejeitando o lugar
feminino no universo doméstico: nascia a escritora - Notes on Thought and Vision. Foi morar no Greenwich Village e de lá foi
pra Europa. Era o início da imagista original em Londres – a máscara
andrógina da sua sexualidade experimental, uma artista expatriada com
engajamento na vanguarda. O
horror da primeira guerra perseguia e fez o imagismo perder sentido: era a hora
de novos questionamentos: relembrava o irmão morto na guerra, o infarto do pai
com a notícia. Escreve ficções autobiográficas e aprisionada em sua reputação: As pessoas acham que sabem mais do que eu
sobre o que sou ou o que devo ser... E eu digo: quem é H.D.?... Logo perdera também a sua mãe e, quase
ao mesmo tempo, engravidara. Era a vez de fundar a revista Close-up e a produtora The Pool Group, na qual atua, mais os
escritos de Translations, Hymen, seguindo-se de Heliodora and Other Poems
e Hippolytus Temporizes. Viagens pelo Egito, Grécia e os Estados Unidos.
Foi se estabelecer na Suíça, quando nasceram os manuscritos de Paint it
Today, Asphodel e Palimpsest, inspirada pela poesia japonesa, as
leituras Safo e da literatura grega, estilo de escrita com vernaculidade austera.
Enfrentou
a neurose que bloqueava artistas e encontrou na psicanálise a cura para os
males da era moderna. Vivia no meio de casamentos
de fachada, triangulações amorosas, escritos em prosa e os conflitos entre
desejos hetero e homossexuais: o filme Bordeline, depois Red Roses
for Bronze. Vai para Viena fazer terapia: ela estava paranoica com a ascensão
do nazismo. Ela queria: virar toda a maré do pensamento humano... e
vieram Kora and Ka, Nights e The Hedgehog. Sentimentos despedaçados
e a segunda guerra: Minhas descobertas não são essencialmente uma panaceia.
Minhas descobertas são a base para uma relevante filosofia... Aparecem os
manuscritos de The Walls Do Not Fall e Tribute to the Angels. Um colapso
nervoso e a internação numa clínica, com Trilogy, Flowering of the
Rod e By Avon River. Os colapsos, as alucinações e o furor de sua
bissexualidade. Vivia personificações de Perseu inconformada com o estereótipo
feminino e no diário: Jamais me
senti completamente satisfeita com nenhum de meus livros, publicados ou não... A vida pessoal sucumbindo a colapsados
acontecimentos. Escreveu um odiento poema de repúdio contra o mestre velho e
não o publicou enquanto ele estivesse vivo: Eu trocaria os meus anos de vida pelos dele; não seria um
número tão generoso quanto eu desejava, mas faria alguma diferença... O inconsciente é uma maneira inusual
de pensar... Mais no diário: Advento e Escrito na parede – memórias
de antes do tudo. E foi a vez do Tribute
to Freud. Retorna à terapia e o manuscrito de End to Torment: A Memoir of Ezra Pound, New Directions. Voltou aos Estados Unidos: foi a primeira a
receber a medalha de honra da Academia Estadunidense de Letras e Artes, quando
estava estéril criativamente no consultório psicanalítico. Era a hora do Bid Me to Live e o retorno para a Suíça - Helen in Egypt, New Directions. Ali sofreu um ataque cardíaco, com seu epitáfio nos versos de seu poema Let
Zeus Record: Então, você pode dizer, \ Flor grega, êxtase grego \ Reivindica
para sempre\ Alguém que morreu\ Após a medida perdida\ De uma canção intricada...
Veja
mais abaixo & mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Dance até a terra dançar... Não precisamos saber, apenas ser:
deixar de lado a confusão de palavras gastas, razão e vaidade... Se você nem
mesmo entende o que as palavras dizem, como pode esperar julgar o que as
palavras escondem?... As palavras eram sua praga e suas palavras eram sua
redenção... Escrever. Amar é escrever. Pensamento da poeta estadunidense Hilda
Doolittle (1886-1961). Veja mais aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Todos nós temos maneiras comuns de nos identificarmos uns com os outros, e
acho que quando você aborda a música dessa forma orgânica, é quase
indescritível como ela conecta humanos e corações. Pensamento da cantora, atrz e escritora estadunidense Debby
Boone. Veja mais aqui.
DEZENOVE
MINUTOS - […] Se você desse seu coração a alguém e essa pessoa
morresse, ela o levaria com ela? Você passaria o resto da eternidade com um
buraco dentro de você que não poderia ser preenchido? [...] Você não precisa de água para sentir que está se afogando,
precisa? [...] Uma fórmula matemática para a felicidade: Realidade
dividida pelas Expectativas. Havia duas maneiras de ser feliz: melhorar sua
realidade ou diminuir suas expectativas. [...] Se você
passasse a vida se concentrando no que todos os outros pensavam de você, você
esqueceria quem você realmente é? E se o rosto que você mostrasse ao mundo fosse uma máscara... sem nada por
baixo? [...].
Trechos extraídos da obra Nineteen Minutes (Washington Square Press, 2008), da escritora
estadunidense Jodi Picoult, que na obra Keeping Faith (William Morrow
Paperbacks, 2006), expressou que: […] A verdade nem sempre
liberta; as pessoas
preferem acreditar em mentiras mais bonitas e bem embrulhadas [...]. No livro Second
Glance (Washington Square Press, 2008), ela expressa que: […] O amor não é um porque, é um não importa o quê. [...]. No
livro Change of Heart (Atria, 2008) assinala: [...] No espaço entre sim e não, há uma vida inteira. É a diferença entre o caminho que você
trilha e o que você deixa para trás; é a lacuna entre quem você pensou que poderia ser e quem você realmente é; é o espaço para as mentiras que você
contará a si mesmo no futuro. [...]. No livro Vanishing
Acts (Washington
Square Press, 2005) escreve: [...] São
necessárias duas pessoas para que uma mentira funcione: a pessoa que a conta e
a que acredita nela. [...]. Veja mais
aqui e aqui.
DOIS POEMAS - POEMA INACABADO, VERSÃO FINAL - você
sabe como é quando você \ começa a girar (as folhas caindo) ele pergunta \ com
uma calma gentil e polida: wulkan. \ a disposição das bordas a porcelana \ todas
as coisas na casa ele disse \os colocam em mente suas próprias necessidades:
fotos \ de batizados, iniciais em linho \ os edredons volumosos o \ sonho azul
de uma cômoda com \ pavão saltitante o vinho do ano do casamento – o \ deles,
isto é, ainda quente seus lábios alemães \ nas taças perto da pia. tínhamos
vergonha \ não de pegar, mas de olhar \ foi assim que chegamos.\ wulkan. figura
antiga para a vida. \ o humano empilhando-se em camadas \ atadas completamente
cinza prolífico \ e quente, endurecido – sentado em malas prontas \ em novas
casas por 30 anos: fugindo \ para o que outros fugiram. eles serraram \ a cama
os outros para combustível o único \ saco recuperado a perna de pau \ de um irmão
morto, eu posso ver \ suas mãos, avó, avô, pai, \ suas unhas, eles não perderam
\ tudo mantiveram quase todas \ as partes de seus corpos mantiveram algo \ da
alma – talvez \ alguns de nós deitem e façam amor \ na grama europeia, uma
torre se ergue \ é apenas de ferro e reconstruída \ o que é normal, um bonde \ passa
e o coração, wulkan \ bate seus cascos suavemente contra as paredes \ em um
antigo \ estábulo polonês. ESCONDIDO - como um cavalo altivo (e língua estrangeira) balançando \ e
rígido lamentavelmente não no táxi, mas na minha casa \ agora entrou eram
outras mulheres que meu marido \ despiu. o quarto incrustado \ com paredes
fibrosas então \ você não podia andar você tinha que voar os outros \ (em voo)
o tinham fundido ao telefone quando \ eu na escuridão dessa confusão total me
tornei \ o príncipe que não suportava olhar nenhum, enfeitado com um \ casaco
de pônei manchado. eu vou te mostrar, meu marido disse, a \ variedade de suas
próprias armadilhas internas hiper-real você é \ a parede a poltrona a cobra e
muito verdadeiro \ o jeito que sua pequena alma empalidece mais uma vez, \ segue
seus próprios olhos grandes e inchados através do flokati \ você está realmente
tentando forçar isso? pensei no \ velho jogo da toupeira, um de nós descendo as
colinas escuras \ o outro controlando o DVD do computador. era sobre \ uma
coisa cega forçada de volta para seu buraco que praticamente \ sufoca, mas
ainda remando ternamente tenta rastejar \ ao redor da terra. Poemas da escritora alémã Ulrike
Draesner, autora de obras tais como: Gedächtnisschleifen (1995), Esfinge
Bläuliche (2002) e Spiele (2005), entre outras.
SACADOUTRAS
O REI MENOS O REINO – O poeta, tradutor e ensaísta
brasileiro Augusto de Campos, foi um
dos criadores da poesia concreta brasileira, ao lado do seu irmão, o poeta e
tradutor Haroldo de Campos (1929-2003) e do poeta, ator, ensaísta, professor e
tradutor Décio Pignatari (1927-2012). Esse movimento tem como marco estético o
ano de 1956, com uma pesquisa de formas e de linguagens nunca empreendida
antes. Augusto publicou seu primeiro livro O
rei menos o reino (1951), seguindo-se Poetamenos
(1953), Cidade/City/Cité (1964), Equivocábulos (1970), Colidouespaço (1971), Viva Vaia (1971), Poesia, Antipoesia, Antropofagia (1978), Despoesia (1994), Não
(2004), além de traduzir Mallarmé, James Joyce, Ezra Pound, Maiakóvsky, Cummins
e Arnaut Daniel, entre outros. Sendo um dos fundadores da revista Noigandres,
definiu o movimento: “Com recursos
drásticos como a abolição ou a redução da sintaxe discursiva e a ênfase na
comunicação visual, criamos uma poesia Elemental e Elemental, simultaneamente
sofisticada e primitiva, para virar a mesa da poesia. Ao mesmo tempo, adotamos
uma língua geral, ou melhor, um código geral, que obrigava à leitura do texto
no original, mas facilitava o acesso ao idioma com um vocabulário reduzido. Em
suma, fizemos com a nossa língua uma espécie de esperanto poético, que nos permitia
intervir literariamente em dimensão internacional e inverter a situação,
passando de influenciados a influenciadores. O fato é que, depois da Exposição
de 1956, em São Paulo, japoneses e ingleses, tchecos e iugoslavos (europeus e
americanos) começaram a expor poemas concretos e a publicar antologias dessa
poesia, em que figuravam como paradigmas os nossos poemas, tornados facilmente
acessíveis com pequenos glossários de português básico”. Veja mais aqui e aqui.
TEMPO DE
MORRER –
No livro Novas veredas da psicologia
social (Educ/Brasiliense, 1995), organizado pela psicóloga e professora
Silvia Lane (1933-2006) e pela socióloga e psicóloga Bader Burihan Sawaya, reúne onze ensaios penetrantes que analisam a
complexidade das relações entre o homem e a sociedade, colocados numa nova
dimensão pela globalização e pela busca de uma vida digna, apresentando os
avanços da teoria laneana, proporcionados pelos resultados de pesquisas e pela
influência da teoria de Vygotsky, de Agness Heller e de Wallon. Entre os
ensaios, encontra-se Dimensão
ético-afetiva do adoecer da classe trabalhadora, resultado de uma pesquisa
participante de Sawaia numa favela de São Paulo, envolvendo um grupo de
mulheres que, segundo a autora, “[...] sofrem
a falta de amparo externo (falta de controle absoluto sobre o que ocorre) e a
falta de amparo subjetivo (falta de recursos emocionais para agir)”,
refletindo sobre o processo saúde-doença, a partir do referencial da Psicologia
Social Comunitária sobre o sofrimento psicossocial e o tempo de morrer que,
segundo a autora, “[...] é caracterizado
pela falta de recursos emocionais, de força para agir e pensar e pelo desânimo
em relação à própria competência. É um autoabandono aos próprios recursos
internos, e a consciência de que nada se pode fazer para melhorar seu estado. É
a cristalização da angustia. O comportamento emocional que caracteriza o tempo
de morrer pode ser definido como um estado letárgico de apatia, que vai
ocupando o lugar das emoções até anulá-las totalmente, um estado de tristeza
passiva que transforma o mundo numa realidade efetivamente neutra, reduzindo o
indivíduo ao zero afetivo. No tempo de morrer, o sofrimento é a vivência
depressiva que condensa os sentimentos de indignidade, inutilidade e
desqualificação. Ele é dominado pelo cansaço que se origina dos esforços
musculares e da paralisação da imaginação e do adormecimento intelectual
necessário à realização de um trabalho sem sentido e que não cumpre sua função
de evitar a fome. Para a maioria delas, o inicio da vida não coincide com o
momento do nascimento, mas com o inicio do tempo de viver que é a superação do
tempo de morrer, ao qual estão aprisionadas desde o nascimento. Tempo de viver
é o tempo de agir com mais coragem e audácia, é tempo em que se despertam as
emoções, quer sejam elas positivas ou negativas. O tempo de viver não se
confunde com o bem, ele é um tempo de convite à vida, mesmo sendo uma vida
sofrida. E o momento da transformação das relações objetivas que aprisionam as
emoções, a aprendizagem, a humanidade e a sensação de impotência se transforma
em energia e força para lutar. Tempo de viver não é o tempo do desaparecimento
da angustia, aliás nunca se chega a isto. Trata-se de tornar possível a luta
contra ela, para resolvê-la e ir em direção a outra angustia [...] A frase mais reveladora do sofrimento
psicossocial ouvida durante a pesquisa na favela foi a da vice presidente da
Associação de Moradores: Bader, a gente tinha ideia, sabia que faltava água,
luz, comida... mas não tinha força para lutar. As mulheres faveladas demonstraram
que só a revelação da pobreza e de seus nexos não altera uma situação real. O
pensamento não é autônomo, descolado do empírico. É no seu encadeamento com as
condições materiais de existência que se vislumbram possibilidades de saltos
qualitativos, em direção à consciência crítica”. Veja mais aqui. 












