SOPHIA ETERNA POESIA - O que foi feito ou dito, aconteceu. O que não
se perdeu, quase não mais. A vida passou, nenhum temor, explicação alguma e nenhuma
data, morada, simulacro ou inutescência: o mundo é o lugar da imperfeição. De
fato, o que ficou, nada mais que a lembrança de sua raiz dinamarquesa do Porto
na quinta fabulosa, a memória das casas que desapareceram com a nau de Laura,
as manhãs da Granja, o jardim perdido e dali a noite para as historietas
infantis da menina do mar e a floresta, coisas do coração e de viver. Sou rio
na praia abandonada como Endymion -
como o rio que atravessou a sua vida no estio da paixão cega e nua. E nos
cruzamos no frio da noite entre o silêncio e a solidão, nos estiramos na rua de
abril e foi possível que cometesse a sua escrita na carne do meu peito que
sangrou e sorrio enquanto exaltações se fizeram de amor e amante. A brisa
trouxe o beijo da sua boca amena e eu entrei pela manhã que era sua e passamos Antinoo, um ao outro, exilados na
inteireza e a sós. Eu possuí todas as praias em que você foi mar e abraçou a
minha alma perdida para que eu vivesse no bailado dos seus sonhos que voltaram
e tomaram os meus que serão sempre seus. Justa foi a forma do seu corpo ao meu
nos dias de verão e longos desejos inquietos de tocar e não prender entre
quatro paredes a libertação madura da carne que exultou de felicidade, ao mesmo
tempo que sangrou na distância que dilatou músculos e dores persecutórias. Acontecia-lhe
o poema escrito por ninguém, feito por si só e a falar de si e o que não se vê,
aprendi da poesia do seu sorriso e na entrega do seu amor. Não posso ignorar a
sua Cantata da Paz, o Nome das Coisas, as Cidades Acesas, o Tempo Dividido e a
reza pelos pescadores em alto mar. A busca pela justiça foi tudo no tempo em
que vivemos. Nunca mascarei a virtude nem comprei perdão, não me calo, nem
tenho medo, muito menos germino na podridão, voo de mãos dadas com o perigo e a
morte. Perfeito é não quebrar, porque
os outros sempre chegam tarde, não sabem de si nem de nós, só deles. Na sua e
na ausência de todos, também a minha loucura de florir a vida, de beber a lua
cheia, a minha biografia no tempo e no chão da minha terra. Eu que sempre fui
rio, um dia serei mar e areia aos seus pés, também jamais amarei quem não possa
viver sempre, nem darei ao tempo a minha vida. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Há mulheres que trazem o mar nos olhos / Não
pela cor / Mas pela vastidão da alma / E trazem a poesia nos dedos e nos
sorrisos / Ficam para além do tempo / Como se a maré nunca as levasse / Da
praia onde foram felizes. / Há mulheres que trazem o mar nos olhos / pela
grandeza da imensidão da alma / pelo infinito modo como abarcam as coisas e os
homens… / Há mulheres que são maré em noites de tardes… / e calma. Poema O mar dos meus olhos, da poeta
portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Veja mais aqui,
aqui & aqui.
TELEGRAMA
SENTIMENTAL
Amor com amor se paga
Isto é modo de dizer
Por mais amor que me pague
Ficará sempre a dever
TELEGRAMA SENTIMENTAL – (Imagem: Quermesse, de Anita Malfati) – Quadra extraída da obra Quadras anônimas (Olimpia, 1997), de José Sant’Anna, registrada por Luís
da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001),
dando conta do correio-elegante que era um entretenimento que consistia em
enviar mensagens escritas, em versos ou não, a alguém com quem se desejava
estabelecer contato. Outra quadra como: O
passado está gravado / neste correio tão puro / quero guardar para sempre /
recordação pro futuro. Mais outra: Nesta
quermesse tão bela / onde tudo é alegria / falta somente você / para a minha
companhia. Cascudo assinala que era costume tradicional rapazes e moças
trocarem mensagens por ocasião de quermesses, festas religiosas, até mesmo pelo
sistema de alto-falantes, em cidades do interior. Em forma de quadrinhas, são
em geral verdadeiras declarações de amor. Veja mais aqui.
A ARTE DE ADORÉE VILLANY
A arte
da coreógrafa e bailarina francesa Adorée
Villany, que iniciou sua carreira no teatro, quando apresentou a Dança dos Sete Véus e,
posteriormente, incorporou o texto da peça Salomé, de Oscar Wilde, em sua
performance. Seus trabalhos exploraram temas míticos, históricos e orientais,
além de possuírem qualidades abstratas, afora temas de pinturas de artistas
contemporâneos como Franz Stuck e Arnold Böcklin. Ela desenhou suas próprias
roupas e descobriu seu corpo durante suas apresentações. Foi processada por
obscenidade em Munique em 1911, sendo posteriormente absolvida; o júri
constatou que seu desempenho estava no "maior interesse da arte". Sua
pena foi uma multa em 200 francos pelo Tribunal Correctnel em Paris por
exposição indecente. Publicou um livro sobre dança, Tanz-Reform und Pseudo-Moral, em 1912, que expressava seus
princípios estéticos. Veja mais aqui.