O SONHO DE ORUNGAN – Imagem: Iemanjá, de Alina Zenon - Foi naquela manhã de 2 de fevereiro
que nasci pelo dever de Afrodite. E foi quando ela me deu o poder de todos os
poderes e me fez o reinar entre o céu e a terra. Ela era a manhã mais brilhante
de Yemoja, a mãe da vida e de todos os orixás. Do seu lado, seu irmão Aganju, certificando
a minha filiação pra reinar ao meio dia. Ele se foi e ela me deu o cajado da
gloria na sua libação sobre o meu sexo, a me fazer o amor proibido, o segredo
de ser o primeiro orixá do panteão. E me fez seu espelho para se pentear nua e
altaneira; deu-me a sua beleza pra que eu me tornasse irresistível e passasse a
habitar na pele de todas as pessoas e todos os seres. E me acarinhou maternal para
que eu tivesse o afago mais terno do universo e me banhou com todas as suas
águas de suas entranhas e poros, e me cuidou de forma tão terna com todos os
poderes de mãe e de deusa; e me fez crescer na vida e na sua predileção como um
deus viril e priápico pro seu próprio prazer; e me elevou aos céus e eu inchei
e cresci na sua mão suprema e fui invadido por seus mil encantos de adorada
Janaína presenteada com a minha viga nua a lhe dar mais majestade para sua
inconfundível beleza de Iansã, com toda a graça e formosura de cavalgar o meu
mastro feito OIaká, reinando sobre todos os terreiros dos candomblés de caboclo.
E na sua volúpia a me ninar feito Nossa Senhora do Rosário a proteger a minha
alma negra e com seu potencial materno glorificou a minha masculinidade para se
tornar Olovun e me criou e me fez criar e me deu vida para tirar de mim os
raios de Zeus, as flechas de Eros e o cajado de Aarão; e sobre o meu falo
túrgido e inchado esgueirou-se e se fez cheia dos prazeres de todas as
querências como Dona Maria de todos os quitutes e guloseimas do meu paladar; e
provocou a minha libido para energizar a sua matriz vital de Inaê; e se excedeu
na minha seiva que lubrificou o seu ventre de Dandalunda a fazer emergir todos os
orixás para governar o mundo; e dos seus lindos e longos seios maternos de Mukune
emergiram os cursos que se fizeram caudalosos rios com o seu domínio sobre as
águas reinado por toda costa atlântica e a se confirmar minha mãe Iemanjá, a
grande senhora de muitos nomes, a rainha das águas e mãe de todos os deuses, a
minha sina de vassalo e a quem rendo graças e dou-lhe a minha vida como oferenda
eterna.© Luiz Alberto
Machado. Veja mais aqui e aqui.
Imagem: El Juicio de Paris (1904) do pintor espanhol Enrique Simonet (18660-1927)
EVELINE DOS DUBLINENSES – O escritor irlandês James Joyce (1882-1941), em um dos seus
livros, Berlinenes, traz a narrativa
denominada de Eveline: Sentada à janela,
contemplava o crepúsculo invadir a avenida. Recostara a cabeça na cortina e
sentia o odor poeirento de cretone. Estava cansada. [...] Havia concordado em partir, em deixar seu
lar. [...] Mas em seu novo lar, num
país desconhecido e longínquo, tudo seria diferente. Estaria casada, ela,
Eveline. As pessoas iriam tratá-la com respeito, não sofreria como sua mãe.
Mesmo agora, aos dezenove anos, era às vezes ameaçada pela violência do pai.
Sabia que era essa a causa de suas palpitações. Por ser menina, ele nunca se
importava com ela quando criança, como fizera com Harry e Ernest. Nos últimos
tempos, porém, dera para ameaçá-la e dizer que só cuidava dela em respeito à
memória de sua mãe. E já não havia ninguém para protegê-la. [...] Dizia que ela desperdiçava, que não tinha
cabeça, que não daria seu dinheiro, duramente ganho, para ser jogado fora, e
coisas ainda piores, pois geralmente estava embriagado no sábado à noite.
Acabava por entregar-lhe o dinheiro, perguntando-lhe se ia ou não comprar
mantimentos para o almoço de domingo. [...] Era trabalho duro, vida dura, mas agora que ia partir, não a julgava
uma vida totalmente indesejável… estava prestes a tentar uma existência nova
com Frank. [...] Enquanto divagava, a
pesarosa visão da vida de sua mãe feria-a na própria carne: uma existência de sacrifícios banais
terminada em loucura. Estremeceu ao recordar-lhe a voz, gritando em desvairada
insistência – Derevaum seraum! Derevaum Saraum! [...] Turbilhonando, os mares do mundo envolviam seu coração. Frank arrastava-a
para eles: ia naufragá-la. Com ambas as mãos, agarrou-se às grades de ferro:
-Vem! Não! Não! Não! Era impossível. Em desespero, suas mãos crispavam-se. Do
vórtice que submergia, lançou um grito de angustia. – Eveline! Evvy! Frank
precipitou-se para o outro lado da barreira e gritou-lhe que o seguisse.
Ordenavam-lhe que se movesse, mas continuava a chamar por ela. O rosto pálido,
inerte. Eveline fitava-o como um animal condenado. Não havia em seus olhos
sinal de amor ou de saudade. Parecia nem mesmo reconhecê-lo. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
A FILOSOFIA OBJETIVISTA – A escritora, dramaturga, roteirista e
filósofa norte-americana Alisa Zinov'yevna Rosenbaum, ou apenas Ayn Rand
(1905-1982), desenvolveu o sistema filosófico chamado de Objetivismo; “Minha filosofia, em essência, é o conceito
do homem como um ser heroico, cuja própria felicidade é o propósito de sua
vida, com a produtividade como sua atividade mais nobre, e a razão como seu
único absoluto”. O seu pensamento é
de que: [...] o homem deve definir seus
valores e decidir suas ações à luz da razão; que o indivíduo tem o direito de
viver por amor a si próprio, sem ser obrigado a se sacrificar pelos outros e
sem esperar que os outros se sacrifiquem por ele; que ninguém tem o direito de
usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas
ideias sobre os outros. Veja detalhes aqui, aqui e aqui.
SÓ DE SACANAGEM: CHUPETAS,
PUNHETAS, GUITARRAS – A maravilhosa
atriz, jornalista, poeta e cantora Elisa Lucinda dos Campos Gomes, ou
simplesmente Elisa Lucinda, entre
suas obras, escreveu o texto Só de
sacanagem: Meu coração está aos pulos! / Quantas vezes
minha esperança será posta à prova? / Por quantas provas terá ela que passar? /
Tudo isso que está aí no ar, / alas, cuecas que voam / entupidas de dinheiro,
do meu dinheiro, que reservo / duramente para educar os meninos mais pobres que
eu, / para cuidar gratuitamente / a saúde deles e dos seus / pais, esse
dinheiro viaja na bagagem da impunidade e /eu não posso mais. / Quantas vezes,
meu amigo, meu rapaz, minha confiança / vai ser posta à prova? Quantas vezes
minha esperança / vai esperar no cais? / É certo que tempos difíceis existem
para aperfeiçoar o / aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus /
brasileiros venha quebrar no nosso nariz. / Meu coração está no escuro, a luz é
simples, regada ao / conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e / dos
justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva / o lápis do
coleguinha", / "Esse apontador não é seu, minha filhinha"./ Ao
invés disso, tanta coisa nojenta e / torpe tenho tido / que escutar./ Até
habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca / tinha visto falar e sobre a
qual minha pobre lógica / ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao /
culpado interessará. / Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do /
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: / mais honesta ainda vou ficar.
/ Só de sacanagem! / Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
/ o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse / o meu carnaval,
vou confiar mais e outra vez. Eu, meu / irmão, meu filho e meus amigos, vamos
pagar limpo a / quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. / Com o
tempo a gente consegue ser livre, ético e o / escambau. / Dirão: "É
inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde / o primeiro homem que veio de
Portugal". / Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. / Eu repito,
ouviram? IMORTAL! / Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente /
quiser, vai dá para mudar o final! E de quebra, trago também Chupetas
Punhetas Guitarras: Choram meus
filhos pela casa / fraldas colos fanfarras / Meus filhos choram querendo talvez
meu peito / ou talvez o mesmo único leito que / reservei pra mim / Assim
aprendi a doar / com o pranto deles / Na marra aprendi a / dar mundo a quem do
mundo é /A quem ao mundo pertence e de quem sou mera / babá / Um dia serei
irremediavelmente defasada, démodé / Meus filhos berram meu / nome função /
querendo pão, ternura, verdade e ainda possibilidade de ilusão / Meus filhos cometem
travessuras sábias/ no tapa bumerangue da malcriação / Eu que por eles explodi
buceta afora afeto adentro / ingiro sozinha o ouro excremento desta
generosidade / Aprendo que não valho nada em mim / Que criar pessoa é criar
futuro / não há portanto recompensa, indenização / mesquinhas voltas, efêmeros
trocos. / Choram pela casa e eu ouço sem ouvidos / porque meus sentidos vivem /
agora sob a égide da alma / Chupetas punhetas guitarras / meus filhos babam /
conhecimentos da nova era/ no chão de minha casa. / Essa deve ser minha
felicidade. /Aprendo a dar meu eu, aquilo que não tem cópia / tampouco similar
/E o tempo, esse cuidadoso alfaiate, não me conta nada/ Assíduo guardador dos
nossos melhores segredos / sabe o enredo da estória/ Vai soprando tudo aos
poucos e muito aos pouquinhos / Faz eu lembrar que meu pai também já foi
pequenininho/ Que só por ele ter podido ser meu ontem / Só por ele ter fodido
com desesperado desejo minha mãe / um dia eu existi. / Choram meus filhos pela
Nasa onde passeamos planetas e reveses / Eu escuto seus computadores, eu limpo
suas fezes / faço compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles /
assino um documento onde aceito de bom grado / lhes ter sido a mala o malote a
estrela guia / Um dia eles amarão com a mesma grandeza que eu / uma pessoa que
não pode ser eu / Serão seus filhos suas mulheres seus homens / Eu serei aquela
que receberá sua escassa visita / Não serei a preferida. / Serei a quem se
agradece displicente / pelo adianto, pela carona / de poderem ter sido
humanidade. / Choram meus filhos pela casa / Eu sou a recessiva bússola / a
cegonha a garça / com um único presente na mão: / Saber que o amor só é amor
quando é troca / E a troca só tem graça quando é de graça. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DAS NOVELAS PRO CINEMA – A lindíssima atriz Paula Burlamaqui começou como vencedora
do concurso Garota do Fantástico, de 1987, estreando dois anos depois numa das
novelas da emissora global, se transferindo depois para outra rede de TV, até
posar para Playboy que foi quando a vi pela primeira vez, em 1996, o que me fez
prestigiá-la no cinema por suas participações em A História de O (1992), O
Circo das Qualidades Humanas (2000), Procuradas
(2004) e Reis e Ratos (2012), entre outros, razão pela qual ela integra entre
as titulares do time da nossa campanha Todo dia é dia da mulher. Veja mais
aqui.
Veja mais sobre:
Leila Diniz, Psicologia Infantil, Béla
Bartók, Gerd Bornheim, Gutzon Borglum, David Lean & Sarah Miles, Nilto
Maciel & Clotilde Tavares aqui.
E mais:
Aurora, Zaratustra, Hermeto Pascoal, Alfred
Adler, Viktor Frankl, Gregory Corso, Tennessee William, Pedro Almodóvar, Gaston
Guedy & Penélope Cruz aqui.
Helena Blavatsky, João Ubaldo Ribeiro,
Édouard Manet, Stendhal, Vital Farias, Joana Francesa & Jeanne Moreau
aqui.
Constituição Federal, Yamandu
Costa, Terêncio, Beaumarchais, Sharon Tate & Julie
Dreyfus aqui.
Quarup & Antonio Callado, Angela
Yvonne Davis, Tavito Carvalho, Jean-Claude Forest, Giovanni Lanfranco,
Barbarella & Jane Fonda aqui.
Virginia Woolf, Tom Jobim, Somerset
Maughan, Adelaide Cabete, Pompeu Girolamo Batoni & Renata Bonfiglio Fan
aqui.
Dante Alighieri, Lewis Carroll, Djavan,
Friedrich Schelling, Rosa Parks, Paula Rego, Fernando
Fiorese, Carrie-Anne Moss, Jaorish Gomes Telles & Programa
Tataritaritatá aqui.
Errâncias de quem ama, promessas da paixão, Oscar Wilde, Richard Strauss & Leonie Rysanek, Lenda
Bororo A origem das estrelas, Sonia Ebling de Kermoal & Dorothy Lafriner
Bucket aqui.
A ponte entre quem ama e a plenitude do amor,
Murilo Rubião, Wäinö Aaltonen, Manuel Colombo, Anneke van Giersbergen, Ramón
Casas, Eduardo Kobra & Fátima Jambo aqui.
Legalidade sob suspeita, Anna Moffo, Viola Spolin, Reisha Perlmutter, Floriano de
Araújo Teixeira & Moína Lima aqui.
Os seus versos, danças & cantos do
Cacrequin, Jasmine Guy, Renata Domagalska, Lívia
Perez & Quem matou Eloá, Luciah Lopez & Vera Lúcia Regina aqui.
Água morro acima, fogo queda abaixo, isto é
Brasil, Noêmia de Sousa, Juarez Machado, Tetê
Espíndola, Glauco Villas Boas, Geraldo de Arruda Castro & Giselda Camilo
Pereira aqui.
O prêmio do amor & Christine Comyn aqui.
Presente de aniversário, Svetlana Ziuzina, Juan Medina &
Carla Osório aqui.
Pequena história da formação social
brasileira de Manoel Maurício de Albuquerque aqui.
A linguagem na filosofia de Marilena
Chauí aqui.
A poesia de Chico Buarque aqui.
Vigiar e punir de Michel Foucault aqui.
Norberto Bobbio e a teoria da norma
jurídica aqui.
Como se faz um processo de Francesco
Carnelutti aqui.
Fecamepa no reino do ficha suja aqui.
Tolinho & Bestinha: Quando Bestinha
emputecido prestou depoimento arrepiado aqui.
Fecamepa : quando o furacão dá no suspiro
do bandido, de uma coisa fique certa: a gente não vale nada aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da bailarina russa Ekaterina Krysanova.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.