domingo, dezembro 07, 2025

ADÉLIA PRADO, CLARICE LISPECTOR, JAMIE MARGOLIN, RICARDO AIDAR & ARTE NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Nunca senti que ser mulher me tenha impedido de algo ou que tenha feito qualquer diferença... Tem muito a ver com o papel da mulher na família e com o que também carregamos e assumimos... Se você sabe que é isso que realmente quer fazer, porque é difícil entrar nesse mercado, persista e persista....

Trechos da entrevista (Classic FM, 2017) ao som das trilhas sonoras de The Cider House Rules (1999) e Chocolate (2000), da compositora britânica Rachel Portman (Rachel Mary Berkeley Portman). Veja mais aqui.

 

Fábula das cores coevas... - Era Julie introspectiva inaugurando o amanhecer, a imensidão azul do céu no teto do quarto; a lâmpada apagada, o Sol e as estrelas. No seu desamparo de viúva, o pensamento invasivo de uma cena: um troglodita à saída de uma caverna se deslumbra ao avistar um ser - como se visse o Sol da primeira manhã, ou o raio primevo rasgando o céu do seu mundo. Não era, mas muito lhe apetecia. Era ela e os olhos dele cheios de ternura. Arrebatado, ele então demonstrou sua afeição exibindo sua musculosa virilidade, ao suspender uma enorme fraga sobre a cabeça e, logo em seguida, às mesuras jogou-a contra ela, como se dissesse: toma, segura! Coitada, era o modo da aptidão dele para o amor. Não! Viu-se ali esmagada pela brutalidade de todas as milenares coações punitivas das leis de deuses estúpidos, cultuadas por sacerdotes cretinos e implementadas legalmente dos pais para os maridos detentores do Código de Hamurabi, das Leis de Manu e de toda insensata legislação dos humanos. Ao mesmo tempo, viu-se invadida por lembranças e a enredaram às tramas, as quais negou o quanto pode: foi tomada pela insolência de Antígona e enfrentou a si mesma e a todos. E teve raiva por que viu-se Hypátia tombando diante da fanática fúria cristã. E barganhou por ser apenas uma costela inútil e portadora do pecado de Eva, só para ganhar tempo. E se deprimiu porque era Juliette na pele do sofrimento Claudel. Não adiantava chorar, lamentava-se questionando o quanto era livre se estava diante de tantos flagelos seculares. Despertou assustada aceitando, enfim, seu pesadelo: adotou o nome de solteira, a sua vulnerável armadura, a luta contra o chão e a silenciosa depressão, a sanidade recuperada. Não dispunha de corrimão ou mãos solidárias. Sofria: a filha morta, as perdas, a vida esvaziada. Dispôs-se a se safar das armadilhas, sobrevivente do azul triste da queda absoluta. Estava disposta até a matar, se fosse preciso, um mero alívio, não fazia nada, a não ser revolver-se a si própria na sua autorreclusa estagnada, quando precisava escapar do passado, desligar a tomada. Aí fechou os olhos: a sinfonia inacabada, a liberdade vazia era o fundo de um poço azul. Já era Dominique prisioneira numa cela branca de um dia nublado. Novas rememorações a tomaram e, no meio delas, viu-se Joana d’Arc entre vozes ocultas e condenada pela Inquisição. Viu-se Ana Bolena executada inexoravelmente. Viu-se Isabella Morra sob golpes dos irmãos. Viu-se vagando nas trevas da caça às bruxas, súcubus às fogueiras e na perseguição da imposta culpa judaico-cristã às pecadoras da boceta maldita; o suicídio de Dandara, Francelina Maria degolada, e todos olvidavam de Olympe de Gouges porque prosperava o Código Napoleônico. Viu-se Bridget Cleary abatida pela misoginia, enquanto formava coro entre histéricas loucas com suas doenças insanas. E repassava a sua vida entrecortada por golpes históricos levando-a surpreendida pela vingança de Karol, humilhado perdedor, parvo apaixonado. Ah, havia perdido a química, não o queria mais: a Polônia jamais seria França, o amor e o ódio, o desejo e a fome, o desigual e a infelicidade de abrir mão do amor, a punição severa e a constatação em riste: o ama. E nesse sentimento ali o branco de todas as cores, juntas, iguais. Fechou-se em si e já era Valentine: o sangue da memória, as paixões, o mundo e as ilusões. Atordoada por atropelar uma cadela desamparada de um cínico e amargo juiz aposentado – na verdade, um espião da vida alheia. E assim o julgamento de Rosa Luxemburgo condenada, de Olga capturada, de Sharon Tate grávida, de Dian Fossey na cabana, das feiticeiras da Papua-Nova Guiné, das crianças e mães do Congo, dos feminicídios de Ciudad Juárez; de Dorothy Stang na floresta, da Chiara Páez espancada e a revolta #NiUnaMenos, o protesto sufocado de Marisela Escobedo: estão matando muitas mulheres! E as manchetes jornalísticas coetâneas: vereadora é abatida a tiros, juíza é morta pela polícia, militar assassinada pelo marido soldado, dona de casa esfaqueada pelo cônjuge, professora é alvejada por pai de aluno, servidoras são trucidadas por colega de trabalho, psicóloga estrangulada por suposto paciente, deputada é escalpelada em matagal, miss é tragicamente morta por perseguidor, e todas não menos humilhadas, estupradas, perseguidas, vilipendiadas, lançadas do alto de edifícios, queimadas vivas e forçadas ao silêncio eterno da matança, de penas infligidas por homicidas autoritários, extremistas, fundamentalistas, toscos com seu deus odioso e enlouquecido carrasco: o machismo mata! E corrói a humanidade. Então ela precisava rever as suas boas intenções diante da barbárie, temia e os seus medos estavam por trás dos acontecimentos, seus receios esgarçando elos esfarrapados que se reagarravam uns aos outros pelos horrores das coincidências e nada disso nunca foi nem será por acaso, tudo se repete, o eterno retorno. E sangrava com a mão escondida, o semblante trancado, o olhar indiferente de existir quando queria viver, com a sua amabilidade nos relâmpagos da boca e o coração atormentado: a injustiça é a maior escuridão das leis lesadas. Era o xadrez da morte: a vida não era só uma trilogia de Kieslowski - a dança letal era a desgraça ocidental, entre o medo e a metáfora: a confluência de devires e absurdos, as contradições e o paradoxo. Até mais ver.

 

Mayim Bialik: Eu não quero dizer que tudo acontece por uma razão, mas todos os dias estão alinhados ao lado do outro por uma razão. O melhor que você pode fazer é fazer cada dia bem com bondade e como uma boa pessoa... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Michèle Lamont: Penso que as reivindicações de reconhecimento devem ser levadas muito a sério pelos decisores políticos e cientistas sociais. Ainda temos que entender como a desigualdade e a estigmatização se articulam umas com as outras... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Sophie Kinsella: Pensando bem, o que é mais importante? Roupas ou o milagre de uma nova vida?... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ANTES DO NOME

Imagem: Acervo ArtLAM.

Não me importa a palavra, esta corriqueira. \ Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, \ os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, \ o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível \ muleta que me apóia. \ Quem entender a linguagem entende Deus \ cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. \ A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, \ foi inventada para ser calada. \ Em momentos de graça, infrequentíssimos, \ se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. \ Puro susto e terror.

Poema da poeta, professora, filósofa e escritora Adélia Prado (Adélia Luzia Prado de Freitas), destacando-se o texto Erótica é a alma, da autora: Todos vamos envelhecer... Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

UMA REVOLTAQuando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom-senso e medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa. Texto extraído da coleção Clarice Lispector: crônica para jovens (4 vols., Rocco, 2011), da escritora e jornalista Clarice Lispector (Chaya Pinkhasivna Lispector – 1920-1977). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A CRISE CLIMÁTICA NÃO EXISTE NO VÁCUO - [...] Cada coisa linda que vejo é como um triste lembrete de tudo o que estamos perdendo. É doloroso porque você sabe que está indo embora. [...] Sempre foi uma realidade aterrorizante para mim, algo pairando sobre toda a minha vida. [...] Eu vejo um lugar bonito, mas é agridoce porque está sendo destruído e não vai estar lá quando eu crescer. [...]. Trecho da entrevista (BBC/LifeGate Daily, 2019), concedida pela ativista climática estadunidense Jamie Margolin.

 

ARTE NA ESCOLA:

NÓS CRIAMOS O MUNDO, SÓ ESQUECERAM DE CONTAR.

Numa iniciativa das professoras Fátima Portela e Luciana Flávia, os alunos do 6º ao 9º, da Escola CAIC José do Rego Maciel, de Palmares (PE), apresentaram no último dia 27 de novembro, a culminância do projeto Afro-Indígena, com a temática “Nós criamos o mundo, só esqueceram de contar”.  A exposição contou com apresentações da linha do tempo com a história e arte afro-indígena, leituras, capoeira e um destaque para a obra Quarto de Pensão, da escritora Carolina Maria de Jesus. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

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VERNISSAGE RICARDO BERTACIN AIDAR

Ocorreu neste domingo, 07 de dezembro, a abertura no Espaço RGAOBE – Arte Ofício e Bem Estar, em São Paulo, da vernissagem do artista plástico e engenheiro civil Ricardo Bertacin Aidar. Ele participou com suas obras da publicação Dareladas (CriaArt, 2024), é integrante do Gentamiga Ateliê (SP) e participa da plataforma Ubqub (SP). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.

 


ADÉLIA PRADO, CLARICE LISPECTOR, JAMIE MARGOLIN, RICARDO AIDAR & ARTE NA ESCOLA

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