quarta-feira, dezembro 12, 2007

DRUMMOND, BAUDELAIRE, FERNANDO SABINO, BERGMAN, ESTHER HAMBURGER & BEM NA HORA

BEM NA HORA – O meio-dia era ela. E eu com insolação para morrer afogado no seu mar. Era quando, bem na hora, meio dia em ponto, ela me afagava entre os seus domínios. E eu menino peralta me valia de suas correntes oceânicas para viver além de suas profundidades. Era o seu corpo de mar e as suas marés me embalando vida adentro com todos os brinquedos de seus tesouros. Até que me fizesse lua e ficasse orbitando ao ser redor, walkaround, virando comensal jubarte caçando seus cardumes de beijos, suas formas totais de encantos e carinhos que me davam a sua baía para minha invasão, surfando por suas ondas na minha satisfação frenética de recolher todos as suas mínimas expressões, a ponto de vasculhar sua lama e me relar no seu lodo e curtir sua imundície e saborear a sua deletéria emanação num banquete ginofágico que se fazia a terra onde vivo e sou predador, se fazia o planeta que me abriga, a nave que me leva inimputável, o porto de todos os meus abrigos. E dentro dela sou barco errante e teimoso a navegar num cruzeiro hedonista a brincar de luas e marés, marés de lua quando crescente eu estou rijo no cio para escalpelá-la com minhas sandices voluptuosas. E na lua cheia ela é madura no ponto para meu regozijo pleno. E na lua nova ela goza para me fazer o maior entre os mortais. E na minguante ela me recolhe letárgico no seio de todas as revigorantes paixões avassaladoras. E ela maré alta, eu rio Amazonas, o gozo em pororoca. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.


POEMAS DE CHARLES BAUDELAIRE ((1821 - 1867)

AS PROMESSAS DE UM ROSTO

Amo, ó pálida beleza, os teus cenhos curvados
Que dão às trevas todo o império;
Teus olhos, embora negros, me inspiram cuidados
Que não têm nada de funéreos.

Teus olhos, que imitam a negrura dos cabelos,
Da tua longa crina elástica,
Teus olhos langues me dizem: “Amante, se os apelo
Queres seguir da musa plástica

Que infundimos no te seu, ou tudo que contigo
Em matéria de gosto trazes,
Poderás ver, desde as nádegas até o umbigo,
Que nós te fomos bem verazes;

Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,
Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
Amorenado como bronze,

Um rico tosão que à tua enorme cabeleira
Copia no negrume e na espessura;
De tão sedoso e encrespado, ele te iguala inteira,
Noite sem astros, noite escura!”
(Tradução José Paulo Paes)

FLORES DO MAIL - XXVII

Porias o universo em teu bordel,
mulher impura! O tédio que te faz cruel.
Para treinares os dentes neste jogo singular,
Terás a cada dia um coração a devorar,
Teus olhos a girar assim como farândolas,
De festas de fulgor a imitar as girândolas,
Exibem com insolência uma vã nobreza,
Sem conhecer jamais a lei de sua beleza!
Máquina cega e surda e de um cruel fecundo!
Instrumento a beber todo o sangue do mundo,
Já perdeste o pudor e ao espelho não viste
Tua beleza cada vez mais murcha e triste?
A grandeza de um mal que crês saber tanto
Nunca pôde fazer-te retroceder de espanto,
Na hora em que a natureza em desígnios velados,
De ti se serve, mulher, ó deusa dos pecados,
- A ti, vil animal – para um gênio formar?
Ó grandeza da lama! Ó ignomínia exemplar!
Charles Baudelaire
(Tradução de Pietro Nassetti)

ELEVAÇÃO

Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
Por sobre o éter e o mar, por sobre o bosque e o monte,
E muito além do sol, muito além do horizonte,
Para além dos confins dos tetos estrelados,
Meu espírito, vais, com toda agilidade,
Como um bom nadador deleitado na onda,
Sulcas alegremente a imensidão redonda,
Levado por indizível voluptuosidade.
Bem longe deves voar destes miasmas tão baços;
Vai te puruficar por um ar superior,
E bebe, como um puro e divino licor,
O claro fogo que enche os límpidos espaços.
E por trás do pesar e dos tédios terrenos
Que gravam de seu peso a existência dolorosa,
Feliz este que pode de asa vigorosa
Lançar-se para os céus lúcidos e serenos!
Aquele cujo pensar, como a andorinha veloz
Rumo ao céu da manhã em vôo ascensional,
Que plana sobre a vida a entender afinal
A linguagem da flor e da matéria sem voz!
Charles Baudelaire
(Tradução de Pietro Nassetti)

A UMA DAMA CRIOULA

No país perfumado, a um sol de fogo e pena,
Conheci sob dossel de árvores purpurado,
E de palmas de onde o ócio ao nosso olhar acena,

Uma dama crioula e de encanto ignorado.
De tez pálida e quente, a mágica morena
Tem no seu colo um ar, sempre o mais requintado;
Vai como a caçadora e é imponente e serena,
Seu sorriso é tranqüilo e seu olhar confiado.

AS METAMORFOSES DO VAMPIRO

E no entanto a mulher, com lábios de framboesa
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,
Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.
As lágrimas eu seco em meios seios triunfantes,
E os velhos faço rir com o riso dos infantes.
Sou como, a quem me vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,
Quando um homem sufoco à borda de meus lábios,
Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"

Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!

Os dois olhos fechei em trêmula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
Ao meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de inverno ao vento se balança.

CHARLES BAUDELAIRE (1821 - 1867) – o escritor, tradutor, critico de arte e poeta francês, Charles Baudelaire, teve seus poemas execrados por seus professores, por se tratar de textos que era exemplo da devassidão precoce. Solitário, ele recheou sua obra de melancolia, um dândi que se inspirou na Jeanne Duval, a paixão de sua poesia “La Chevelure”. Extravagante, foi presa fácil para agiotas e bandidos. Manteve-se com seu temperamento isolacionista e desesperador, fruto de sua adolescência conturbada e que ele apelidou de "spleen" retornou e se tornou cada vez mais freqüente. Em outubro de 1845, compilou "As Lésbicas" e em 1848, "Limbo", obras que representam a agitação e a melancolia da juventude moderna. Inspirado pelo exemplo do pintor Eugène Delacroix, ele elaborou uma teoria da pintura moderna, convocando os pintores a celebrarem e expressarem o "heroísmo da vida moderna". Em 1847, ele descobriu um escritor norte-americano obscuro: Edgar Allan Poe. Impressionado pelo que leu e pelas similaridades entre os escritos de Poe com seu próprio pensamento e temperamento, Baudelaire decidiu levar a cabo a tradução completa das obras do norte-americano, trabalho este que lhe tomou boa parte do resto de sua vida. Entre 1852 e 1854, ele dedicou vários poemas à Apollonie Sabatier, sua musa e amante apesar da reputação de cortesã da alta-classe. Em 1854, Baudelaire manteve um caso com a atriz Marie Daubrun. Ao mesmo tempo, sua fama como o tradutor de Poe aumentava. Como toda polêmica sempre é benéfica, "As Flores do Mal" se tornou um marco por sua obscenidade, morbidez e devassidão. A lenda de Baudelaire como um poeta maldito, dissidente e pornográfico nasceu. Em 1861, Baudelaire tentou se eleger à Academia Francesa mas foi fragorosamente derrotado. Em abril de 1864, ele deixou Paris para se instalar em Bruxelas, onde tentaria persuadir um editor belga a publicar suas obras completas. Lá ficou, amargurado e empobrecido até 1866, quando após um ataque epilético na Igreja de Saint-Loup at Namur, sua vida mudou. Baudelaire teve uma lesão cerebral que lhe ocasionou afasia (perda da capacidade de compreensão e de expressão pela palavra escrita ou pela sinalização, assim como pela fala) e paralisia. O dândi nunca mais se recuperou. Retornou a Paris no dia 2 de julho, onde ficou em uma enfermaria até sua morte. Em 31 de agosto de 1867, aos 46 anos, Charles Baudelaire morreu nos braços de sua mãe. Quando a morte o visitou, Baudelaire ainda mantinha vários de seus trabalhos não publicados e os que já haviam saído estavam fora de circulação. Mas isto rapidamente mudou. Os líderes do movimento Simbolista compareceram ao seu funeral e já se designavam como seus fiéis seguidores. Menos de 50 anos após a sua morte, Baudelaire ganhou a fama que nunca teve em vida: havia se tornado o maior nome da poesia francesa do século 19. Conhecido por sua controvérsia e seus textos obscuros, Baudelaire foi o poeta da civilização moderna, onde suas obras parecem clamar pelo século 20 ao invés de seus contemporâneos. Em sua poesia introspectivaele se revelou como um lutador a procura de deus, sem crenças religiosas, procurando em cada manifestação da vida os elementos da verdade, de uma folha de uma árvore ou até mesmo no franzir das sobrancelhas de uma prostituta. Sua recusa em admitir restrições de escolha de temas em sua poesia o coloca num patamar de desbravador de novos caminhos para os rumos da literatura mundial. Fontes: - Enciclopédia Britannica - Site da Universidade de Londres. Veja mais aquiaqui, aqui, aqui e aqui.



PENSAMENTO DO DIA - Escrever bem não é repetir o que já foi bem escrito: é revalorizar os meios de expressão, juntar ou separar palavras para fazê-las reagir, servir-se do que já foi dito para dizer pela primeira vez. Pensamento do escritor e jornalista mineiro Fernando Sabino (1923-2004). Veja mais aqui.

BRASIL ANTENADO - [...] Como a maior parte dos textos de mídia, as novelas permitem diferentes leituras: seus textos são permeados por subtextos. Cada novela permite uma gama diferencia de interpretações. Diferentes segmentos da população relacionam os conteúdos com os quais não se identiicam, onde não se reconhecem, com outros segmentos da população [...] enquanto mulheres de classe media alta vêem novelas como programas diridgidos a suas empregadas, mulheres de classes populares acreditam que as novelas representam o universo de suas patroas. Assim, embora as novelas sejam assistidas por todos, não pertencem a ninguém. [...] Ao assistir novelas, os telespectadores comparam formas de comportamento, padrões de decoração, moda, comida e tecnologia médica acessíveis pela tela da televisão, com o seu cotidiano. E aqui as diferenças de classe social reaparecem nas escolhas de menus específicos dentre as diversas opções disponíveis. Alguns casos revelados em pesquisa etnográfica podem ajudar a explicitar semelhanças e diferenças próprias ao ato de ver novela. Uma dona de casa de 60 anos, de classe média-alta, por exemplo, mostra-se orgulhosa porque identifica a mobília da sala de jantar do rei do gado com a sala de jantar da casa de sua filha. Uma mulher de meia-idade na favela, por sua vez, observa com nostalgia o fogão a lenha na casa da fazenda do mesmo personagem, que lhe faz lembrar sua infância no Nordeste. [...] Apesar da enorme diferença social e educacional que as espera, ambas destacaram o mesmo detalhe: a mobília. [...] Essas duas mulheres, quase vizinhas e tão diferentes, encontram, na mesma novela, elementos que legitimam suas proprias histórias. Ambas inserem o mundo das novelas em seu mundo privado, reforçando diferenças na maneira pela qual se apropriam de um repertório comum. Há uma determinada escala de afeição declarada pelas novelas que segue em linhas gerais o perfil revelado pelos índices de audiência e, de certa forma, representa uma metáfora sobre as relações sociais. Homens assistem menos que mulheres. Entre as mulheres, as de classe média assistem menos que as de classes populares. Meninas adolescentes e mulheres com mais de quarenta anos constituem o segmento mais leal, entre ricos e pobres, no campo e na cidade. [...]. Trechos extraídos da obra O Brasil antenado: a sociedade da novela (Zahar, 2005), da professora do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da USP, Esther Hamburger. Veja mais aqui.

OPINIÃO EM PALÁCIOO rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o poder com a Opinião Pública. – Chamem a Opinião Pública – ordenou aos servilais. Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixava de frequentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída, onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de vez em quando. Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao Palácio Real. , onde sua Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse: - Preciso de ti. A Opinião, muda como entrara, muda se conservou. Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O Rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião. – Vou te obrigar a ter opinião – disse o Rei, zangado – Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a problemática geral, tu me serás indispensável. E virando-se para os serviçais: - Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem as apostilas. Extraída da obra Contos plausíveis (Record, 2006), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Veja mais aqui.


A HORA DO AMOR – O drama romântico Beröringen (A hora do amor, 1971 - Nórdica, 1977), do dramaturgo e cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), conta a história de um caso entre uma mulher casada com filhos e marido, e um estrangeiro impetuoso, durante uma visita a um hospital no qual a sua mãe morreu. Ela reage com tristeza e é vista pelo arqueólogo estrangeiro que visita, depois, o casal e fala sobre o trabalho dele e a descoberta de uma estátua da Virgem Maria, trazida para a aldeia e escondida em uma igreja da Idade Média. Eles se apaixonam, ela o visita e se encontram na casa dele, onde se entregam, quando ela menciona que é o seu primeiro caso, estando incerta se está apaixonada por ele que passou a ser importante para ela, quando ele compartilha sua história familiar durante o Holocausto da Segunda Guerra Mundial. Veja mais aqui.






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CRÔNICA DE AMOR POR ELA

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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

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