Imagem de Amadeo Modigliani.
BLAISE CENDRARS, GUSTAVE COURBET, GINOFAGIA & TATARITARITATÁ.
Gentamiga do meu Brasil véio, arrevirado e de porteira escancarada!
Tive a oportunidade de ler um livro: Morravagin, de Blaise Cendrars. Por esta razão, convido você a sacar as ideías do escritor expressas nesse livro:
“(...) As máquinas mais complicadas e as sinfonias de Beethoven se movem segundo as mesmas leis, progridem aritmeticamente, são regidas por uma necessidade de simetria que decompõem seus movimentos numa série de medidas minúsculas, ínfimas, e que se equivalem. O baixo-cifrado corresponde àquela engrenagem que, infinitamente repetida, desencadeia, com um mínimo de esforço (desgaste), o máximo de estética (força utilizável). O resultado é a construção de um mundo paradoxal, artificial, convencional, que a razão pode demonstrar e tornar a montar à vontade (paralelismo dinâmico: um sábio físico vienense não se deu ao trabalho de traçar todas as figuras geométricas projetadas pela Quinta Sinfonia e, recentemente, um sapientíssimo inglês não traduziu em vibrações coloridas as vibrações sonoras dessa mesma sinfonia? Esse paralelismo se aplica a todas as “artes” e, portanto, a todas as estéticas (...) No princípio era o ritmo, e o ritmo fez-se carne”.
“A ciência não passa de uma história supersticiosamente adaptada ao gosto do momento”.
“Mulier tota in utero, dizia Paracelso, por isso é que todas as mulheres são masoquistas. O amor, para elas, começa com o rebentar de uma membrana para terminar na total laceração do ser na hora do parto. (...) O homem e a mulher não foram feitos para entenderem-se, amarem-se, fundirem-se e confundirem-se. Pelo contrário, detestam-se e dilaceram-se mutuamente; e nessa luta que tem o nome de amor a mulher passa por eterna vítima, na verdade o homem é que é morto e outra vez morto. Pois o macho é o inimigo, um inimigo desajeitado, hábil, especializado demais. A mulher é todo-poderosa, mais bem assentada na vida, possui vários centros erotógenos, sabe então sofrer melhor, possui mais resistência, sua libido lhe dá peso, ela émais forte. O homem é seu escravo, ele se rende, se estende aos seus pés, abdica passivamente. (...) A mulher é maléfica (...) Pois a mulher triunfa de todas as abstrações. Nenhuma civilização jamais escapou da apologética da muilher, salvo algumas raras sociedades de jovens machos guerreiros e ardentes, cuja apoteose e declinio foram tão rapidos quanto breves, como as civilizações pederásticas dos ninivitas e dos babilônios, antes consumidoras que criadoras, que não conheciam nenhum freio para a sua atividade febril, nenhum limite para o seu enorme apetite, nenhum termo para as suas necessidades e que, por assim dizer, devoram-se a si mesmas, desaparecendo sem deixar rastro, como morrem todas as civilizações parasitárias, arrastando com elas um mundo inteiro. Amo demais a mulher para não ser misógeno”
“Trinta anos! Era o prazo que tinha me dado para me suicidar, outrora, quando acreditava no gênio da juventude. Hoje, não acredito em mais nada, a vida não me enche mais de horror do que a morte, e vice-e-versa. Não quero mais saber do cerebralismo, dos estetas, dos literatos militantes, das rivalidades entre pequenas e grandes panelinhas, da maledicência profissional, nem da vaidade que corrói os autores e os infla, nem do seu arrivismo nojento”.
BLAISE CENDRARS é o pseudônimo do novelista e poeta suiço Frédéric Louis Sauser (1887-1961), um dos mais importantes representantes das vanguardas artísticas do começo do século passado. Em 1912, publicou em Paris a obra Les Hommes Nouveaux. No mesmo ano publica Les Pâques à New York. Em 1915 perde a mão direita na guerra e, dois anos depois, amputam-lhe todo o braço. A vida de Blaise Cendrars foi uma constante aventura, com viagens pelas sete partes do mundo e outras tantas ocupações para ganhar a vida. Fortemente influenciado pelos primeiros ventos futuristas, Cendrars alistou-se como voluntário na Legião Estrangeira durante a Primeira Guerra. Foi enviado ao front e, em 1915, perdeu o braço direito no campo de batalha. No começo dos anos 20, Cendrars veio ao Brasil e travou amizade com os modernistas Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Identificou-se imediatamente com as contradições dos trópicos a ponto de dizer que o país era a sua "pátria espiritual". Foi condecorado com a Légion d’Honneur por André Malraux, no ano de 1958, E faleceu em 1961 na sequência de vários ataques. O seu livro Morravagin: Fim do Mundo Filmado Pelo Anjo Notre-Dame, foi escrito em 1926. O livro é uma biografia de um monstro. O personagem é a encarnação do século XX, com sua vertigem da violência e sua compulsão à guerra. A edição também traz a delirante narrativa "O fim do mundo filmado pelo anjo Notre-Dame", cuja autoria o escritor atribuía ao personagem Morravagin que é a encarnação da doença do século XX, com sua vertigem da violência e sua compulsão à guerra em escala internacional. Parte do romance Morravagin foi escrita no Brasil, por onde o poeta passou em 1926, ano de lançamento do livro. Como escreve Carlos Augusto Calil na orelha do romance, "a saga de Morravagin é a ilustração de um percurso sinistro da história recente, em que a guerra se torna aceitável, lógica, necessária e profilática".
Ao ler o livro, escrevi “DE MORRAVAGIN DE CENDRARS PARA VIVAGIBRA! (VIVAGINA!)”
Foi com uma surpresa enorme que tive acesso ao livro de Blaise Cendrars, “Morravagin”, escrito entre 1913 e 1925, onde o leitor logo se depara com a biografia de um monstro misógino que encarna o século XX, com sua vertigem de violência e compulsão à guerra.
O poeta de origem suíça Frédéric Louis Sausser (1887-1961) adotara o pseudônimo de Blaise Cendrars, segundo suas próprias definições, por causa de brasa e cinzas, parecendo que o autor queria referenciar a sua pátria espiritual, o Brasil, onde esteve por algumas vezes participando do movimento Pau Brasil na pintura e na poesia, realizando conferências e que muito bem se identificou com o seu temperamento plural e despojado, virando, inclusive, cenário de algumas passagens de suas obras.
Como a matéria-prima do poeta era a realidade e o Brasil com toda sua rica fabulária, conseguiu levá-lo para encantamentos que viraram páginas literárias das mais aprazíveis, reconhecidas, inclusive, pela imprensa especializada como um dos maiores romances franceses do século recém passado.
Curiosamente o título misógino leva à escatológica expressão: “Morra vagina”. E na recente edição lançada pela Companhia das Letras, com coordenação editorial, notas e posfácio de Carlos Augusto Calil, reúne, também, “O fim do mundo filmado pelo anjo Notre-Dame”. O livro é imperdível, assevero.
Com uma expressão indubitavelmente incrível, Blaise Cendrars chega, em certa parte do livro, a vociferar: “O amor é masoquista. Esses gritos, lamentos, doces sustos, esse estado de angústia dos amantes, esse estado de espera, esse sofrimento latente, subentendido, mal-e-mal expresso, essas mil inquietações acerca da ausência do ser amado, essa fuga do tempo, essas suscetibilidades, essas variações de humor, esses devaneios, essas criancices (...) O amor para elas, começa com o rebentar de uma membrana para terminar na total laceração do ser na hora do parto. (...) O amor não tem outro objetivo e, sendo o amor a única motivação da natureza, a única lei do universo é o masoquisto. (...) O homem e a mulher não foram feitos para entenderem-se, amarem-se, fundirem-se e confundirem-se. (...) A mulher é todo-poderosa, mais bem assentada na vida, possui vários centros erógenos, sabe então sofrer melhor, possui mais resistência, sua libido lhe dá peso, ela é a mais forte. (...) pois a mulher triunfa de todas as abstrações”.
Mais adiante ele assinala: “Só o que pode admitir, afirmar, a única síntese, é o absurdo do ser, do universo, da vida. (...) E o universo não passa, no caso mais otimista, da digestão de Deus. (...) A maior desgraça que pode acontecer a um homem, e não é tanto um desastre moral como um sinal de velhice prematura, é levar a mulher a sério. A mulher é um briquedo”.
Não vou aqui ter a petulância de resenhar o livro, muito menos de cogitar um ensaio a respeito, mas atrevidamente reportar que tais colocações me levaram a escrever “Vivagibra!” que depois virou “Vivagina!”. Ou seja, levado pela adoração de Blaise Cendrars pelo Brasil e sua misoginia em “Morravagin”, reiterada, segundo Carlos Augusto Calil no pós-posfácio desta, que no seu “O homem fulminado”, de 1945, assinalou “Amo demais a mulher para não ser misógino”, reuni a idéia de criação do mundo retirada do versículo I do “Evangelho segundo padre Bidião”, que foi inspirado no quadro homônimo de Gustave Courbet, além da constatação de que o Brasil, com nome oriundo de um sem número de significações, dentre elas fervências e quenturas extremas só encontradas no coito, enfim, na expressão geográfica do país como um isósceles invertido, seria, assim, uma vagina, o que me enche de tentação e brasilidade.
E não me faço de rogado e sapeco:
Não meiar mais desamores.
Ozoras, ningum assopra demudências:
Sobranças de amoridades perspetinas
A quem nasceclodiu navidavaga
Brasilva flancanhoto nordesatino:
Vivagibra! Vivagibra!
Ozoras, ningum assopra demudências:
Sobranças de amoridades perspetinas
A quem nasceclodiu navidavaga
Brasilva flancanhoto nordesatino:
Vivagibra! Vivagibra!
Assim sendo, revelo minha filoginia, ou melhor, ginofagia considerando o Brasil, este país de doidos, desvalidos e desembestados, a pátria amada na simbologia da vagina escancarada da mulher, onde me sinto sempre muito bem acomodado, gozando das delícias e sempre dentro: Vivagibra!
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Daí, inspirado na misoginia de Morravagin e no maravilhamento doido pelo Brasil do autor, trago aqui o meu poema VIVAGINA na íntegra.
VIVAGINA!
Viva, vivagina! Vivâncias: não meiar mais desamores. Ozoras, ningum assopra demudências: sobranças de amoridades nas perspertinas que nasceclodiram-me navidavaga brasilva nordesatino, flancanhoto, anatemático. Do olhamapá ao arroio-chué, verbundante mortevida: videfemurosa, mortimorata, remorrente... Brasilabril na vivabrasilva e eu, do que me resta, nadamente alémdalém das gostosuras fodelícias nas bocetígradas & falâncias minhas remorrendo estertorinhas de brasilvagamundo de mulher, encantopando no seu delito de ser a maravilha benfazejaseja do bem kanteano da lindeza nua pro meu ufanotívago bem do bem-querer e não o eufescenino das pusilanimidades nem o subterfúgio da cretinicisse dos timoratos porque sou de mim o que me faz o corpo nu e lindo da mulher amadadada como toda a floresta que a faz Manaus sedutora nos meus olhos que nem sei mais se ávido Galvez pelos seringais de Xapuri ou rumo ao Cruzeiro do Sul, ou onde começa tudo e vai pra floresta equatorial de Roraima, ou segue os minérios de Macapá, ou se pelas chapadas de Guaporé que dá no matagal de Rondônia, ou se vai pela Chapada dos Guimarães ao longo dos vales beirando Bolívia e Paraguai para dar no Pantanal ou em Tocantins na direção da Serra do Estrondo de Goiás, pela Belém-Brasília onde o Norte, Nordeste & Sudeste se encontram e confluem a mim pro Distrito Federal com todos os candangos de sempre. Brasilva eu sei que vou por seu corpo nu de maravilha alada escancarada que me afoga caudalosa Amazonas do prazer no encontro de nossa alma Solimões/Rio Negro a se desmanchar nos igarapés sob o manto da floresta que cresce por planícies, terraços até terra firme de Parintins pra Ver-o-peso em Belém do Grão-Pará & sacar da castanha descendo manha pela Serra do Tiracambu, indo da civilização do babaçu até a ilha de São Luís do Maranhão e depois folgazão chegar pro limítrofe piauiense onde as Sete Cidades do inconsciente dormem para a avença dos carnaubais e sai nos levando por aiais encantados pela Curva da Jurema onde a fêmea nua não deixa que eu não seja vela solitária na tarde de Mucuripe nem retardária que relembre as dores de antanho carregadas sempre na luta de hoje e nem quero esquecer de dias melhores e mais justos em meu país. Brasilva chega aqui e nua e linda vamos singrar planícies e chapadas do sertão até o mar quando chega Pirangi e sou sal potiguar ali pra lá de Mossoró e eu zoró na sua carne de mar do paraíso de Cabedelo & chegar o desmantelo na depressão da chapada da Borborema onde sou mais que Paraíba e você poema do meu Pernambuco, raiz da minha alma de mameluco, carne do meu sangue que se estende ao rés-do-chão para sobrepujar a paradisíaca Maceió do ninho de cobras de Ledo e oh de todas as práticas ilícitas que são costumeiras desde que Pinzón fincou pé por toda América Latina com todos os criminosos embaixo das asas do santo lusitano da peneira furada & da auréola negra de nojo dos ibéricos e carcamanos que serão peças de cabrunco no xadrez do tabuleiro da capital sergipana, onde a Atalaia Velha nos servirá crustáceos & ufanismo no jenipapo para que a gente possa depois se esbaldar na Baía de Todos os Santos & soteropolitanamente transcender até a Chapada Diamantina onde a mulher linda e nua se faz menina para correr livre até os gerais das Minas do Rio das Velhas, das Mortes e dos Caetés e das Matas, Campos e Sertões das veredas de Rosa & menina-moça toda prosa nua embalada mulher que se quer maior linda & nua qual sol excitado na serra dos Aimorés onde lascivamente alcançamos a Vitória de amar demais sob a bênção pagã capixaba & comemoramos com sua fulgurante sedução que se faz mulata nua reboladeira no cio da minha noite carioca & sobre o meu ibirapitanga a brincar pelos penhascos dos meus desejos até se deitar na baía de Guanabara onde a vida renasce rara e feita & fazemos sexo e festa sem nexo no rumo pros campos de Piratininga & de todas as serras da Mantiqueira que venha Cantareira pra dar na metrópole do concreto que roça a pele na garoa que molha a boa encruzilhada que vai dar de lá para Mato Grosso do Sul ou se arrear pela Paranapiacaba ou no azul destino dos tropeiros para os campos gerais de seu corpo nu que me aquece insone na noite fria curitibana de Trevisan dos sonhos levam pra zona de Canoinhas, onde nua e toda minha desce pela Bacia do Itajaí até chegar no arquipélago catarinense e daí a me banhar no atlântico sobejo de sua farta delícia corporal a pegar reta pela serra Geral para gozar além da conta de todos os músculos, sede, vazões nos domínios da sua maravilha gaúcha dos pampas e serões & seguindo a risca da trajetória do seu corpo que mergulho no Oiapoque e sou feliz por suas entranhas, revolvendo seus porões, valetas, submundos, para explodir de gozo no Chuí da sua volúpia a me certificar que por trás de toda riqueza dos mandões furiosos desta Nação dormente muitos crimes impunes repousam na nossa crédula boa-fé por garantia do aparato legislativo patrimonialista que sempre legaliza a nociva ganância dos surrupiadores sabidos desde que imaginaram ser aqui o Cabo de Santo Agostinho ou as falésias que deram em Porto Seguro e em detrimento da nossa mais legítima esperança equânime, só para saber de verdade que por trás de toda riqueza existe um crime, um crime dos muitos crimes que só no seu corpo sou choro, sou prazer, sou a dor de poder ser brasileiro e me redimo e me saro da repulsa por essas injustiças, mentiras forjadas, desigualdades gritantes, contradições terríveis, fraudes exorbitantes sepultadas sob o manto da lei vigente que diviniza a propriedade dos que se locupletam da vida como a confirmar o versículo bíblico de que o que mais tem mais se lhe dará, enquanto ao que não tem, até o que tem lhe será tomado. Por isso eu bebo, brasilvamente, tomo brasilvamente, como e me refaço em tudo que é do seu corpo nu na límpida vida do amor, onde dedetizo as nojeiras dos fantasmas do executivo dos interesses alienígenas, a fedentina do legislativo dos estranhos ariscos e a podridão do judiciário dos que se curvam cagando na vela dos que dominam fodendo tudo, enquanto eu vigilante de deus e do universo do amor fodo você mulher linda e nua no ápice do nosso prazer & vou diligente por suas curvas, manhas, sanhas, andanças, reentrâncias, convexidades com as botas impávidas do querer no mormaço da tarde pelo asfalto de 7 de setembro, onde uma canção de independência chora a nossa preterida agonia de liberdade & carrega as marcas da trajetória de nossa esperança impressa na palma da mão com a revanche de que o gozo seja inteiro com todos os fuzis do desejo, com o pelotão dos meus quereres mais ternos, com todos os tanques, aviões, navios de guerra das minhas carícias por essa vagina gostosa que é o meu Brasil colossal na zênite de nosso ardoroso prazer, o Brasil de verdade que é a minha guarida e realização de homem e o meu país seria outro escandalosamente feliz se valesse essa loucura de amar feita de luz no corpo nu da mulher amada. © Luiz Alberto Machado. 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