Mostrando postagens com marcador Pound. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pound. Mostrar todas as postagens

domingo, dezembro 05, 2021

CHRISTINA ROSSETI, SUSAN WENDELL, AFANASY FET, ANN HAMILTON & RONALDO CORREIA DE BRITO

 

 

TRÍPTICO DQP – Umestória puxoutra... - Ao som do álbum Em família (EMI, 1981), de Egberto Gismonti. - No meio de tantontens, lembrançadvenas, uma: primeiro peixes pulavam fora d’água e morriam à beira do rio. No começo aquilo era o espetáculo de todos os dias na cidade. Depois, com o acúmulo deles, tudo dançava até as plantas secarem, as árvores, e o chão se abriu. Um buraco espetacular dos olhos pularem quase fora. Tornou-se uma cratera e, na borda dela, juntavam-se gatos, depois cachorros, galos e galinhas, bodes e cabras, bezerros, vacas e bois, cavalos e éguas, pássaros e répteis, todos os bichos da redondeza ali se amontoavam numa dança estranha. Em seguida todos despencavam como se fossem engolidos pela cova que mais se agigantava. As coisas andavam realmente bizarras por ali e, com o passar do tempo, perdia o fascínio nem mais engraçado. Mais dias e as crianças lá chegavam aos passos e gestos extravagantes. Não pode ser! Também moças e rapazes, senhores com suas senhoras, anciões de mãos dadas com suas consortes anciãs, todos num bailado excêntrico, para, em seguida, como se fosse ritual macabro, jogavam-se voluntários para serem consumidos pelo insaciável algar. Outros temiam a ponto de não se aproximarem dali, nem arredarem o pé de casa. Só crescendo o perau. Os que fugiam, nunca voltavam, nem que fosse na marra, pois cismavam de cabelo em pé e, aos tombos, para recorrerem atônitos às autoridades. Rondava a alegação de que aquilo era pior que o Incidente em Antares, de Érico Veríssimo. Mesmo? Nada a ver. Muito maior! E diziam disso e daquilo. Amedrontados, não sabiam o que fazer: rezavam de joelhos e de mãos dadas continuamente. Como não surtia efeito, vagavam para todos os lados, buscando providência que desse cabo do inusitado. Muque, munheca, caixa dos peitos, insuficientes. Revolver, espingarda, fuzil, canhão, reles brinquedos perto do estrupício. Aquilo, afinal, o que seria? Apareceu uma tuia de pesquisador, jornalistas, curiosos e boateiros, tudo para saber do ocorrido, até um bocado deles desaparecer na tragédia. Minha nossa! Alguns mais precavidos logo assimilavam ter sido o mesmo que ocorrera na primeira tragédia de Alagoinhanduba. Como é? Teve até quem relacionasse a ocorrência com o desastre do Minamata e, por coincidência, foi justo na hora em que fui abordado pela atriz japonesa Minami Bages. Epa! Logo me confundiu com um fotógrafo desconhecido e tudo já se parecia com o enredo de Andrew Levitas. Endoidou geral, para mim. Ela se ria de tudo, contando-me os mínimos detalhes do ocorrido por lá. Fui levado a acreditar porque o cogitado sequer foi descartado. O pior foi que à boca da noite só se via uma movimentação nos ares, como se fossem os defuntos do Cerro do Pasco de Scorza: um bocado de fantasmas atiçando a todos para uma revolução! Oxe! Pernas pra que te quero, ora! Escondido numa sala dum prédio enorme, ela ali, arfante, olhou-me severa e me disse como se fosse a poeta britânica Christina Rosseti (1830-1894): É melhor esquecer e sorrir do que recordar e entristecer-se... O silêncio é mais musical do que qualquer canção... Era o maior vexame e ela como se nada acontecesse por ali. Como pode? Lá fora maior azáfama. Cá dentro, ela deitou a cabeça sobre minha coxa e adormeceu...

 


Vida de trovador... – Imagem: arte da artista visual estadunidense Ann Hamilton. - Ao despertar, não sei se o dia era outro ou o mesmo, entendia nada, se sonho ou real. Só sentia indisposição para me levantar. Logo percebi ao meu colo um volume aberto e com a inscrição: Eu, Miquel de la Tour, escrevo, faço-vos saber... Danou-se! Mais que curioso folheei e tomei ciência quais damas eram cortejadas pelos menestréis lá por volta dum século lá da Idade Média, coisa parecida com o que havia lido n’A Arte da Poesia de Pound. Reli para me certificar e contava: O monge Gaubertz de Poicebot era um de estirpe; era do bispado de Limousin, filho do castelão de Poicebot. Fizeram-no monge quando criança, num monastério chamado Sai Leonar. E conhecia bem as letras e sabia cantar e trobar. E por desejo de mulher, ele saiu do monastério. E dali foi à procura do homem a quem buscavam todos aqueles que, por cortesania, ambicionavam honras e grandes feitos – Savaric de Mauleon – e esse homem lhe deu o arnês de um jogral, um cavalo e roupas; e ele então percorreu as cortes, compôs e fez belas canzos. E entregou o coração a uma bela e gentil donzela, pelo que Savaric o fez cavalheiro, concedendo-lhe que ele conseguisse tomá-la  por esposa. E ele contou a Savaric de que maneira o recusara aquela donzela, pelo que Savaric, concedeu-lhe terras e as rendas delas. E ele desposou a donzela e a honrou sobremaneira. E aconteceu que ele foi para a Espanha, deixando-a. E um cavalheiro vindo de Inglaterra a desejou; e tanto o fez e tanto disse que a levou consigo e a teve muito tempo por amante e depois a deixou na sarjeta. E Gaubertz voltou da Espanha, e hospedou-se certa noite na cidade onde ela estava. E desejando uma mulher, saiu e entrou no alberc de uma pobre mulher, pois tinham-lhe dito haver ali uma bela mulher. E ele encontrou a esposa. E quando a viu, e ela a ele, grande foi a tristeza e maior a vergonha entre ambos. E ele esteve aquela noite com ela, e pela manhã foram para um convento onde ele a fez entrar. E, de tristeza, deixou de cantar e compor. Ah, esse relato era o mesmo citado, agora sim, me certificara. Voltei à leitura e fui interrompido por ela que ali adentrara para dizer que íamos fugir naquela noite. Como assim? Respondeu-me ironicamente com o Autorretrato de Joel Silveira: Sou um homem que faz perguntas – nunca fui mais na vida. E assim serei, certamente, até o último dia, que também será o dia da última pergunta. E me sorriu lindamente como quem possuía a urgência no olhar, trêmula dentro do hábito, porque o asteroide Kamo’oalewa se aproximara perigosamente da Terra. Era uma urgência desmedida: havia um grande contingente de cegos e surdos, outros apresentando fraqueza e distúrbios sensoriais nos pés e mãos, alguns tantos chegaram a ficar paralíticos e muitos outros morreram. Não brinca! Verdade, arrume-se! Para onde? E num misto entre angelical e ansiosa, recitou-me o poeta russo Afanasy Fet (1820-1892): Compartilhe comigo seus sonhos de viver, / Dirija-se diretamente à minha alma; / O que não pode ser expresso apenas em palavras - / Ventile minha alma na forma de som. Depois, aproximou-se mais e senti sua alma tomando a minha. Éramos um: olhos nos olhos, sua respiração rente às minhas faces, sua vibrante carne: uma sinapse na minha. Beijou-me e saiu como se fosse nunca mais.

 


A sina da caçula... – Imagem: a arte da escultora, fotógrafa e artista visual britânica Helen Chadwick (1953-1996). – Décadas passaram e, um dia lá, ao reencontrá-la, a vida parecia não ter sido tão madrasta assim: estava mais linda que nunca. Depois de muita conversa, contou-me a sua história - talqualzinha aquela contada pelo escritor, médico e dramaturgo, Ronaldo Correia de Brito, numa das edições da Continente Multicultural: era caçula de três irmãs e o pai, que era podre de rico, enviuvara de repente. Macambúzio com seu luto, resolveu reunir uma em outra, às confidências. Da conversa, a mais velha saiu cantarolando, havia recebido um quinhão polpudo por herança. Era a vez da do meio que saiu mais feliz que nunca, bailando a partilha vantajosa. Era a vez dela. Ao término da conversa, o pai ficou calado. Ela esperando. Nenhuma reação dele. Então ele se levantou, ficou mudo em pé na janela pro mundo, por um longo tempo. Lá pras tantas, voltou-se pra ela cheio de ira e deu-lhe o castigo: de casa para a rua! Estava deserdada. Por quê? Deve ter sido pelos namoricos ou por gostar de artes, ou por ser a saidinha nada obediente, ou coisa parecida, tudo que ele reprovava demais. As irmãs nem intercederam e, nem bem amanheceu, caiu estrada afora. Mais vinte anos e, de repente, à sua porta, alguém pedia socorro. Era um senhor de idade e, mesmo que quisesse, não havia como negar abrigo. Afinal, o solicitante estava em petição de miséria – a situação dela nada diferente em privação. Acolheu e cuidou por semanas. Ao se restabelecer, o ancião contou-lhe a história. Ela chorou muito: era o seu pai. E as irmãs premiadas haviam fechado a porta. Da mesma forma que ela não soube a razão pela qual foi expulsa de casa, ocultou quem era. E mesmo assim cuidou dele até o dia em que ele, à morte, atendeu o pedido dele e revelou seu segredo. Não havia mais tempo: ele só ouviu, apertou-lhe uma das mãos e deu o último suspiro. Tudo muito triste. Diante da minha expressão interrogativa, respondeu-me como se lesse para mim um trecho da obra The Rejected Body: Feminist Philosophical Reflections on Disability (Routledge, 1996 ), da professora e editora estadunidense Susan Wendell: Se as pessoas com deficiência fossem realmente ouvidas, ocorreria uma explosão de conhecimento do corpo humano e da psique... Compreendi em parte, evidentemente. E havia muito mais para contar: ela fora acometida por uma enfermidade que a deixou inválida por dois longos anos, até se recuperar quase sem esperança. Perguntei: Então é você? Sim sou eu. A vida somos todos nós. Até mais ver.

 

E mais:

CANTARAU & OUTRAS POETADAS

POEMAGENS & OUTRAS VERSAGENS

FAÇA SEU TCC SEM TRAUMAS – CURSO & CONSULTAS

 

Vem aí o Programa Tataritaritatá. Enquanto isso, veja mais aqui.

 


domingo, agosto 29, 2021

DUGPA RIMPOCHE, NAOMI SHEMER, SILVIO TENDLER & VITAL CORRÊA DE ARAÚJO

 

 

 

TRÍPTICO DQP – O retrato de avô... - Ao som da Full Performance (Live on KEXP, 2019) do projeto teatro-musical ucraniano Dakh Daughters, formado pelas artistas Nina Garenetska, Ruslana Khazipova, Tanya Havrylyuk, Solomia Melnyk, Anna Nikitina, Natalia Halanevych e Zo. – O meu avô era eu menino paparicado pelas mulheres da família, verdadeira idolatria, dele e minha. Segui os passos daquele que tornou-se o protótipo de tudo e crescia embalado aos regalos das mãos bobas e buliçosas com cheiradas beijoqueiras de todas as saias e lábios impudentes, afagos de tias, primas, comadres e vizinhas no meu sexo juvenil. Ele o meu ídolo e de todos os que eu conhecia, até vê-lo tombar sepultado nos meus olhos inocentes para o mais honroso dos mausoléus. Homenagens pelos nomes das ruas, bairros, prédios e memórias servis por toda região e nisso adolesci espantado. Ia a vida e por décadas o suntuoso perfil imaculado, nobreza atravessando os anos. Aonde chegasse, ele antes reverenciado até por desconhecidos, antecipava minha recepção: portas escancaradas. Até que um dia alguém maldisse o seu retrato. Quis saber qual a razão. A resposta fulminante na Constituição de Capistrano de Abreu (1853-1927): Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário. Quem? Era o advogado João Roberto A. Neves que reiterava: Todo brasileiro está obrigado a ter vergonha na cara... Os velhacos do serviço público, os magistrados venais, os particulares que enriquecem cometendo os mais diversos atos ilícitos em conluio com agentes públicos, enfim, todos os que usam a máscara da probidade, geralmente tiveram bons professores em casa. E o exemplo de casa vai à praça. Nem sequer entendia direito o que ele falava. Não foi possível qualquer diálogo e procurei os meus a respeito. Fora dos domínios avoengos, o filme era outro: cenas horrorosas, desumanas. Não podia ser, mas era. Aquele a quem venerei era outro e nunca existiu, a não ser na íntima convivência. Fora das vistas e existência, decepcionante. A ponto de repudiar aquela pose no centro da sala.

 


Cenas esclarecedoras... - Era eu muito jovem quando assisti Os anos JK – Uma trajetória política (1980), do cineasta Silvio Tendler. Só aí comecei ligar as coisas e foi tão logo haver sacado as cenas do premiado Castro Alves – Retrato falado do poeta (1999). Liguei as coisas e fui me aboletar na poltrona do primeiro cinema para assistir Jango (1984). A ficha caiu – ah, meu avô. Depois disso, assisti outros: Milton Santos, pensador do Brasil (2001), Memória do Aço (1987), Glauber o filme – Labirinto do Brasil (2003), Utopia e barbárie (2009), Josué de Castro – Cidadão do mundo (1994), Conceição das Crioulas: Vestígios de Quilombo (1996), e muitos outros longas, documentários e series. Dele ouvi: O cinema sempre foi político. E absorvi. (Se quiser, veja mais aqui, aqui e aqui).

 


Desapontamento e consternações... – Imagem: A arte da artista argentina Ides Kihlen. – Mal tinha soletrado páginas dos Princípios de vida (Best Seller, 2004) do lama tibetano Dugpa Rimpoche (1938-1987) e ali grafado: O Universo fica equilibrado quando duas mãos se juntam. Sabia, o solidário me apetece. Foi aí que ele apareceu e me disse ao ouvido: Há um mistério do amor. Aqueles que se amam experimentam no seu coração a força de atração dos astros, a queimadura dos sóis, o começo e o fim dos mundos. Eles morrem e renascem num mesmo corpo. O amor é a outra vertente da solidão, o seu lado iluminado. Parecia restabelecer o ânimo, mas a vida passa entre ventos que vão e voltam...

 


Outras quedas, que coisa!... – Imagem: a arte do escultor, artista plástico e designer gráfico Amilcar de Castro (1920-2002). – A surpresa na cena: era a comédia Seis personagens à procura de um autor. Naquele tempo eu tinha uma vaga ideia a respeito do autor. Logo outra, a Assim é: se lhe parece, me chamou atenção. Tornei-me assíduo, onde entrasse em cartaz ou encontrasse livros, lá estava eu curioso: O conto d’A senhora Frola e o senhor Ponza, o Vestir os nusAh, Ercília nua, a comédia A patente, os relatos d’O falecido Mattia Pascal e o que ele dissera a respeito da arte. Lá estava eu envolvido com o que ele convencionou chamar de teatro do espelho, porque nele retratava a vida real, amarga e sem a máscara da hipocrisia. O inacreditável era que ele havia participado da campanha “coleta de ouro” organizada pelo ditador, doando inclusive a sua medalha de Prêmio Nobel. Como poderia? Tanto ele quanto Pound lá estavam engrossando aquelas fileiras detestáveis. Inacreditável. Era como se revisse o que se dera com meu progenitor.

 


Da desolação ao ânimo ressurreto... – Imagens: a arte do fotógrafo sul-africano Sam Haskins (1926-2009). – Não fosse a chegada inesperada da poeta cantante israelita, Naomi Shemer (1930-2004), não saberia eu o que fazer da vida. Chegou-me com um poema, Ainda não amei o suficiente: Com estas mãos / ainda não construí uma aldeia, / ainda não encontrei água / no meio do deserto, / ainda não desenhei uma flor, / ainda não descobri como / o caminho me levará / ou para onde vou. / Eu ainda não amava / o suficiente o vento e o sol / no meu rosto. / Ainda não amei o suficiente / e se não for agora, quando? / Ainda não plantei erva, / ainda não construí uma cidade, / ainda não plantei vinhas / em todas as colinas, / ainda não fiz tudo / com as minhas próprias mãos, / Eu ainda não tentei tudo que / ainda não amei o suficiente... E suas mãos alisaram-me a face e me abraçou ternamente e me beijou ardentemente para dançar nua, coxas, lábios e sexo por todo meu ser, como se fosse a coreógrafa francesa Janine Charrat (1924-2017), viva entre meus sonhos e divagações pelas ruas e desertos.

 


Mandíbula eleata... – Lá estava eu errante solitário e era uma epígrafe de Octávio Paz (alicerces do poema absoluto): Para o homem moderno, tudo lhe é estranho (inclusive o humano?) e em nada ele se reconhece. Eram as ressonâncias de ontens e amanhãs, o texto no corpo e a crença de que a poesia salva a alma do romance: Amanhã vou roubar um espelho com o sol dentro e dois simulacros de esmeralda distraída além de um turbante e uma chávena. Era o fluxo noturno de inconsciência sem alma, que se tecia num soneto primeiro: Amanhã não é outro dia, é a noite que dorme. E quatro poemas brotaram com outros tantos que eclodiram em seguida porque Sempre morremos à noite. Prove o contrário. E saltaram haicais com todas as náuseas de Sartre e a fórmula do caos Einstein & Freud verdades sem máscaras porque como Rilke O poeta combate com o anjo, ao louco e sublime Holderlin. A poesia é noturna na mandíbula: confesso que costumo roubar crepúsculos e moedas de lua velha (de prata encarquilhada), e eleata: o silêncio de Pitágoras contempla as planícies de alma, olha sais nascendo, é a lua bebendo o leite celeste entre os catetos do universo. E era como se olhos de Heráclito nos sussurros de Parmênides pelas lembranças lascivas das eternidades e mineração de infinitudes, filosofopoemas e naufrágios. E esta mandíbula eleata na dedicatória: Ao ancho côncavo cálice profundo lúcido lustroso e ilustre umbigo estrela do corpo. E Admmauro Gommes foi além da poesia e o Zé Ripe perplexo poema Vital. Nada mais que um Coração de areia num verbete do Dicionário anticrítico de êmbolos e lampejos na Pálpebra de pedra e era a Prosa do futuro arcaico na Insólita clepsidra dos 50 poemas escolhidos peloautor. E se era Borges & Eugénio era um Bando de Mônadas no Dado Acaso e no Catálogo de ângulos, para que se desse o Crepúsculo do pênis no Hímen de Mallarmé, só porque Kant não estuprou a camareira com todas as Confissões de Ave sólida, Ora pro nobis Scania Vabis. E eram as Inesperadas nêsperas na Fractália lírica do Id no Atanor da poesia absoluta do Vate vital. Poesia absoluta sim, Poesia Absoluta no Título provisório em que Ana de Amsterdam inaugurava a Gesta pernambucana em que tudo fosse uma Segunda edição da Semata e da Burocracial exasperação, para que outras tantas Mônadas testemunhassem Palpo a quimera e o tremor. E o poeta olhos acesos pedisse mais que lúcido no meio da noite: Quiçá, menos luz. Porque Só às paredes confesso, porque A poesia salva a alma. E viva a vida! Até mais ver.

 

E mais:

CANTARAU & OUTRAS POETADAS

POEMAGENS & OUTRAS VERSAGENS

FAÇA SEU TCC SEM TRAUMAS – CURSO & CONTULTAS

 


Vem aí o Programa Tataritaritatá. Enquanto isso, veja mais aqui.

 

 


sexta-feira, outubro 05, 2018

THIAGO DE MELLO, VIOLETA PARRA, POUND, RACHEL DE QUEIROZ, FECAMEPA & PLANEJAMENTO BRASIL


CRÔNICA PROS QUE LEMBRAM E OS QUE IGNORAM - Imagem: Prisionero inocente (1964), da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967) - Pros que se lembram do que fomos tantas décadas, quantas idas e vindas, abraço amigo, há quanto tempo. Ainda menino eu já sabia que o Sol nasce para todos e que alguns acham que não pode ser assim desse jeito, como se apenas uns poucos fossem filhos de Deus e a maioria esmagadora fosse o rejeito que devesse ser eternamente condenada para o bem dos escolhidos. Há quanto tempo, tantos aprendizados. Se eu não tivesse o que saber com a dor, jamais renasceria das lições, sirvo-me da luz para valer na vida. O que seria a fortaleza aos escombros, se não tivesse de reconstruir a cada dia tudo a se desmoronar: sou das cinzas a maior feitura. Quantas convicções teimadas e posicionamentos irredutíveis não levaram ao arrependimento, só o tempo para sacar a besteira e quase não há como redimir, nunca é tarde, para ali ou para lá, tanto faz, embaixo há sempre segredos irremovíveis, acima é para estar. Ainda dá tempo, nunca é tarde. Meio dia ou meia noite, ainda é parte, ou foi ou será um dia inteiro. Valho-me da saudação pros bons que se foram e pros que teimam juntos na mesma causa, esses não precisam pedir licença, entrem para seguir sempre a Canção do Tamoio: a vida é luta renhida, viver é lutar. Nunca olvidar, pelo menos um aceno para embalar os cricris e desavisados que vão na onda – os bons sempre vão, os chatos que ficam enchendo o saco. Para esses que são como cantiga de grilo, pisada no calo, chute no testítulos ou dor de dente que castiga com fúria, feitos de ódio dos intolerantes que nasceram com a bunda pra lua e nem se dão conta do privilégio, a tripudiar sempre mais sobre os demais e a cuidar apenas do que é seu entre quatro paredes das confidências impublicáveis, eles não sabem o que fazem, nada demais, e isso não é de hoje. Nunca entendi direito o berro fogo de monturo daqueles que se acham donos da razão, exaltados sectários com proposta de segregação e desrespeito étnico e de gênero, exclusão, pena de morte e autoritarismo, nossa! Ainda hoje atrozes nem consideram o que há milênios prepondera no inventário da humanidade, tão batido na escola das séries iniciais, a história que se repete por conta dos desmemoriados ou maluvidos que insistem no antigo jeito desumano que nunca deu certo para ninguém, só para os que acoloiados que se agarram com unhas e dentes em nome de uma santa guerra tão terrível. Para eles apenas sorrio com compaixão por serem tão rudes e viverem em suas próprias trevas. Da minha parte, eu continuo amando a vida, alma leve, peito aberto, asseguro que tenho aprendido a domar os animais selvagens que arengam dentro de mim, fazendo com que eu desmorone de noite e amanheça como se nada tivesse acontecido, refeito, íntegro com autodomínio, esquecendo o que devia relevar e nenhum remorso atormentando para morrer em paz. Que a compreensão reine nos corações, assim seja. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967): Decimas y centésimas, Composiciones para guitarra, Ultimas canciones & com Mercedes Sosa & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS – [...] Os homens não alcançam compreender os livros enquanto não chegam a ter certa dose de experiência da vida. Ou, de qualquer modo, homem algum consegue compreender um livro profundo enquanto não tenha visto ou vivido pelo menos parte de seu conteúdo. O preconceito contra os livros surgiu da obtusidade de homens que se limitaram a “meramente” ler. [...]. Extraído da obra ABC da Literatura (Cultrix, 1977), do poeta, músico e crítico literário estadunidense Ezra Pound (1885-1972). Veja mais aqui e aqui.

PLANEJAMENTO BRASIL - O planejamento de longo prazo é um processo exaustivo e contínuo que apresenta dificuldades em se consolidar no Brasil. Construir estratégias para o longo prazo é resultado de reflexão sobre as dificuldades do passado, os desafios do presente e as possibilidades de futuro. Mais do que um processo de busca de respostas, é um exercício constante de encontrar perguntas corretas. A sociedade brasileira não deve se acuar defronte às incertezas do futuro, do contrário, pode encontrar nelas os principais objetos de transformação na direção aos futuros possíveis e desejáveis [...] interação entre as variáveis analisadas é a porta de entrada para um novo período de incertezas e transformações para o Brasil, bem como de reflexões, oportunidades e escolhas no processo de desenvolvimento do país. Daí reside a necessidade de reflexão e antecipação no presente das possibilidades de estratégias para o futuro. [...]. Trechos extraídos da obra O futuro do Estado no Brasil e seus impactos na sociedade: questões para o desenvolvimento até 2035 (IPEA, 2017), dos pesquisadores Raphael Camargo Lima e Maurício Pinheiro Fleury Curado. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

VOTAR - Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama governo democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVERNO. Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo. Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia. Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é grave a escolha desses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bolso. E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aqueles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aqueles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Eles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero. Não preciso explicar muito este capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder. Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as forças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fez um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio – lembrem-se de que não vão proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado. Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem – e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fossem. Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra – e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador. Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o governo, quando é ruim, ele é que nos dá a surra, ele é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da boca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo. E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto. Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem medo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à força, e escute apenas a sua consciência. “Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”. Crônica publicada em O Cruzeiro (1947), da escritora, jornalista, dramaturga e tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003). Veja mais aqui.

FULGOR DE SONHODe tudo o que já me deu, / agradeço à vida o sonho / da rosa que não ganhei. / Minha mão não alcançou / a estrela que desejei. / Seu fulgor o sonho inventa, / invisível no meu peito. / O navio embandeirado / que espero desde criança / está custando a chegar. / Não faz mal, canta o meu sonho, / as águas que ele navega / sabem a sal de esperança. / Nada perdi... como posso / perder o que nunca tive? / Vivo a vida do meu sonho, / meu sonho de sonho vive. Poema extraído do livro Campo de milagres (Bertrand Brasil, 1998), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui.

A ARTE DE VIOLETA PARRA
A arte da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967). Veja mais aqui e aqui.

AGENDA
Literatura em tempo de crise & muito mais na Agenda aqui.
&
FECAMEPA: o Brasil pra quem não sabe aqui.
&
Uma tapa & a honra engasgada na memória, Bertolt Brecht, Jack London, Noam Chomsky, Jules De Bruycker, Biblioteca Fenelon Barreto, Stevie Wonder, Kristina Augustin, Stanley Myers & Cristina Braga aqui.
 

sexta-feira, fevereiro 27, 2015

NIKI DE SAINT PHALLE, MARTÍN-BARÓ, LI TAI PO, RICOEUR & SAURA

 


A SOLIDÃO DE NACHO, EL ROJO… -  O menino de Valladolid cresceu adolescendo no noviciado em Orduña aos 17 anos. Tornou-se viajante e foi pra Villagarcía e, de lá, prAmérica Central. Estudava muito em Quito, fez filosofia em Bogotá, bacharelou-se e seguiu prum Externato de El Salvador. Depois foi professor na Centroamericana, viajou pra Frankfurt, bacharelou-se de novo na Bélgica, retornou à San Salvador para lecionar psicologia na Academia de Santa Ana. Contribuiu para a revista dos Estudios Centroamericanos, fez mestrado em Chicago, onde, depois, também fez seu doutoramento em Psicologia Social. Acompanhava de perto os conflitos de El Salvador, com a fundação do Iudop, escrevendo para a revista costarriquenha Polómica. Foi professor na Venezuela, em Porto Rico, em Bogotá, em Madrid e publicou seus livros e artigos científicos e culturais, contemplando as sociedades alternativas da América Latina. Mas era tempo de opressão, repressão e da anormalidade normal das injustiças sociais com suas anomalias na violência estrutural. Vivia no meio da guerra civil financiada pelos USA, que mantinham o governo militar repressor e os esquadrões da morte. Era 16 de novembro daquele ano de 1989: ele foi executado no massacre da UCA, a chacina promovida pelo exército salvadorenho. Um tiro na nuca e o mártir da teologia da libertação sucumbiu juntamente com outros 5 professores jesuítas, mais a caseira e sua filha de 16 anos. Os soldados do Atlacatl destruíram livros, documentos e computadores e deixaram no local um cartaz político na tentativa de imputar o crime à FMLN contra os “traidores da causa”. Não foi e a voz nunca se calou. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - É claro que ninguém vai devolver ao dissidente preso a sua juventude; à jovem que foi violada a sua inocência; à pessoa que foi torturada a sua integridade. desaparecidos para as suas famílias. O que pode e deve ser publicamente restituído são os nomes das vítimas e a sua dignidade, através do reconhecimento formal da injustiça do ocorrido e, sempre que possível, da reparação material... Aqueles que clamam por isso. a reparação social não pede vingança nem acrescenta cegamente dificuldades a um processo histórico que já não é nada fácil. Pelo contrário, promove a viabilidade pessoal e social de uma nova sociedade, verdadeiramente democrática... Pensamento do filósofo e psicólogo social espanhol Ignacio Martín-Baró (1942-1989), uma das vítimas da chacina de El Salvador, em 1989, que no seu estudo La violencia en centroamerica: una vision psicossocial (Revista de Psicologia de ElSalvador, 1990), expressa que: [...] A verdade do povo latino-americano não está no seu presente de opressão, mas na sua manhã de liberdade […]. Se toda forma de violência exige uma justificação, é porque não a tem em si. O que leva à consequência de que a violência não pode ser considerada em abstrato como boa ou má, o que contradiz uma das suposições implícitas da maioria das abordagens psicológicas; a bondade ou maldade da formalidade violenta advém do ato que a substantiva, isto é, daquilo que um ato tão violento socialmente significa e historicamente produz. E é aqui que o caráter ideológico da violência aparece claramente [...]. Já no seu livro Acción y ideologia: Psicología Social desde Centroamérica (UCA, 1985), ele expressa que: [...] Uma sociologia do conhecimento psicológico sobre violência e agressão mostra que, com honrosas exceções, geralmente a “matéria violenta” que é tomada como objeto de análise é o ato contrário o prejudicial ao regime estabelecido, a agressão física individual, a violência delinquencial ou a violência das massas, assumindo em todos esses casos que seu caráter negativo deriva do dano causado à convivência sob a ordem social imperante. [...] A exploração dos trabalhadores, sobretudo o campesino e indígena, a contínua repressão a seus esforços organizativos, o bloqueio a satisfação de suas necessidades básicas e às exigências para o desenvolvimento humano, e tudo isso como parte de um funcionamento “normal” das estruturas sociais, constitui uma situação em que a violência contra as pessoas está incorporada à natureza da ordem social, bem chamado de “desordem organizada” ou “desordem estabelecida”. [...] A violência aberta como uma possibilidade ao ser humano assumida e desenvolvida através do processo de socialização encontra sua formalização última em sua justificação. [...] todo ato de violência requer uma justificação social e, quando carece dela [...] a gera por si mesma. [...]. Já no seu estudo O papel do psicólogo (Estudos de Psicologia, 1996), ele expressa que: [...] A consciência não é simplesmente o âmbito privado do saber e sentir subjetivo dos indivíduos, mas, sobretudo, aquele âmbito onde cada pessoa encontra o impacto refletido de seu ser e de seu fazer na sociedade, onde assume e elabora um saber sobre si mesmo e sobre a realidade que lhe permite ser alguém, ter uma identidade pessoal e social. A consciência é o saber, ou o não saber sobre si mesmo, sobre o próprio mundo e sobre os demais [...] Ao assumir a conscientização como horizonte do quefazer psicológico, reconhece-se a necessária centralização da psicologia no âmbito do pessoal, mas não como terreno oposto ou alheio ao social, mas como seu correlato dialético e, portanto, incompreensível sem a sua referência constitutiva. Não há pessoa sem família, aprendizagem sem cultura, loucura sem ordem social; portanto, não pode tampouco haver um eu sem um nós, um saber sem um sistema simbólico, uma desordem que não se remeta a normas morais e a uma normalidade social [...] Uma simples consciência sobre a realidade não supõe, por si só, a mudança dessa realidade, mas dificilmente se avançará com as mudanças necessárias enquanto um véu de justificativas, racionalizações e mitos encobrir os determinismos últimos da situação dos povos centro-americanos. A conscientização não só possibilita, mas facilita o desencadeamento de mudanças, o rompimento com os esquemas fatalistas que sustentam ideologicamente a alienação das maiorias populares [...] os problemas específicos dos nossos povos sem as proteções dos marcos teóricos apriorísticos, que filtram, de forma enviesada, a realidade e limitam, não isentos de interesses, nossa capacidade de compreensão [...]. No seu artigo acadêmico Para uma psicología da Libertação (Alínea, 2011), ele chama atenção para a necessidade de: [...] fazer algo que contribua significativamente para dar resposta aos problemas cruciais de nossos povos"? [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.


 


ALGUÉM FALOU: A vida... nunca é como a gente imagina. Ela te surpreende, te espanta, e te faz rir ou chorar quando você não espera. Eu amo o redondo, as curvas, a ondulação, o mundo é redondo, o mundo é um seio. A música é a almofada mais macia do mundo. A pintura acalmou o caos que abalava minha alma. Pensamento da pintora, escultora e cineasta francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002), que no seu livro Mon Secret (Différence, 1994), ela expressa que: [...] Meu pai, secretamente, teve que sufocar em sua vida, mas faltou-lhe a coragem de uma verdadeira revolta. A garotinha que eu era será a única vítima de sua lamentável rebelião. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

LAMENTO DO GUARDIÃO DA FRONTEIRA – O poeta predestinado ou imortal chinês Li Tai Po (701-762) possui uma obra composta de mais de mil poemas reunidos em vinte e quatro livros e divididos em doze cadernos, nos quais manifesta sua imaginação extravagante ao comunicar sua personalidade e espírito livre que exorta a vida faustosa, suas interações com a natureza, o amor pelo vinho, a amizade e o olhar aguçado sobre a vida, tendo sido condenado à morte por mais de uma vez, suicidando-se embriago ao se atirar no rio Yang-tsé Kiang. Dele destaco o poema Lamento do Guardião da Fronteira, inserido no ABC da Literatura, de Ezra Pound, traduzido por Augusto de Campos: Pelo Portão do Norte sopra o vento carregado de areia, / solitário desde a origem do tempo até agora! / Árvores caem, no outro a relva amarelece. / Galgo torres e torres / para vigiar a terra bárbara: / desolado castelo, o céu, o amplo deserto. / Nenhum muro de pé sobre esta aldeia. / Ossos alvos com milhares de geadas, / altas pilhas, cobertas de arvores e grama; / quem fez com que isto acontecesse? / Quem trouxe a cólera imperial flamante? / Quem trouxe o exército com tambores e timbales? / Bárbaros reis. / De uma primavera suave a um outono de sangue e sangue, / trezentos e sessenta mil, / e tristeza, tristeza como chuva. / Tristeza para ir, tristeza no regresso. / Desolados, desolados campos, / e nenhuma criança de campanha sobre eles, / não mais os homens para a ofensa e a defesa. / Ah! Como sabereis de toda esta tristeza no Portão do Norte, / com o nome de Rihaku esquecido / e nós, guardiões, pasto de tigres? Veja mais aqui, aqui e aqui.

  Imagem: Infanta nude (2011), do premiadíssimo fotógrafo estadunidense Ralph Gibson.

Curtindo o dvd Alma Lírica Brasileira ao vivo (2011), da cantora Mônica Salmaso.

INTERPRETAÇÃO E IDEOLOGIAS – A obra Interpretação e ideologias (F. Alves, 1990), do filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) aborda temas como a tarefa da hermenêutica numa trajetória que vai da epistemologia à ontologia, a função hermenêutica do distanciamento, a efetuação da linguagem como discurso, o discurso como obra, a relação entre a fala e a escrita, o mundo do texto, compreender-se diante da obra, a ciência e a ideologias, os critérios do fenômeno ideologia, as ciências sociais e ideologia, a dialética da ciência e da ideologia, a alternativa de uma hermenêutica crítica, os neoconflitos das sociedades industriais avançadas, ausência de projeto coletivo, o mito do simples e esgotamento da democracia representativa, a ideologia da conciliação e do conflito a todo preço, a nova estratégia do conflito, entre outros assuntos. Na obra destaco o seguinte trecho: A marginalização constitui, sem dúvida, o maior perigo, que correm atualmente os grupos de contestação. Essa marginalização é a contrapartida do reforço de todos os poderes estabelecidos, num sentido cada vez mais repressivo e policialesco. A polarização —que se pretende nos impor a todo preço — está em vias de produzir no mundo todo seus frutos amargos: o ciclo contestação repressão está esboçado, mas funciona cada vez mais em proveito do poder e em detrimento das liberdades públicas. Quanto à ação, ou antes, à pseudo-ação, já se encontra contaminada pela busca do espetacular, pela teatralização. Ê interessante notar como a ação, ao tornar-se ineficaz, tende a converter-se em espetáculo. Certamente' compreendo a intenção: quando a palavra ordinária perdeu sua eficácia, pode parecer hábil aplicar uma terapêutica de choque nas massas cloroformadas. Mas o efeito é tão desastroso sobre aqueles que aplicam o remédio quanto sobre os que o recebem. É o que chamo de a teatralização. Por teatralização, entendo a substituição da política real por uma espécie de política-ficção, incapaz de separar a fantasia do real, e reduzida a uma encenação. Bem que eu gostaria que a "guerilla-theater", tal como a vi funcionar nas universidades americanas, fosse um meio novo e eficaz para abrir as massas à política, mas parece que ela indica apenas que a própria ação se tornou teatral. Sem dúvida, a ação simbólica tem sua força, como a tinham os gestos simbólicos dos antigos profetas de Israel. Mas o que há de mais perigoso que uma ação reduzida a uma fantasia e sub-repticiamente subtraída às condições reais da ação eficaz? A ação possui suas leis, sua racionalidade própria. Um dos sinais da contracultura consiste em negar essas leis e essa racionalidade. Mas há um preço a pagar: a impotência de influir sobre a sociedade. O mais grave de tudo é o progresso da não-comunicação na sociedade. A patologia do conflito em nossa sociedade chega ao cúmulo quando o adversário nem mesmo é reconhecido. Já se falou da sociedade em migalhas, em todos os planos: profissional, cultural, religioso. O aspecto mais grave da sociedade em migalhas consiste na ruptura do vínculo social no nível do casamento, dos estilos de vida, e no surgimento de uma sociedade paralela ou, como dizem os americanos, da altemative society. Mas que alternativa, senão a dissidência que deixa tudo no mesmo lugar, que inquieta e ameaça, mas sem lançar as sementes de mudança? Veja mais aqui, aquiaqui.

FLÁVIA, CABEÇA, TRONCO E MEMBROS – O texto teatral – ou como assinala o próprio autor: tragédia ou comédia em dois atos -, Flávia, cabeça, tronco e membros (L&PM, 1977), do saudoso escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista, humorista e jornalista Milton Viola Fernandes, ou simplesmente Millôr Fernandes, é um dos primeiros projetos de uma mulher liberada em 1963, que usa seu fascínio e liberdade ao absurdo das caricaturas ao abordar sobre poder, força e a permanente capacidade de mistificação inerente ao ser humano. Destaco a cena do segundo ato, em que o Juiz Paulo Moral pega um papel na mesa e fala: Mao Tsé me mandou um telegrama, aplaudindo minha sentença. Esse me compreende, sabe o que estou dizendo. Que nosso irmão querido é uma ameaça no espaço. Constante. Nos roça mais de que devia. Nos aperta mais do que podia. É isso. Já nos aperta. Já somos gente demais. Assim, se não temo coragem de fazer uma eliminação sumária é preciso ao menos estimular os que têm e eliminam. (Bem coloquial). Inda ontem mesmo estava eu as seis horas da tarde na Avenida Copacabana e o fantasma da superpopulação esbarrou no meu braço. Quase me estrangulou. E além de tanta gente chafurdando nas ruas, milhões no aconchego de alcovas, camas de randevus e até leitos burgueses preparando mais gente. Mais gente e mais, mais gente, muito mais, muito mais gente. Até minha velha senhora espera um neto! Alguém pode evitar que se procrie? (Quase gritando). Eu absolvo todos! São todos livres para o novo exemplo. Vocês sabem, vocês sentem, se já não sentiam, se já não sabiam: o homem abdicou da alma. O avião da asa. Vem aí o omelete sem ovo! (Assina, rápido, um papel com uma grande pena de ave, colorida. Em tom geral). Ide, missa est. [...] (Em tom terrível) Posso. Pelas chagas de um Cristo fracassado, posso. Posso pelos princípios da força e da fraqueza. Posso por uma visão essencial da Queda. Pela felicidade que poucos merecem e menos compreendem também posso. Posso pois voltei ao Sinai e trouxe tabuas de matéria plástica. Novas revelações, novas palavras, novos vícios, erros novos. Quem será condenado se de repente explodir um astronauta e podre e em fragmentos ficar em torno de nos girando o seu fedor por toda Eternidade? Quem será condenado? Belle époque, lei seca, padrão-ouro, melindrosas, não morrestes em vão! O fogo é fresco, a água seca; o infinito uma limitação. Pela última dor do ser humano, posso. Posso por Hiroshima, amor de mis amores. Posso. Eu, Paulo Belmonte Joaquim Moral, juiz, posso. Pelo direito infernal, pela Santa Moral, por algo que me dói aqui no peito, pelos dez mandamentos idiotas, pela jura de Hipócrates hipócrita, por todos os códigos mais feitos, pelo feroz direito da impotência, posso, Meritíssimo, posso. Posso até fazer nascer um dia novo! (Sem transição, apenas mudando de tom). E além disso estou armado. (Puxa violentamente uma Lugger da toga. Arma-a com ruído violento. Avança lenta e firmemente para a frente. O promotor vai recuando rapidamente, some. Moral continua avançando, com o olhar firme no público. Quando atinge a linha do proscênio o pano cai). Fim. Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.


LARA, DUPLA IDENTIDADE – Neste sábado, dia 28 de fevereiro, acontecerá o lançamento de mais um romance da série "Lara - Dupla Identidade", do poeta e escritor tricordiano Ronaldo Urgel Nogueira. Serviço: Dia 28/02, das 17 às 21 horas, na Savel no Santa Tereza, em Três Corações, sul de Minas (Info: Meimei Corrêa). Veja mais aqui.


SALOMÉ DE AÍDA GOMEZ –O encantador filme Salomé (2002), do cineasta e roteirista espanhol Carlos Saura, começa como se fosse um documentário sobre os bastidores de preparação para o espetáculo Salomé, com o diretor passando as instruções para os bailarinos. Na cena os iluminadores e cenografistas estão trabalhando simultaneamente. Entre os ensaios, os bailarinos apresentam a encenação da peça. Eis que surge a magistral bailarina e coreógrafa Aída Gomez e encanta toda cena. Imperdível. Veja mais aquiaquiaqui.



Veja mais sobre:
Cybele, Molière, Marguerite Duras, Contos de Panchatantra, Freud & Ida Bauer, Maurice de Vlaminck & Muddy Waters aqui.

E mais:
Segura o jipe, A prima de Vera Indignada & Pedro Cabral aqui.
Fecamepa: enquanto os caras bufam por aumento no governo, aqui embaixo a gente só paga mico, né aqui.
O recomeço a cada dia, Ibn el-Arabi & Indries Shah, Petrina Sharp & Faisal Iskandar aqui.
Dignidade humana, educação & meio ambiente, Esther Hamburger, Nina Kozoriz & Niura Bellavinha aqui.
Ninquem vem pra vida de graça, Marcel Proust, Josephine Wall & Annibale Carraci aqui.
As pedras se encontram nos mundos distantes, Rafael Piccolotto de Lima, Sing & Luciah Lopez aqui.
Tudo passa pra quem não sabe o desprezado, Maurice Merleau-Ponty, Shane Turner & Martina Shapiro aqui.
Crônica de amor para ela, José Condé, Ruth Kligman, Pablo Milanés & Joaquín Sabina aqui.
O sonho de infância &os dissabores da vida, Diná de Oliveira, Eurípedes, Ferenc Gaál & Mohammed Al-Amar aqui.
O amor no salto das sete quedas, Taiguara,História da Mulher & Luciah Lopez aqui.
O sonho do sequestro malogrado, Juca Chaves, Étienne-Jules Marey, Leonid Afremov & História do Cinema aqui.
Festa no céu do amor, Tom Jobim, Nauro Machado, Elizabeth Zusev & Steve K aqui.
Mario Quintana, Wang Tu, Tácita, Vera Drake, Eduardo Souto Neto, Mike Leight, Ansel Adams & Carlito Lima aqui.
Wystan Hugh Auden, Stanislaw Ponte Preta, Anaïs Nin & Maria de Medeiros, Francisco Manuel da Silva, Alberti Leon Battista & Luli Coutinho aqui.
Arthur Schopenhauer, José Cândido de Carvalho, Johann Nikolaus Forkel, Luís Buñuel, Victor Brecherer, Iremar Marinho & Bestiário Alagoano aqui.
Lasciva da Ginofagia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!
Veja mais aquiaqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.


VERA IACONELLI, RITA DOVE, CAMILLA LÄCKBERG & DEMOROU MUITO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Tempo Mínimo (2019), Hoje (2021), Andar com Gil (2023) e Delia Fischer Beyond Bossa (202...