Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som do premiado
álbum Erosão (Risco\Fun In The Church, 2021), da baterista, cantora e
compositora Mariá Portugal, uma expoente da musica experimental e fundadora
do Quartabê – grupo formado por Maria Beraldo, Joana Queiroz e Chicão
Montorfano.
ENTRE OBSESSÕES,
IMPOSTURAS & COMPULSÕES... - Era a cidade feita de
palavras ubíquas às diegeses insones. O que mais de assombroso quando se parecia
um dia azul, outro nem tanto e a estupefação de nunca se saber como começou. Havia
quem decodificasse algaravias ocultas, diziam das conversas de defuntos. O pior
era um quase terror: as pessoas perderam a amabilidade e se empurravam umas às
outras, e era para me escantear enrolado na trama da Trilogia da Estrada
de Wim Wenders. O que de mim quase nada mais restou, apenas fruir dela Marion
como se fosse radiante Lou Salomé, uma trapezista nas Asas do Desejo
e um verso de Rilke: Uma única coisa é necessária: a solidão... O
amor consiste nisso: dois solitários que se encontram, protegem e se
cumprimentam... Graças a não sei quem havia a remissão à beira do rio: um
elogio à imanência, entre o desvelar dos simulacros e a penitência. E a vida uma
girândola com todos os fogos de artifícios atordoantes, para saber de Adélia Prado: Dor não tem nada a ver com amargura. Acho que tudo que acontece é
feito pra gente aprender cada vez mais, é pra ensinar a gente a viver.
Desdobrável. Cada dia mais rica de humanidade... Tudo então nos dividia e a
divisão nos complementava – o contrário nos completava. A vida realizou a morte
e quase nem se soube quandera manhã ou tarde, tanto faz, até a mesmice surpreendia,
porque a sorte era só um aceno; a existência, uma lembrança. Então ali a praça fundiu
casulos e conchas praquela rua que vai nem sei pra onde, porque nunca mais
circos, só um monte púlpitos itinerantes, tudo muito chato, idolatria e o quão
tedioso. Impotente, não havia dinheiro algum, não tinha nada, a doença do vazio
– onde o tempo, qual espaço –, palimpsestos dos escarnecidos pecados
incontáveis. Foi preciso Ella Baker: Uma das coisas que temos que
enfrentar é o processo de espera para mudar o sistema, o quanto temos que fazer
para descobrir quem somos, de onde viemos e para onde vamos... Dê luz e as
pessoas encontrarão o caminho... Experimentei e tive
consciência de matar a fome, mentir, maldizer, descalçar-me e desmascarar-me o
quanto podia, sorria e chorava, nada mais. No decurso de um tempo qualquer que
nem percebia, aparecia Rodin: Olhe pro jardim... E era Agnieszka Holland: Se você olhar com atenção, o
mundo todo é um jardim.... Havia perdido o olhar e o duplo,
nem de mim ali só, nenhuma aura fugitiva por interstícios das rachaduras do impermeável:
o sonho era um filme e a vida, rendi-me ao afeto, afinal sou e sei como existíamos.
Até mais ver.
HINO DAS MULHERES LIVRES
Imagem: Acervo ArtLAM.
Aponte para mulheres em todo o mundo \ para os
horizontes gravídicos de luz \ devido a aceiros, o pé no chão a cabeça não é
azul. \ Afirmar essas promessas dá vida \ Tradição do desafio \ Nós nos
modelamos com argila quente \ de um mundo nascido de dor. \ Que o passado caiu
num lugar nenhum. \ O que nos interessa aqui? \ Queremos escrever de novo. \ Uma
palavra mulher. \ Vá em frente, mulheres do mundo, \ com um ponto elevado para
azul. \ Em fogo quebrado, \ Vá em frente, diante dá luz.
Poema da escritora, jornalista e líder anarquista espanhola Lucía Sánchez
Saornil (1895-1970). Veja mais aqui e aqui.
À PROCURA – [...] Acho que percebi que a vida consiste em subir, descer e se levantar
novamente. E não importa se você escorregar. Contanto que você esteja
indo mais ou menos para cima. Isso é tudo que você
pode esperar. Mais ou menos para cima. [...] O problema é
que a depressão não traz sintomas úteis, como manchas e febre, então você não
percebe isso a princípio. Você continua dizendo 'estou bem'
para as pessoas quando não está bem. Você acha que deveria
ficar bem. Você fica dizendo para si mesmo:
'Por que não estou bem? [...] Não será para sempre. Você ficará no escuro o
tempo que for necessário e então sairá. [...] A maioria das pessoas
subestima os olhos. Eles são infinitos. Você olha alguém
diretamente nos olhos e toda a sua alma pode ser sugada em um nanossegundo. Os olhos das outras
pessoas são ilimitados e é isso que me assusta. [...] Quanto mais
você se envolve com o mundo exterior, mais será capaz de diminuir o volume
dessas preocupações. Você verá que eles são infundados. Você verá que o mundo é
um lugar muito movimentado e variado e que a maioria das pessoas tem a
capacidade de atenção de um mosquito. Eles já esqueceram o que
aconteceu. Eles não pensam sobre isso. Haverá mais cinco
sensações desde o seu incidente. [...] Já enfrentei idiotas
suficientes no meu tempo. Eles nunca percebem que são idiotas. Nem uma vez. Qualquer coisa que você
diga. [...] Às vezes, espero estar acumulando um estoque de risadas perdidas
e, quando me recuperar, todas elas explodirão em um ataque gigantesco que
durará vinte e quatro horas. [...] Mesmo quando você pensa que se
perdeu, o amor ainda pode te encontrar. [...]. Trechos extraídos da obra Finding Audrey (Doubleday Childrens,
2015), da escritora britânica Sophie Kinsella. Veja mais aqui.
PRINCÍPIOS
FILOSÓFICOS - [...] Eu digo, vida e figura são atributos distintos de uma substância, e como um
mesmo corpo pode ser transmutado em todos os tipos de figuras; e como a figura mais perfeita
compreende aquilo que é mais imperfeito; assim um mesmo corpo pode ser transmutado de um grau de vida para outro
mais perfeito, que sempre compreende em si o inferior [...] Temos um exemplo de figura em um prisma triangular, que é
a primeira figura de todos os prismas triangulares sólidos alinhados à direita,
que é a primeira figura de todos os corpos sólidos alinhados à direita, onde em
um corpo é conversível; e deste
em um cubo, que é uma figura mais perfeita, e contém em si um prisma; de um cubo pode ser transformado em
uma figura mais perfeita, que se aproxima mais de um globo, e deste em outra,
que está ainda mais próxima; e assim ascende de uma figura, mais imperfeita, a outra mais perfeita, ad
infinitum; pois
aqui não há limites; nem pode
ser dito que este corpo não pode ser transformado em uma figura mais perfeita:
Mas o significado é que esse corpo consiste em linhas retas planas; e isso é sempre modificável para uma
figura mais perfeita, e ainda assim nunca pode alcançar a perfeição de um
globo, embora sempre se aproxime mais dele; o caso é o mesmo em diversos graus de vida, que têm de fato um começo, mas
não têm fim; de modo
que a criatura é sempre capaz de um grau de vida mais avançado e perfeito, ad
infinitum, e ainda assim nunca pode atingir a igualdade com Deus; pois ele ainda é infinitamente mais
perfeito do que uma criatura, em sua mais alta elevação ou perfeição, assim
como um globo é a mais perfeita de todas as outras figuras, da qual ninguém pode
se aproximar. [...]. Trechos
extraídos da obra The Principles of the
Most Ancient and Modern Philosophy (Cambridge University Press, 1996), da filósofa inglesa Anne Conway (1631-1679),
que na obra Tangled Secrets (Usborne Publishing,
2015), expressa que: [...] Ele estava fazendo parecer que eu era forte e corajoso. Ele não percebeu o quão assustado eu
estava por dentro. Como
minha fita estava na minha bolsa. Como eu o encontrei enfiado na parte de trás da minha cama e ainda precisava
dele apenas para passar o dia. Como eu nunca tinha feito nada corajoso em toda a minha vida. Seus olhos nunca deixaram meu rosto. “Se alguém pode entrar naquela sala,
Maddie Wilkins – tarde, ou cedo, ou qualquer coisa – é você. [...]. Também
noutra de sua obra Forbidden Friends (Usborne, 2013), também expressa que: […] Inclinei-me e, antes que pudesse
mudar de ideia, beijei-o bem nos lábios. E então me virei e corri pela porta da frente. “Caramba, Abelha!” ele gritou atrás de mim. Mas quando olhei para trás, ele
estava encostado no batente da porta, sorrindo. [...] Nós nos divertimos muito juntos [...] Ela é o tipo de pessoa que faz cara de corajosa mesmo quando tem vontade de
chorar [...].
Veja mais aqui e aqui.
A BESTA FUBANA
[...] A desunião dos bichos era a desunião deles, empolgados e ambiciosos. A volúpia do poder enxotara o pássaro-guia e os deixara órfãos de luz e de proteção, entregues à sanha do inimigo [...].
Trecho extraído da obra O romance da Besta Fubana
(Bagaço, 2019), do escritor Luiz Berto. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.