

MINEHAHA,
A MULHER DO BÚFALO
[...] É uma lenda básica da tribo Blackfoot que
originou seu ritual da dança dos búfalos onde eles invocam a cooperação dos
animais no jogo da vida. Se você levar em conta o tamanho de algumas dessas
tribos percebe que para alimentá-los era preciso muita carne. E uma forma de
ter carne para o inverno era fazer estourar uma manada de búfalos e fazê-los
cair do alto de um rochedo. Essa história se passa com a tribo Blackfoot muito
tempo atrás. Eles não conseguiam fazer os búfalos cair do penhasco; os animais
se aproximavam e se desviavam. Eles não iam conseguir carne para o inverno.
Certa manhã uma mocinha de uma das cabanas vai buscar água no poço para a
família. E ela diz: "Ah, se vocês caíssem eu me casaria com um de
vocês". E para sua surpresa eles todos vêm e começam a despencar. Essa foi
a primeira surpresa. A segunda surpresa foi quando um dos búfalos velhos, o
feiticeiro do rebanho, diz: "Tudo bem, você vem comigo". Ela diz:
"Ah, não!" Ele diz: "Sim, você prometeu. Nós cumprimos a nossa
parte, minha família está morta lá embaixo. Agora você virá comigo". De
manhã, a família dela acorda e cadê a Minehaha? O pai procura e diz: "Ela
fugiu com um búfalo". Ele percebe pelas pegadas. Então diz: "Vou busca-la".
Calça seus mocassins, seu arco e flecha e vai para a planície. Depois de
caminhar bastante fica com vontade de descansar e chega a um lugar chamado
Charco dos Búfalos, onde os animais gostam de vir rolar na lama para se
refrescar e se livrar dos piolhos. Ali começa a pensar no que fazer quando
chega uma pega; é um pássaro de plumagem vistosa que tem dons especiais qualidades
mágicas. Sim, mágicas. E o homem lhe diz: "Oh, belo pássaro, minha filha
fugiu com um búfalo. Você a viu? Poderia encontrá-la nessa planície?" Ele
responde: "Vi uma linda garota junto com os búfalos perto daqui". E o
homem diz: "Você poderia ir até lá e dizer a ela que seu pai está
aqui?" O pássaro voa até a garota no meio dos búfalos que estão dormindo.
Não sei o que ela estava fazendo, tricô ou algo assim. O pássaro chega e diz:
"Seu pai está lá no charco esperando por você". Diz ela: "Isso é
terrível; é muito perigoso! Esses búfalos podem nos matar. Diga a ele que me
espere, vou dar um jeito". Então seu marido búfalo acorda, tira um dos
chifres e lhe diz: "Vá até o charco buscar água para mim". Ela pega o
chifre, vai até o charco e lá está seu pai. Ele lhe diz: "Venha". Ela
diz: "Não, é muito perigoso. O rebanho inteiro vai nos perseguir. Acharei
um jeito; agora me deixe voltar". Ela apanha água e volta. Seu marido
búfalo diz: "Fi, fá, fo sinto um cheiro de índio!". Ela diz:
"Nada disso!". E ele diz: "Sim, com certeza". Ele dá um
mugido de búfalo, todos se levantam e fazem uma dança lenta, com os rabos
levantados. Vão até o charco e pisoteiam o pobre homem até ele desaparecer;
ficar em pedacinhos. A garota chora e seu marido búfalo diz "Você está
chorando?". "Esse é o meu pai", diz ela. "Ah é? E nós? Ali
estão nossos filhos, mulheres, pais; todos mortos. E você aqui chorando pelo seu
pai!", diz ele. Mas parece que ele era bonzinho; fica com pena e diz:
"Se você conseguir trazer seu pai de volta à vida, eu a deixo ir
embora". Então ela diz ao pássaro: "Procure pelo chão e veja se
encontra um pedacinho do meu pai". O pássaro vai ciscando e acaba trazendo
um ossinho. E a garota diz: "Isso já basta. Vamos colocar isso aqui no
chão"; ela coloca o cobertor sobre o ossinho e canta uma canção mágica, de
grande poder. E veja só, um homem debaixo do cobertor. Ela olha, é seu pai, mas
ainda não está respirando. Ela continua cantando; ele fica de pé e os búfalos
ficam espantadíssimos. Dizem: "Por que você não faz isso por nós? Nós
ensinaremos vossa dança e depois que vocês matarem nossas famílias, você dança,
canta essa canção e nós voltaremos à vida". Esta é a ideia básica: que
através do ritual se alcança a dimensão que transcende a temporalidade, a
dimensão de onde vem a vida e para onde volta. [...]
MINEHAHA, A MULHER DO BÚFALO – Extraída da obra O poder do mito (Palas
Athena, 1990), do mitologista, escritor e professor estadunidense Joseph Campbell (1904-1987), com edição
de Bill Moyers e organizado por Betty Sue Flowers, fruto de uma série de
conversas mantidas entre o autor e o jornalista editor, numa combinação de
sabedoria e humor, tratando sobre o casamento, os nascimentos virginais, a
trajetória do herói, o sacrifício ritual, entre outras. Veja mais aqui.
A ARTE DE ISADORA DUNCAN
A arte não é, de modo nenhum, necessária. Tudo o que é preciso para
tornarmos o mundo mais habitável é o amor. O corpo do bailarino é simplesmente
a manifestação luminosa da alma.
Não me lembro de nenhum sofrimento que tivera por causa da pobreza de
minha casa. Essa pobreza nos parecia muito natural. Eu sofria somente na
escola. Para uma criança sensível e orgulhosa, o sistema da escola pública era
tão humilhante como o cárcere. Eu estava sempre em rebeldia.
ISADORA DUNCAN – A arte da coreógrafa e bailarina
estadunidense Isadora Duncan
(1877-1927), considerada a precursora da dança moderna, aclamada por suas
apresentações em todo o planeta. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A OBRA DE JACK LONDON
Eu não vivo para o que o mundo pensa de mim, mas para o que eu penso de
mim mesmo.