CARTA DE NOVEMBRO - Esta carta é um canto. Sim, um canto porque o amor não
envelheceu, nunca envelhecerá. Por isso canto, choro e escrevo. Sim, uma carta,
um canto de despertamento porque este planeta não é a cloaca de Pandora. Não
foi, nem nunca será. Sim, se fizemos o pior ao longo de milênios, nada mais que
guerras e bombas, preações e interditos, mandonismo e ludíbrio, tudo para deteriorar
o presente e nos meter, a nós e aos que virão, numa desgraça irresponsável e
rediviva, tudo em nome de uma ganância insaciável, podemos escrever e cantar
diferente, a diferença nos completa. E se no dia da escolha não amanheceu, a
fria e sinistra madrugada avançou quarenta graus de calor em ebulição num
sonambulismo excludente. Por isso mesmo, cantar e escrever. Sim, uma carta e um
canto de chorar, lavar a alma de quem derrotado não perdeu a esperança com as pedradas
nas vidraças e telhados, os tempos são outros. Cantar e chorar e escrever no
meio das feridas e despojos de quem é indifuso, branqueiro, pretano, ou brasindibrapreiro,
indipretanês, isso de norte a sul, leste ou oeste deste Brasilzão arrevirado e
de porteira escancarada e no mundo inteiro. Sim, eu choro meus antepassados e
as filhas das dores de ontem e hoje, e não sei qual a História escrevemos agora,
o que será de mim e de todos nós daqui em diante. Há uma granada acesa no peito
em cada fala e tudo retarda como se fosse voltas que
valessem mordidas no pescoço e nos bolsos alheios por Savonarolas de plantão erguidos
pelos que se acham melhores porque escolhidos, e falam Halloween para raspar a terra de Sacis, Cumades Fulôsinhas e Pernas
Cabeludas, como se tudo nosso fosse feito para ser enterrado vivo e sem nenhum
direito, mesmo que se grite por Direitos Humanos e esteja em vigência uma Carta
Cidadã, nada disso vale para quem olvida tudo em nome de um deus apócrifo, vingativo
e encolerizado, em nome de uma soberba estrangeira que não nos reconhece nem
sequer respeita o que somos ou deixamos de ser! Um reino de vulgaridade insultante,
vale tudo: o umbigocentrismo e a desonestidade dos veículos de comunicação de
massa, das caravanas de subornados que enlameiam tudo com a grotesca fúria de coisonarios
que sequer consideram o vexame de netos e bisnetos nas lições da escola dagora
e daqui umas décadas e séculos futuros, na farra de ministros de cortes e
governos, deputados, senadores, gestores e fascínoras que nos dizem não,
entreguistas de nossas vidas, nosso chão, nossa dignidade e toda a nossa vida
atormentada. Até os inúteis se aproveitam como feras
ofendidas e desesperadas, ninguém tem vergonha com suas migalhas de paixões
efêmeras e muito medo de nada, escravos seculares que vertem sangue por cédulas
e moedas, todos somente barrigas e olhos, apenas se arranjam como podem e dão
graças aos céus pelos otários que enganaram, sabidos de si, para se fartarem
felizes dilapidando patrimônios por alguns segundos, enquanto se esbatem furiosos
para nem lembrarem da culpa, já apodrecidos pela vileza, nem um pingo de
arrependimento. Sim, eu choro com as filhas das dores de
sempre, que foram e são as Burrinhas de Padre, as doutrinadas peregrinas de
pastores desalmados, as virgens de líderes religiosos abastados e hipócritas,
as escalpeladas pelas aspas do crime passional rotineiro e impune, as
traficadas no jogo do poder-prazer para lá e para cá da escravidão que nunca
foi abolida dos calcanhares consumistas que pisoteiam entre gases e lágrimas. Choro
pelas crianças sem futuro, pelos deserdados que não sabem o que fazer, pelos
que envelheceram expostos ao frio e a indiferença. Sim, eu choro por Marielle Franco
porque a dor dela é minha, a morte dela é a minha morte e de todos nós e de
todos os direitos, porque até as estrelas gritam por socorro, apavoradas, são
humanos e eu me recuso a sorrir nesta carta e neste canto, a indignação nos
humaniza e descoisifica a vida. Algo precisa ser
feito! E para isso eu escrevo esta carta e canto este canto. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] configuram
uma ocupação de regulação pelo Estado em territórios antes regulados pelos
grupos criminosos armados, principalmente pelo varejo do tráfico armado. A denominação
atual, portanto, demonstra a carga ideológica para manutenção dos elementos
fundamentais da política hegemônica, pois se centraliza na ação da polícia e
usa o recurso ideológico da apelação pela paz. O que está em questão é que a
polícia, com a abordagem que predominou, não se firma apenas como uma das
atividades do Estado, mas acaba por ganhar um local estratégico nesse processo
de ocupação territorial. O que ocorre é uma propaganda geral pela paz, na qual
a polícia, e não a política, ocupa lugar central. Esse é mais um dos sintomas
do predomínio de uma política de segurança sustentada na militarização. É nesse
sentido que se pode afirmar que há uma proposição aparentemente utópica, que assume
caráter profundamente ideológico. Não se trata de algo que adota um rumo
contrário à lógica e ao modelo imposto até o momento; ainda que possua fissuras
diferenciadas, não consegue romper com o modelo já em curso. A abordagem das
incursões policiais nas favelas é substituída pela ocupação do território. Mas
tal ocupação não é do conjunto do Estado, com direitos, serviços,
investimentos, e muito menos com instrumentos de participação. A ocupação é
policial, com a caracterização militarista que predomina na polícia do Brasil.
Está justamente aí o predomínio da política já em curso, pois o que é reforçado
mais uma vez é uma investida aos pobres, com repressão e punição. Ou seja,
ainda que se tenha um elemento pontual de diferença, alterando as incursões
pela ocupação, tal especificidade não se constituiu como uma política que se
diferencie significativamente da atual relação do Estado com as favelas.
Importa ressaltar ainda a questão da formação dos policiais. [...]. Trecho
extraído da dissertação de mestrado com a temática UPP – a redução da favela a três letras: uma análise da política de
segurança pública do estado do Rio de Janeiro (UFF, 2014), defendida pela
socióloga, ativista feminista e defensora dos direitos humanos, Marielle Franco (1979-2018), na sua
luta pelos direitos do cidadão na denúncia da violência, dos abusos
policiais e da falta de recursos nas comunidades mais carentes da cidade. Eleita
vereadora do Rio de Janeiro em 2016, ela foi assassinada no dia 14 de março de
2018, juntamente com o motorista, Anderson Gomes. Entre os seus questionamentos
estão: O que é ser mulher? O que cada uma
de nós já deixou de fazer ou fez com algum nível de dificuldade pela identidade
de gênero, pelo fato de ser mulher? A pergunta não é retórica, ela é objetiva,
é para refletirmos no dia a dia, no passo a passo de todas as mulheres, no
conjunto da maioria da população, como se costuma falar, que infelizmente é
subrepresentada. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra aos
pobres acabe?
A POESIA
SILVANA GUIMARÃES
sangrar
o amor em nome do ódio numa emboscada
machista
racista escravocrata - atalhar uma vida –
sofrer
com o trabalho forçado no tribunal da memória
cochilar
sobre arames farpados nunca mais dormir
conviver
com minhas faces tremulando nos jornais
-
estandartes da esperança renovada ad infinitum –
suportar
meu corpo tomando posse de outros corpos
agigantando-se
neles à cata de tolerância & justiça
: agora
sou uma flor negra & altiva que a morte
regenerou
e transmigrou em inúmeros pássaros
pólen
néctar colibri minhas palavras espalham-se
ao vento
e esse ardor você não pode emudecer
Revoada, poema da poeta e editora da revista Germina
& do site Escritores Suicidas, Silvana Guimarães.
&
A POESIA DE MICHELINY
VERUNSCHK
uma
mulher descerá o morro
como se
descesse de uma estrela
uma
mulher seus olhos iluminados
suas
mãos pulsando vida e luta
sob seus
pés a velha serpente
[a baba
as armas a covardia de sempre].
uma
mulher descerá o morro
as
inúmeras escadarias do morro
os muros
arames que separam o morro
e pisará
o chão desse país sem nome
desse
país que ainda não existe
desse
país que interminavelmente não há
uma
mulher descerá o morro
tempestade
é o vestido que ela veste
uma
mulher descerá o morro
e ainda
que seu sangue caia
ferida
incessante no asfalto do Estácio
e ainda
que anunciem sua morte
[e sim, ainda
que a comemorem]
esta
mulher ninguém poderá parar
Poema da
poeta e historiadora Micheliny Verunschk, a mestre em Literatura e Crítica Literária, doutora em
Comunicação e Semiótica e doutoranda em Letras pela PUC-SP. Veja mais aqui,
aqui & aqui.
A ARTE DE MALALA YOUSAFZAI
Acredito que somos uma comunidade e que devemos cuidar uns dos outros.
MALALA YOUSAFZAI - A arte da ativista
paquistanesa Malala Yousafzai, em homenagem à
vereadora e socióloga assassinada, Marielle Franco, durante sua visita à
Rede NAMI, em 2018, organização que usa a arte urbana para promover os direitos
das mulheres. Malala é conhecida pela defesa dos direitos humanos
das mulheres e do acesso à educação na sua região natal do vale do Swat, na província
de Khyber Pakhtunkhawa, no nordeste do Paquistão, onde os talibãs locais
impedem as jovens de frequentar a escola. Ela foi a ganhadora do Nobel da Paz
de 2014. Veja mais aqui.
ANNA & SEU BLOG
VIDA:
Uns vivem a vida perene / Como se perdida e malsã / Outros, a vida que
finda / Como se uma ininterrupta manhã / De uma e d’outra / Colhemos o sal /
Numa e noutra / Plantamos as graças / Do encontro / O Amor / Esse Encanto /
Essa Flor / À mão ofertada / À fronte beijada
Sou a Anna. Tento trazer informação e experiência a pessoas que buscam fortalecimento
emocional e acolhimento. Alguma ajuda para trasmutarem emoções e pensamentos
limitantes. Espero que encontrem, em si mesmas, as forças e virtudes para a
construção de uma vida próspera e significativa. Mais que tudo, este é um
espaço de ganhos: na troca, para me tornar uma pessoa melhor e na superação,
para construir uma jornada ascendente e de círculos virtuosos.
ANNA & SEU BLOG – Blog da pedagoga, gestora de empresas, consultora
organizacional e de desenvolvimento humano, artesã e reikiana Anna Dutra, especialista em Gestão do Conhecimento pela Coppe/UFRJ,
personal e professional coach, leader coach, career & Positive Coach pela
Sociedade Brasileira de Coaching (SBC) e designer thinking pela Escola de
Design Thinking ECHOS. Ela também é facilitadora de Jornadas Transpessoais e de
Processos de Mudança, cujos objetivos são despertamento, autocura e
florescimento humano, além de ser idealizadora e facilitadora dos programas Vir
a ser, Construindo Pontes Juntos e Flores em Você, todos de base Positiva e
Transpessoal, com abordagem multidisciplinar e integrativa.