TRÍPTICO DQP – O
retrato de avô... - Ao som da Full Performance (Live on KEXP, 2019) do
projeto teatro-musical ucraniano Dakh Daughters, formado pelas artistas Nina
Garenetska, Ruslana Khazipova, Tanya Havrylyuk, Solomia Melnyk, Anna Nikitina, Natalia
Halanevych e Zo. – O meu avô era eu menino paparicado pelas mulheres da
família, verdadeira idolatria, dele e minha. Segui os passos daquele que tornou-se
o protótipo de tudo e crescia embalado aos regalos das mãos bobas e buliçosas
com cheiradas beijoqueiras de todas as saias e lábios impudentes, afagos de
tias, primas, comadres e vizinhas no meu sexo juvenil. Ele o meu ídolo e de
todos os que eu conhecia, até vê-lo tombar sepultado nos meus olhos inocentes
para o mais honroso dos mausoléus. Homenagens pelos nomes das ruas, bairros,
prédios e memórias servis por toda região e nisso adolesci espantado. Ia a vida
e por décadas o suntuoso perfil imaculado, nobreza atravessando os anos. Aonde
chegasse, ele antes reverenciado até por desconhecidos, antecipava minha
recepção: portas escancaradas. Até que um dia alguém maldisse o seu retrato.
Quis saber qual a razão. A resposta fulminante na Constituição de Capistrano de Abreu (1853-1927): Todo
brasileiro deve ter vergonha na cara. Artigo 2º - Revogam-se as disposições em
contrário. Quem? Era o
advogado João Roberto A. Neves que reiterava: Todo brasileiro está obrigado a ter vergonha na cara... Os velhacos do serviço público, os
magistrados venais, os particulares que enriquecem cometendo os mais diversos
atos ilícitos em conluio com agentes públicos, enfim, todos os que usam a
máscara da probidade, geralmente tiveram bons professores em casa. E o exemplo
de casa vai à praça. Nem sequer entendia direito o que ele falava. Não foi
possível qualquer diálogo e procurei os meus a respeito. Fora dos domínios avoengos,
o filme era outro: cenas horrorosas, desumanas. Não podia ser, mas era. Aquele
a quem venerei era outro e nunca existiu, a não ser na íntima convivência. Fora
das vistas e existência, decepcionante. A ponto de repudiar aquela pose no
centro da sala.
Cenas
esclarecedoras... - Era eu muito
jovem quando assisti Os anos JK – Uma
trajetória política (1980), do cineasta Silvio Tendler. Só aí comecei ligar as coisas e foi tão logo haver
sacado as cenas do premiado Castro Alves
– Retrato falado do poeta (1999). Liguei as coisas e fui me aboletar na
poltrona do primeiro cinema para assistir Jango
(1984). A ficha caiu – ah, meu avô. Depois disso, assisti outros: Milton Santos, pensador do Brasil (2001),
Memória do Aço (1987), Glauber o filme – Labirinto do Brasil (2003),
Utopia e barbárie (2009), Josué de Castro – Cidadão do mundo
(1994), Conceição das Crioulas: Vestígios
de Quilombo (1996), e muitos outros longas, documentários e series. Dele
ouvi: O cinema sempre foi político. E absorvi. (Se quiser, veja mais
aqui, aqui e aqui).
Desapontamento e consternações... –
Imagem: A arte da artista argentina Ides Kihlen. – Mal tinha soletrado
páginas dos Princípios de vida (Best Seller, 2004) do lama tibetano Dugpa Rimpoche (1938-1987) e ali grafado:
Outras quedas, que coisa!... – Imagem:
a arte do escultor, artista plástico e designer gráfico Amilcar de Castro
(1920-2002). – A surpresa na cena: era a comédia Seis personagens à procura de um autor. Naquele tempo eu
tinha uma vaga ideia a respeito do autor. Logo outra, a Assim é: se lhe parece, me chamou atenção. Tornei-me assíduo,
onde entrasse em cartaz ou encontrasse livros, lá estava eu curioso: O conto d’A senhora Frola e o senhor Ponza, o Vestir os nus – Ah, Ercília nua, a comédia A patente, os relatos d’O falecido Mattia Pascal e o que ele dissera a respeito da arte. Lá estava eu envolvido com o que
ele convencionou chamar de teatro do espelho, porque nele retratava a vida real, amarga e sem a
máscara da hipocrisia. O inacreditável era que ele havia participado da campanha “coleta
de ouro” organizada pelo ditador, doando inclusive a sua medalha de Prêmio
Nobel. Como poderia? Tanto ele quanto Pound
lá estavam engrossando aquelas fileiras detestáveis. Inacreditável. Era como se
revisse o que se dera com meu progenitor.
Da desolação ao ânimo ressurreto... –
Imagens: a arte do fotógrafo sul-africano Sam Haskins (1926-2009). – Não
fosse a chegada inesperada da poeta cantante israelita, Naomi Shemer (1930-2004),
não saberia eu o que fazer da vida. Chegou-me com um poema, Ainda não amei o suficiente: Com estas mãos / ainda não construí uma
aldeia, / ainda não encontrei água / no meio do deserto, / ainda não desenhei
uma flor, / ainda não descobri como / o caminho me levará / ou para onde vou. /
Eu ainda não amava / o suficiente o vento e o sol / no meu rosto. / Ainda não
amei o suficiente / e se não for agora, quando? / Ainda não plantei erva, / ainda
não construí uma cidade, / ainda não plantei vinhas / em todas as colinas, / ainda
não fiz tudo / com as minhas próprias mãos, / Eu ainda não tentei tudo que / ainda
não amei o suficiente... E suas mãos alisaram-me a face e me abraçou
ternamente e me beijou ardentemente para dançar nua, coxas, lábios e sexo por
todo meu ser, como se fosse a coreógrafa francesa Janine Charrat (1924-2017),
viva entre meus sonhos e divagações pelas ruas e desertos.
Mandíbula eleata... – Lá estava eu errante solitário e
era uma epígrafe de Octávio Paz
(alicerces do poema absoluto): Para o
homem moderno, tudo lhe é estranho (inclusive o humano?) e em nada ele se
reconhece. Eram as ressonâncias de ontens e amanhãs, o texto no corpo e a
crença de que a poesia salva a alma do romance: Amanhã vou roubar um espelho com o sol dentro e dois simulacros de
esmeralda distraída além de um turbante e uma chávena. Era o fluxo noturno
de inconsciência sem alma, que se tecia num soneto primeiro: Amanhã não é outro dia, é a noite que dorme.
E quatro poemas brotaram com outros tantos que eclodiram em seguida porque Sempre morremos à noite. Prove o contrário.
E saltaram haicais com todas as náuseas de Sartre
e a fórmula do caos Einstein & Freud verdades sem máscaras porque como
Rilke O poeta combate com o anjo, ao
louco e sublime Holderlin. A poesia
é noturna na mandíbula: confesso que
costumo roubar crepúsculos e moedas de lua velha (de prata encarquilhada),
e eleata: o silêncio de Pitágoras contempla as planícies de
alma, olha sais nascendo, é a lua bebendo o leite celeste entre os catetos do
universo. E era como se olhos de Heráclito
nos sussurros de Parmênides pelas
lembranças lascivas das eternidades e mineração de infinitudes, filosofopoemas
e naufrágios. E esta mandíbula eleata
na dedicatória: Ao ancho côncavo cálice
profundo lúcido lustroso e ilustre umbigo estrela do corpo. E Admmauro Gommes foi além da poesia e o Zé Ripe perplexo poema Vital. Nada mais
que um Coração de areia num verbete do Dicionário anticrítico de êmbolos e lampejos na Pálpebra de pedra e era a Prosa do futuro arcaico na Insólita clepsidra dos 50 poemas escolhidos peloautor. E se era Borges & Eugénio era um Bando de Mônadas no Dado Acaso e no Catálogo de ângulos, para
que se desse o Crepúsculo do pênis no Hímen de Mallarmé, só porque Kant não estuprou a camareira com
todas as Confissões de Ave sólida, Ora pro nobis Scania Vabis. E eram as Inesperadas nêsperas na Fractália lírica do Id no Atanor da poesia absoluta
do Vate vital. Poesia absoluta sim, Poesia Absoluta no Título provisório em que Ana de Amsterdam inaugurava a Gesta pernambucana em que tudo fosse uma Segunda edição da Semata e da Burocracial
exasperação, para que outras tantas Mônadas
testemunhassem Palpo a quimera e o tremor. E o poeta olhos acesos pedisse mais que lúcido no
meio da noite: Quiçá, menos luz. Porque
Só às paredes confesso, porque A poesia salva a alma. E viva a vida! Até mais ver.
E mais:
FAÇA SEU TCC SEM
TRAUMAS – CURSO & CONTULTAS
Vem aí o Programa Tataritaritatá. Enquanto isso, veja
mais aqui.